quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

"Dos meus bichinhos ninguém me separa" diz seu Nelson de Jesus da Vila Borges


Seu Nelson atravessando a Avenida República Argentina

Nelson de Jesus mora há 42 anos nesta casa (abaixo) na Vila Borges. Paulista de Araçatuba criou e deu educação aos filhos com a sua profissão.  Sempre trabalhei com a terra, meus cavalos, uma carrocinha, um arado. "Ninguém tira os meu bichinhos de mim", diz lembrando diferentes fases de perseguição contra ele e seus animais. Antes de vir para Foz, ele morava em Lindoeste. Mas lá ele teve alguns desentendimentos com um "desqualificado" e se mudou para Foz do Iguaçu.  


Logo vai fazer 42 anos que o seu Nelson mora nesta casa. Esta foto é de 2013 quando bati na porta dele pela primeira vez para conversar

Há 40 anos, Foz passava por uma revolução seguida de explosão de moradores. O que era chácara foi sumindo. A Vila Borges ainda era um grande banhado. E lá ele se estabeleceu.

Por causa dos cavalos, o Seu Nelson já passou por muitas dificuldades, raiva, decepção e derramou lágrimas. Em algumas gestões, o povo da prefeitura perseguiu ele e os cavalos dele. "Prenderam meus cavalos algumas vezes", contou ao Blog de Foz que na época estava ativo com um projeto chamado "Bairronauta". Na última vez que os cavalos foram "encanados"  no começo de uma administração "revolucionária", os cavalos foram confiscados e levados para um lugar que ninguém sabia onde ficava. O Seu Nelson descobriu. 

Se alguém for criar um pograma de proteção de  cavalos, Seu Nelson é o melhor conselheiro

 

Ele foi lá e os "bichinhos" dele estavam sem comida e sem água, todos olhando pra ele com uma cara longa e olhos de desilusão. "Protestei porque eles prendem os cavalos e levam para um lugar onde eles morrem". O seu Nelson fez escândalo avisou que ia chamar as TVs, as rádios e os jornais da época. Os cavalos foram liberados e o seu Nelsom conduziu os seus filhotes para a casa do jeito que ele sabe: a pé. Ele na frente e dez, doze, 14 cavalos atrás. E lá foi ele como sempre cruzando a cidade, atravessando ruas, sorrindo para os motoristas e acenando para todo mundo especialmente na Avenida República Argentina onde todo mundo conhece ele e os cavalos. 

Feliz 2022 seu Nelson e que haja bom pasto para seus "bichinhos". (Obs.:Esses animais são espertos. Entendem português, espanhol e reconhecem um Guarda Municipal de longe 
 

"Quero ver quem é que vai dizer que alguma vez eu quis conversa com carro. Que alguma vez me viu dirigindo um carro? Criei meus filhos fazendo frete de carroça". Hoje os filhos do seu Nelson sonham que ele se livre dos cavalos e vá morar com eles. Mas ele não quer nem saber do assunto. E prossegue: 

"Meus animais nunca foram maltratados. Muitas vezes fui conversar com pessoas que tinham cavalos magros e sofridos e que coletavam materiais e eu ensinei a eles tratar os animais, teve vezes que eu peguei cavalo para tratar e engordar e deixei um dos meus para ajudar sempre com a promessa de que seriam tratados bem. "E eu conferia", disse.

Com o crescimento da cidade já começam a ficar raros os terrenos baldios. Grandes terrenos na Avenida República Argentina dão lugar a novos prédios ou os terrenos são cercados e ganham placas de imobiliárias. Com o clamor crescente de pessoas contra o uso de carroças, os animais correm o risco de perderem a utilidade e podem ser simplesmente abandonados como acontece com os jumentos no Nordeste. E continua não existindo "reservas" para cavalos jumentos e muares abandonados. Na realidade está acabando espaço para todos os animais no planeta. As onças, pumas, antas, quatis e outros que digam.    

Tenhamos paciência com o Seu nelson e não buzine quando ele estiver puxando seu "rebanho" para casa. Às vezes é possível ver o seu Nelson pilotando uma carroça puxada por um cavalo e atrás, dela a família inteira, oito, nove animais com direito à presença de filhotes, potros todos indo para casa beber água.  






 

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