domingo, 31 de outubro de 2021

Uma cidade onde a bandeira inspirou um parque dos sonhos. Uma homenagem a Abrão Assad e Jaime Lerner

Abrão Assad e Jaime Lerner: Assad, árabe. Lerner, judeu. Um, o papel. O outro a caneta. Uma parceria quase que irrepetível (Foto Gilberto Pires, 1973. Arquivo Gazeta do Povo)

O Jardim Botânico Francisca Maria Garfunkel Rischbieter de Curitiba ganhou o primeiro lugar na lista de Maravilhas do Brasil em uma iniciativa do site Mapa Mundi levada a cabo em 2008. As outras maravilhas brasileiras escolhidas na época são: o Teatro Amazonas em Manaus, a Catedral Metropolitana de Brasília,  o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o Forte dos Reis Magos em Natal, a Ladeira do Pelourinho em Salvador e o MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Francisca Rischbieter foi parte da equipe de urbanistas que criou a Curitiba que conhecemos e gostamos.


O Joardim Botânico continua bonito e é definitivamente uma das atrações de Curitiba. Quem visita o privilegiado local paranaense pode receber duas informações contraditórias. A primeira diz que o Jardim foi "criado à imagem dos jardins franceses". A outra afirma que a conhecida estufa foi inspirada no "Palácio de Cristal de Londres". 

É balela, diz Assad

O homem que desenhou o jardim, a estufa e toda a estrutura do Complexo do Jardim Botânico diz que essas informações são: balela. Estamos falando de Abrão Assad, arquiteto que se não existisse, as obras do também grande arquiteto Jaime Lerner não teriam dado celebridade à capital paranaense. Foi um casamento perfeito. Lerner dizia o que pensava e Assad colocava no papel. Finalmente, Lerner assinava os cheques das obras e se virava com os burocratas. Um dos motivos da parceria de sucesso era uma espécie de segredo do negócio: " A chance de poder fazer, e o quê, e como fazer… e rápido fez, sim, toda a diferença; e era o que nos movia! Jaime sempre dizia: é preciso fazer acontecer", como lembrou a Gazeta do Povo em homenagem póstuma a Jaime Lerner.

Em uma rara reportagem aprofundada sobre Assad, no programa Meu Paraná após a morte de Jaime Lerner este ano, o arquiteto acabou com a desinformação generalizada. O repórter que fez a entrevista foi Bruno Favaro da RPC Paraná. 

 

Vista das Cúpulas, arcos e curvas da estufa durante trabalho de restauração em outubro de 2019. "Uma coisa quase atávica"

Assad esclareceu que a inspiração para a estufa não tem nada de palácio de vidro da Inglaterra ou de qualquer outro lugar da Europa. A inspiração da estufa é árabe. Quando estava desenhando nem ele pensou nisso. Eu sou árabe, a inspiração, disse, foi quase atávica (genética, estava nas veias). Basta buscar no google imagens da Cúpula da Rocha para ver parte da "inspiração atávica" da abóboda, curvas e arcos da estufa do Jardim Botânico de Curiitba. 

E os jardins do jardim Botânico? Nada impede que Lerner tenha pensado em um jardim francês. Mas, Abrão Assad revelou, e para mim essa foi a grande tacada, que os jardins se inspiraram na Bandeira de Curitiba que é um retângulo dividido em oito partes por triângulos de lados iguais. No jardim de Assad, do alto, ele colocou no chão seis bandeiras de Curitiba, três de cada lado. O que falta é a linha vertical do eixo norte-sul da bandeira.      

Bandeira de Curitiba: uma bandeira oitavada (dividida em oito partes). O retângulo branco representa o governo municipal. Suas ações chegam aos quatro pontos cardeais representados pelas linhas vermelhas e brancas. O verde, lembra as propriedades rurais da época em que a bandeira foi aprovada (1967).    
Está vendo as seis bandeiras de Curitiba? O que falta é a linha vertical do eixo norte-sul da bandeira.      

Fica muito mais bonito explicar  o atrativo turístico mais famoso de Curitiba utilizando a informação do arquiteto. A lição que o Brasil pode derivar disso é imensa. Quantas cidades do Brasil podem bater no peito e dizer que alguma grande obra de valor artístico, cultural e turístico local foi inspirada na bandeira do município?

Outro fato que se destaca na dupla criativa Assad-Lerner é a origem étnica dessa dupla. Em São Paulo, por exemplo, a comunidade árabe criou o Hospital Sírio-Libanês. A comunidade judaica criou o Hospital israelita Albert Einstein. O espaço no meio foi preenchido pela Universidade de São Paulo com o Hospital das Clínicas, público e estadual. No modelo paranaense, o Sírio-Libanês foi representado pelo arquiteto Abrão Assad e a parte israelita pelo arquiteto Jaime Lerner. Diz muito sobre esta característica do Paraná misturar nacionalidades especialmente em Curitiba. 

Outra lição importante que destaco neste texto é a capacidade de Curitiba dar continuidade. Conheço municípios onde, caso o Jardim Botânico fosse localizado neles, já teriam demitido o jardineiro ou extinto o departamento de jardinagem. Todo o pacote de obras que Lerner realizou com Abrão Assad permanece em uso e mantém a continuidade. É hora de lembrar que a equipe de Lerner teve outros arquitetos que assinaram obras. Quando voltar,falaremos sobre Domingos Bonsgstabs autor do projeto Ópera de Arame e da Universidade do Meio Ambiente entre outros. Por enquanto deixo o link para este outro material sobre Curitiba 

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Foz do Iguaçu não é para amadores: as contorsões administrativas do turismo na tri-fronteira

 


O casal está sentado em um banco brasileiro olhando para os saltos argentinos

 

Você entende bem qual é a diferença entre Foz do Iguaçu Destino do MundoDestino Iguaçu? É simples: Foz do Iguaçu Destino do Mundo trata unicamente de Foz do Iguaçu, o município como um "destino" turístico. 

Já quando se fala em Destino Iguaçu, o pessoal do trade, os parceiros oficiais falam de Foz do Iguaçu, Ciudad del Este, Presidente Franco, Hernandarias, Puerto Iguazu e as dependências e conexões dessas cidades (como a região Metropolitana de CDE)  do outro lado do Iguaçu ou Paraná. Tudo como um único Destino de Viagem.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Não se esconde uma luz no topo da montanha: é o caso da fotógrafa Cecília Miura

Faz dois meses, Cecília Miura, que participava de um workshop de fotografia no Parque Nacional do Iguaçu em Foz do Iguaçu, entrou para a história. Foi quase na categoria "faits divers" - um categoria que não encaixa na lista de nenhuma editoria de jornal, revista ou TV. É uma categoria de curiosidades. 

domingo, 17 de outubro de 2021

Curiosidades do guarani: "O que o paraguaio sabe sobre o Brasil que o brasileiro desconhece (Segunda Parte) Caso de Pindorama

Parabenizo o Estado de São Paulo, Secretaria de Estado de Educação e o Programa de Educação Escolar Indígena, região de Mirakatu pela divulgação do Hino Nacional Brasileiro em mbya-guarani (link no post)

A pergunta é: "O que o Paraguaio, por exemplo*, sabe sobre o Brasil que o brasileiro,  desconhece?"  A resposta direta e sem rodeios é: que o nome do Brasil em Guarani é Pindorama. A imagem logo abaixo ilustra o artigo guarani sobre o Brasil na Vikipetã (Wikipedia).

A segunda imagem ou arte (logo abaixo) foi retirada da página também da Vikipetã sobre o Mercosul. O destaque aqui são os nomes dos quatro países fundadores do Mercado (Comum) do Sul (Ñemby=Sul, Ñemuha=Mercado). Confira! 

O guarani tem sua maneira de escrever os nomes de países
 

Como não me canso de lembrar, o guarani como língua oficial é soberana e independente. Exemplo dessa soberania é o alfabeto (achegety) guarani. O guarani não possui som do "g" como o do espanhol em, por exemplo, gente ou gemelo (Gêmeo) ou ainda Argentina. Para esse som, o avañe’ẽ (guarani) usa o "h" inclusive em palavras emprestadas do castelhano como "Arhentína", "hente" entre centenas de outras. Confira os nomes dos países do mercosul. Note que o Brasil não aparece na lista. Certo? Errado, aparece sim mas com o nome guarani de origem tupi: Pindorama. 

Pindorama significa, Terra do Pindó. Pindó é uma palmeira também conhecida como jerivá. Árvore nativa da Mata Atlântica com grande presença no Parque Nacional do Iguaçu e Iguazú, nas ilhas do Iguaçu Superior e graças a projetos de urbanização nas ruas de São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Miami, Sidney e muitas outras. É uma árvore sagrada para o Guarani Mbya e é, acima de tudo, a palmeira-bandeira das Cataratas do Iguaçu. Para ser terra do pindó, Pindrorama tem também muitíssimas outras palmeiras.     

Vamos aprender sobre a Pindorama moderna, o tetã (país) chamado Pindorama. Primeiro Pindorama é muito grande e é formado pela união (joaty) de vários "tetãvore" (estados). O nome oficial fica assim: Tetã Joaty Pindorama que pode ser trauzido como República Federativa do Brasil. Uma federação não deixa de ser uma união e uma união não deixa de ser uma "joaty". "Ty" significa uma plantação, uma coleção e "aty" lembra uma reunião. 

O lema oficial de Pindorama em português é uma mensagem fria e às vezes usadas como arma "ideológica": Ordem e Progresso. Em guarani a frase parece mais sábia, mais humana e mais fraterna: Tekoitepe ha Ñakãrapu'ã (Vida Correta e Levantemos a Cabeça)!    

A Pindorama moderna tem ainda uma poyvi (bandeira) nacional e uma Purahéi (canção) cujo nome completo é "Vrasil Retã Purahéi"(Canto ou Hino do País Brasil). Note que Tetã (país) virou "Retã" por motivos de eufonia e poderia ser "hetã" em outras ocasiões já que a palavra entra na categoria de "palavra variável".

* Digo "paraguaio por exemplo" porque pode ser o caso de argentinos de Corrientes, Formosa, Misiones, bolivianos e comunidades falam guarani como avá-guarani, mbya-guarani e kaiowa.  

domingo, 10 de outubro de 2021

Agricultura e restauração ecológica: Método Muvuca para recuperar terras degradadas

 

Preparando as sementes para a muvuca (Tui Anandi/Instituto Socioambiental (ISA))
Restauração ecológica em propriedades rurais é um dos temas em discussão em Congresso em Foz. Reflorestar área usando mudas de plantas é a maneira mais cara. Semeadura Direta é a nova tecnologia.
 
Jackson Lima
Divulgação
(Legado de eventos em Foz do Iguaçu)
 
A restauração ecológica dentro de uma propriedade rural pode custar entre R$ 900 até R$ 13 mil por hectare. “Tudo depende do método escolhido”, destacou a pesquisadora Laura Antoniazzi em entrevista ao Gazeta Diário. Segundo ela, pode-se utilizar três tecnologias diferentes: a regeneração natural ativa, a semeadura direta e o plantio por meio de mudas.“A mais cara é o plantio por meio de mudas”, afirma.  
 
Laura Antoniazzi é parte dos cerca de 1500 cientistas, pesquisadores, técnicos e  lideranças do setor de restauração ecológica que se encontram no Hotel Recanto em Foz do Iguaçu onde acontece o VII Congresso Mundial de Restauração Ecológica. Os profissionais de mais de 60 países trocam informações sobre projetos e resultados da restauração ambiental em todo o mundo. Só o Brasil está comprometido em restaurar mais de 120 milhões de hectares até 2020*.   

sábado, 9 de outubro de 2021

Curiosidades do guarani: Série "O que o paraguaio sabe sobre o Brasil que o brasileiro desconhece (Primeira Parte) Caso de Foz do Iguaçu

Primeiro vídeo depois de um longo tempo: recomeço

Tem muita coisa oculta debaixo do tapete nesta Fronteira Trinacional e não estou falando de coisa ruim. Na realidade falo de um tesouro comum já que é algo aberto ao compartilhamento de brasileiros, paraguaios e argentinos mas que por desconhecimento não é divulgado. 

O veículo de transporte desse tesouro é o idioma guarani parte da grande família tupi-guarani, que é parte de um tronco línguístico sul-americano com línguas faladas do Nordeste e Norte do Brasil até a Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia. 

Ficha técnica de Foz do Iguaçiu em guarani (Vikipetã / Wikipedia)