Monsenhor
Guilherme em Foz do Iguaçu é o nome de uma avenida no jardim São Paulo
que liga a Praça da Bíblia com a Avenida Felipe Wandscheer na altura do
Cemitério Municipal que tem o mesmo nome do bairro. Monsenhor Guilherme é
também o nome de um Colégio Estadual criado em 1950 por decreto do
governador Moisés Lupion, inaugurado em 1952 pelo governador Bento
Munhoz da Rocha e finalmente mudado para a atual sede em 1965 já no
governo de Paulo Pimentel.
Como
ninguém nasce monsenhor, o jovem Guilherme, após sua ordenação como
padre em São Gabriel (RS) em 1907*, teve que exercer o sacerdócio
começando de baixo. Assim, o jovem padre aparece na história já em
Curitiba e Ponta Grossa - região formada por um grande número de
colônias: italianas, alemães, polonesas, ucranianas e sua variedades
internas como alemães russos, polonêses-alemães que refletiam a formação das terras de origem onde territórios
eram invadidos, dominados, subjugados segundo os ventos da política e
geopolítica da Europa.
O padre Guilherme nasceu na Alemanha em 1882. Onde exatamente, não tenho informação. O nome Thileczek
ou Thiletzek denuncia, a etnia do padre como polonesa e o primeiro nome
Wilhelm (Guilherme) denuncia sua afiliação com a alemanha já que
nascera e houvera sido educado na Alemanha ou na Polônia ocupada. Esse
trânsito cultural entre Alemanha e Polônia na vida do jovem padre
fortaleceu o currículo dele perante as autoridades eclesiásticas. Por
isso já trabalhando
na região de Curitiba, o jovem padre foi enviado para Ponta Grossa para
substituir um padre polonês na Colônia Polonesa. O nome do padre que
saiu era Woloszewicz. Por algum motivo, o padre Woloszewicz tinha caído em desgraça com a congregação que não queria mais vê-lo por perto.
Assim
o jovem padre Guilherme assume a igreja e começa a ministrar e pregar
na Igreja dos Poloneses. Mas como a época era não só politizada como polarizada logo apareceu desavença.
Algumas lideranças se dedicavam a encontrar defeitos no novo padre. A
primeira acusação era que ele não dominava o idioma polonês. Como o
padre era da Congregação do Verbo Divino, de origem alemã fundada na Holanda, suas vestes ou seus paramentos traziam
palavras escritas em letras góticas o que configuraria o padre como
alemão ou como se diz no linguajar da polarização de hoje como pró-alemão. Para
piorar, jornais de Curitiba publicaram "fofocas" sobre a falta de
habilidade do padre com a língua polonesa o que pôs mais fogo na
fogueira.
A professora Rosângela
Wosiack Zulian, Doutora em História Cultural pela Universidade Federal
de Santa Catarina e professora Adjunta do Departamento de História da
Universidade Estadual de Ponta Grossa, conta em um artigo intitulado Bêbados, arruaceiros e sovinas: a Igreja Católica e o imaginário imigrante no início do século XX em Ponta Grossa:
"O líder desta manifestação era o senhor Pinkowski, chamado na crônica de estaroste (algo como “maioral”), e que estava indignado por não ter sido consultado a respeito. Declarou publicamente que o novo sacerdote seria “liquidado a bala”. Assim, no domingo pela uma hora da tarde, quando na igreja dos poloneses iria começar a reza com o Santíssimo exposto, a Rua 15 encheu-se de mulheres e crianças e homens também – todos poloneses. Juntaram-se para tirar o padre e o proteger do Pinkowski. Este, armado com seu revolver, dirigiu-se à Igreja dos poloneses. Aí, teve que se haver com as mulheres. Cercaram-no de todos os lados acotovelando-se, xingaram-no de cachorro e de outros títulos do repertório.Pinkowski defendia-se e revidava [...].Enfim, as polonesas foram às vias de fato, abriram uma saraivada de cacos detelhas [...]. Pinkowski, aos trancos e barrancos, foi abrindo caminho, com as mãosfoi protegendo a cabeça, e “pernas paraque vos quero!” [...]. O padre nunca mais foi importunado".
Monsenhor Guilherme no Marco das Três fronteiras, o segundo sentado à esquerda (Memória Rondonense) |
De Padre a Monsenhor
O
que o padre Guilherme fez entre os dias de Pinkowski até sua
designação como o primeiro prelado da primeira prelazia do Paraná
precisa ser pesquisado. Como conta a professora Olívia Schimmelpfeng, o padre Guilherme Thiletzek chega em Foz do Iguaçu em 1922 enviado pelo bispo de Curitiba, Dom João Francisco Braga, com a missão especial de
"visitar antiga Colônia Militar e dar informações minuciosas a
respeito da nova Comarca recentemente criada em Foz do Iguassú e do seu movimento religioso. Este sacerdote desempenhou fielmente a
sua missão referindo ao zeloso e santo Bispo Diocesano de
Curityba tudo o que via e ouvia em Foz do Iguassú.
A
dissertação de mestrado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa da
professora Selma Antonia Pszdzimirski Viechnievski, com o título
"Tensões na Construção Identitária Polonesa: o Caso da Colônia Amola
Faca / Virmiond (PR), dá uma luz sobre as andanças do futuro Monsenhor
Guilherme.
O
trabalho registra a passagem do futuro prelado de Foz do Iguaçu pela
colônia Amola Faca, na atual cidade de Virmond no dia 25 de novembro de
1921. O padre Guilherme e os padres João Gualberto Pogrzeba e Pedro
Halama acompanhavam o bispo diocesano de Curitiba Dom João Francisco
Braga. É possível que tenha sido nessa viagem, o bispo tenha mandado o
Padre Guilherme fazer a pesquisa sobre Fóz do Iguassu, a antiga Colônia
Militar onde chegou em 1922. O bispo estava temporariamente estabelecido
na região de Laranjeiras fazendo crismas.
Quatro Anos mais tarde
Em 1926 acontece uma reorganização da estrutura administrativa da Igreja no Paraná. Graças à Bula (decreto) "Quum in Dies
Numerus", de maio daquele ano, o Paraná deixou de ser parte da
Arquidiocese de São Paulo, e eleva a até então Diocese de Curitiba ao
status de Arquidiocese de Curitiba. Reza a bula:
“Desligamos em primeiro logar, e para sempre subtraimos do
direito metropolitico da Igreja Archiepiscopal de São Paulo a actual diocese de
Corityba, que daquela Igreja foi até agora sufragânea”.
Em seguida a Bula do Papa Pio XII, prossegue:
“Declaramos em seguida, dividido em quatro partes o território da diocese até hoje de Corityba; a esta, depois de revestida do caracter Archiepiscopal como abaixo se há de dizer, assignamos uma dessas partes, e nas outras tres partes erigimos as novas Dioceses de Ponta Grossa, e de Jacarezinho e a Prelazia da Fóz do Iguassú que independerá de outras dioceses”.
A partir desse decreto, o arcebispo de Curitiba tomou as
providências para enviar um prelado para encabeçar a direção da nova Prelazia
de Foz do Iguaçu. O escolhido foi o Padre Guilherme. E a partir daqui começa a vida do Monsenhor Guilherme Maria Thiletzek, tal qual a conhecemos em Foz
do Iguaçu. Vale a pena dizer que o Monsenhor Guilherme é de máxima importância para o
Oeste do Paraná especialmente para Toledo e Cascavel. Procurando o nome Guilherme
Maria Thiletzek no Google, ora ele vai aparecer ligado à história de Toledo, de
Cascavel, de Foz do Iguaçu, Guaíra e Marechal Cândido Rondon.
Nota
Levantar
a vida de personagens importantes na construção do Paraná como o Padre
Monsenhor Guilherme ajuda a expandir a visão que temos dele e para
ajudar na formação do argumento para a criação de roteiros turísticos
regionais, especialmente após a época da epidemia quando o turismo
regional precisará segurar a barra até que as coisas melhorem.
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