quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

De onde vieram as terras do Parque Nacional do Iguaçu? Primeira Parte


Tudo está interligado e Foz do Iguaçu é parte de uma grande história

A partir dessa chegada, todos os habitantes se tornaram  "ilegais" 
Os primeiros habitantes de Foz do Iguaçu e do Oeste do Paraná, por exemplo, não foram os imigrantes do Rio Grande do Sul e Santa Catarina que começaram a chegar no final dos anos 1930 e com pique nos anos 1950. Os imigrantes do Sul, por sua vez descendem de alemães e italianos que imigraram, em outras ondas migratórias, para o Rio Grande do Sul.

Entre os primeiros imigrantes que vieram para Foz do Iguaçu, os pioneiros foram outros. Foram aqueles que constavam no Livro para Matrícula de Colonos da Colônia Militar do Iguaçu, pioneiros da era do mate e da madeira. Quer sejam pioneiros da primeira onda econômica, como os Schimmelpfengs, os Samways, os Dottos,os Requião, os Peters, os Roberts, os Anzoateguis, quer sejam pioneiros da época agrícola, pós-1938 todos quiseram terras. É sobre terras que vamos falar.

Tudo devoluta
Hoje se questiona muito que Pedro Álvares Cabral tenha descoberto o Brasil. Afirma-se que outros, antes dele, já tinham estado aqui. Pode ser. Porém, foi ele, Cabral, que chegando à terra, tomou posse não para ele mas para o Rei de Portugal. A partir daquele momento, todos os índios que estavam na frente dele e milhares ou milhões de outros que estavam em terras que ele nunca saberia que existia passaram a ser “ocupantes ilegais” da terra do Rei. 




Um dia o Rei dividiu a terra em 14 parcelas ou capitanias e entregou por concessão a alguns “empreendedores”. Caso essas terras não fossem usadas, teriam que ser devolvidas ao Rei. Todas as terras devolvidas ao Rei poderiam se chamar “devolutas”. Esse é o começo das modernidades. Quando o Brasil ficou independente, o País herdou as Terras do Rei que passaram a ser parte do Patrimônio Imobiliário Nacional. Com a formação de Estados, os estados herdaram as terras da Nação. Aqui começa o “ó do borogodó” e vamos começar a saber como as terras do Sul do Brasil, especialmente Paraná e Santa Catarina, vieram parar na mão de quem parou.

No final dos anos 1880, o Brasil precisava de ferrovias. O Brasil precisava financiar projetos de integração do território especialmente com o Sul. Até então, a logística dos transportes entre o Rio Grande do Sul e São Paulo era dependente de burros, jumentos e cavalos. Era a época dos tropeiros. Graças a eles se fundaram no Paraná cidades como Ponta Grossa, Castro, Guarapuava, Lapa e Curitiba, originalmente todas como “pouso para tropeiros e suas tropas de muares”. 

Em 1887, um ano antes do fim da escravidão no país, quem mandava no Brasil ainda era Dom Pedro II. Um dia, nesse ano, um senhor chamado João Teixeira Soares* apresentou a Dom Pedro II um projeto de uma ferrovia para ligar Itararé na fronteira São Paulo – Paraná com Santa Maria no Rio Grande do Sul. Em 1889, Dom Pedro II assinou documentos não só aprovando a ferrovia como concedendo a ferrovia a João Teixeira Soares. Foi uma das últimas coisas que fez pois antes de terminar 1889, Sua Majestade Real foi vítima de um golpe civil-militar que o mandou na calada da noite para Portugal.Nasceu a República.
João Teixeira Soares

Mas documento é documento e o projeto era de Estado não de Governo. O negócio da ferrovia foi em frente. A construção começou em 1897. Oito anos depois, 1905, Teixeira Soares pôde celebrar o fim do trecho paranaense da ferrovia. Os trilhos chegaram em Porto União às margens do rio Iguaçu. Precisava atravessar o Iguaçu para chegar em União da Vitória (SC). Você precisa lembrar de três coisas: 1ª) a ferrovia era federal; 2ª) a construção da iniciativa privada e precisava de dinheiro; 3ª) é necessário paciência porque essa história vai chegar no futuro Parque Nacional do Iguaçu.
Façamos uma pausa para ver como andavam as ferrovias no Brasil em 1905. 

* O Engenheiro João Teixeira Soares é um dos grandes nomes das ferrovias no Brasil e merece espaço muito maior do que é concedido aqui. Logo voltaremos para tratar sobre esses "grandes nomes".     
(Para a Segunda Parte)  

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