sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Uma versão popular argentina da Lenda de Naipi e Tarobá na qual os atores são guarani (III)

 

" ... cada vez que um arco-íris aparece no horizonte, significa que Tarobá e Naipí voltam a se juntar". Jornalistas de Foz debaixo do arco-iris de Naipi e Tarobá

Esta é mais uma versão da lenda de Naipi e Tarobá coletada pelo Blog de Foz. Um destaque especial desta versão é que os habitantes eram guarani 


Conta a lenda  que faz muitos anos habitava o rio Iguaçu uma serpente gigante e malvada chamada Mboi*. Era tão monstruosa e egoísta que exigia uma oferenda de todos os povos que viviam no entorno desse rio de "água grande". Os habitantes Guarani tinham que sacrificar uma linda donzela uma vez por ano e dar a ela. Eles tinham que jogá-la no rio para que o animal não lançasse suas terríveis maldições sobre eles.

Para esta cerimônia foram convidados todos os membros das tribos daquela origem, pois o rio era tão caudaloso que permitia o desenvolvimento de várias.

Foi assim que em certo ano uma donzela "aborígene" de cabelos longo chamada Naipí foi escolhida para ser dada em sacrifício. Ao mesmo tempo, chegou à frente de sua tribo um jovem cacique chamado Tarobá. 

O jovem valente, ao conhecer Naipí, ficou apaixonado. E tão grande foi seu amor que Tarobá se rebelou contra os anciãos da tribo. Desesperadamente, tratou de convencer a não sacrificar Naipí. Porém todo esforço foi em vão.  O temor que o povo sentia do monstro do rio era maior do que os apelos sinceros de Tarobá.

Então para salvar Naipi na noite véspera do sacrifício, o jovem cacique levou Naipí até sua canoa e tentaram escapar pelo rio. Nesse momento, Mboi, que via tudo, ficou furiosa e com seu lombo partiu o leito do rio. 

Desta maneira se formaram as Cataratas, onde os namorados terminaram atrapados. Como se isso não fosse suficiente, a cobra cruel decidiu separar os casal para sempre. Converteu Tarobá em árvores, esses que até hoje se pode ver na parte superior desta paisagem. Ao passo que Naipi foi transformada nas poderosas quedas d'água das Cataratas.

Diz a lenda que Mboi segue submersa na Garganta do Diabo, vigiando para que os enamorados não voltem a se reunir. Contam que cada vez que um arco-íris aparece no horizonte, significa que Tarobá e Naipí voltam a se juntar pelos menos enquanto durem essas luzes fantásticas no céu.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Uma outra versão da Lenda das Cataratas publicada em texto de Silveira Netto (1914) Parte II

Mboi entre Tarobá e Naipi. Escultura no Marco das Três Fronteiras

Discutindo a Lenda das Cataratas - Segunda Parte

Esta é uma versão da Lenda das Cataratas encontrada em uma publicação do acervo da Biblioteca Pública de Foz do Iguaçu, até agora para mim sem data e identificação e que tem a seguinte introdução:

"Para explicar os fenômenos da natureza os índios não se dedicam à investigação científica. Preferem atribuir tudo a misteriosos poderes de divindades ou seres mitológicos diversos, criados por sua própria imagina ção, dai nascendo histórias fantásticas. Para explicar a formação das Cataratas do Iguaçu, os índios inventaram uma lenda em tempos que ninguém sabe precisar, mas que passou de geração em geração e que conservou o enredo essencial apesar dos diferentes matizes introduzidos por aqueles que reproduzem a estória.

A versão que aqui apresentamos é narrada pelo escritor Silveira Netto, em sua obra "Do Guaira aos Saltos do Igauçu", escrita em 1914, após uma viagem que fez a esta região, No relato de Silveira Netto os nomes das personagens são Naipir e "Carobá, ao invés de Naipi e Tarobá como são conhecidas hoje".

Mas é possível que a fonte de Silveira Netto tenha sido o viajante basco Florencio  de Basaldúa, a serviço do Instituto Geográfico Nacional (Argentina) e  autor do livro "Pasado, Presente y Porvenir del Territorio de Misiones" (página 163, 1901).

A introdução brasileira da lenda de Basaldúa diz:
"O escritor argentino Basaldúa* conta, em sua narração da viagem em que fez pelo seu país à grande cachoeira: Uma noite, enquanto palestravam, sentados à beira mesmo da grande catarata de Carobá, cataratas que alguns denominam "União Argentina-Brasileira", um velho índio, Yaru, da peonada que estava ao meu serviço, referiu-nos a lenda de Naipir, tal qual a referiam seus pais, e de geração em geração a conservam em sua tribo. 

Destaques: o índio era peão (mesmo elemento destacado por Laurindo Ortega), o nome dele era Yaru! O nome União Argentina-Brasileira para as Cataratas (denominada por alguns). O nome Tarobá e Carobá e Naipi é Naipir.     

* Florencio de Basaldúa (1853-1932). Foi publicado um livro em 2021, do autor basco Kepa Altonaga chamado "Euskal-Berria: Florencio Basaldúa: un vasco en la Argentina no qual Balsadúa é um personagem histórico. Nascido em Bilbao, País Basco (Espanha), ele sonhou com uma colonização basca na Patagônia.Daí o nome Euskal Berria (Novo Basco) do livro.  Ele é mencionado como basco-argentino, hispano-argentino ou no Brasil somente como argentino. Engenheiro, ele escreveu dois livros, em missão especial,  sobre Misiones. Ele foi hóspede da Colônia Militar do Iguassu e registrou a existência de uma placa indicativa de uma picada que mostrava a direção do futuro Parque Nacional do Iguaçu. Ele atribui a placa possivelmente à iniciativa do comandante da Colônia, capitão Edmundo Xavier de Barros. 
 



Agora sim, a Lenda:

Muitas vezes, dizia, tem girado a Lua ao redor da terra, desde que a catástrofe aconteceu. “As matas que cobrem o vale e os morros do I-Guazú ainda não haviam nascido, apesar das grandes árvores do mato terem troncos que dez homens não podem abraçar, porque viveram mais de mil anos enraizados na Terra.

“Outras florestas maiores que as de hoje, embelezaram a terra com suas flores e seus frutos quando Naipir nasceu, Naipir a bela, filha de Mboí, o grande Pajé, em cujo templo vivia o Deus-Serpente que governava o mundo, como agora o Deus-Canhão e o Deus-Ouro governam a raça dos homens brancos.

“Naipir era bela e, além de bela, era virgem e jovem, e o Deus-Serpente a quis para si, para seu culto, e a consagrou solenemente e a trancou no templo, como os Pajés de sua raça prendem donzelas inocentes para ajudá-las a realizar os mistérios de sua religião.

“Carobá, jovem guerreiro e cacique de sua tribo Kainagaingá, apaixonou-se pela bela Naipir, porque Carobá era forte, saudável e corajoso, acima de todos os moços ao redor.

“Na noite da consagração da donzela, enquanto os velhos pajés e os caciques presentes no banquete esvaziavam  grandes cuias desbordantes de espumoso licor, Carobá arrebatou a bela Naipir e fugiu com ela em pequena piroga arrastada pela rápida corrente das águas.

“Quando o Deus-Serpente, acordando depois de uma longa e sonolenta digestão, viu que a virgem Naipir havia fugido do templo, e alertado pelo pelo rumor do rio cujas águas golpeavam a "pagaya" (canoa) de Carobá, - que a bela virgem estava fugindo com seu amado, tomado de raiva e ávido de vingança, contraiu os anéis de seu corpo que ele esconde nas entranhas da terra, e a crosta, rachada instantaneamente, produziu essa terrível catarata.

“Naipir se transformou em uma rocha insensível que o fogo subterrâneo aquece incessantemente, como o amor aqueceu seu coração no amor, e as águas torrenciais do grande rio saltam sobre seu busto, desde então, para apagar os fogos de seu amor sacrílego.

“Carobá, o sedutor, foi transformado em árvore à beira do abismo, perto de sua canoa quebrada, e condenado a contemplar a imagem de sua amada, que com olhos de pedra, olha para ele, sem poder beijá-la.

“Aquela forma branca que um véu de água esconde dos olhares profanos, é Naipir que vive, que ouve, que sente e treme de desejo, mas que não pode falar.

“Esta árvore solitária que se vê no meio do rio, à beira do abismo, é Carobá, eternamente apaixonado pela bela Naipir, a quem envia o perfume de suas flores e murmura de amor quando a brisa agita a folhagem de sua coroa, mas que jamais poderá pular no colo da bela mulher que o espera.

"Debaixo de nossos pés está a entrada da caverna, de onde a serpente vingadora persegue incessantemente suas duas vítimas, e é por isso que temos medo de entrar na caverna."

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 Confira a 1ª parte, a , e a 5ª partes da discussão. 

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

O Pai da Lenda das Cataratas no Brasil ou a lenda da Lenda das Cataratas (I)

 Introdução 

Discutindo a Lenda das Cataratas - Primeira Parte


Como o senhor descobriu a Lenda das Cataratas?

O empresário Laurindo Ortega, falecido aos 86 anos em 2021, tem uma cadeira cativa como imortal na história de Foz do Iguaçu por vários motivos. Ele teve o primeiro registro de Agente de Viagens emitido pela Embratur em Foz do Iguaçu; ele construiu um hotel que embora tenha mudado de nome continua servindo a cidade; atendeu a milhares de pessoas com sua estrutura que incluiu presidentes, atores, autoridades e celebridades. Com estes exemplos ele deixa um legado material importante.
Aqui a gente diz Tarobá

Mas hoje o Blog de Foz quer trazer à atenção um novo fato. Uma contribuição imaterial do empresário que é maior do que rudo que ele realizou. Estamos falando da Lenda das Cataratas. 
Ele mesmo diz, em uma entrevista para um documentário produzido para celebrar os 100 anos de Foz do Iguaçu: "Eu sou o pai da Lenda das Cataratas no Brasil".    
O que segue abaixo é uma degravação (ou transcrição) das palavras de Ortega no vídeo. Ortega começa falar após a pergunta de uma criança (na época). A pergunta foi: Como o senhor descobriu a Lenda das Cataratas?

Laurindo Ortega - A Lenda da Lenda
Ortega responde:

- Eu sempre fui um cabeça aberta. Tinha um "bugrão" lá, um índio que era um contador de madeira na serraria, e o índio escrevia. Aí eu olho leio assim tá-ta-tá: Lenda de Naipi e Tarobá. Eu sou o pai da lenda aqui no Brasil, a Lenda das Cataratas.

Que acontece? Eu peguei aquele caderno e guardei ... pedi pra minha irmã me dá (e ela disse) não, pode levar. Depois eu saí, fui para ... pela segunda vez...que terminou os negócios do meu pai lá. Eu trabalhava no mato.  ... aí conversando com uns 30 índios  que trabalhavam conosco cortando madeira, fazendo estradinhas. Daí o cacique contava umas histórias, contou da guerra do Paraguai. ... coisa mais antiga? Ah não a mais antiga é a lenda de Naipi e Tarobá - aqui nós falamos Tarobá, lá é Itarová, cara de pedra assim como nós falamos "esse cara é cara de pau", o índio, o paraguaio chama Itarová. O que acontece?

Ele começou a contar e não é possível! Aí eu fui ver quando vim aqui na Foz,ver aquele caderno e era exatamente a mesma história de Naipi e Tarobá. Digo que eu sou pai porque eu divulguei pra todo o lado. 

Notas

1) O Documentário Pioneiros foi realizado pela Vision Arts com orientação da Secretaria Municipal de Turismo e postado no Youtube pela Câmara Municipal de Foz do Iguaçu. O trecho da fala do empresário esta entre os minutos 19:19 e 20:49.

2) A questão do nome Tarobá ou Itarová é mencionada de passagem no meu livro Sete Arcos, Três Degraus,  página 39.  



quarta-feira, 7 de setembro de 2022

O Parque Nacional do Iguaçu é a maior reserva de Mata Atlântica do Sul do Brasil?

Rio Iguaçu ou Iguazú. À direita Parque Nacional do Iguaçu; à esquerda, Parque Nacional Iguazú


Indo direto ao assunto: não! O que as pessoas querem dizer quando afirmam que o PNI é a maior Reserva* de Mata Atlântica é, na realidade, que o Parque Nacional do Iguaçu é o maior Parque Nacional de Mata Atlântica no Sul do Brasil. Confira na lista dez parques nacionais nos três estados do Sul do Brasil.

O Parque Nacional do Iguaçu é, isso sim, o maior deles com 185.262,5 hectares. Em segundo lugar vem o Parque Nacional Ilha Grande, também no Paraná, com 76.033,12 hectares. Um total arredondado dos dez parques nacionais do Sul é de 368.266 hectares. Acrescentando as 185.262,5 hectares o número chega a 553.528 hectares que protegem a Mata Atlântica e ambientes "vizinhos" como a Lagoa do Peixe.

PN Aparados da Serra (SC/RS) 13.141,00 hectares
PN Araucárias (SC) 12.141.00
PN Campos Gerais (PR) 21.298.91
PN Guaricana (PR) 49.289
PN Ilha Grande (PR/MS) 76.033.12 hectares
PN Lagoa do Peixe 36.721.71 hectares
PN Saunt Hilaire/Lange 25.118.90 hectares
PN São Joaquim 49.300.00
PN Serra do Itajaí (SC) 57.374 hectares
PN Superagui (PR) 33.860.36 hectares
PN do Iguaçu (PR) 185 262,5 hectares
*Reserva é uma das categorias oficias do Sistema nacional de Unidades de Proteção (SNUC) e incluem as Reservas Biológicas, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável, Reserva de Fauna, Reservas Extrativistas e Reservas Particulares do Patrimônio Natural.

Extra!!! 

Lá vai o trem atravessando a Mata Atlântica na Serra do Mar

A Grande Reserva Mata Atlântica 😄😄😄

Seguindo o litoral de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro há uma boa quantidade de florestas em bom estado de conservação. São 1.8 milhão de hectares de floresta tropical contínua com uma enorme e diversa vida selvagem, montanhas, cavernas, cachoeiras, baías, manguezais e praias do oceano Atlântico. Esta reserva é muito maior que os 11 parques nacionais federais do Sul juntos. A composição desta reserva é complexa e inclui unidades de conservação estaduais e particulares em diversas categorias. Quem faz o passeio de trem entre Curitiba e Morretes conhece um pequeno trajeto dessa Grande Reserva Mata Atlântica.


 

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Empresa de Foz do Iguaçu vai administrar área de visitação do Parque Estadual do Turvo no RS

Mais longo salto longitudinal do mundo

Estou orgulhoso e quero parabenizar o grupo Macuco Safari, neste caso a empresa Três Fronteiras Navegação e Turismo por ter-se tornado concessionária da área de visitação do Parque Estadual do Turvo, no município de Derrubadas (RS), fronteira com Itapiranga (SC) e Soberbio (Misiones), Argentina. A Três Fronteiras é a empresa que opera o Kattamaram e tem atividades em Capanema junto com a empresa Ilha do Sol. Eis um um grupo empresarial que nasceu no Porto Meira. A expertise do grupo não deixa de ser um produto de exportação de Foz do Iguaçu e por isso, eu acho que Foz do Iguaçu inteira está aplaudindo a conquista. De minha parte Parabéns!

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Borboletas do Parque Nacional do Iguaçu e região internacional do entorno

 

Uma borboleta 88 da família Nymphalidae do gênero Diaethria no dedo de um visitante das Cataratas do Iguaçu, Parque nacional do Iguaçu deixando ver detalhes de cores e os padrões que formam o 88 no lado exterior da asa 

(Material publicado no site do Visit Iguassu  em 28 de janeiro de 2020, aqui republicado para adicionar fotos de exemplares de borboletas para republicação) 

Há pelo menos 18.682 espécies de borboletas no mundo. Dessas, 3.280 espécies estão no Brasil. O Parque Nacional do Iguaçu serve de abrigo para cerca de 800 espécies, das quais só 257 foram devidamente identificadas. O pesquisador argentino Ezequiel Núñez Bustos catalogou 653 espécies para o Parque Nacional Iguazú, Argentina.

Mas ainda há trabalho a fazer, pois algumas áreas do parque ficaram fora da pesquisa. Nesta altura, você pode estar perguntando: esses números, para os parques nacionais Iguaçu/Iguazú, são muito ou pouco? São significantes. Basta lembrar que a Europa inteira tem 244 espécies de borboletas.

É cada vez mais comum os viajantes mencionarem as borboletas das Cataratas do Iguaçu como uma das grandes atrações da região. Há comentários de visitantes em sites como o Trip Advisor, em que afirmam que as borboletas, em si, já seriam motivo para a criação dos Parques Nacionais que levam o nome do rio Iguaçu, um em cada lado da fronteira.