No vídeo acima registro minha presença na Praça de San Ignacio Guazu, antiga Praça Maior da Redução Jesuítica do mesmo nome, no Departamento de Misiones, Paraguai. Agradecimento à cidade e a todos com quem encontrei.
Estrada de Tañarandy que na Sexta-feira da Paixão (Viernes Santo) se chama "Caminho do Céu" (Foto minha / Che ra'anga) |
Esta estrada que liga o centro de San Ignacio Guazu, Misiones, Paraguai à capela do bairro rural de Tañarandy muda de nome todas as Sexta-feiras Santas. A estrada recebe uma das mais fascinantes procissões de Semana Santa nas Américas. O caminho passa a chamar-se "Yvaga Rape" que em guarani significa" Caminho do Céu".
A estrada de Tañarandy no papel de Yvaga Rape / Caminho do Céu. Fonte desta foto |
Os moradores de San Ignacio Guazu, a primeira Redução Jesuítica dos 30 Povos das Missões, vêm em peso para participar na procissão que parte da Capela e se dirige ao centro da cidade. Depois do por do sol, milhares de velas são acesas e colocadas ao longo do caminho. As velas são feitas utilizando laranjas "apepu" cortadas em duas metades, cada metade preenchidas com cebo acrescentando um pavio. A comunidade inteira trabalha. O caminho iluminado por onde passam os devotos de Nossa Senhora das Dores - conhecida como a Dolorosa, recebe a companhia dos "estacioneros" que cantam cantigas "lamentosas" ao refazer o caminho de Cristo na Cruz.
Detalhes do teto da Capela (Capilla) de Tañarandy |
Esta postagem não é um relato da procissão. É sim um relato de uma viagem que fiz até San Ignacio Guazu em preparação para participar da procissão na Semana Santa de 2023. Fui, graças ao apoio do Visit Iguassu onde sou produtor de conteúdos históricos e culturais, para obter informações algumas delas tão básicas como: vai ter procissão este ano? A resposta que recebi muito antes de partir foi que "claro". A resposta veio do artista local que criou todo o conceito da procissão há mais de 30 anos via Facebook.
O artista Koki Ruiz
Um dos propósitos da viagem era encontrar o artista. Esperava visitar o Teatro El Molino, que em algum momento lembra um barracão de Escola de Samba onde dezenas de pessoas trabalham para confeccionar as pinturas que serão instaladas no local onde acontece o encerramento da procissão no Caminho do Céu e que é chamado de o Quiosque de Koki Ruiz. Não encontrei o artista criador desta vez e nem visitei o Teatro onde acontece apresentações de "quadros vivos" ou encenações de acontecimentos sagrados como a Santa Ceia.
Mas consegui coisas não planejadas como ir à casa do artista. Fui levado pelo taxista Don Alberto. Conversei com pessoas do círculo dele. Uma moça explicou que Koki Ruiz tinha ido à Santa Maria ver algumas coisas com sua equipe. Para onde? Santa Maria, respondeu.
Ela não estava falando de qualquer Santa Maria. Falava da outra antiga Missão Jesuítica que fica a 15 km de San Ignacio. Ela estava falando da Redução de Santa Maria de Fé fundada em 1647 pelo padre jesuíta Emmanuel Berthot.
Don Alberto, 36 anos de taxista en San Ignacio Guazu, me perguntou se eu queria ver a Capela de Tañarandy. Negociamos o preço e fomos. Saímos da Oficina de Koki Ruiz, pegamos alguma centenas de metros debaixo de árvores fazendo várias curvas em oito. Don Alberto dizia "aqui tem um caminho que atalha". E em seguida "aqui está". Saímos no Quiosque com a armação de madeira aguardando a nova montagem. A aproximação da estrada foi rápida. Queria ter ido a pé. Mas andar a pé seria impensável já que estava na rua andando desde às 6h da manhã.
Às 7h da manhã já estava no Museu Semblanza de los Héroes que conta a história da Guerra do Chaco e da Tríplice Aliança sob a visão dos hérois inacianos (assim se chama quem nasce em San Ignacio). Claro que o museu estava fechado e Angel Ferloni, estava varrendo folhas da varanda de centenas de anos da propriedade. Me aproximei dele e disse que minha vontade era pedir uma vassoura (escoba) extra e varrer junto com ele porque para mim, varrer esse espaço seria um privilégio.
Don Alberto, o taxista, não quis falar sobre o epsódio da visita de extrarrestres a Tañarandy em setembro de 1998. Ele só deu um sorriso discreto coberto, em seguida, por um silêncio. "Tem uma placa, adoraria ver a placa", disse. Tranquilizei o Don Alberto. "Não é problema receber extra-terrestre. eu recebo. Alguns deles são meus peixes". Descobri sobre o Ovni de Tañarandy em um Congresso Mundial de Ufologia realizado em Foz do Iguaçu há alguns anos.
Capela em reforma
Chegamos à Capela. Para a surpresa minha e do Seu Alberto, a igrejinha estava em reforma. Pensei que parte importante da minha expedição iria naufragar ali mesmo. Don Alberto saudou os pedreiros em guarani e perguntou se dava para que eu visse a igreja por dentro. Por fora estava em obras. Parece que o teto era alvo das obras. O pedreiro disse que tinha que falar com o "comandante" da obra. O comandante veio sorrindo já que conhecia o Seu Alberto.
Não era qualquer capataz era o Diosnel Allende Ayala. Diosnel entrou comigo na igrejinha. Todos os bancos estavam recolhidos para os lados. Material de construção, equipamento, pó, poeira, típico ambiente de construção. Diosnel pessoalmente abriu janelas (ventanas) para melhorar a luz, acendeu luzes, apagou luzes quando a luz natural que entrava por uma janelas era melhor e apontava para imagens pintadas nas paredes e no teto. Destaque para a imagem (escultura) de Nossa Senhora das Dores, em tamanho real que sai em procissão a partir desta capela.
"A previsão de conclusão da reforma é em um mês. Em março está pronta", explicou Diosnel enquanto pessoalmente, repito, sem chamar ajudante, tirava saco por saco de cimento de uma área para que eu tivesse melhor visão de uma parede.
Finalmente, percorremos a estrada de volta até o centro.
No caminho Don Alberto chamou a atenção para o trecho da Estrada de Tañanrandy que foi "empedrada" ou seja recebeu calçamento poliédrico. "O Koki Ruiz não gostou", disse. "Mas parte da população exigiu com abaixo assinado".
O progresso chegou em parte da estrada. Fiquei na praça onde o encontro com o taxista começou por meio de uma agente da Policia Nacional que apresentou o motorista veterano (Muchas gracias policial). Então tomei uma decisão muito errada. Decidi ir para o hotel a pé e me perdi. Foi necessário pegar outro táxi mais tarde para me tirar da encrenca em que me meti.
San Ignacio é cortada por duas Rutas Nacionales (Rodovias Nacionais) a RN1 e a RN4. Eu estava hospedado próximo à RN4 e não sei como fui parar na RN1 ou vice-versa. Depois de uma hora de perambular e tornar-me conhecido na cidade outro taxista me salvou. Ele me perguntou: como você conseguiu ir para o lado contrário? Ele queria saber onde no caminho eu tomei a decisão fatal. Isso também não sei.
Postagens que seguem
(os links serão ativados ao passo que o material for liberado)
3) A Igreja de San Ignacio Guazu e a Plaza Mayor: foto com legendas
Esta é a placa que o Don Alberto não quis me mostrar. É uma placa famosa. Aceito voluntários para mostrar onde ela fica, cuando vuelva!
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