sexta-feira, 16 de junho de 2023

Uma cantiga só sua para assoviar: o compositor de cestos da Guatemala

Artesanato de comunidade guarani de Ciudad del Este exposto no Festival das Cataratas 2023 (Ilustração) 

Conheci um sueco, já idoso, que morava em Letícia, capital da então Comisaría del Amazonas na Colômbia. Ele saíra da Suécia logo após a universidade. Toda a vida morou na América Latina porque gostava e viveu a vidinha latino-americana até a velhice. Ele me contou a história de um escritor sueco que vivia na Guatemala e escrevia em inglês, não se sabe por que carga d'água. Mas outros escritores de outros países escreveram em inglês em vez de fazê-lo em sua língua nativa. Um exemplo é Joseph Konrad, polonês de nascimento que tornou-se um ícone da literatura em inglês e mundial.  

Falo isso para lembrar a história de um dos livros do escritor sueco da Guatemala. A história fala de um empresário americano que em uma viagem de turismo visitou uma aldeia. Lá ele viu uns cestinhos para venda. O guia falou sobre a importância do artesanato indígena para a sobrevivência da comunidade. O viajante comprou todos os cestinhos que havia à mostra. O guia fez aparecer o artesão responsável. Ele contou ao viajante que cada cesto era confeccionado com dedicação e para cada cestinho era criada uma musica assoviada para ele.  

Impressionado o turista nova-iorquino encomendou 100 cestos. E acertou o preço. Como ele tinha pago, digamos 1 dólar por cesto ele perguntou ao índio se ele faria um desconto na compra de 100. Por exemplo, 80 centavos. O indígena calculou, calculou, às vezes fazendo cálculos no ar e disse que sim. Três meses depois, a encomenda foi entregue, já que o empresário em viagem para um convenção pegou os cestos pessoalmente.

Em Nova York quem começou a fazer cálculos foi o empresário. Deu todos cestos como brinde a seus clientes. Um dos clientes tinha uma fábrica de chocolates. Ele teve a ideia, um chocolates especial, vendido para clientes seletos para presente embalado em um cestinho direto das terras maias. Fechou um pré e voou para a Guatemala, calculando. Um milhão de cestos a 30 centavos de dólares. 

Uma vez na aldeia, perguntou. Um milhão de cestos a 30 centavos de dólares. O indígena disse que não sabia enxergar na cabeça o que significaria um milhão de cestos. O americano insistiu. O índio calculou e disse 10 dólares cada cesto. O empresário nervoso, irritado e surpreso calculava desta vez o prejuízo. O índio justificou: nós não temos um milhão de cantigas para assoviar para tecer tantos cestos.   


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