domingo, 10 de novembro de 2019

Depois da Roça Nova: descendo a Serra do Mar de Trem




Depois do túnel um banquete de Mata Atlântica

Com a velocidade, a estação da Roça Nova passou voando. Melhorou a estrutura. O túnel apareceu rápido à frente e entramos nele. São 600 metros de túnel. As luzes acendem, os passageiros vibram. O guia do Vagão, Patrick Santos, pergunta se todo mundo já ouviu a expressão, luz no fim do túnel e pede para que olhemos para trás. Lá estava o maior símbolo da fé no futuro: siga a luz no fim do túnel. 


Manutenção a postos e samambaias gigantes

Depois do primeiro túnel já estamos dentro das bacias de rios que correm para Morretes e Baía de Antonina e Paranaguá, o mar. Estávamos fora da Bacia do Rio Iguaçu, que corre para o Rio Paraná, rumo ao Oeste. É a minha bacia. É aquela que serve de aquário para mim e para dezenas de municípios do Paraná, parte de Santa Catarina e um pedaço da Argentina. O divisor de águas é aquela serra debaixo da qual o túnel foi escavado nessa obra de engenharia assinada pelos engenheiros Rebouças: André e Antônio Rebouças.

Ao lado do túnel, esse no qual entramos há outro. Na minha época de caminhada nos trilhos, encontrei equipes de manutenção. Um dia, membros de uma equipe me mostraram um outro túnel ao lado dele. Me contaram que o túnel estava sem uso porque quando estavam escavando houve um erro de direção. Duas equipes cavaram o túnel em direções opostas na esperança de se encontrarem no meio. Daí, disseram, algo deu errado. Acreditei e deixei prá lá. Depois da viagem, li que os dois túneis eram usados. O da esquerda teria sido desativado há uns 20 anos. E hoje há nele uma adega. Fico devendo essa explicação. Vou consultar e volto.  
Na Varanda do Vagão


A partir daí, quer dizer depois de atravessar o túnel estou em terra virgem. Icognita, para mim. Começa um banquete de Mata Atlântica. Primeiro, à direita, o lago e a chaminé da Represa Caiguava. Não que ul lago precise de chaminé. Ela estava aí quando o lago foi formado. Me chamam a atenção as imensas samambaias. Estamos na maior reserva de Mata Atlântica do Brasil – daqui ela se estende na direção de São Paulo e Santa Catarina. Houve recentemente o lançamento de um conceito chamado Grande Reserva da Mata Atlântica há poucos dias. “São aproximadamente 1 milhão de hectares de áreas naturais não fragmentadas que abrange os estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo conectando unidades de conservação já existentes e promovendo iniciativas voltadas à preservação do patrimônio natural e cultural da região da Serra do Mar” diz a descrição da SPVS

Para comparar, as Cataratas do Iguaçu ficam no Parque Nacional do Iguaçu que conta com 180 mil hectares de florestas. Praticamente, uma mixaria e tem gente que acha que isso é muita terra. Atravessamos um bom trecho sem túneis, vendo rios, cachoeiras e paisagens de tirar o fôlego. Até que os túneis chegam. 

Quem esculpiu esse cânion? Não é foto minha. Confira original
Para dar nomes, uma dessas paisagens se chama "Cânion ou canyon do Rio Ipiranga". Vale a pena ver o cânion sentado em uma cadeira a partir do céu, quer dizer, não precisa ir para o céu para ver melhor, longe disso, pode ser de helicóptero, trike-asa delta ou drone. Se o cânion é do rio Ipiranga, isso significa que o rio Ipiranga cavou esse cânion? Quanto milhões de anos de história esse cânion revela a quem passa agarrado às suas paredes abordo de um trem? 
 
O rio Ipiranga

Trilheiros e exploradores do trilho na região do Marunbi  
Esse cânion é uma daqueles coisas quase absurdas, no bom sentido, que a Natureza coleciona no Paraná, (para ser bairrista). O rio Ipiranga nasce por aqui perto do Marumbi. Mais abaixo ele se encontra com o rio São João, não necessariamente nessa ordem e a partir daí passa a existir o rio Nhundiaquara com um trajeto, a partir daí, de 37 quilômetros até  o mar. O rio Nhundiaquara é aquele que atravessa Morretes e onde foi popularizado o Bóia Cross no Brasil. Estamos falando de um rio pequeno, de um sistema de rio pequeno e mesmo assim com a capacidade de cavar um cânion dessas proporções. 
 
Me apaixonei pelo rio Ipiranga. O trem passou pela estação Marumbi, aquela onde descem os montanhistas, os escaladores, os trilheiros que vão aproveitar as diversas trilhas que há na região. O guia lembra que a região é constantemente visitada pelo montanhista paranaense Waldemar Niklevicz - aquele que já escalou o Himalaia.Há um trem de carga parado aguardando o trem de passageiros passar. E na plataforma há uma boa quantidade de pessoas na plataforma. Há gente de todas as idades, há escoteiros, estudantes e outros que vão explorar os picos da serra e outros que fazem trilhas entre elas o Caminho do Itupava - o Caminho mais antigo do Paraná. Primeiro veio ele, construído sobre traçado do Caminho Peabirú ou Tapé Aviru depois a Graciosa, depois o Trem, depois a BR 277, isso falando em caminhos que ligam o mar a Curitiba.
    


Da varanda do trem, se pode ver todo o caminho que a composição vai fazer sempre em frente, em suave descida, fazendo uma grande curva à esquerda. Dependendo do número de vagões é possível ver parte do trem, no outro lado curva em "U".    

Nenhum comentário: