domingo, 22 de dezembro de 2019

De onde vieram as terras do Parque Nacional do Iguaçu? Quarta Parte


Quarta Parte
O que descobrimos com este decreto?
O Parque Nacional do Iguaçu que só seria declarado oficialmente em 1939, já estava na agenda do Governo Getulio Vargas em 1931. Com esse decreto, o futuro Parque Nacional recebe seu primeiro reforço de terras para suplementar as 1.008 hectares desapropriadas pelo Governo do Paraná em 1916 após a visita de Santos Dumont às Cataratas e sua intervenção junto ao Governo do Paraná para que as Cataratas não fossem possessão de um particular.
Confirmamos que a terra reservada para aumentar o Parque Nacional do Iguaçu estava no Município de Foz do Iguaçu pois até 1951 todo o Oeste do Paraná era Foz do Iguaçu. Vemos que a terra reservada para o Parque Nacional fazia fronteira com as terras da Estrada de Ferro São Paulo Rio Grande, o que coloca a Foz do Iguaçu da época no centro dessa história e como legado essa história é parte da Foz do Iguaçu hodierna.
No final dos anos 30, com a lei de segurança nacional e como consequência da Segunda Guerra Mundial que explode em 1939, o Governo de Getulio não só anunciou a criação do Parque Nacional do Iguaçu como lançou, entre outras iniciativas, um de seus mais famosos gritos de guerra foi: Marcha para o Oeste! Isso colocou mais lenha na fogueira quanto à luta por terras.



Mais terras para o Parque Nacional
Com os 33.609.040 m²  do Decreto 2.153 de 1931, as 1.008 hectares originais do Parque Nacional do Iguaçu de 1916 ganharam um reforço de mais de 3.069,04 hectares. Elevando a área, em sua primeira expansão, para mais de 4 mil hectares. 
Mais mudanças ocorrerão e a área do Parque Nacional vai crescer. Em 1939, o Parque Nacional do Iguaçu é oficialmente criado pelo Decreto 1035 do dia 10 de janeiro, data celebrada até hoje com direito a bolo, confraternização e conscientização.  Lembre-se que quando o PNI foi criado ele era parte do Paraná.
Isso não vai durar para sempre. Em 1943, o presidente Getulio Vargas por meio do Decreto 5812 cria o Território Federal do Iguaçu com capital na cidade do mesmo nome. Quem pensou em Foz do Iguaçu, errou. Lembra que até 1951 todo o Oeste do Paraná era Foz do Iguaçu? De uma caneta só, Getulio desmembrou, amputou, sequestrou o Oeste do Paraná do Estado Paraná e cortou as asas de Foz do Iguaçu.
Foi inventada, mais tarde, uma cidade chamada Nova Xagu, atual Nova Laranjeiras, fora da jurisdição de Foz para ser a capital. O novo território federal unia terras do Oeste e Sudoeste do Paraná com áreas de Santa Catarina, algumas delas já parte de conflito internacional anterior é como o caso das Missões com a Argentina (Conflito de Palmas, para o Brasil) e também de conflitos nacionais como a Guerra do Contestado.
Em 1944, o Decreto Lei 6.506 de 17 de Maio desapropria mais terras para o Parque Nacional do Iguaçu. Desta vez, o presidente Getulio Vargas retira do Território do Iguaçu as terras dos irmãos Antônio, Bento, Elento e João Guilardi. Menos de um mês mais tarde, em 14 de junho, Getulio assina o Decreto Lei 6587 que incorpora ao Parque Nacional do Iguaçu uma nova área do Patrimônio da União (terras devolutas) levando o limite leste do PNI até o Rio Gonçalves Dias, ao Sul o Rio Iguaçu e ao Norte com a rodovia Iguaçu-Cascavel. A redação desse decreto é alterada um mês depois onde se lê:

“Através do Decreto-Lei 6664 é alterada a redação do Decreto 6587, fixando como limite oeste o Parque Nacional do Iguaçu e o Rio São João".
Destaque: até então o limite do Parque Nacional era o traçado pelo decreto de 1931, elevou as 1.008 hectares originais para mais de 4.000 hectares. Por isso dizer que as novas terras fariam fronteira com o Parque Nacional. O rio São João, ao Oeste e o Rio Gonçalves Dias ao leste são os limites atuais do Parque Nacional do Iguaçu.  

Até aqui, aparentemente tudo estava indo bem. Mas em outubro de 1945, acabam tanto a segunda Guerra Mundial como o Governo de Getulio Vargas.   Em 1946, acaba o Território Federal do Iguaçu, com seus territórios voltando para o Paraná. Era hora de destruir, por baixo do pano, muito do que Getulio fez.

Os anos 1940 vão chegando ao fim com uma tendência de antigos donos recuperar as terras desapropriadas por Getulio.

Em 1947, por exemplo foi registrado no livro 36, folha 22 sob o número 1496, da Comarca de Foz do Iguaçu a transmissão das terras da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande para Matte & Lopes Ltda., da gleba Santa Maria (11.327 hectares  e mais 25.000 hectares da gleba Silva Jardim. Posteriormente, por dissolução da sociedade, passaram a pertencer a Ramon Lopes. As mesmas terras haviam sido desapropriadas e incorporadas ao Patrimônio Nacional. Até esse ano, Foz do Iguaçu ainda era a única cidade do Oeste do Paraná.

As Guerras dos anos 1950

Durante o governo de Moisés Lupion no Paraná, houve uma quebra de braço entre o Estado do Paraná que ainda não havia engolido a retalhamento do Estado pelo Território do Iguaçu e o Giverbo Federal. Lupion passou a anular concessões do governo federal que por essa época já tinha novos donos sem levar em consideração que as terras em questão eram terras federais devolutas. Lupion concedeu novos títulos ignorando os velhos colonos e posseiros. O que levou a conflitos ao longo dos anos 1950.

Mais tarde em 1953, já com a divisão do território de Foz do Iguaçu para a criação de Guaíra, Cascavel e Toledo, aparece nas folhas 3/9do livro 30, da Comarca de Foz do Iguaçu, um registro de direitos sucessórios tendo como beneficiário Alonso de Carvalho Braga, daí em diante como o detentor dos direitos sucessórios e testamentários de Ramon Lopes, aquele do registro feito na Comarca em 1947. Mais lenha para fogueira das terras que, até então, ainda não tinham chegado às mãos dos colonos agrícolas tal como conhecemos hoje.


Toda essa superposição de documentos levou a região a um clima de revolta e luta. Primeiro os governos sucessivos doaram, venderam ou concessionaram terras para grandes empresas para que realizassem projetos estruturais. Em segundo vieram os posseiros, cidadãos que ocupavam as terras crendo que eram devolutas e com esperança de colonizar a região. Em terceiro lugar vieram as empresas colonizadoras. Todo esse caldo grosso, levou a grandes revoltas. Uma delas foi a Revolta dos Colonos contra as empresas colonizadoras que expulsavam posseiros e os primeiros colonos utilizando-se de um exército de jagunços e bala, muita bala.

Em 1957, 6 mil colonos armados com foices, espingardas, pedaços de paus, facas e machados expulsaram a empresa colonizadora  Clevelândia Industrial e Territorial Ltda. A empresa havia conseguido títulos falsos de terras que já tinham moradores. O precedente de tudo isso vem da época do Contestado entre 1912 e 1916. Lembra? Furiosos os colonos tomaram a nascente cidade de Francisco Beltrão. Na lista de cidades atuais cujo território foram tomados à bala pelos colonos estão: Francisco Beltrão, Capanema, Planalto, Realeza, Pranchita, Renascença, Marmeleiro, Pato Banco, Santo Antonio do Sudoeste, Verê e Dois Vizinhos.

Todos os municípios na lista acima estão no Sudoeste do Paraná e todos nasceram de Clevelândia. E Clevelândia, vem de onde? A genealogia das cidades do Paraná explica: o Paraná começou em Paranaguá, subiu para Curitiba, avançou para Castro e Ponta Grossa e daí para Guarapuava. Guarapuava, em certo momento era todo o Oeste e Sudoeste do Paraná. Mais tarde, as terras de Guarapuava foram divididas para a criação de Foz do Iguaçu, no Oeste e Clevelândia, no Sudoeste. O território de Capanema tem limites com o rio Iguaçu que neste ponto é a fronteira com o Oeste do Paraná. Na época podia-se dizer que o rio Iguaçu separava Capanema de Foz do Iguaçu. Outros municípios do Oeste que fazem limites com Capanema pelo rio Iguaçu hoje são: Matelândia, Céu Azul, Serranópolis do Iguaçu e Capitão Leônidas Marques. Esses municípios são filhos de Foz do Iguaçu.

A partir de 1950, os olhos da nova corrente migratória começaram a dirigir-se para o outro lado do rio Iguaçu. Empresas como a Industrial Agrícola Bento Gonçalves e a Pinho e Terras, ambas colonizadoras de Medianeira lideraram a exploração das terras no lado Oeste do rio Iguaçu. É onde está a Estrada do Colono que liga Capanema a Serranópolis do Iguaçu emancipada de Medianeira. São terras que já estavam separadas para o Parque Nacional desde os anos 30.
Mas a questão das terras não se resumem aos casos mencionados até aqui.
Há ainda, nas terras paranaenses que margeiam o rio Paraná e vão até o rio Piquiri, as grandes propriedades (concessão) de empresas dedicadas à exploração da erva mate. Empresas, em sua maioria   argentinas que operavam em Foz do Iguaçu (Oeste do Paraná) entre elas a Júlio Alica, Núñez y Gibaja e Domingos Barthe, todas donas dos vapores que ligavam portos argentinos a Foz do Iguaçu e Porto Mendes na área de influência da empresa Mate Laranjeiras. Havia terras ainda em mãos da Fazenda Britânia, capital inglês, da Braviaco subsidiária da Brazil Railways da qual Jorge Schimmelpfeng era preposto. Uma situação muito complexa. Muitas dessas pendengas ainda não foram resolvidas.
Em 2011 o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) negou o pedido de indenização por conceito de desapropriação de 1.185.913,50 hectares de terras da antiga Braviaco no valor de R$ 10 bilhões. O pedido foi feito por pessoa que segundo o tribunal de dizia representante da Braviaco. Os processos ainda prosseguem na Justiça Federal.

Para a Quinta Parte

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