sexta-feira, 21 de maio de 2021

Agentes de viagem: uma espécie em perigo de extinção? Inspirado no caso da nova licitação do PN Iguaçu (Brasil)

A nota onde saiu esta foto denuncia este City Tour Brasília (há mais?) como "difícil de achar e caro" mas depois que acha é bonito

Tudo hoje está sendo resolvido por aplicativos. Você faz uma pesquisa para saber que hotéis, pousadas ou BNB há em Brasília e o aplicativo já pede para você escolher uma data de entrada e saída. Daí, se você não tem data nem adianta procurar. E se você tem e faz a reserva do hotel, vem as perguntas? Como você chega no Hotel? Taxi, Uber ou “traslado” via agência de turismo? Digamos que você queira visitar o Parque Nacional de Brasília e digamos que ele já tenha uma concessionária que nele construiu um centro de visitantes e guichês para venda de ingressos, você consegue comprar os ingressos pela internet?  Em Brasília, até recentemente, não sei se algo mudou,  8 entre 10 moradores não sabem o que é ou onde fica o Parque Nacional de Brasília. Se você quiser chegar lá rápido você tem que perguntar onde fica o Água Mineral.

Pelo sistema de Agências de viagens, você visita uma agência em seu bairro ou até online e alguém vai pesquisar e passar informações para você. Se você comprar, a Agência de Viagens no quesito “emissivo” vai organizar um pacote de coisas a ver e fazer em Brasília. Pode incluir o transfer (Traslado) Aeroporto- Hotel, Pousada ou BNB, passeios como city tour mostrando a Brasília dos prédios de Niemeyer e  Plano Piloto de Lúcio Costa, a catedral, Pirâmide da LBV, a área das Embaixadas e o Parque Nacional da Água Mineral. O que é que você quer na Água Mineral? Só se banhar (é uma grande piscina com água natural do cerrado) ou quer ver a natureza do Parque? Vai observar aves? Que ir às Aguas Emendadas? Você vai precisar de guia ou guias. Um guia para o city tour, outro para guiar no Parque Nacional que é bem maior que  a piscina. O agente de viagem vai organizar tudo sob medida (na gíria do setor é chamado “taylor-made” quer dizer “feito por alfaiate”. O tour pode ser privativo, especializado e dedicado a nichos específicos.

Assim que você confirmar o agente começa a sofrer. É a profissão mais estressada do mundo, segundo fontes médicas que investigam o setor. O avião vai atrasar? Cancelou? Tem tornado? Já chegou em Brasília (BSB)? O receptivo funcionou, saiu tudo bem? O carro quebrou: Furou pneu? E o hotel recebeu bem? O guia é bom? Pontual? Responsável? Alegre?

Nada disso é lembrado oficialmente pelo Governo Federal quando faz uma licitação para a concessão de um Parque Nacional como o de Brasília, Chapada dos Guimarães ou Aparados da Serra.  Para o Governo não existe agente de viagem. O governo não sabe como o turista chega ao destino. Para o Governo o turista só aparece na jogada quando ele chega na portaria adquire o ingresso como se estivesse comprando uma entrada para o cinema.

Na realidade o edital de licitação já trunca o caminho para o sucesso da futura concessionária passando-lhe, como se fosse um caso de infecção, a ideia de que a concessionária tem a responsabilidade única de administrar os guichês de venda de ingresso. Não deixa de ser também uma maneira de quase extorquir  a concessionária jogando batatas quentes no colo dela exigindo que ela  arranque dinheiro do turista para investir, como agora, na área da fiscalização e do monitoramento ambiental (até para ajudar a enfraquecer o ICMBio e deixar espaço para as boiadas de aproveitadores, ditando preços que os turistas não poderão pagar chegando a inviabilizar o atrativo; induzindo o sistema oficial de proteção a ver o agente de viagem, o guia de turismo, as frotas, os hotéis como males necessários ou até picaretas (que los hay, hay).

Cada um no seu galho. Todos têm algo especial a oferecer. Quando falo do Governo não me refiro somente ao governo do Presidente Jair Messias Bolsonaro. No governo Fernando Henrique Cardoso em Brasília tendo como governador no Paraná, o arquiteto Jaime Lerner foi introduzido o que se chamou de modelo para os parques nacionais brasileiros sob os protestos de minha insignificante existência. Esperneei, briguei e paguei caro. 

Depois veio o governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e as grandes guerras com o trade local que muita gente lembra. Vieram sugestões como a da possibilidade de permitir a construção de mais quatro ou cinco hotéis dentro do Parque Nacional o que mataria a hotelaria da cidade de uma vez e também o Parque Nacional. Foi na gestão do PT que o Hotel das Cataratas foi licitado e eu briguei de novo. As exigências à concessionada eram tão grandes que por pouco não inviabilizou o investimento ( do aluguel mensal às obras exigidas). Não tenho nada contra as concessionárias que temos hoje quer a Cataratas do Iguaçu S.A. ou a Belmond Hotel Cataratas. As duas ganharam o direito de serem parte da comunidade de Foz Iguaçu. Eu torço pelas duas.

A classificação do Parque Nacional  do Iguaçu (Brasil) por este  site em 2016 era como "de significante preocupação".

Mensagem ao trade

Os equipamentos do turismo de Foz do Iguaçu são especializados. Nos melhores destinos turísticos do Brasil as frota de ônibus e vans para recepcionar turistas são alugadas de empresas de transporte e fretamento.  Em Foz as empresas de turismo são donas de seus ônibus e suas equipes de guias. Isso significa muito capital. Temos os investimentos em hotelaria de todos os níveis e somos fieis clientes das feiras e exposições de turismo no Brasil e mubdo afora inclusive China, Japão, Europa e Américas. É aí onde aparece o clamor em prol da divulgação. A cidade cobra divulgação e o governo federal tem mecanismos para a divulgação do País. Todos devem participar dessa divulgação e ajudar a custear essa divulgação.

Mas aqui vem meu alerta: Divulgação não é tudo! Estou cansado da espécie de divulgação que se faz para promover um turismo ignorante. Não é só divulgar, não é só cobrar ingresso, não é só informar. É neste quesito que eu compartilho da dor das equipes ambientais  do ICMBio que amam o  que fazem e querem passar a mensagem de que no nível de turismo nas Unidades de Conservação a informação deve ser também uma interpretação do patrimônio das Unidades de Conservação, dos museus e patrimônios históricos e culturais do Brasil.A palavra interpretação é um desafio e terá que existir. Interpretação não é educação embora ambas tenham a informação como matéria prima. Vamos prestar atenção a esse detalhe. Sai mais barato!

Estamos em boa hora para tirar tudo isso a limpo e mudar de rumo.  Em preparação para escrever esta “postagem”, adiantei algumas informações ambientais sobre o estado de saúde do rio Iguaçu e o perigo das cataratas adotarem o hábito de viverem sempre secas dentro de 20 anos. Dez? Ou já começamos a ver isso? A vazâo das Cataratas está estagnada na casa dos 350 metros cúbicos por segundos há tempo. É uma tendência. 

Mapa do PNI constante no processo de candidatura do Parque à lista do Patrimônio Mundial. Compare com o mapa do PNI integrante da projeto "Passagem da Boiada" 2021 abaixo: 

É um projeto para desmanchar tudo o que foi feito sem respeitar o sofrimento de muita gente retirada do PNI à força e transferidas para a região do Ocoí.

Alertei para o fato do novo projeto de licitação colocar mais de 60 mil hectares do Parque sob a chancela administrativa da futura concessionária. Vejo isso como um perigo de porteira escancarada para a passagem da boiada aproveitando que as "piranhas" estão entretidas com a cobertura da Covid 19. Nesse caso, de novo, o Parque Nacional do Iguaçu será usado como modelo para o Brasil ou, em outras palavras, como um “boi de piranha” para a geração de negócios em unidades de conservação.  

 Mas o Governo se esquece do nosso compromisso com a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial promovida pela Unesco que colocou o Parque Nacional na lista do Patrimônio Mundial ou Patrimônio da Humanidade em 1986. A Unesco já foi avisada disso?  As propostas violam e põem em perigo a saúde e os valores universais do Parque Nacional. O Brasil aderiu à Convenção do Patrimônio Mundial em 1971 sob a tutela do presidente Emílio Garrastazu Médici, como todos sabem um general do Exército Brasileiro. Assim não é coisa de comunistas!                   

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