Meu amigo Valmor Sparrenberger que é guia local em Foz, esteve em Milão. Viu um jornal La Stampa. Ele pensou em mim. Vou levar um jornal para ele. Na capa, edição de 24 de maio, notou uma chamada com o título acima sobre a região onde eu moro aqui nas Três Fronteiras. Clique na foto para ver o jornal e clique aqui para ler o material já reproduzido no blog de Giorgio Buongiovani. Lendo a matéria tive a impressão de que o autor nunca veio à região. Isso poderá render várias notas e comentários. Por agora confira as primeiras linhas. Aviso que a tradução é minha e é livre. Metade do crédito vai para o Google Translator, a outra para o meu italiano aprendido à dura penas na Caatinga do Sertão Pernambucano, com missionários e padres, lendo revistas do Giallo Mondadori e assitindo e ouvindo "Dio come ti amo" com Gigliola Cinquetti.
Título: À Tríplice Fronteira entre guerras de narcos e tramas islamitas
Linha fina: As Cataratas do Iguaçu, com setenta metros de altura, são aquelas com o maior fluxo de água no mundo. No coração da América do Sul: drogas, armas e dinheiro para a Jihad terrorista. Kathryn Bigelow fez dele sua última locação, mas não é bem-vinda. Paolo Manzo
(A matéria)
Se respira um ar surreal ao andar, depois do escurecer pelo lado brasileiro de Foz do Iguaçu, enquanto no ar, você percebe o barulho da ciclópica "Cataratas", a maior cachoeira do mundo em fluxo de água. Há alguma coisa sinistra no ar e não é apenas o inquietante do gigantismo da natureza. Com a escuridão nos hotéis que hospedam os turistas ricos, um tácito toque de recolher é acionado. As ruas estão desertas, não obstante tudo que se movimenta nela é geralmente estranho e cheio de más intenções. À noite, na realidade, falam as armas, pela manhã se contam os corpos. Uma média de três assassinatos por dia.
Bem-vindos à "Triplice Fronteira Brasil, Argentina e Paraguai, para onde forças policiais de meio mundo vem em busca de explicações para crimes hediondos que atravessam oceanos. O ímã da Tríplice Fronteira chegou a atrair Kathryn Bigelow, a diretora que acaba de ganhar o Oscar pelo filme 'The Hurt Locker' deverá em poucos dias dar o CHAK (Claquetada) incial de seu último filme. Os governos da região já declaram sua indignação. dizendo que, ao insistir sobre a má fama da região se está jogando lama na reputação de seus países.
É inegável, porém, que nesta terra de ninguém o crime e o terrorismo mundial encontraram um habitat agradável. Basta ter um passaporte sul-americano, a passagem em um único dia de um país para o outro transcorre liso como o azeite. Passa-se e obviamente quem quer leva drogas, armas e dinheiro - leva. Um megabanco do crime que desde o início do novo milênio, não passou despercebida para os grupos mais extremas do terrorismo islâmico que aqui decidiu fazer transitar fundos para tramas das mais ferrenhas. Entre os muitos lugares onde se tentou em vão encontrar Osama bin Laden após os ataques de 11 de setembro está também a Tríplice Fronteira.
Mas que filme quer fazer a ex-mulher de James Cameron, o diretor de Avatar, que também está no continente para defender os direitos dos índios da Amazónia ameaçados por uma barragem? A diretora, diplomaticamente, explica que ( o filme) será do gênero aventura com terroristas, espiões e narcotraficantes. O roteiro está pronto (e foi) assinado pela a mesma mão feliz de "The Hurt Locker", quer dizer do jornalista Mark Boal. O orçamento foi definido, e começara a ser rodado no início de junho.
O título ainda é incerto, talvez um ... "Tríplice Fronteira" ou "Terra Sem Lei" que não brilha por fantasia (?). Na verdade esses rumores são triviais a ponto de não excluir a possibilidade de que o título venha ser algo completamente diferente, basta lembrar da enigmática "The Hurt Locker" (caixa da dor) referindo-se a um container que abriga os pertences pessoais de soldados americanos mortos no campo. O filme chegará nas telas do mundo no ano que vem.
Bigelow não terá uma vida fácil, isso já deve ter ficado entendido. Contra ela foram imediatamente mobilizados ministros de turismo dos três países, bem como os comerciantes das três cidades, Ciudad del Este (ex Ciudad Stroessner), no Paraguai, Puerto Iguazú, na Argentina e Foz do Iguaçu do lado brasileiro.
"Estamos indignados - anunciou o ministro do Turismo do Paraguai Liz Cramer, que não foi capaz de proibir a filmagem – boicotaremos o set e não haverá apoio financeiro a este projeto que poderia ter um impacto econômico negativo". Seu colega argentino Meye Henry repercute "Este filme lança uma uma luz ruim sobre toda a região". Os brasileiros, no entanto, foram mais diplomáticos e deixou claro que não concordavam.
Depois de falar sobre o Iraque, Bigelow quer dizer uma verdade que há muito tempo circula nos despachos de inteligência dos Estados Unidos e da Interpol Europeia: toda a área é uma espécie de república independente nas mãos do tráfico de drogas. Circulando quantidades industriais de drogas, lavagem de dinheiro sujo, grandes remessas de armas e principalmente repasse para o financiamento ao terrorismo islâmico internacional.
Na verdade, se você se aventurar nas mais movimentadas ruas das três cidades é normal ter a sensação de estar em Beirute, ou em alguma outra capital do Oriente Médio: homens falando árabe, persa, mulheres com véus. Aqui vivem cerca de 20 000 muçulmanos. Existem xiitas, sunitas, representantes do Hamas e do Hezbollah, agentes iranianos. Muitos chegaram no final dos anos setenta e como a comunidade tem crescido, atraiu o olhar atento dos agentes da CIA e do Mossad israelense.
Pedro vive no lado paraguaio, é motorista e viaja todos os dias nos três lados da fronteira. Conhece a área como seus bolsos. "Para os terroristas islâmicos aqui é o lugar ideal, é fácil se esconder, encontrar abrigo e mudar a cada dia, ter um mercado para atividades ilegais e financiar-se (?).
Antes dos ataques de 11 de setembro foi a própria inteligência Argentina quem apontou o dedo para a Tríplice Fronteira após a explosão das bombas anti Israel em 1992 e 1994 que fez centenas de vítimas em Buenos Aires. Suspeita-se que os ataques foram organizados por uma célula ligada aos serviços que o Irã que usaram Ciudad del Este como base de apoio. Esta informação foi confirmada à imprensa pelo ex-chefe de um dos três países que entretanto pediu para permanecer anônimo.
Pedro estaciona na rua principal de Puerto Iguazu, é hora de fazer compras mesmo que a crise nos últimos meses tenha sido sentida aqui visto que a maioria dos turistas são provenientes da Europa. Ele pára para conversar com alguns comerciantes árabes. Estou furioso com Bigelow. "Esta pseudoartista quer fazer um filme baseado em mentiras. Nossa comunidade não vai deixar que ele grita furioso Shamir, que administra uma loja de pedras preciosas. Próximo Nadir, que diz ser afegão que (tem) um sistema de CD pirata grita: "Aqui somos todos honestos. Mais uma vez o Ocidente nos demoniza mas não vamos permitir. Seremos capazes de nos fazer ouvir desta vez".
Refletores não são bem-vindos na Tríplice Fronteira. Kathryn Bigelow, foi avisada.
(Traduzida de matéria da edição de 24 de maio de 2010 do jornal La Stampa, Jackson Lima)
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