segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Cadê a Rua que estava Aqui? Caso da Rua José Anchieta em Foz do Iguaçu.


Anchieta é nome de ruas, avenidas e outros lougradores públicos em todo o Brasil. À primeira vista podemos afirmar que Foz do Iguaçu é uma exceção. Foz do Iguaçu não tem uma rua ou avenida com esse nome, certo? Em parte: hoje não tem mas já teve até, pelo menos, até julho de 1984. A edição 132 do jornal Nosso Tempo, trouxe a nota "Nome de Rua provoca polêmica na Câmara". Segundo a nota a confusão se deu na hora de mudar o nome da Rua José Anchieta, no Jardim Central, atual "Bairro Monjolo" para rua Palestina. 

Tem coisa em Foz do Iguaçu que some na memória coletiva. Uma delas, e uma das mais importantes, é identificar como nasceu a arte dos loteadores ou os criadores de loteamentos escolherem temas espécfíficos para dar nome às ruas. Exemplo todas as ruas do Parque Residencial Morumbi (1,2,3) contam a história do futebol e lembram da copa do mundo, do fundador da FIFA, de estádios brasileiros, juizes e dirigentes do futebol (confira aqui e aqui). Já o bairro vizinho, subindo (subindo?) se chama Portal da Foz (projeto que não sai do papel, nem a pau, na verdade nem foi passado para o papel ainda), dedica-se aos pássaros: beija-flor, sabiá, papagaios, garças, bonito lindo. Já a Vila Borges, descendo (prá baixo da Jules Rimet) se dedica aos esportes e tem narradores da copa de 70 como Edson Leite e corredores de fórmula I como o José Carlos Pace e o sueco Ronnie Peterson. Coisa de época!

Do mesmo modo, quem projetou o Jardim Central dedicou o bairro a cantores, poetas, escritores e compositores como Adriano Suassuna, Cecília Meireles, Clara Nunes e no meio desses personagens homenageados estava o padre José de Anchieta com a Rua Anchieta.  Vale lembrar que algumas ruas do Jardim central continuam no outro lado da JK já na Vila Portes.  José de Anchieta era um padre jesuíta espanhol que nasceu nas ilhas Canárias. Hoje ele é santo, segundo a Igreja Católica. Ele recebe nome de apóstolo do Brasil. Ele foi muito importante para alicercerçar a Congregação Jesuíta na América do Sul.

Entre outras coisas o padre Anchieta estudou, codificou o tupi antigo para a produção de material de evangelização dos "nativos brasileiros" no que ele chamou de "língua do Brasil". O nome oficial da obra foi: Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil publicada em Lisboa em 1595

Mais tarde quando os jesuítas estavam prontos para partir para a trazer a "palavra de Deus" (Ñandejára / Nhandejára ñe'ẽ) para o que hoje é Paraná (Guairá) e Paraguai, outro padre, peruano de nascimento, chamado Ruiz de Montoya fez aqui o mesmo que Anchieta: produziu em 1724 uma Gramática, desta vez, do guarani chamada Arte de la lengua guarani impressa aqui mesmo na região que tem as Cataratas do Iguaçu como epicentro. 

Foz do Iguaçu intelingentemente prestou homenagem aos dois dando o nome do Padre Anchieta à rua do loteamento do Jardim Central e dando o nome de Padre Montoya a uma rua no centro, a rua onde se encontra a sede da Associação Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu no edifício "Omoirũ" que é, em si uma palavra guarani codificada na obra do Padre Montoya. 

O que queremos com isso? 

Sem dúvida não é fazer confusão. A Rua Anchieta deixou de existir há 37 anos. Desde então aquela via pública se chama rua Palestina, uma das quatro que delimita a quadra onde está a Mesquita Omar Ibn al-Khattab (aproveito para lembrar que Foz do Iguaçu tem duas mesquitas). A rua Palestina, junto com a Rua Meca conquistaram o direito a existir. A minha sugestão e intenção é que a Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu faça esforços de devolver uma rua Padre José Anchieta para Foz do Iguaçu. Não é preciso destituir a rua Palestina. Os vereadores podem indicar uma rua nova, uma praça, um parque e até um pequeno monumento ao apóstolo do Brasil. 

O que os vereadores não podem fazer é fingir que não leram esta postagem e outras como a que reclama da destituição do nome do Presidente Cleveland de uma rua de Foz do Iguaçu. Os vereadores podem, igual e maravilhosamente,  ajudar a defender a criação de um arquivo público de Foz do Iguaçu, junto com um museu municipal. No caso de ruas, hoje é impossível saber até que Lei Municipal deu o nome do General José Meira de Vasconcelos à Avenida General Meira, houve uma justificativa? Quem propôs? Tudo isso é história e tudo evaporou!  







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