quarta-feira, 7 de junho de 2023

O desafio de Foz do Iguaçu é não perder a alma: dedicado ao Rio Tamanduá e amigos

Parabéns Foz pelos seus 109 anos
Mas qual é o seu desafio?
(Quem assina esta arte?)

Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? - Marcos 6:36


O desafio de Foz do Iguaçu, em sua caminhada já em seu segundo século de vida é não perder seu jeito de ser, sua identidade, sua alma e seu norte. 

Foz vive mais um período de canteiro de obras. Não é o primeiro. A Ponte da Amizade foi fruto de uma de suas épocas de canteiro que trouxe mudanças impensáveis até então para o modo da pacata cidade. 

O canteiro dos canteiros veio com a construção da maior usina hidrelétrica do mundo que produz energia e é responsável por algo até agora impensável para uma hidrelétrica: ser uma atração turística, ter um complexo turístico definido, rentável gerador de empregos que se acoplou às estruturas do turismo da cidade. 

Hoje com a construção de uma segunda ponte com o Paraguai e a extensa lista de obras, o desafio da cidade continua o mesmo: crescer sem perder a alma. A duplicação da Rodovia das Cataratas (BR-469) já cobrou um preço alto. Quem pagou com a pele foi o Rio Tamanduá, aquele na baixada do antigo Hotel Panorama frente à estrutura  de captação e distribuição de água da Sanepar. Agora espremido por duas paredes de pedra o rio perdeu sua pequena "várzea" e não terá mais espaço para se espalhar. Em caso de dilúvio seguirá a sina do Tietê um dos rios da bacia do Paraná, a mesma que compartilha. 

Com o sumiço da várzea do Tamanduá, evaporou também a prainha dos iguaçuense que já teve até bancos e mesas para pique-niques e churrascos de fim de semana. Você já se banhou na prainha do Tamanduá às margens da BR-469? O rio Carimã também anda definhando sem protestar a camisa de força que vão colocar nele.       

E como é sabido pelos profissionais e desconfiado pelos não profissionais, a alma da cidade é o verde e não poderia ser de outra forma. A razão de ser da cidade, o que Hollywood chama de "claim to fame" é o verde representado pelas Cataratas do Iguaçu, protegida por um Parque Nacional que a transformou em um destino turístico de fama internacional dentro do qual tudo mais se encaixa. É sustentável esta imagem de destino verde? 

O desafio de todos que administram este novo canteiro de obras é garantir que a cidade não venha a perder sua característica, aquela coisa que todos os que vem para cá dizem que sente no ar  e passe a agredir os visitantes e moradores com as mesmas vistas das cidades do mundo. Como evitar que a BR-469 seja alvo de uma urbanização desenfreada, que a área rural não tenha hora do rush, que os bairros não ganhem cara de comunidades dormitórios, ao ponto de levar a crer a quem veio a Foz que aterrissou em Foz do Iguaçu mas até chegar ao hotel, parece que não saiu de Guarulhos, só para dar um exemplo.     

É um desafio para Foz do Iguaçu  evitar a mentalidade de que mais é melhor. Evitar o caminho sem fim, já que as necessidades não possuem limites. O desafio é pensar o futuro para deixar longe a necessidade eterna de sempre duplicar, triplicar multiplicar. O desafio é poder visualizar hoje, quão verde a cidade será para garantir seu lugar na lista de cidades agradáveis, decentes para moradores, para turistas, para trabalhadores, empregados, estudantes, crianças, adultos, idosos. Para todos. 

Finalmente, é o desfio de não copiar o mundo especialmente naquilo que deu ou esta dando errado. As Cataratas do Iguaçu, poderiam ser o modelo para Foz do Iguaçu e assim Foz poderia ver-se como um modelo de integração étnica, natureza e gente, nações, línguas, povos e tudo mais. 

Mas sinais de que a situação das Cataratas do Iguaçu e do Parque Nacional andam ameaçados já aparecem. É necessário que as concessionárias quer seja dos hotéis, estou falando dos dois lados da fronteira, ou de direção de atrativos como administradoras de visitação não se encantem com o canto das sereias do turismo da espetacularização. Foz do Iguaçu não é Niágara. Não é Las Vegas. Não é Disney World. Não é Dubai. Foz dever ser Foz

Uma preocupação imediata é o caminho que Foz do Iguaçu enveredou no quesito da poluição lumínica. Você já deve ter desconfiado que lumínica tem a ver com luz daí poluição luminosa. Uma iluminação agressiva e que já chega às Cataratas. 

Uma foto tirada nas Cataratas para registrar o arco-iris branco noturno que gira o mundo da internet  mostra algo como uma cidade no plano de fundo. Até quem aqui nasceu, ao ver a foto,  fica em dúvida. Cataratas com pano de fundo urbano tem que ser Niágara. É Niágara? Erraram! É a vista "luminicamente poluída" do que chamamos de Hotel Argentino mas que hoje tem um nome de bandeira internacional. 

No lado brasileiro a iluminação na área das Cataratas  tempo de das Cataratas já está com excesso de luz. Poderia haver uma iluminação branda suave assinada por um profissional que soubesse misturar iluminação para atender as necessidades humanas deixando a natureza dar seu show na escuridão de modo que sempre seja possível enxergar os vaga-lumes, o céu estrelado e a via láctea acima de nossas cabeças. 

Do jeito que vão as coisas, esqueça passeio da lua cheia, esqueça astroturismo com observação noturna e astrofotografia. E para piorar já há um ponto de luz LED em um cantinho do segundo mirante, que é o principal da passarela (trilha) das Cataratas. Definitivamente não é uma boa ideia. Vamos definir, nós cidadãos da Foz do Iguaçu 109 anos, como queremos a Foz 120, ou a Foz 130. Que não seja uma cidade claustrofóbica.   

 

             

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