Em 2003 viajei a Curitiba em uma jornada de pesquisa e levantamento de documentos sobre Jesus Val, um ser que sumiu da história de Foz do Iguaçu e das Três Fronteiras. Em Foz ainda é lembrado pejorativamente. Em Puerto Iguazú nem isso. Um personagem influente nos primeiros passos do turismo. Nas Três Fronteiras, Jesus Val foi ativo tanto no lado argentino como no lado brasileiro. Ele é citado em diversos registros de expedições como sendo o homem que organizava as incursões até as Cataratas por terra e por rio.
Ele foi trazido para a fronteira por Leandro Arrechea parte de um dos grupos empresariais que controlavam a navegação fluvial no trecho Posadas, Argentina e Porto Mendes, Brasil. As empresas transportavam cargas e passageiros na direção Posadas-Porto Mendes e no retorno embarcavam erva-mate até Posadas onde a carga era transbordada para seguir viagem a Buenos Aires. Arrechea, que além de agente de navegação, empresário, representante da Lei, construiu o primeiro estabelecimento hoteleiro.
"Subestabelecimento" pelo qual Antonio Joaquim Alves de Farias repassa a procuração para Leopoldo Frederico Pereira ** |
Escritura de compra e venda |
Aí começa a história de Jesús Val, nas Três Fronteiras. Ele se deu tão bem na execução de suas tarefas para o hotel e turismo de Arrechea que atraiu a atenção da Colônia Militar de Foz do Iguaçu. Ele não só foi aceito como colono registrado como foi levado em consideração por meio de seu administrador, capitão Edmundo de Barros, na hora de fomentar os sonhos de ver turistas encarando a picada, originalmente aberta para o escoamento da erva mate, com o propósito de ver as Cataratas. Prova da moral e da alta estima de Jesús Val pela Colônia Militar é que o Ministério da Guerra concedeu 1.008 hectares de terra às margens das Cataratas, pelo lado brasileiro, a Jesús.
Hoje Jesús Val é interpretado pela visão nacionalista e julgado segundo os tempos atuais. Só para lembrar, Santos Dumont se hospedou no Hotel Arrechea em abril de 1916, vindo de Buenos Aires. Nessa viagem ele passou para o lado brasileiro graças ao convite do hoteleiro de Foz Frederico Engel. E foi nessa viagem que Santos Dumont descobriu que as Cataratas estavam em terras particulares e nas mãos de estrangeiros. Foi nessa viagem que Santos Dumont foi a Curitiba falar com o presidente (Governador) Affonso Camargo para pedir cuidados pelas Cataratas. Em julho do mesmo ano, as terras de Jesús Val foram declarada de interesse público.
Verso da escritura |
Os documentos acima são frutos daquela peregrinação por cartórios de Curitiba. No primeiro, Jesus Val constitui um procurador brasileiro, o Dr. Antonio Joaquim Alves de Farias, solicitador* residente em Curitiba para representá-lo em todas as instâncias no processo que visava corrigir o “prejuízo” que o decreto de julho de 1916 lhe causara. No segundo a procuração é passada para outro procurador. O terceiro documento é cópia da escritura de compra e venda com os valores que deveriam ser pagos. Cálculo feito na época (2003) da pesquisa, o valor estaria hoje na casa dos 150 mil reais.
A experiência de garimpagem de arquivos de cartórios em Curitiba
foi muito interessante. Em uma semana eu conseguia chegar em um cartório e ser
recebido muito bem por uma funcionária ou funcionário que me perguntavam: que
ano vai ser hoje? E eu dizia, 1919
serve? Agradeço até hoje ajuda em
dinheiro contribuída pela antiga Agência Tarobá Turismo do grupo Tarobá
Construções, do empresário Mohamad Barakat e da concessionária da área de visitação do PNI graças a uma ação agitada pelo jornalista Chico de
Alencar (In Memoriam). A pesquisa ajudou a colocar Jesus Val na mídia entre elas mostra que
ele era registrado na Colônia Militar do Iguaçu, no município de Foz do Iguaçu
e na Justiça em Curitiba espanhol e não uruguaio (Embora ele tenha algo a ver
com o Uruguai assim como a maioria dos espanhóis, leia-se bascos, que deram
forma a Posadas, a navegação fluvial e a exploração da erva mate: Arrechea, Goicoechea,
Aramburu, Barthes (Basco-farncês), Gibaja, Julio T. Allica e outros).
* Solicitador é uma profissão que não existe mais
** O segundo procurador de Jesus Val em Curitiba era telegraphista-chefe. Telegraphista era uma profissão super importante especialmente para a região da Colônia Militar. A Linha do telégrafo acompanhava a Estrada Velha de Guarapuava.
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