Tudo
está interligado e Foz do Iguaçu é parte de uma grande história
A partir dessa chegada, todos os habitantes se tornaram "ilegais" |
Entre os primeiros imigrantes que vieram para Foz do
Iguaçu, os pioneiros foram outros. Foram aqueles que constavam no Livro para
Matrícula de Colonos da Colônia Militar do Iguaçu, pioneiros da era do mate e
da madeira. Quer sejam pioneiros da primeira onda econômica, como os
Schimmelpfengs, os Samways, os Dottos,os Requião, os Peters, os Roberts, os Anzoateguis, quer sejam pioneiros da época
agrícola, pós-1938 todos quiseram terras. É sobre terras que vamos falar.
Tudo
devoluta
Hoje se questiona muito que Pedro Álvares Cabral tenha
descoberto o Brasil. Afirma-se que outros, antes dele, já tinham estado aqui.
Pode ser. Porém, foi ele, Cabral, que chegando à terra, tomou posse não para
ele mas para o Rei de Portugal. A partir daquele momento, todos os índios que
estavam na frente dele e milhares ou milhões de outros que estavam em terras
que ele nunca saberia que existia passaram a ser “ocupantes ilegais” da terra
do Rei.
Um dia o Rei dividiu a terra em 14 parcelas ou capitanias e entregou
por concessão a alguns “empreendedores”. Caso essas terras não fossem usadas,
teriam que ser devolvidas ao Rei. Todas as terras devolvidas ao Rei poderiam se
chamar “devolutas”. Esse é o começo das modernidades. Quando o Brasil ficou
independente, o País herdou as Terras do Rei que passaram a ser parte do
Patrimônio Imobiliário Nacional. Com a formação de Estados, os estados herdaram
as terras da Nação. Aqui começa o “ó do borogodó” e vamos começar a saber como
as terras do Sul do Brasil, especialmente Paraná e Santa Catarina, vieram parar
na mão de quem parou.
No final dos anos 1880, o Brasil precisava de
ferrovias. O Brasil precisava financiar projetos de integração do território
especialmente com o Sul. Até então, a logística dos transportes entre o Rio
Grande do Sul e São Paulo era dependente de burros, jumentos e cavalos. Era a
época dos tropeiros. Graças a eles se fundaram no Paraná cidades como Ponta
Grossa, Castro, Guarapuava, Lapa e Curitiba, originalmente todas como “pouso
para tropeiros e suas tropas de muares”.
Em 1887, um ano antes do fim da escravidão no país,
quem mandava no Brasil ainda era Dom Pedro II. Um dia, nesse ano, um senhor
chamado João Teixeira Soares* apresentou a Dom Pedro II um projeto de uma ferrovia
para ligar Itararé na fronteira São Paulo – Paraná com Santa Maria no Rio
Grande do Sul. Em 1889, Dom Pedro II assinou documentos não só aprovando a
ferrovia como concedendo a ferrovia a João Teixeira Soares. Foi uma das últimas
coisas que fez pois antes de terminar 1889, Sua Majestade Real foi vítima de um
golpe civil-militar que o mandou na calada da noite para Portugal.Nasceu a
República.
Mas documento é documento e o projeto era de Estado não
de Governo. O negócio da ferrovia foi em frente. A construção começou em 1897. Oito
anos depois, 1905, Teixeira Soares pôde celebrar o fim do trecho paranaense da
ferrovia. Os trilhos chegaram em Porto União às margens do rio Iguaçu.
Precisava atravessar o Iguaçu para chegar em União da Vitória (SC). Você
precisa lembrar de três coisas: 1ª) a ferrovia era federal; 2ª) a construção da
iniciativa privada e precisava de dinheiro; 3ª) é necessário paciência porque
essa história vai chegar no futuro Parque Nacional do Iguaçu.
Façamos uma pausa para ver como andavam as ferrovias no
Brasil em 1905.
* O Engenheiro João Teixeira Soares é um dos grandes nomes das ferrovias no Brasil e merece espaço muito maior do que é concedido aqui. Logo voltaremos para tratar sobre esses "grandes nomes".
(Para a Segunda Parte)
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