sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Quais produtos Turísticos do Mercosul estão mortos e enterrados? Quais cambaleiam? E quais respiram?

 

Parlamento do Mercosul em Montevidéu (Foto: Câmara dos Deputados, Brasil)

Nota: Este texto foi escrito originalmente em junho de 2007. Ele sofreu algumas modificações. O propósito dele é não deixar esquecer os Produtos Integrados do Mercosul. Eles fazem falta!

Já que o Mercosul inaugurou o seu Parlamento (funciona na Secretaria Administrativa do Mercosul – SAM em Montevidéu, Uruguai) e já que o Mercosul, como “instituição”, começa a funcionar, é hora do Notas do Turismo lembrar que chegou a hora de fazer decolar os chamados “Circuitos Internacionais” na área do turismo. 

Alguns desses circuitos já têm nome. É o caso do (1) Mundo Gaúcho, do (2) Mundo Jesuítico ou Circuito Internacional das Missões Jesuíticas e do (3) Pólo Internacional Turístico do Iguaçu. Está na hora de fazer tudo isso sair do papel. Por quê? Porque a demora da implementação desses “Circuitos” está ajudando a manter milhares de pessoas, regiões inteiras na pobreza. Sem que esses circuitos do Mercosul existam segundo as regras do Mercosul, se perpetua o reino da demagogia, da politicagem, do abuso. Onde? Como? Vejamos primeiramente o Circuito Internacional das Missões Jesuíticas

Este circuito é trinacional. Argentina, Brasil e Paraguai. Na Argentina fica na província de Misiones – que, como o nome sugere, deve ter Missões. E tem. Confira aqui e agora quais são. 

Acompanhando a barranca do Rio Paraná temos o que restou das antigas Missões de: Corpus, San Ignacio Miní, Loreto, Santa Ana e Candelária. Mais para o Oeste,  ou seja do Rio Paraná para o Rio Uruguai, temos San José, Apóstoles, Concepción, Mártires, San Javier e Santa Maria la Mayor. Ao longo do rio Uruguai estão: San Carlos, Santo Tomé, La Cruz e Yapeyú. 

No Brasil, que dizer no Rio Grande do Sul, temos as ruínas físicas de São Nicolau, São Borja, Santo Ângelo, São João, São José, São Luis e São Lourenço. Na lista argentino-brasileira, ou gaúcho-misionera há ruínas e ruínas. Quer dizer impactantes como San Ignacio Mini, Santa Maria la Mayor e São Miguel Arcanjo e pequenas lembranças de que um dia houve Igreja ou um aglomerado habitacional jesuíta. 

No Paraguai, perto de Encarnación e do rio Paraná temos Jesús de Tavarangue, Santísima Trinidad del Paraná,  San Cosme y San Damián, Santiago, Santa Rosa, San Ignacio Guazú e Santa Maria de la Fé. No total, o circuito é composto por 30 antigas missões. Sete no Paraguai, Oito no Brasil e 15 na Argentina. 

Uma coisa importante, deste total, sete missões foram inscritas na Lista da Unesco do Patrimônio Cultural Mundial. São uma no Brasil (São Miguel das Missões), quatro na Argentina (San Ignacio Mini, Santa Maria la Mayor, Nuestra Señora de Loreto e Santa Ana) e duas no Paraguai (Jesús Tavarangue e Santísima Trinidad del Paraná). 

Tem uma coisa: as quatro missões argentinas e a missão de São Miguel estão inscritas em conjunto, ou seja,  elas compartilham o mesmo número de referência (291) ou seja: São Miguel das Missões 291-1, San Ignacio Mini 291-2, Sant'ana 291-3, Loreto 291-4, Santa María la Mayor 291-5.

As duas reduções inscritas como Patrimônios Culturais pela Unesco no Paraguai compartilham o mesmo número de referência: 648. Assim, a Santísima Trinidad del Paraná é a 648-1 e a missão Jesús de Tavarangué é a 648-2.

Uma vitória da diplomacia e um milagre. Isso porque, só para dar um exemplo, os Parques nacionais do Iguaçu e Iguazú, um bem argentino-brasileiro na Lista da Unesco, têm dois registros diferentes. Um argentino de 1986 e um brasileiro de 1988. O Brasil, na época, disse que não havia no marco jurídico nacional, nada que possibilitasse uma “possessão” internacional, compartilhada ou duplamente comandada. Temia-se problemas de soberania. As quatro missões argentinas e a brasileira são um bem comum em termos de patrimônio. 

Em resposta ao título da postagem, o Roteiro, Rota, Circuito das Missões está vivo, respira e só precisa atenção e abordagem apropriada para colocá-lo na lista de desejo dos viajantes. Vamos falar disso.  

Quem está morto? 

Além do Circuito das Missões Jesuítas, muito se falou do Circuito Gaúcho e do Pólo Internacional Turístico do Iguaçu. A situação dos dois não está boa. O Mundo Gaúcho e o Polo Internacional Turístico do Iguaçu não estão respirando

O Mundo Gaúcho ou Gaucho (pronunciado gáucho em espanhol) incluiria os gaúchos que ocuparam os pampas – os grandes campos solitários e planos – dos dois lados da fronteira + Uruguai. Os europeus (leia-se jesuítas) enxergaram, na vastidão dos pampas, a oportunidade de criar gado e aí desenvolveram o seu falar, adaptaram, dos índios, a maneira de caçar ema na carreira usando boleadeira e a tomar mate. Da velha Europa adaptaram músicas e ritmos que resultaram no que se chama hoje de música gaúcha ou gauchesca. O circuito turístico “Mundo Gaúcho” foi pensado (e morreu no ovo?) para mostrar ao mundo toda esta riqueza de comidas, manejo de boi, músicas, danças, maneira de falar e tudo o que nasceu do contato dos forasteiros com o “topos”, o lugar, a topografia, a meteorologia e até o sufoco da paisagem cultural. O gaúcho com seu modo de falar gerou literaturas. Na Argentina existem as obras de Martín Fierro – que mostra esta maneira de falar. O turismo que seria cultural, rural, gastronômico, ecológico (onde desse) possibilitaria a entrada de “dinheiro” para comunidades que hoje sofrem no “paraíso”. Esse dinheiro “alisaria o pelo” de todos os moradores da querência, das prendas, das chinas e de todo mundo. Mas esse circuito não saiu do papel. No meu ver, oportunidade perdida.

E o Polo Internacional Turístico do Iguaçu? 

Este "Produto Integrado do Mercosul" está ligado ao "afastamento das fronteiras".  Quando sair do papel incluirá as cidades de Foz do Iguaçu (Brasil), Ciudad del Este, Ciudad Presidente Franco, Mingá Guazú, Hernandarias (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina). A ideia é que o turista legalmente admitido em um dos três países, com uma só entrada legal, possa circular dentro da área ou dos limites do Pólo Turístico Internacional do Iguaçu. Que limites?

No caso do Brasil, o turista poderia circular em todo o município de Foz do Iguaçu. Ir às Cataratas, ir ao bairro de Três Lagoas onde está a prainha do Lago de Itaipu e onde se pode ver as ruínas da Base Náutica – (não é jesuítica) mas sim uma lembrança “arruinada” dos Jogos Mundiais da Natureza.

Exemplo

Se o turista sueco, que entrou no Brasil sem passar pela imigração, quiser ir a Santa Terezinha de Itaipu – um município logo a leste de Foz, seguindo a BR 277 – teria que voltar ao último país visitado, fazer a saída (passar pela migração Argentina ou paraguaia e receber um carimbo de saída no passaporte), daí entrar no Brasil, parar na área de controle de migração da PF em uma das pontes e receber um carimbo de entrada no passaporte. Aí sim, ele pode pegar um ônibus para o TTU de Foz do Iguaçu e de lá pegar um ônibus Metropolitano para ir a Santa Terezinha. Caso passe direto, um dia ele cairá na mão da PF e val ter que voltar à fronteira fazer todos os trâmites e até pagar uma multa por dia vivido no Brasil sem autorização. Muita gente cai nessa.Dos três países da fronteira, só a Argentina construiu uma estrutura a uns 50 quilômetros da Ponte Internacional antes de chegar à área de aproximação à ponte sobre a represa Urugua'í para controlar os turistas que possam querer ir a Buenos Aires sem passar pela migração – abusando do Pólo Turístico Internacional do Iguaçu.

Não confunda

Isso meso não confunda Polo Internacional Turístico do Iguaçu (PITI) com Instituto Polo Iguassu. O Pólo Iguassu é uma ótima organização que presta importantes serviços à comunidade. Mas não é um órgão com status de Mercosul. (Já relembro a história do PITI). Assim, na prática, o Pólo Turístico Internacional do Iguaçu está na UTI. Mas pode se dar bem se passar por um tratamento adequado e trazido de volta às discussões na RET - Reunião Especializada do Turismo do Mercosul e daí  à atenção das autoridades do turismo do Mercosul.  



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