segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

O Novo Turismo exige consciência total: viagem consciente

A maioria de quem chega ao topo do Morro do Canal não sabe que as águas que se vê lá embaixo, um dia chegará às Cataratas do Iguaçu. A maioria de quem vê as Cataratas não sabe de onde vem as águas dela (Foto Prefeitura / Turismo Piraquara - RMC, PR) 

 

Consciência será a palavra mais importante no pós pandemia. Turismo consciente e não só da parte do turista ou da população como sempre foi usada. Nem é só consciência por parte dos gestores. É necessário uma "consciência de destinos". Mas antes é necessário uma palavrinha sobre a palavra consciência. Eis uma palavra que perdeu o significado. Muita gente pode ser levado a pensar que consciência é uma parte do corpo humano. Por isso, somos constantemente conclamados a pormos a mão na consciência. Difícil de entender. O tipo de consciência que devemos cultivar é aquela chamada em inglês de “awareness” e vem de “aware”. "Aware" significa estar acordado, desperto, ciente, acompanhando tudo o que está acontecendo. No caso deste estar ciente, é o estar ligado.

Consciência de destino

Podemos falar de uma consciência ambiental do destino, por exemplo. No caso das Cataratas do Iguaçu, significa estarmos antenados ao que está acontecendo com ela. Estar ciente e consciente de que elas correm perigo como é anunciado pela quase crônica seca ou baixo nível de água. Ciente de que turismo nenhum vai existir se as Cataratas secarem. Ciente de que todos os investimentos correm risco, se não encontrarmos uma solução para a crise hídrica em relação às águas para as Cataratas.

Consciência de planeta

É estarmos cientes de que as centenas de nascentes na Região Metropolitana de Curitiba que ajudarão a formar o rio Iguaçu estão ameaçadas pela nossa busca de uma melhor condição de vida. As nascentes do rio Negro que se juntará ao rio Iguaçu também estão ameaçadas. Essa “consciência” exigirá que as lideranças de todas as áreas de Foz do Iguaçu como um Destino Turístico devem criar diálogos urgentes com Curitiba e região para “conscientizar” a capital e região sobre os papéis do rio Iguaçu depois que sai da região metropolitana: produção de eletricidade, lazer, lavoura, pesca, biodiversidade do rio. Entre as ações está um barulhento esforço de plantio de árvores ao longo do rio o que pode até ser usado como forma de promover atividades econômicas como o turismo rural, étnico, ecoturismo e a saúde das Cataratas.

O Turismo brasileiro é um só. Ninguém vem da Nova Zelândia direta e unicamente para visitar Foz do Iguaçu. Ele irá a outros destinos. Em 2020 o turismo do Brasil enfrentou revezes ambientais como a queimada de milhões de hectares no Pantanal com a morte de animais  e destruição perigosa da capacidade de recuperação de grandes áreas do Pantanal.Nem precisa lembrar das queimadas na Amazônia.

A seca no bioma Pantanal cuja alma é o rio Paraguai também merece ser entrar no monitor dessa “consciência”. Estamos cada vez mais perto de um dia termos um conflito com o Paraguai – não necessariamente armado – por causa do rio Paraguai. Sem mar, o único acesso do Paraguai ao mar é pelo rio Paraguai. Graças a ele, navios paraguaios  podem viajar entre Assunção e Hamburgo, se quiser e tiver cargas. Com o rio Paraguai seco, o Paraguai para. Morre. Será estrangulado. 

Consciência de conflitos

E o que é que o Brasil tem a ver com isso? Tudo, é a reposta. As nascentes do rio Paraguai na região da Chapada dos Parecis - uma das sete grandes chapadas do Brasil , estão ameaçadas embora estejam dentro de uma Aérea de Proteção Ambiental (APA) Estadual chamada APA das Nascentes do Rio Paraguai na região do município de Diamantino. As nascentes principais formam o primeiro trecho do rio Paraguai que lá é chamado de rio Paraguaisinho ou Paraguaizinho. Temos que estar cientes e ligados de que o rio Paraguai nasce no Brasil e, segundo ao que o brasileiro tem disponível, é so mais um rio. Não se destaca o fato de que ali nasce um rio compartilhado e que nós não podemos matá-lo na nascente. A agricultura, os frigoríficos com sua complexa cadeia produtiva cercam a área de nascentes. Temos que estar cientes sobre cada rio que forma nossos destinos. A falta de controle e gestão harmonizada da produtivadade no cerrado, acima das nascentes está causando assoreamento de rios no Pantanal já faz tempo. Um exemplo é o rio Taquari. 

As reportagens sobre destinos turísticos podem ajudar dando mais informações sobre a geografia, a geologia, características das diferentes formações naturais chamadas biomas para que o viajante comece a fazer uma imagem geral do que vê. Infelizmente abundam destinos, onde empresas de turismo e hotelaria também têm produção agrícola que promove o assoreamento e futura destruição dos rios deste mesmo destino. Então será só uma questão de tempo para o fim tanto do turismo como das outras atividades econômicas.  

Viajar (cons)ciente é melhor

Quem tem dinheiro para investir pesquise bem antes de jogar seu dinheiro fora. Quem viaja, pesquise antes sobre o lugar para onde vai, não viaje cego. Aprenda a distinguir ameaças aos lugares que vamos visitar. Um resort em uma praia paradisíaca vai jogar todos os esgotos no mar desse paraíso. 

Aproveite melhor a viagem sabendo o máximo sobre o destino, a história, a geografia, o povo, as festas tradicionais ou antigas. Se viajar de carro, programe pelo menos uma parada na ida ou na volta. Tente enxergar na estrada possíveis rotas e roteiros turísticos. Por exemplo, entre Foz e Curitiba ou Curitiba e Foz, uma boa parada se chama Guarapuava. 

Um exemplo

Para o iguaçuense (os de Foz do Iguaçu) é bom lembrar que fomos parte de Guarapuava até a emancipação em 1914. Entrando na cidade há museus, parques municipais, parques estaduais, festas, universidades e uma área do município que comporta quatro colônias alemães  fundadas depois da II Guerra Mundial. 

São alemães suábios que viviam como agricultores na Rússia e são conhecidos como alemães do (rio)Danúbio. Terminada a guerra foram expulsos e acolhidos na Áustria de onde uma organização suíça intermediou as terras no Brasil para o acolhimento de centenas de famílias. A terra escolhida foi aquela onde hoje estão as quatro colônias do distrito de Entre Rios em Guarapuava. Lá há pousadas, museus, confeitarias e outras atrações aguardando gente para compartilhar. 

Destaque do Diário Oficial de 25 de maio de 1953 com contratação de Bertholet para execução de projetos de imigração


Guarapuava (PR) e Coruripe (AL)

Embora esta seja outra história vale a pena lembrar do homem designado pela organização suíça para negociar com o Brasil e trazer os alemães para Guarapuava. Se chamava René Bertholet, suíço de Geneva, esquerdista de raiz, tinha no currículo três anos de cadeia em espaço da Gestapo na Alemanha onde só não morreu por ser suíço. Foi o primeiro presidente das Colônias de Guarapuava. 

No processo de instalar os alemães, ele descobriu que o Brasil tinha uma espécie de gente que veio do Nordeste e vagava como trabalhadores "bóia-fria" pelas fazendas do Sul do Brasil. Terminada a instalação dos imigrantes em Guarapuava, Bertholet terminou contratado pelo Brasil na mesma área. O resultado foi Bertholet conhecer um local em Alagoas onde ele mais uma vez deixou seu nome registrado para a história. Ele fundou uma Colônia na categoria cooperativa desta vez para nordestinos pobres. Foi fundada a Cooperativa Pindorama. Hoje, graças a ele, Pindorama é sede da única Usina de Açucar no Brasil que não pertence a usineiro. 

Eu gosto de fazer conexões com o meu trabalho. Pindorama fica no município de Coruripe (AL), onde eu nasci e onde o primeiro bispo do Brasil foi morto em 1554 o que levou à extinção dos índios Caetés em menos de cinco anos. Assim, viajando entre Curitiba e Foz ou Foz-Curitiba, dê uma parada em Guarapuava, por exemplo.  

Quando você viajar para o Nordeste, de preferência para Alagoas, surpreenda a sua agência de viagem e peça que organize uma visita a Usina Pindorama e o projeto Pindorama em geral. Lá você vai ver o Museu de Bertholet, a casa de Bertholet e poderá até contar para o povo de lá que você conheceu o projeto irmão em Guarapuava. Ou fazer o contrário.                    

 

Nenhum comentário: