Na quarta-feira, dia 20 de novembro de 2024, o casal Daniel Vitor de Paula e Larissa Silva Moura, estudantes de medicina no Paraguai, já no sexto ano, cruzavam a Ponte Internacional da Amizade, quando houve um acidente trágico envolvendo a moto e uma van. Larissa morreu. Vitor de Paula foi gravemente ferido.
Que não permitamos que este acidente trágico que colheu uma vida e vai marcar a vida de Vitor de Paula, do pequeno filho que deixam, de familiares e amigos, seja esquecido. Já não se fala nada. Não se sabe nada. E isso não é bom.
Morrer no sexto ano de uma faculdade de seis anos é uma tragédia. Quanto investimento econômico, emocional, físico e espiritual. Como Larissa e Vitor, quantos brasileiros e brasileiras deixam seus estados e cidades, casas e famílias para estudarem "Medicina no Paraguai" - frase que já alcançou status de mantra. Estudar medicina no Brasil é proibitivo. É um curso caro. Fala-se de R$ 10 mil por mês de gasto.
No Paraguai para o paraguaio também é caro. Mas não é meu propósito aqui, falar sobre tarifas.
Falo da necessidade de uma certa responsabilidade de cidades fronteiriças como Foz do Iguaçu. Centenas ou milhares de estudantes geram divisas para o setor imobiliário de Foz do Iguaçu. Centenas desses estudantes trabalham em Foz e são encontrados dirigindo carros de aplicativos e outros trabalhos para arcarem com os custos. Esta população não pode continuar invisível.
Tendo que morar em Foz, trabalhar em Foz e atravessar a ponte todos os dias,me vem à mente a questão do transporte. Como se chega a Ciudad del Este ou Presidente Franco? Pelo transporte público que não leva em consideração a existência desse público. Para uma aula que começa às 7h, embora os ônibus comecem a rodar às 05h10, dos bairros ao TTU, no TTU a espera do ônibius Vila C via Ponte pode demorar até uma hora. Isso para quem vai atravessar a ponte a pé. Se desejar ir no ônibus que se chama urbano internacional,a tendência é que os ônibus comecem a rodar às 6h. E quando há fila na Ponte?
Por isso para os mais jovens vem a ideia salvadora de comprar uma moto e ganhar uns minutos em seu próprio veículo.
Mas pilotar moto na Ponte Internacional da Amizade é uma atividade kamikaze. Mesmo nos lugares onde há canaletas para motos. Só gente com muita habilidade consegue enfrentar as curvas, movimento,buzinaços e outros perigos das canaletas e travessia da ponte no meio de carros e motos. Algumas manobras lembram as motos nos Globos da Morte de circos da vida.
Há que se divulgar que o Paraguai exige que quem estude medicina no país tenha residência no país. Mas é necessário investir em repúblicas- alojamentos para universitários, comunidades econômicas especialmente para os mais jovens.
Finalmente é necessário melhorar o transporte público. No lado de Foz, a maioria dos ônibus tem ar condicionado. Mas não tem horários frequentes. Tanto é problemático o assunto que quando o passageiro está esperando há uma hora na fila, a fila cresce absurdamente e no final chegam dois ou três ônibus de uma vez.
No sábado, três dias após o acidente com Vitor e Paula, eu atravessei a Ponte também para estudar no Paraguai. De ida e volta são seis ônibus até a faculdade. Me consome das 05 da manhá até às 15h com meia hora, mínimo, de espera, sentado em ponto de ônibus no lado brasileiro. Normalmente ao meio dia já estou cruzando a ponte de volta.
Não estudo medicina, meu curso é de licenciatura em Língua e Cultura Guarani. Bem mais leve que a carga do curso de medicina. Mesmo assim é difícil, especialmente pelo transporte.
As autoridades precisam criatividade. Jaime Lerner em 1997, não sei como, colocou um ligeirinho fura-fila que atravessava a ponte internacional super rapidamente. E a ponte era tão movimentada quanto hoje.
Para viajar na maionese, se você preferir ver assim, quero citar o caso / exemplo de uma tríplice fronteira na Europa. É no local onde Alemanha, França e Suíça se encontram. No local há grande movimento de pessoas especialmente pessoas a pé (pedestres) e pessoas de bicicleta. Gente a pé e de bicicleta também são cidadãos. Qual foi a solução encontrada?
A resposta se chama Dreiländerbrücke ou "Ponte das Três Fronteiras" na cidade de Weil am Rhein (Weil no Reno) entre Alemanha e França. A Suíça fica ao lado.Vale a pena ver fotos da Ponte.
Nos nossos projetos de pontes, não se pensou em intermodalidade. Exemplo: ponte para carros, trens, bicicletas e pedestres. Enquanto não progredimos,meus Pêsammes e sincera compaixão com familiares e amigos de nossa plantonista, pois nesse dia ele não chegou ao plantão designado. E ao Vitor, desejos de que se recupere e não desista do curso.
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