Aquele arco no meio da Praça "detetizou"* a população |
A falta de bancos era parte do projeto |
A Praça da Bíblia era um sucesso. Se não chovesse estava cheia. Centenas de pessoas todos as noites se dirigiam à praça que era " o espaço" para pais, mães com seus filhos, os vendedores com seus produtos, artesanatos, brinquedos, pula-pula, piscinas de bolinhas, cadeiras na praça e gente sentada comendo tapioca, sukiyaki, yakisoba, cachorro quente. Daí o olho gordo dos revitalizadores.
"O povo não enxerga a fonte" |
Os projetos foram encomendados, de cima para baixo pelo Fundo Iguaçu - um fundo que recebe contribuição também dos turistas. E se o turista soubesse que contribuir para o fundo não é garantia de benefícios para o povo criativo de Foz do Iguaçu?
Não se pode generalizar. Quando todo o Porto Meira foi atingido pelo granizo de junho de 2014, o Fundo Iguaçu doou milhares de telhas para promover a volta à normalidade de milhares de pessoas. Isso foi bonito. Mas precisamos parar de contratar projetos alienígenas. Vamos parar de escutar frases como "contratamos uma empresa" para fazer esse ou aquele projeto. E pior vamos extinguir frases como "a prefeitura já tem um projeto" para o bairro, praça ou logradouro.
E ao mesmo tempo vamos todos, ó povo de Foz do Iguaçu, ressuscitar a Praça da Bíblia vítima dessa revitalização raquítica e alérgica ao povo. O povo que viu sua criação morrer à mingua, na revitalização da má vontade, parece estar se transferindo para a Praça Sete de Setembro também no Morumbi.
Projeto de nova Praça em Três Lagoas já vem sem bancos. Quem precisa sentar? |
E enquanto timidamente se toma a Praça Sete de Setembro, rezemos para que as administrações esqueçam a Sete de Setembro porque sem revitalização oficializante a praça se revitaliza. Toda vez que ouvirmos a expressão " a Prefeitura já tem um projeto para" (o logradouro "A" ou "B") devemos fazer duas coisas, rezar e exigir que o projeto seja mostrado em público. Claro que isso exige uma comunidade interessada e atenta.
É necessário acabar com esse hábito pasteurizante dos espaços e coisas iguaçuenses. Pasteurizar que é um processo de submeter laticínios, bebidas e outros alimentos à pasteurização, também possui um significado simbólico pejorativo ligado ao social. Significaria empobrecer uma obra, uma teoria com o intuito de agradar ao público. Isso levado ao extremo pode trazer ainda o efeito de dedetização do público, desinfetando o espaço de seus usuários na ânsia de fazê-lo mais chique. No caso da Praça da Bíblia, aquele arco no meio da Praça "detetizou" a população praça-bibliense. Para ver isso basta notar que ninguém quer ficar debaixo da estrutura. É como se o território tivesse sido demarcado por algum predador, o problema é que ninguém sabe quem demarcou, daí o medo de ocupar o espaço da praça que era do povo.
NOTA
No tocante à Praça da Bíblia, a pasteurização desinfetante pode ser corrigida com bancos, por exemplo. E sejamos justos, parabenizamos o projeto por não determinar a destruição do coreto. Era só o que podia ter faltado. * Detetizar ou dedetizar ?
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