O Blog de Foz republica uma série de notas escritas em 2005 no blog Notas do Turismo e reproduzida em diversos sites e blogs na época entre eles o H2Foz de Foz Iguaçu.
Cartão postal de divulgação do Brasil- a coleção incluiu posters |
Notas do Turismo # 29 Vender o Brasil
(by notasdoturismo at 08:25PM (ART) on May 10, 2005)
(by notasdoturismo at 08:25PM (ART) on May 10, 2005)
Hoje
vamos falar sobre a “venda” do “Brasil” “lá fora”. O que é que
vendemos? O que é Brasil? Por muito tempo vendemos a imagem do corpo de
nossas mulheres. Ou melhor vendíamos partes ou fragmentos do corpo
delas. Hoje já estamos arrependidos disso. E agora? Que vendemos? O
que é o Brasil?
Vou dividir esta resposta em sete níveis: (1) Brasil
Estado, (2) Brasil Nação, (3) Brasil Território, (4) Brasil Governo, (5)
Brasil Povo, (6) Brasil Natureza e (7) Brasil Essência. Lembro que nada
do que está escrito aqui é uma revelação divina. Parte das respostas
vem de Weber. Outras de dicionários e outras fontes. Vejamos:
(1)
Estado é uma estrutura política que pretende, com êxito, o monopólio de
uso legítimo da força física em determinado território. O Estado é uma
relação de homens dominando homens”.
(2) Nação é o agregado de
indivíduos que se encontram unidos por uma história comum, costumes,
idéias, valores, conservando-se esta unidade pela consciência do povo
que a forma.
(3) Território é a dimensão geográfica que abriga a instituição Estado.
(4)
Governo é um conjunto de indivíduos, órgãos ou uma cúpula
administrativa que estabelece leis, sentenças e promovem a sua execução.
(5) O Povo nós sabemos o que é.O povo é a alma da Nação.
(6) A Natureza – nós temos idéia do que seja. Mas para este propósito,
Natureza será aquilo que não foi feito pelo homem, o seu meio, a
paisagem, a orografia, a geografia, a hidrologia, a topografia, a fauna e
a flora neles.
(7) A Essência, segundo o dicionário é “o que
constitui a natureza de um ser, de uma coisa. O que há de fundamental. É
o extrato – como no caso de um ótimo perfume. Qual é a essência do
Brasil?
Com a exceção do Estado e do Governo, nós podemos
vender ou incluir em nossas vendas todos os outros aspectos. O que eu
vendo em turismo, vendo mas não entrego. Abro as portas para que “os
outros” (os que vem lá de fora) usufruam dos aspectos de minha nação em
meu território. Para que desfrutem da música, arte artesanato,
literatura, monumentos, cidade, prais, florestas, rios, patrimônios
naturais, culturais, intangíveis, para que mergulhem em nosso
“Volksgeist” – o espírito da nação (coisa de Weber).
Mas há
confusão sobre o que é Brasil. O Estado brasileiro (Federação), sua
forma de governo (República), seu regime de governo (Democracia
Representativa) e o sistema de administração (Presidencialismo) são
todos de origem européia. Como Estado, somos filhos de Portugal e da
Europa. Como “Território”, como “Natureza” somos filhos da Terra. Somos o
Planeta.
Sinto, às vezes que o Brasil de instituições
européias, ainda não fez as pazes com o Brasil natural. Às vezes sinto
que o Brasil da Essência foi despejado do território do Brasil República
ou que o Brasil ainda não se fez carne e ainda não habita entre nós. É
necessário diferenciar entre os diferentes brasis. Um Brasil onde tudo
está conectado.
Muitos secretários de turismo e gente do
“trade” ao retornarem de feiras internacionais, dizem: “os europeus
pensam, que o Brasil só tem índio, mato e bicho”. Eles voltam nervosos.
Ofendidos, com a auto-estima baixa. Por quê? Por que foram vender um
Brasil europeu na Europa. Um Brasil que na Europa, não consegue competir
com a Europa na sua “europaneidade”. Não deu tempo ainda para fazer do
Brasil uma cópia exata da Europa (Graças a Deus). Por isso o desespero
do Ministério do Turismo em querer que as Cataratas do Iguaçu sejam uma
réplica de Niágara com traços da Disneyworld ou Disneylândia. Mas isso
só acontece porque o brasileiro não descobriu o “Brasil”.
Uma palmeira pindó (Jerivá) nas Cataratas do Iguaçu |
Antes
da chegada dos europeus, o País era conhecido como Pindorama – a Terra
das Palmeiras. Que palmeiras? O nome já dá uma dica. As palmeiras
“pindó” ou “pindova” (pindovy, em guarani). Mas existiam muitas outras palmeiras: açaí,
buriti, catulé, carandá Os europeus chegaram na nova terra e não
enxergaram “pindovas”. Enxergaram o pau-brasil, que em 35 anos
extinguiram. Creio que a diferença de visão começou aí. O Brasil milenar
via o pindó. O Brasil europeu viu o pau-brasil. Daí até hoje não
sabermos o que o Brasil tem!
Convido a todos ao “desvio” do território
conhecido. A que saiamos da mesmice e que conspiremos (co-inspiremos) o
Holo-Brasil - o Brasil por inteiro. Haverá mercado? Está na hora de tentarmos!
Nota de março de 2018
Sugiro aos leitores do Paraguai e Argentina que mudem o nome do país, em vez de Brasil, leiam Argentina e Paraguai, pois o problema é o mesmo quando se trata de essência de País.
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