O circuito é realizado a pé com oito paradas onde acontecem encenação de eventos ocorridos no dia 12 de agosto de 1869, há 154 anos. As oito paradas são: 1) Tape Tuja Guardia Kue (Caminho Velho), 2) Morte do General Mena Barreto. 3) Quema ou incêndio do Hospital de Sangue. 4) Casa da Madame Lynch. 5) Trincheras / Trincheiras. 6) Reduto Escola. 7) Assassinato do Maestro Fermín López e 8) Morte do Comandante Pedro Pablo Caballero.
Cada parada acontece em um local histórico alguns com status de monumento oficial. A encenação dos fatos relembrados ficou a cargo de oito escolas de Piribebuy.
Meu acompanhamento do circuito começou da parada de número 3 onde foi reencenado o incêndio do Hospital de Sangue. Vale destacar que Hospital de Sangre não é um Banco de Sangue. É um hospital improvisado e ambulante que acompanha as batalhas para tratar os feridos ou os predecessores dos hospitais de campanha. No dia da batalha havia 600 feridos no hospital. Motivado pela morte do general Mena Barreto, o Conde D'Eu ordenou o ataque à cidade não poupando a ninguém (a nadie) culminando com o incêndio do Hospital de Sangue. Na representação artística o conde D'Eu foi representado pelo ator voluntário José Lesme Gonzalez pai de alunos da Escola Básica Limpia Concepción Perez. O ator é pai de dois alunos da escola. "Ninguém é profissional. Todos dão o melhor de si neste esforço para não esquecer a nossa história", disse o ator e pai de família que na representação vestia calça preta (pantalón negro), camisa branca, um chapéu verde e uma capa negra nas costas que lhe dava um aspecto de Conde Drácula, uma crítica ao conde francês genro do imperador brasileiro.
A cena do incêndio do Hospital, no ato representado por uma pequena construção de madeira estilo barraco foi de um realismo extremo. Após o conde ordenar a degola de todos no local, as mulheres partem para cima dos invasores. O conde então ordena que todas sejam trancadas no Hospital de Sangue - que era um galpão de uma olaria abandonada. As atrizes estudantes da escola são empurradas para dentro do barraco sob os gritos que ordenam tocar fogo no prédio. Os gritos das atrizes, o fogo subindo e a fumaça se elevando deu um realismo que causava arrepios na pele. Foi um momento de grande emoção. Me senti ligeiramente tonto (mareado) e passou pela minha cabeça um leve temor. Seria perigoso para um brasileiro estar nesta encenação? A resposta veio na forma de uma senhora de meia idade que se dirigiu a mim e me agradeceu por estar presente. "Muito obrigada por você estar aqui e ajudar a contar esta historia que tem dois lados", disse.
A parada de número 4, foi na Casa da Madame Lynch. A representação estava a cargo do Colégio Nacional San Blas. A estudante Alexandra Peralta fazia o papel da Madame Lynch ao lado do marido, o general Marechal Solano López interpretado pelo ator Luis Herrera. A estudante Camila Ovelar representava uma dama de honra da primeira dama paraguaia nascida irlandesa. Uma pequena narração sobre a esposa do marechal Francisco Solano López lembra das dificuldades da cidade e como ela ajudou até a providenciar comida para a tropa e moradores. Em uma mesa, ao lado, estudantes enrolavam massa de chipa e ofereciam sopa paraguaia para lembrar a importância da preparação de alimentos com o que se tinha disponível sob a orientação da Madame Lynch. Nesse capítulo, o governo do Paraguai tinha feito de Piribebuy, a capital do País, a terceira capital, após a queda de Assunção e passagem por Luque a segunda capital.
O vídeo acima mostra um pequeno trecho da representação da quinta parada no circuito histórico chamado de Trincheiras. Conversei rapidamente com uma das atrizes, a estudante Arami Eiroa Castillo Vasco logo após o encerramento. Ela contou que o grupo ensaiou três dias antes da apresentação. Junto com ela aestava a mãe D. Myriam de Castillo e a irmã dela Steffany Castillo Vasco.
Percebi que uma das atrizes da Parada Trincheira comandava bem mais do que a representação exigia. Descobri por quê. Ela é a diretora Maria Cristina Panoso da Escola Nacional Piribebuy. "Participei para contribuir para a representação e por motivo de segurança. No meio dessa armas tem muita coisa que pode ferir e não queremos que ninguém se machuque", disse a diretora e atriz. Enquanto conversava ela deu uma voz de comando: "vamos recolher esses cabos por que são bem caros", mostrando suas habiliadades de administradora do dia a dia como diretora da escola.
A próxima parada que pude participar ocorreu na frente da Igreja Santuário Dulce Nombre de Jesús (Doce Nome de Jesus) ou Ñandejára Guazu onde foi dramatizada a morte do Comandante Pedro Pablo Caballero trazida ao palco pelos alunos do professor Eleno Ibarra do Colégio Santo Domingo de Piribebuy. O comandante foi morto pelos soldados imperiais. Segundo o diretor da apresentação há pelo menos duas versões. Uma afirma que ele foi esquartejado após ser amarrado a dois canhões e outra diz que ele foi a amarrado a quatro cavalos.
Ataque imperial às mulheres na redondeza do Hospital de Sangue |
Incêndio do casinha cenográfica que representou o Hospital de Sangue |
Luis Herrera e Alexandra Peralta interpretando o Marechal Solano López e a Madame Lynch |
Soldados paraguaios apontam armas para soldado imperial portador de ultimato |
As mulheres de Piribebuy tiveram um papel importante na defesa da cidade. Elas estão no escudo da cidade (abaixo) |
Foto oficial para celebrar o sucesso |
Arami Eiroa Castillo (à esquerda) da Escola Nacional Piribebuy ensaiou três dias antes da apresentação. Na foto com a irmã Steffany Castillo (centro) e a orgulhosa mãe, Dona Myriam de Castillo |
CONTEXTUALIZAÇÃO
Nenhum comentário:
Postar um comentário