terça-feira, 24 de maio de 2022

Foz do Iguaçu, qual é a sua encruzilhada? Cascavel conhece a dela

Cascavel se dá bem na vida porque descobriu logo cedo qual era sua encruzilhada. O primeiro nome do futuro Marco Zero da futura cidade se chamou Encruzilhada dos Gomes. Logo ela se viu na encruzilhada de BRs. A BR-277  e BR-163. A primeira liga Paranaguá a Foz do Iguaçu e Assunção e a segunda Tenente Portela (RS) a Santarém no Pará. Norte - Sul, Leste-Oeste se cruzam em Cascavel. A cidade aproveitou. Assis Gurgasz criou a EUCATUR - Empresa União Cascavel e abriu o caminho para Mato Grosso, Rondônia, Acre. Ajudou a fortalecer a encruzilhada. 

A encruzilhada BR-277 e BR-163 liga Cascavel a todo o Oeste e Sudoeste do Paraná com o Rio Grande do Sul e o Pará. Pelas BRs, tudo desemboca em Cascavel desde a Saúde, Educação, até a Delegacia da Receita Federal de Foz que foi embora para Cascavel (ficou em Foz a Alfândega). Cascavel soube aproveitar a sua encruzilhada. O negócio de Cascavel é a indústria, o comércio, agricultura, agronegócio, logística e governo. Como dona da encruzilhada, Cascavel afirma sua força nessa área.

E Foz do Iguaçu, qual é a sua encruzilhada? Qual é sua especialidade? Foz é boa em logística e apoio à logística. Eu continuo impressionado com os postos como o Gasparin e outros em Três Lagoas. A cidade está começando a se dar bem na área da educação. Temos um certo movimento de pessoas de uma área do Oeste do Paraná que se dirigem a Foz em busca dos serviços das regionais da Saúde, da Educação e até da Diocese de Foz do Iguaçu.

Mas o bom mesmo de Foz do Iguaçu é o turismo. Foz é especialista em turismo. Ninguém bate ela no Paraná. Não adianta Foz querer trazer a fábrica da Mascarellio para a cidade. A Mascarello  Cascavel está na encruzilhada. E então, qual é a encruzilhada de Foz? E qual é sua especialização de encruzilhada, de intermediação, de compartilhamento, de liderança? É o turismo? 

Sim. Mas está fazendo isso? Ainda não. Foz está nas Três Fronteiras. Turisticamente falando Foz é potência na 3F em número de hotéis, em número de voos, de agências, de guias, de guias bilíngues, trilíngues, tetralíngues, em número de empresas de turismo com frota própria de ônibus alguns comprados da Mascarello. Foz já tem um papel importante com as cidades vizinhas do Paraguai e Argentina. Há diálogo e triálogo tranquilos. Mas isso é tudo?

Não deve ser. Assim como Cascavel assumiu seu papel de encruzilhada e criou sua área de influência de Porto Alegre a Alta Floresta e de Porto velho a Santa Maria, Foz poderia reconhecer sua encruzilhada e ampliar sua área de influência até a Terra do Fogo, em uma direção, e até Assunção do outro. Para isso a educação do profissional de turismo e outras áreas tem que ser diferenciada da que é oferecida em Cascavel, Curitiba e São Paulo além de Aracaju e Caruaru.    

Pergunta prática: o que sabemos a mais do Paraguai ou Argentina quando comparado com um paulista? Os antigos empreendedores do turismo de Foz vendiam excursões para Assunção como "opcional" para os turistas hospedados em Foz. Eram excursões extras pagas a vista ou cheque para hóspedes que quisessem ir além da fronteira. Isso era papel de dona de encruzilhada. Mas isso acabou. 

Como destino Foz é, mesmo sem querer, uma "puxadora" de outros destinos. É como uma locomotiva. Até o governo na época do presidente Lula quando criou o Ministério do Turismo idealizou  um negócio chamado Destino Indutor. Foz era Destino Indutor da região Cataratas e Caminhos ao lago de Itaipu. Mas parece que a locomotiva-Foz, não aceita puxar ninguém além de que a continuidade do programa caiu já que cada ministro-deputado de turismo quer inventar uma roda nova. Agora mesmo no Festival das Cataratas, alguém me chamou para ver uma roda nova. Você não conhece a nova roda? Não, eu disse. Venha vou te mostrar. Fui. Quando cheguei lá a roda não era nova nada. Era coisa ainda ligada à "governança" das regiões turísticas ligadas aos "destinos indutores" que o Lula criou e deram início às Regiões Turísticas de todos os estados brasileiros - só o Paraná tem 16.   

Para assumir qualquer liderança como locomotiva indutora precisamos aprender mais sobre os paraguaios, os argentinos e como eles vêem seu país. Vamos criar produtos por meio de pesquisas para saber o que eles querem.  Vamos vender Foz e Brasil mais para eles. Ao mesmo tempo, vamos ajudá-los a vender seus produtos para o Brasil desde seus destinos até produtos de fabricação deles, assim como fazemos com o vinho. Tudo começa pelo esforço para parar de acreditar que o Paraguai termina em Ciudad del Este ou que a Argentina é Puerto Iguazu. O Iguaçuense tem condições de criar um mercado de produtos turísticos paraguaios para vender aos brasileiros. Porque deixar que São Paulo faça isso?

É imperdoável a falta de conhecimento de encruzilhadenses-iguaçuenses sobre como funciona a Argentina, por exemplo. Esses dias ouvi na TV dizer que o Exército Argentino estava ajudando a Imigração cobrar exame de Covid. Não é exército. É Gendarmeria. O Exército Argentino não sai do quartel a não ser que seja operação de apoio autorizada pelo presidente do país. É igual ao Brasil. A Gendarmeria é uma força de presença em fronteiras. São militares de fronteira. Outra notícia disse  que a Polícia Argentina estava extorquindo. É bom lembrar que não existe polícia argentina assim como não existe polícia brasileira. Cada província tem a sua. No nosso caso é a Polícia de Misiones. 

As encruzilhadas conhecidas por Foz do Iguaçu ligadas à logística, ao turismo, à exportação e à importação poderiam ser melhoradas e em alguns casos "resgatadas". Lembra da época em que existia um setor em Foz chamado de "Exportação"? Lembra da potência da Vila Portes e parte do Jardim Jupira na época da exportação intermediada por negócios que duraram até o início dos 90 após a chegada do Mercosul e a concessão da BR-277?  Desde então Foz perdeu o controle de suas iniciativas para induzir alguém a alguma coisa e de exercer influência aproveitando sua posição estratégica. 

Continuará como: Foz acha que tudo que reluz é ouro      

 

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