terça-feira, 5 de maio de 2020

Regiões Turísticas do Paraná: ideias e sugestões para aproveitar o potencial turístico do estado depois que o coranovirus passar

Como jornalista com certa dedicação ao turismo e sua ligação com a cultura tenho tido o privilégio de conversar com cônsules e embaixadores à serviço de diversos países no Brasil. É um dos mandatos de minha profissão. Todos eles estão na mesma situação.  Uma de suas missões é promover negócios de brasileiros, no caso do Brasil, com seus países inclusive o turismo que é um item de exportação-importação. Centenas de atrativos, cidades e regiões em seus países esperam resultados do trabalho dos departamentos de turismo de embaixadas e consulados. 

O cônsul da França, por exemplo, comentou que uma dificuldade dele é espalhar no mercado brasileiro a ideia de que a França não é só Paris. Ao passo que Paris receba 30 ou 40 milhões de turistas por ano, centenas de localidades históricas, culturais, ricas em oportunidades de lazer não são visitadas e não recebem visitantes o que significa amargam prejuízo. Um cônsul americano reclamou da mesma coisa. Ao passo que Miami, Orlando e Nova York recebam milhões de brasileiros, o mesmo acontece em relação a outras centenas de cidades, centros, universidades que existem nos 46 estados continentais tirando da lista a Flórida e Nova York. Mesmo no nível local a reclamação existe. Orlando, na Flórida, tem setores do turismo que reclamam: Orlando não é só parques de diversão! 
A Espanha que recebe milhões de visitantes em Madri, Barcelona, Ibiza e Ilhas Canárias conta com centenas de cidades que gastam muito em dinheiro em feiras de turismo especialmente a FITUR mas não consegue atrair o público internacional. É uma tendência. É o mesmo que acontece em todos os países: Argentina, Brasil, Bolívia, Rússia, Noruega, Suécia, Alemanha.Quantas cidades da Finlândia você gostaria de visitar além de Helsinki? Quantas cidades da Suécia você sabe que existe além de Estocolmo? Ou da Rússia?


No nível estadual no turismo interno brasileiro acontece a mesma coisa. Tomemos como exemplo o Paraná que turisticamente falando esta dividido em 14 regiões dentro das quais três se destacam e mesmo assim com desigualdades: Litoral, Curitiba e Foz do Iguaçu. Segundo o Ministério do Turismo, o Paraná tem 283 municípios com vocação turística. Quanta gente desses municípios gastou dinheiro na tentativa de ver o turismo fazer alguma diferença econômica nas suas cidades? A maioria com grande grau de decepção, por falta de resultados? A queixa e o desafio são as mesmas: Paraná não é só Curitiba! Paraná não é só Curitiba e Foz do Iguaçu! Paraná é só Foz do Iguaçu! Vejamos as regiões turisticas do Paraná com destaque para aquelas ligadas pela BR-277.        

RT1
Igreja histórica de Antonina
A Região Turística  Litoral do Paraná (RT1) é formada por cidades históricas como Antonina, Morretes, Guaraqueçaba, Paranaguá além de "balneários" como Matinhos, Pontal do Paraná e Guaratuba, Ilha do Mel em Paranaguá e Superagui, em Guaraqueçaba. 

Nesta região domina o turismo de praia e sol das férias de fim de ano. O peso dos visitantes, literalmente se encaminha às praias e é  sazonal. Ficamos devendo um trabalho que ultrapasse os limites da divulgação e envolva a educação sobre Antonina, Morretes, Guaraqueçaba e Paranaguá. Afinal o Paraná começou em Paranaguá e subiu a Serra. Essas cidades necessitam alguma coisa que envolva educação, divulgação, promoção para que outra espécie de turismo traga gente à região independente do nosso famoso “Verão Paraná”.

RT2 Curitiba e Região - Subindo a Serra


Da RT2 para a RT1 de trem
 A  RT2 que se chama oficialmente  Rotas do Pião. Você tem alguma ideia do que isso significa? Falo com a visão de quem está em Toledo, São Miguel do Iguaçu, Moscou ou Manaus. O que esperar da rota do Pinhão? O coração dessa rota é Curitiba. Inclui Curitiba com tudo aquilo que a gente pode saber de longe: os ônibus, as estações tubo, os parques, o Jardim Botânico, a Ópera de Arame, o Monumento Árabe, a Praça Japão. Essa rota corresponde à Região Metropolitana de Curitiba o que inclui cidades como São José dos Pinhais, Colombo, Balsa Nova, Piraquara, Tijucas do Sul, Quatro Barras, Campina Grande do Sul e Mandirituba, Lapa e Porto Amazonas. Aí estão circuitos temáticos ligados ao turismo rural como o Circuito Italiano (Colombo), Caminho do Vinho (São José dos Pinhais). Precisamos responder o que cada uma dessas cidades possui, suas histórias, como foram formadas?


RT3 - A Região dos Campos Gerais  
Vila Velha é o que atualmente mais impressiona nos Campos Gerais. Não consigo entender por que o mundo não saiba da existência de Vila Velha. E Vila Velha é parte de um cenário que inclui campos, escarpas, cerrados, furnas, o Cânion do Guartelá. Parece que essas áreas ficaram de fora do roteiro por causa do traçado da BR-277 utilizada pesadamente pelos viajantes apressados. Quem faz uma pausa e se permite explorar os Campos Gerais não se arrepende. Esses campos foram colonizados e ocupados por diferentes etnias com tudo tendo começado com os portugueses, depois com os tropeiros, os alemães e os holandeses o que pode ser conferido em museus como o do Tropeiro, em Castro, o do Parque Histórico de Carambeí, o Centro Cultural da Imigração Holandesa também em Castro,  Castrolanda, Witmarsum e Palmeira.

A escarpa Devoniana nos Campos Gerais 

A região é também parte da Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana que ocupa 392.363,38 hectares de terras divididas entre os municípios de  Lapa, Balsa Nova, Porto Amazonas, Palmeira, Campo Largo, Ponta Grossa, Carambeí, Castro, Tibagi, Piraí do Sul, Arapoti, Jaguariaíva e Sengés. 
Escarpa Devoniana? O que é isso? Primeiro, é um relevo, a configuração rochosa de uma área de transição  entre diferentes províncias fisiogeográficas que dizer físicas e geográficas. Em termos paranaenses a escarpa é uma área de transição entre o primeiro e o segundo planalto paranaense  (lembre que o Paraná tem três planaltos). E essa configuração vem de um período chamado devoniano que ocorreu 400 milhões de anos atrás. Se chegarmos em Moscou ou Nova York e falarmos de um local no Brasil que tem um área de mais de 300 mil hectares que protege um área do Período Devoniano quem estuda geologia, geomorfologia, clubes de viagem, revistas como a National Geographic entre outros atores, sabem muito bem qual é o valor disso. Haverá também sempre algum operador de turismo mais segmentado e especializado que gostariam de incluir a região em seus  roteiros.

Escarpa Devoniana região de Castro - Tibagi

É urgente divulgar a Escarpa e o período devoniano. O mundo já sabe. A falta dessa divulgação e uso leva os proprietários de terras com poder político andarem sugerindo a diminuição da área de proteção do mesmo que jeito que muitos desinformados, inclusive no turismo, sugiram a diminuição da área do Parque Nacional do Iguaçu, no Terceiro Planalto, que com suas 180 mil hectares parece grande demais. A formação rochosa que leva o nome de devoniana se deve ao fato dessas rochas terem sido descobertas primeiro em um condado da Inglaterra chamado Devon onde se encontra o Parque Nacional de Dartmoor. A região inglesa pode ser considerada irmã da região paranaense da Escarpa Devoniana, mecas do Geoturismo  (outro link de geoturismo que tem como lema "natureza com inteligência")            

RT10
A terceira Região Turística do Paraná com influência é a RT10 cujo nome oficial é Cataratas do Iguaçu e Caminhos ao Lago de Itaipu. Esta é uma região onde há muita desigualdade. A capital dessa região é Foz do Iguaçu onde estão as Cataratas do Iguaçu, a sede do Parque Nacional do Iguaçu e a Itaipu Binacional que junto com atrativos como o Parque das Aves e o Marco das Três Fronteiras recebem milhões de visitantes de todo o Paraná, de todo o Brasil e de mais de 170 países independentes ou tutelados do mundo. Mas o nome da região é Cataratas do Iguaçu e Caminhos ao Lago de Itaipu. Como funciona turística e economicamente a segunda parte do nome da região, Caminhos ao Lago de Itaipu?  

A região tem como coração o Lago de Itaipu que vai de Três lagoas em Foz do Iguaçu até Guaíra passando por Santa Terezinha de Itaipu, Itaipulândia, Missal, Diamante do Oeste, Entre Rios do Oeste, Marcedes, Pato Bragado, Santa Helena, Pato Bragado, Marechal Cândido Rondon tendo com associados ainda Mundo Novo, no lado sul-matogrossense do rio Paraná, Terra Roxa, Medianeira e São Miguel do Iguaçu. A região inclui dois parques nacionais: PN Iguaçu e o Parque Nacional de Ilha Grande. Não se pode comparar a visitação do Parque nacional de Ilha Grande com a do Parque Nacional do Iguaçu. O Parque Nacional do Iguaçu recebe mais de 2 milhões de visitantes acima de tudo por causa das Cataratas. Não há atividades ou há pouca atividade no restante do Parque Nacional do Iguaçu ou no entorno do mesmo jeito que não há números e nem como visitar o Parque Nacional de Ilha Grande com sede em Umuarama. É preciso trabalhar esta região.

E as outras regiões?
Entre a Região Turística Três (RT3), Ponta Grossa-Campos Gerais e Foz do Iguaçu Lindeiros do Lago  o que existe em termos de regiões turísticas? A resposta segue o traçado da BR-277. As regiões não seguem um linha reta. Assim entre a RT 3 e a RT 10, vem no sentido Curitiba-Foz do Iguaçu as regiões RT13, RT12 e RT11. 

O coração da RT12 é Laranjeiras do Sul e a RT11 tem como capital, ou como se dizia em turismo não faz muito tempo "Destino Indutor" Cascavel. É neste trecho, entre os Campos Gerais e Foz do Iguaçu que acontece o nó cultural que tem que ser desfeito. Esse é um trecho de alta velocidade para os viajantes que voam em seus carros de Foz do Iguaçu a Curitiba, pagando pedágio, reclamando dos preços e tentando chegar o mais rápido possível nos dois sentidos. É neste trecho da área de influência da BR-277 que, turisticamente falando, as regiões têm que ser trabalhadas.estimuladas, provocadas e incluídas. É necessário ajudar o viajante a reaprender a viajar.    

RT13 - Polônia e Ucrânia andaram por aqui
Esta região se chama Terra dos Pinheirais localizado no Centro Sul do Paraná. Não confundir Terra dos Pinheirais com a Rotas do Pinhão (Curitiba e RMC). A Terra dos Pinheirais tem limites com as Regiões Campos Gerais e Rotas do Pião. A imigração europeia é um dos temperos da região. Uma referência é Prudentópolis, a cidade mais ucraniana do Brasil e São Mateus do Sul, a Capital Polonesa do Paraná. Seguem cidades como Irati e Mallet com população ucraniana e polonesa. Mallet foi morada do pai da ornitologia paranaense, o imigrante polonês Tadeusz Chrotowski que se fixou por pouco tempo na colônia Vera Guarani na cidade antes de partir para desvendar os pássaros do Paraná. A RT13 inclui ainda Porto Vitória e União da Vitória às margens do rio Iguaçu lugares que participaram na navegação do rio Iguaçu transportando passageiros na época de ouro da erva mate. 

RT12
Localizada no Centro do Paraná, a Região Turística 12, Estradas e Caminhos  esconde o jogo e não dá nenhuma dica para identificação do que pode se encontrar lá.  A alma dela se chama Guarapuava. É injusto que a cidade não esteja na rota do turismo e dos viajantes. Guarapuava foi o ponto de partida para a abertura da estrada estratégica que levaria até a margem do rio Paraná e à foz do rio Iguaçu o que deu o ponto inicial para a criação futura de Foz do Iguaçu e municípios do Oeste e Sudoeste do Paraná. Entre os atrativos da cidade estão parques municipais, museus, o Parque Estadual Serra da Esperança além de colônias alemães no distrito de Entre Rios e o quilombo Paiol de Telhas. A história de Guarapuava é parte da  lista de lugares que o Governo Imperial utilizou degradados para colonizar e proteger.


RT11 
A próxima região turística se chama Riquezas do Oeste ou Região Turística 11. Esta região é puxada por Cascavel e inclui municípios como Toledo, Maripá, Capitão Leônidas Marques onde o turismo de negócios e eventos ligado ao agronegócio é um destaque com oferta variada no turismo rural e no caso de Capitão Leônidas Marques até um Sítio Arqueológico revelado após a construção da Usina Baixo Iguaçu.A RT 11 tem um sabor rural aprofundado. Não vamos aprofundar no que esta região tem a oferecer, no momento. As regiões mostradas aqui são exclusivamente as que têm ligação com a BR-277. Outras regiões serão abordadas em breve. Isso aqui é só para dar uma ideia de roteiros.

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