quinta-feira, 26 de maio de 2022

A mistura de ervas no Tereré no Paraguai é Patrimônio Imaterial Mundial pela Unesco

A Dona (Ña) Paola Sosa de Ciudad de Este é uma "yuyera" do Paraguai. Há pelo menos 30 anos ela vende "yuyo" em um ponto próximo ao Lago da República na capital do Departamento do Alto Paraná. O português não tem uma palavra que traduza e faça justiça à palavra "yuyo", em espanhol. O dicionário vai dizer que "yuyo" se chama "erva daninha". 

A Ña Paola nunca vai aceitar esta tradução de mau gosto. São ervas comuns que nascem facilmente em qualquer lugar. Em guarani língua oficial do Paraguai e também falada no Brasil por comunidades guranis espalhadas de Angra dos Reis ao Rio Grande do Sul, a palavra "yuyo" é "Ñaná" e se trata dessas ervas de fácil acesso usadas como plantas medicinais.  No caso do Paraguai e em guarani em vez de dizer planta medicinal se diz "Pohã ñaná" ou "yuyos que curam". É isso que a Dona Paola vende.


Em 2011 quando o Paraguai completou 200 anos, o Congresso Nacional decretou o Tereré como Patrimônio Nacional do Paraguai. O decreto criou até o Dia Nacional do Tereré que cai no último sábado de fevereiro. Por coincidência o Mato Grosso do Sul declarou o Tereré como Patrimônio Cultural do Estado no mesmo ano. No Paraguai em 2019 o governo paraguaio apresentou à Unesco o pedido de inclusão da bebida para ser parte da lista oficial do Patrimônio Imaterial Mundial o que foi aceito e declarado em 2020.

Mas há uma informação importante. O nome oficial registrado pela Unesco é: Práticas e Saberes Tradicionais do Tereré na cultura Pohã Ñana. Agora que você já sabe o que é pohã ñana fica fácil para entender o significado do título da Unesco. Ao contrário do título dado tanto pelo Paraguai como pelo Mato Grosso do Sul em 2011, o título da Unesco vai além do tereré. É Patrimônio Mundial na categoria intangível ou imaterial as práticas, o conhecimento ou saberes do uso das ervas no tereré.   
Cerca de 70 ervas estavam expostas na mesa da Ña Paola no dia da visita para esta nota
É digno de nota que a Unesco fala em, "cultura do Pohã Ñana". É uma cultura porque não se limita às vendedoras do tererê com as ervas. Inclui também o conhecimento de grande parte dos clientes que chegam às banquinhas sabendo o que querem e pedem pelo nome. Luis Peraltam estacionou o carro próximo à banca e veio diretamente até as plantas expostas e pegou, ele mesmo cinco plantas diferentes. Uma que ele não estava vendo no balcão, ele pediu e Ña Paola, entregou a ele. "Peguei aguape, kapi'i cedron e tarope", as três seriam acrescentadas à água gelada do tereré em uma jarra e daí derramada na erva. "Para o estômago e refrescante", disse.      

A prática e saberes da cultura pohã ñana no tereré  inclui os utensílios, ferramentas, produção, jeito de amarrar as plantas para a venda que inclui um verdadeiro cerimonial. Os utensílios incluem a cuia, a bomba, o pilão para pilar as plantas e certos costumes.
 
Terere Rupa
O terere rupa é um deles. "Rupá" significa "cama". Antes de tomar o tererá por vola das 10 da manhã, há o costume de comer alguma coisa leve e salgada. É a isso que os paraguaios chamam de "cama de tereré". É uma maneira de forrar o estômago antes de tomar a bebida gelada e fria.   

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