Nas questões do Estado, atender é atentar, é dar atenção. E
é também dar vazão a um pedido feito, é reconhecer o que o outro quer. O
Estado, no entanto, tem lá seus problemas para atender a todos.
E eis que, para resolver a todos, o Estado inventou o
agendamento, pretendendo ainda atender alguém no decorrer dos dias mais calmos
que as estatísticas lhe diziam. E eis que o agendamento se tornou um monstro,
pois fez com que, aos poucos, os cidadãos viessem cada vez mais se adaptando à
espera pela ineficiência de atendimento no Estado, enquanto o Estado continua
ainda agindo como para não atender a ninguém, em muitos e muitos casos.
Heráclito dizia: "O povo deve lutar por suas leis como
pelas muralhas". Pois é, e a Constituição Federal ainda é uma bomba de
cidadania prestes a explodir, pensamos aqui...
Da Luta pelo Reconhecimento
Talvez um dia o povo consiga reconhecer o poder que tem e
talvez o Estado se informe para atendê-lo. De toda sorte, isso será no dia que
o povo de fato entender que o um povo sobrevive sem o Estado, mas um Estado não
sobrevive sem seu povo. Talvez aí, nesse dia, isso possa começar a se realizar. Mas, quando se fala de povo, a luta pelo reconhecimento é
uma teoria estranha. Axel Honneth a lançou num livro com esse título. Uma
teoria social, mas ainda uma teoria Hegeliana, com a eticidade do senhor a flor
da pele - a eticidade do dominador -, e esse é o caso estranho.
A luta pelo reconhecimento social carece primeiro de uma luta
pelo reconhecimento de si para si mesmo, se o sujeito quiser de fato ser uma
verdade, não um engodo. E o sujeito de que falamos aqui é o povo.
Trocando em miúdos, numa grande luta de quereres em que um
povo esteja de um lado, como tese, e o Estado esteja do outro, como antítese,
melhor o Estado se aquietar um pouco e começar a olhar a Constituição de
verdade, pois, precisa urgente reconhecer que, no caso dos serviços a serem
prestados para a população, eficiência é um dever do Estado, e não do povo.
Desejo de desejos incríveis
E então o Estado, para dar uma primária atenção a alguém,
num início de contatos para saber dos seus problemas, já havia inventado a
impessoalidade dos processos. Sem precisar olhar nos olhos, nem ouvir histórias
tristes de ninguém, focava-se o que interessa...
Entretanto, do outro lado, o povo não sabia inventar
processos, só sabia mesmo é viver histórias, tristes ou não, e dá-lhe querer
serviços.
Aliás, quando o assunto é querer, o povo costuma ter desejos
incríveis - tais como saúde, educação, segurança, transporte e etc. -, desejos
de desejos tão incríveis que o povo costuma justificar o pagamento de altos
tributos para isso.
Atendimento
A substituição do atendimento no momento da necessidade do
cidadão, pelo da possibilidade de dar atenção a ele através do agendamento,
revelaria os primeiros passos da ineficiência do Estado sendo bancada pelo
povo. Diferente seria se o agendamento fosse feito para casos especiais, em que
cidadão é que fizesse questão de ser atendido de maneira diferente, mas não a
única forma de se obter atendimento do Estado, como atualmente em muitos casos.
Quanto aos serviços mal prestados, e quanto aos que o
judiciário acaba resolvendo para o solicitante, por conta da negação descabida
de pedidos, esses sim, são o modelo da ineficiência não casual...
Sérgio de Paula Santos é bacharel em Administração de
Empresas e Analista-Tributário da Receita Federal do Brasil.
sergiopaulasantos@hotmail.com
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