sábado, 26 de junho de 2021

Uma mão lava a outra (turismo e meio ambiente). Como o trade pode ajudar o meio ambiente (1ª Parte)

Terra iguaçuense recentemente aberta para o "progresso". O solo nu é um exemplo de emissor de carbono para a atmosfera. Quando o carbono que estava preso às raízes no solo coberto por vegetação, de repente se vê em "solo pelado" ele escapa para a atmosfera de onde pode ser sequestrado e trazido de volta ao solo. Como? Leia até o fim  

O Meio Ambiente precisa do apoio do trade turístico:  hotelaria, hospitalidade, gastronomia, aviação, trransportes e acima de tudo agências de turismo receptivas e emissivas, operadores e distribuidores do varejo. O turismo acontece na natureza ou seja ambientes naturais. Um ambiente ameaçado por obras, expansão agrícola, expansão urbana não planejada, extinção de animais e flora é uma ameaça ao turismo. 

O trade necessita urgentemente dar sua contribuição para a preservação de áreas de interesse turístico quer seja a selva, os ambientes úmidos. mangues, restingas, montanhas, dunas, rios, parques estaduais, nacionais e outras categorias de preservação. O trade necessita levantar sua voz e emitir sua opinião livre e democrática sabendo que deve assumir responsabilidade por ela (caso fale ou não fale). 

Quando o Governo Federal anuncia que vai liberar a construção de resorts nas restingas e mangues do Brasil, isso deveria preocupar o trade, caso das agências, que hoje já enfrenta concorrência na esfera comercial de milhares de sites que vendem hospedagens, tickets, ingressos, passagens aéreas tudo coroada com uma falta de informações impressionante sobre o mundo onde os atrativos se apoiam. Os mangues são berçários para a vida marinha e não podem ser drenados, aterrados e vendidos para a construção de qualquer coisa humana. A conta chegará um dia.  

Tomemos Camboriú como exemplo. Hoje se admite que foi um erro construir prédios tão altos na orla ao ponto de expulsar o sol das praias. A solução: aumentar a largura da praia e para isso é necessário expulsar o mar, para mais longe dentro da baía e fazendo a estrutura de tubos e canos de esgotos acompanhar o trajeto.  O que o trade de Camboriú ganhará com isso a longo prazo? O que vemos agorinha é o interesse de quem obtém lucros imediatos e na especulação imobiliária, os que vão ganhar minerando, fabricando, vendendo material de construção diversos e você já pode ter uma ideia do tamanho e extensão dessa indústria.

Ou tomemos o caso de Foz do Iguaçu, com o rio Iguaçu e as Cataratas do Iguaçu vivendo em regime de vazão baixa e com tendência de que isso se torne normalidade.  O trade do turismo paranaense em todas as 15 regiões turísticas do Paraná já deveria estar alertando para a situação de todos os nossos rios com o Iguaçu e o Paraná à frente. O turismo de Foz do Iguaçu precisa entender, divulgar e até vender o Parque Nacional como o que ele é “um fragmento biologicamente isolado” e frágil de Mata Atlântica com o qual não dá para aventurar-se com mais possibilidade de desmatamento. 

Além de manter o Parque como está e até buscar parcerias para adicionar áreas privadas protegidas, ganharia, notícia mundial se o trade turístico do Paraná fosse além de sua missão e trabalhasse com os órgãos do meio ambiente, como IAT, Ibama, ICMBio, ONGs para cobrar, promover e apoiar o reflorestamento neste estado que está pelado quanto à vegetação, quanto à cobertura vegetal o que afeta à saúde dos rios, riachos, córregos, das Cataratas,  da população, da agricultura e do turismo.  

A discussão ambiental vai além de um sim ou não quanto à reabertura de uma estrada no Parque Nacional do Iguaçu ou em qualquer outro já que a proposta é a criação de "estradas parques" em todo o Brasil. Muito podemos aprender sobre estradas cortando selva com a experiência da parte amazônica do Mato Grosso, de estados da Amazônia como Rondônia, Acre e Roraima.

Precisamos ampliar a visão para prever os conflitos que virão não mais na próxima geração mas agora. O rio Paraguai, por exemplo,  que é um rio compartilhado com o Paraguai e a Bolívia, que compartilham o Pantanal, está em situação de muita preocupação. O Turismo precisa de atores que conversem com o agronegócio que por enquanto rouba a cena na área do sucesso econômico do Brasil. 

Sabe qual é a expectativa de produção para o agronegócio mundial se os métodos de produção que atentam contra a saúde do solo não forem mudados urgentemente? De acordo com Maria-Helena Semedo da (FAO), se as taxas de degradação  no mundo continuar no ritmo atual a camada que conhecemos como solo desaparecerá em 60 anos. Ou seja restariam 60 colheitas. Se for uma colheita por ano, 60 anos! Se forem duas, incluindo safrinha, 120 na pauleira sem deixar o solo descansar. O aviso foi dado há mais de 5 anos, então já falta menos.

Cana nas terras do sistema Parecis. Usina de açucar vista aos fundos

Voltemos ao rio Paraguai que também entrou na tendência de seca. O rio Paraguai é o mar paraguaio.  O Paraguai tem marinha militar e mercante que usam o rio como saída ao mar.  Parece que o paraguaio ainda não se acordou para o fato de que este rio, o Rio Paraguai nasce e é comprometido no Brasil e que não é qualquer Brasil, é um dos lugares turisticamente mais bonitos no reino do Cerrado aos pés da Chapada dos Parecis.   

Há uma Reserva Ecológica chamada Nascentes do rio Paraguai cercada por terras boas para o agronegócio onde prosperam sojais, canaviais, usinas de açucar, frigoríficos e criação intensiva de porcos para o abate e exportação. Com a derrubada das matas para transformação em terra agrícola, a cobertura vegetal cai, junto com a umidade comprometendo o ciclo da água.  

O conflito ganhará ares internacionais logo, logo. Tendo como figura principal a falta de água no rio para navegação (hiodrovia)  e escoamento da produção paraguaia mais abaixo para os mercados internacionais. O rio Paraguai e o Paraná já enfrentam problemas de navegação pela seca e que já afetam odos os negócios: pesca, produção de eletricidade, navegação comercial e turismo.  Isso já pode ser visto em Foz do Iguaçu onde a Itaipu Binacional tem que liberar água para desencalhar o transporte das safras paraguaias de soja e outras “commodities” (não esqueçamos que a Bacia do Rio Paraguai é parte da Bacia do Paraná).

 A pergunta é: o que o trade pode fazer? No caso do Paraná começando por Foz do Iguaçu precisa tomar atitudes pro-ativas pelo reflorestamento, a seca está atrelada à perda de cobertura verde. E pode começar pelos hotéis, por exemplo, adotando a compostagem, utilizando-a como cobertura para o solo. Solo não é terra. O solo é vivo. Como nós é formado por milhões de seres microscópicos e não tão microscópicos como as minhocas que são bem grandinhas. Não usar agrotóxicos em suas hortas ou jardins e nunca chamar veneno de defensivo agrícola. Separar o lixo não basta. Mandar garrafas e plásticos para um lado e restos de comida para o lixão é bom para a indústria que toma conta dos aterros sanitários. Recupere as terras de seus negócios. Enfeitar sua proporiedade ou espaços em municípios com grama sintética, nunca! Lixo orgânico zero para os caminhões da coleta! Daí você poderá divulgar suas conquistas construindo ações de marketing em cima delas.

Você poderá dizer que seu hotel ou sua chácara, fazenda, fábrica, resort está sequestrando carbono. Sequestrar carbono não tem nada a ver com o ramo dos sequestros relâmpagos ou sequestros políticos. Como se sequestra carbono? Não deixando o solo descoberto; plantando sobre eles. As plantas capturam o carbono no ar e envia-o para as suas raízes e fixando esse carbono de volta no solo. Imagine a notícia: Hotel de Foz do Iguaçu retirou 10 toneladas de carbono do ar em 2021. Isso é possível.

A segunda parte: demos uma mãozinha ao solo (Para todos os trades e traders)  

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