quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Continuação: A questão de Palmas / Misiones: Os marcos da Fronteira Brasil-Argentina

 

Mapa Alexandre Tomporoski. Readaptado de BARROS, 1980, p. 59. Organização e arte Thiago Ribeiro

A questão de Palmas / Misiones

Se a sua cabeça dá voltas para entender toda a complexidade da história dessa parte da fronteira Brasil-Argentina ou Argentina-Brasil, dependendo de quem fala, imagine os portugueses e espanhóis lá pelos anos 1700 quando não havia GPS, drone, internet, Google Maps, Google Earth e rastreadores. Os primeiros portugueses e espanhóis sabiam que a fronteira entre os territórios da Espanha e de Portugal nessa região seria nas bocas de dois rios pequenos. 

Um chamado Peperi-guaçu e outro chamado San Antonio. O Peperi-guaçu desembocaria no rio Uruguai e o Santo Antônio, desembocaria no rio Iguaçu. Eles até entendiam que os dois rios nasciam a curta distância um do outro e que essa curta distância era ou seria uma fronteira seca. Mas como não havia GPS e coordenadas geográficas a coisa ficou meio escondida até que anos mais tarde chegasse a hora dos dois países herdeiros da Espanha e Portugal quisessem ocupar a terra.

Foi nesta etapa que nasceu a semente da futura confusão. Os "topógrafos" que faziam o levantamento pela Espanha, acharam que haviam encontrado os dois  rios. Eram dois rios que desembocavam um no Uruguai e outro no Iguaçu e que pareciam bater com a descrição. Quando confrontados com os dados brasileiros, a equipe dos herdeiros dos espanhóis foi informada que aqueles dois rios não eram o Peperi e o Santo Antônio. 

"Não, o Peperi e o Santo Antônio é muito mais pra cima. Este aqui é o Rio Chapecó que vai para o rio Uruguai e o outro lá do outro lado é o rio Chopim", argumentavam.  

Foi necessário provar que o Peperi-guaçu era realmente o Peperi-guaçu, que o Santo Antônio era mesmo o Santo Antônio e que o Chapecó e o Chopim nunca foram fronteira além de provar que na região entre as desembocaduras do Chopim/Chapecó os assentados, os posseiros, os moradores sempre foram portugueses no começo, caboclos e brasileiros. 

A confusão só foi resolvida com a intermediação do presidente dos Estados Unidos da América, ex-govenador de Nova York e ex-prefeito de Niagara Falls* (concidência?), Stephen Grover Cleveland  por meio de arbitragem.

Depois que o presidente Cleveland deu ganho de causa ao Brasil, os dois países partiram para a demarcação de fronteiras em terra. O resultado são os marcos de fronteira que podemos visitar hoje entre Itapiranga e Foz do Iguaçu.

Nota:

* Desculpe! Não é prefeito de Niagara Falls City (Cidade de Niágara Falls). Cleveland foi prefeito de Buffalo, cidade a cerca de 20 km das Cataratas de Niágara. Em Búfalo foi realizada a Exposição Pan-Americana Mundial (Feira Mundial) em 1901 e nessa feira, pela primeira vez, a eletricidade gerada em Niágara foi transmitida para longa distância. Até então toda a energia elétrica produzida em Niágara tinha que ser consumida aí mesmo. O sucesso da transmissão marcou a vitória da corrente contínua (CC) defendida por Tesla sobre a corrente alternada (CA) de Thomas Edison. Este site especial mostra a Feira de 19o1 segundo a visão dos visitantes e permite uma visita virtual.    

Nesta mesma feira, as Cataratas do Iguaçu foram divulgadas para o mundo pela primeira vez. Foi no stand da Argentina. Os representantes do Brasil, eram de Minas Gerais e estavam lá para atrair investidores para a mineração. Em Foz do Iguaçu, quando o tendente da Colônia Militar, soube disso, quer dizer, que as Cataratas estavam sendo "expostas ao mundo!" pela Argentina, ficou muito chateado. A primeira reportagem sobre as Cataratas do Iguaçu, Brasil, saiu na National Geographic de 1906, foi  graças a um esforço do Governo Brasileiro na categoria "correndo atrás do prejuízo".


 

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