O Brasil já teve um "Rei do Turismo". O nome dele era Alberto Quatrini Bianchi

Alberto Quatrini Bianchi, Rei do Turismo nos anos 1930-1940 resistiu até o final dos anos 1950 com a inauguração do Hotel das Cataratas   

Por Jackson Lima****

O Brasil gosta de Reis. Rei do Gado, Rei da Soja, Rei do Ovo. Apresentamos aqui o antigo e inigualável Rei do Turismo (In Memoriam)

 
Eu só me interesso pela história do Rei do Turismo do Brasil, Alberto Quatrini Bianchi, porque ele fez parte de um momento ínfimo da história do turismo de Foz do Iguaçu. Ele foi oficialmente o empresário que ganhou a concessão para operar o Hotel das Cataratas. Isso aconteceu um pouco antes da inauguração do novíssimo hotel no Parque Nacional do Iguaçu em 1958. Na verdade, que Bianchi dono da Rede Bianchi de Hotéis, conseguisse a concessão do hotel não era novidade para o mundo econômico. Estamos falando do turismo na época dos cassinos no Brasil. Fase conhecida como a Época de Ouro do Turismo brasileiro.  

Getulio Vargas apostou no turismo de jogos e  na novidade da época, as termas e balneários o que nada impedia que os balneários também fosse cassinos. Bianchi chegou a ser dono ou arrendatário de hotéis cassinos em cinco estados. 

Eles foram o Pale Hotel de Ouro Preto (MG), o Palace Casino de Poços de Caldas (MG), o Hotel de La Plage* e o Cassino de Guarujá (SP), o Hotel Palace de São Luis (MA), o Hotel Palace do Recife (PE) Hotel e Cassino Palace de Salvador (BA), o Icaraí Hotel (RJ) e o Serra Negra Hotel (SP). Havia ainda dezenas de cassinos no Rio de Janeiro e demais estados. O último de seus grandes empreendimentos foi o Grande Hotel Guarapari no Espírito Santo.

Kombi de luxo do Hotel de Guarapari. Veículo com duas cores era considerado uma "limusine". A Rede Tropical** nos anos '70 tinha uma frota delas 

Pelo menos é o que conta a história dos grandes centros hoteleiros e "cassineiros" do Brasil. Foz do Iguaçu, então longe de tudo  e seu novo Hotel das Cataratas ficaram de fora da lista conhecida de sucessos e calvários de empreendimentos do magnata hoteleiro desde o fechamento dos cassinos no Brasil no governo do presidente Eurico Gaspar Dutra em 1947, onze anos antes da inauguração do Hotel das Cataratas. Mesmo assim, as obras da estrutura de apoio do Parque Nacional do Iguaçu incluindo o Hotel prosseguiram e não há nenhum esforço de esconder que havia esperança de que o Hotel das Cataratas fosse um Hotel com cassino.  

O edital de concorrência na busca de interessados a futuros arrendatários do Hotel das Cataratas foi publicado no Diário da União da sexta-feira, 19 de outubro de 1955. Quando o resultado saiu, havia vencido a Hotéis Bianchi do empresário Alberto Quatrini Bianchi. Porém a administração do Hotel das Cataratas pelo grupo Bianchi durou pouco. Sem os jogos, os empreendimentos estavam sem fôlego. Bianchi era ligado a grandes capitais, a magnatas, fazendeiros do café, industriais e à mineração. Isso fez o barco flutuar até ficar tarde demais.

Não poder contar com o magnata de tudo no Brasil, o americano Percival Farquhar, hoteleiro (Ritz Carlton), dono de ferrovias em todo o país entre elas a Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande, terras no Brasil todo incluindo na antiga Foz do Iguaçu, grandes estâncias ervateiras como a Fazenda Britânia e parte das terras que Getulio Vargas resgatou para o Parque Nacional do Iguaçu, o sol começou se pôr para Alberto Bianchi e seu império.

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Promoção do evento: quem se orgulha assina embaixo (CEDOM Guarujá)

 

O Correio da Manhã, sexta-feira 9 de janeiro de 1959: Realtur o braço turístico da REAL Transportes Aéreos assume o "contrôle" do Hotel 

O Hotel das Cataratas de propriedade da União foi inaugurado em 1958. A administração do hotel pelo empresário durou um piscar de olhos, para usar uma linguagem bíblica. É o que mostra a manchete do Correio da Manhã de janeiro de 1959 anunciando que a REALTUR assumiria o hotel e assumiria também seu marketing, divulgação, venda e financiamento de viagens por meio de seu crediário próprio.

A REALTUR era o braço turístico da REAL Transportes Aéreos. As duas empresas se fundiram com a finalidade específica de administrar e explorar o Hotel das Cataratas. A REAL transportes Aéreos e a sua subsidiária Realtur cumpriram seu papel de manter o hotel ocupado e como mostram manchetes de jornais da época muita gente veio conhecer as Cataratas em seus aviões.

Armando Sander,*** diretor geral da REALTUR, anuncia novidades para o Hotel sob nova direção

Porém, uma crise forçou a empresa de aviação e turismo a sucumbir. originada de seu próprio crescimento e a REAL teve que sucumbir. Em 1961, a VARIG a empresa da concorrente do Rio Grande do Sul comprou a Real. Com a compra a Varig assumiu todas as rotas da empresa bem como a administração do Hotel das Cataratas seguindo o mesmo modelo de trazer em seus aviões passageiros que seriam hóspedes e clientes do hotel. Mais tarde em 1967, a Varig como única sobrevivente de uma doença de falências aéreas que vitimou a PANAIR do Brasil (esta é outra história) foi criada a Rede Tropical de Hotéis que possuía também, nos moldes da REAL /Realtur, uma agência de turismo: a Agência Tropical de Turismo.     

Notas

* Hotel de La Plage, em Guarujá deu início ao turismo de luxo no Brasil; Local foi palco da morte de Alberto Santos Dumont. Foi demolido. 

 

** Havia pelo menos seis motoristas (moto-guias) das "limusines iguaçuenses". Saúdo o Clécio Piazza, Ari Sonaglio e o Teixerinha. Me falta os nomes de dois. Aceita-se ajuda.

*** Amando Sander não era qualquer um. Na foto ele aparece sentado vistoriando um "clichê" provavelmente supervisionando uma publicação. Ao lado dele está Benjamin Fineberg gerente-geral do Grande Hotel Águas de São Pedro e empresário do ramo telefônico. A Realtur tinha exclusividade na venda de pacotes do Grande Hotel. 

**** O propósito deste texto é convidar Foz do Iguaçu a olhar para longe de seu umbigo. O outro propósito é trazer o olhar de volta para o seu umbigo. A história pela visão nacional sempre deixa Foz do Iguaçu.

***** A PANAIR, por meio de seus ex-funcionários continua combatendo para não permitir que  a memória necessite de autorização de voo. Visite o site da PANAIR DO BRASIL.   Não esqueça que aviões da Panamerican fizeram a linha Rio de Janeiro-Foz do Iguaçu-Assunção.

****** Esta não é uma história de Alberto Q. Bianchi. Tem muita gente estudando seriamente o empresário tão importante para o turismo e negócios do Brasil na época. Saudações aos familiares e estudiosos.