quinta-feira, 20 de abril de 2023

MISSA RECORDA OS 100 ANOS DA EXPEDIÇÃO DE TADEUSZ CHROSTOWSKI

Para recordação (Kiko Sierich)

Dois padres celebram a missa. Coroinhas são bisnetos de um dos homenageados e vieram de Curitiba


Voluntários lutam pela reconstrução do monumento que ficava no túmulo do naturalista polonês, patrono da ornitologia paranaense, enterrado dentro do Parque Nacional do Iguaçu.



O que aconteceu em Foz do Iguaçu no sábado dia 15 de abril de 2023, entre as 18h e 21 horas, na Paróquia Bom Jesus do Migrante, bairro Vila Portes, foi muito especial. 

Na prática era para ser só uma missa para celebrar a vida de um naturalista polonês chamado Tadeusz Chrostowski que realizou três expedições ao Paraná para fazer um levantamento da fauna, flora, da diversidade deste estado brasileiro. Infelizmente ele foi  surpreendido pela morte, vítima de malária, no segundo ano de sua terceira viagem ao Paraná. 

A morte de Chrostowski aconteceu na quarta-feira, 4 de abril de 1923 na precária instalação de apoio da linha de telégrafo ao longo da histórica Estrada Estratégica onde morava o caseiro identificado por Tadeusz  Jaszewski naturalista responsável pelos registros da expedição como Pedro de Paula Marins (também chamado Pedro Castellano).  O local se chamava Pinheirihos  a 72 quilômetros de Foz do Iguaçu mais ou menos a mesma distância de Foz do Iguaçu. 

Jovens da Paróquia de Virmond (PR) entram na Igreja em trajes típicos portando a padroeira da Polônia (Marcos Labanca)

Em 1923 as terras às margens da Estrada Estratégica (Estrada Guarapuava- Foz do Iguaçu) ainda não estavam no Parque Nacional do Iguaçu. Porém o Parque estava em gestação desde 1919 quando o Governo do Paraná adquiriu as 1.028 hectares ao redor das Cataratas do Iguaçu, terras que haviam sido doadas ao colono Jesús Val pela Colônia Militar do Iguaçu. Em 1934, onze anos após a morte dele, a União Central Polonesa ergeu um monumento ao naturalista no local de seu sepultamento. O Parque só foi criado em 1939 embora desde 1931 o Governo Federal já tinha assinado decreto separando terras devolutas para a ampliação do Parque Nacional o que aconteceu finalmente em 1044 e 1947,   o que definitivamente colocou o túmulo de Chrostowski e remanescentes da antiga  Pinheirinhos dentro do Parque Nacional do Iguaçu. 

Mini expedição ao Túmulo 

Izabelle Ferrari, Jackson Lima, Kathlen Ferrari, Maurício Dezordi, Fernando Straube, Rodrigo Becker e Ana Paula Caron no túmulo do naturalista (I. Ferrari)

Depois desta introdução podemos relembrar o que aconteceu no dia 15 de abril de 2023. Logo pela manhã foi realizada  uma visita às ruínas do túmulo com autorização do Parque Nacional do Iguaçu / ICMBio concedida ao professor Maurício Dezordi residente em Medianeira que encontrou o túmulo em 2021. 

A visita ao túmulo teve a companhia do biógrafo de  Tadeusz Chrostowskim o pesquisador Fernando Costa Straube e a esposa, a bióloga Ana Paula Caron. Estiveram também a jornalista Izabelle Ferrari e a pedagoga, Kathlen Ferrari, o empresário  presença de Rodrigo Becker esposo de Izabelle e este "blogger". 

A Missa    

Uma missa em homenagem a um naturalista polonês que na sua primeira viagem ao Brasil  veio como imigrante, construiu uma casa de madeira, plantou uma  roça e fez um apiário. Logo descobriu que a dedicação simultânea à agruicultura e a pesquisa não se complementavam. 

A missa foi apropriadamente realizada na Paróquia Bom Jesus do Migrante localizada em um bairro de Foz do Iguaçu (Vila Portes) - a poucos quilômetros da cabeceira da Ponte Internacional da Amizade às portas do Paraguai. Uma região que nasceu de um loteamento criado por uma familia também em alguma época imigrante. A Vila, desde seu começo atraiu sulistas de diversas descendências, libaneses, paraguaios, argentinos, brasileiros de todo o Brasil   quer como empreendedores ou empregados se dedicaram ao   comércio com o Paraguai, uma área de grande movimentação de viajantes, compristas, migrantes, exportadores, importadores, carga e descarga de caminhões,  logística e desafios de migração. 

Foi uma missa celebrada por dois padres. O padre Albino Matei. de descendência italiana, falante de "Talian" e nascido no Rio Grande do Sul, foi pároco em várias locais no Paraguai pára atender as nascentes comunidades de "brasiguaios". O padre visitante, Zdzislaw Malczewski, veio de Porto Alegre. A pedido do padre Albino, ele foi feito o celebrante oficial e o padre Albino co-celebrou. Dez pessoas vieram de Virmond, cidade no Paraná a quase meio caminho entre Foz do Iguaçu e Curitiba. Virmond foi colonizada por poloneses e teve em comum com Foz do Iguaçu a presença do padre Guilherme Thieleczek o primeiro prelado do Oeste do Paraná na época tudo parte do gigantesco município de Foz do Iguaçu  Foz do Iguaçu. Oito dos virmondenses lembraram a cultura entrando na igreja com roupas típicas da Polônia e portando a bandeira do país de seus avós, o brasão da Polônia a imagem de Nossa Senhora de Monte Claro, a Virgem Negra. 

O encontro de herdeiros do legado do naturalista cuja obra principal conhecida tem a ver com os pássaros também foi emocionante. Estiveram presentes representantes de instituições ou empresas como o Parque das Aves, o Refúgio Biológico de Itaipu, o Centro de Falcoaria e do Grupo de Observadores de Aves de Foz do Iguaçu. A presença ainda do professor e historiador Maurício Dezordi de Madianeira que que encontrou e levantou material sobre o túmulo do naturalista. Ele trouxe parte da lápide original que foi apresentada como ofertório  durante a missa.  

O encontro de todos esses profissionais com o pesquisador de ornitologia e autor prolífico sobre o tema no Paraná, Fernando Costa Straube e a esposa também bióloga Ana Paula Caron foi uma amostra da do sucesso do evento reunir pessoas que pudessem dar continuidade ao esforço de não deixar que Tadeusz Chrostowski, sua expedição, seus companheiros e seus estudos sejam esquecidos.     

Pesquisador Fernando Straube: "Que essa celebração nos traga o passado como uma reflexão para o futuro".

Em suas palavras na paroquia, Straube lembrou da dívida importante que se estende não somente àqueles que reconhecem o legado deixado por essas pessoas formidáveis. "Refiro-me aqui à memória daqueles que ofereceram sua própria vida ao pouco que ainda conhecemos sobre a nossa natureza". Straube encerrou dizendo: "Que esse celebração nos traga o passado como uma reflexão para o futuro".

Durante a missa os padres mantiveram o mesmo raciocínio apresentando Chrostowski e seus companheiros como exeomplo de quem dedicou sua vida para entender a natureza e permaneceram firmes no propósito e graças a eles o Paraná tem hoje um lugar privilegiado na ornitologia brasileira. 

E para coroar a atmosfera  de reflexão e agradecimento,  Stan Borecki Neto, neto de Stanisław Borecki,  o taxidermista da expedição dirigiu de Curitiba até Foz do Iguaçu acompanhado da esposa e filhos para estar presentes à Missa.

A família expôs no ofertório  uma bússola e um relógio do taxidermista Borecki ambos usados na viagem. Nas preces lidas na cerimônia, fizeram parte pedidos pelas almas dos migrantes poloneses Tadeusz Chrostowski, Tadeusz Jaczewski e Estanislau Borecki, e por todos os que acreditaram na missão que eles vieram desenvolver no Brasil, 100 anos atrás. E pediu pelos descendentes das famílias Chrostowski, Jaczewski e Borecki, "para que sigam honrando o legado deixado por seus antepassados".

Mas as surpresas não pararam por aí. O coro e banda cantou a canção oficial da devoção da Padroeira da Polônia "Czarna Madonna". Por fim os padres pediram aos presentes que se juntassem à banda para cantar o Parabéns ao neto de Stanislaw Borecki que celebrava o aniversário na data da missa que ficará na história.


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