terça-feira, 29 de agosto de 2023

Alto Paraná pede passagem e impõe postura de Portal de Entrada para o Paraguai

 



No auditório da CETAPAR: Da esquerda para a direita: Concejal Carlos Avalos e Felipe González. Segunda fileira da esquerda: Graciela Gómez, Associação Empreendedores; Vereadora Nilda Venialgo e Luisa Dávalos

CETAPAR - Fundação Nikkei


As comemorações dos 62 anos de Colônia Yguazú no Alto Paraná, Paraguai, durante a 24ª Expo Yguazú serviu de palco para muitas conversações sobre a divulgação do Alto Paraná e seus atrativos lembrando que o Alto Paraná é um departamento (equivalente a um estado brasileiro) cuja capital é Ciudad del Este. 

A visita da ministra do Turismo, Angelita Duarte de Melillo, ao Alto Paraná na primeira semana depois de tomar posse foi um indicativo da importância do Departamento cuja capital é a segunda maior cidade do País. Como as coisas estão, quando se fala em Alto Paraná, vem à mente sua capital, conhecida como um grande destino de compras para um público de maioria brasileira.  Mas, a coisa não para por aí. O Departamento se apresenta como um destino com diferentes atrações e oportunidades de viagens, aventuras, descobertas e convites à exploração cultural. 

Minha redescoberta de Colônia Yguazú (Não ia lá há mais de 20 anos) é um exemplo das surpresas que o departamento reserva. Foi promovida uma conversação importante sobre este Alto Paraná que toma posição para lembrar que é um Portal de Entrada para o Paraguai para setores como o turismo de vários segmentos. O que o departamento quer, pelo que entendi, é que quem viaje para Assunção, saiba que nos dois lados da estrada há inúmeras cidades candidatas a atrair a atenção de setores diversos entre eles o turismo. 

Edgar Figueredo, diretor da CETAPAR: A entidade é auto-sustentável. Não recebe verba oficial


Uma reunião nesse sentido foi promovida pela CETAPAR - Centro Tecnológico Agropecuario del Paraguay. Uma instituição fundada em novembro de 1962 como parte de convênio Paraguai-Japão para o treinamento de agricultores que acabavam de desembarcar do Japão, os primeiros membros da colônia Yguazú. 

Hoje a CETAPAR é um centro de pesquisas, divulgação de tecnologia agrícola e pecuária, possui laboratórios, fornece treinamentos e estágios além de contar com parcerias via convênio com a União Europeia, Japão e empresas de equipamentos agrícolas como a New Holland por exemplo. A CETAPAR abriu as portas para  o apoio de projetos tais como aqueles ligados à aspiração  do setor do turismo. 


Vereadora Nilda Venialgo (Centro) com Graciela Gómez (esq) e Luisa Dávalos (dir) 

O diretor da CETAPAR, Edgar Figueredo recebeu na sede da instituição o conselheiro departamental (Concejal Departamento / Deputado do Departamento do Alto Paraná), Carlos Avalos por Presidente Franco,  a vereadora por Hernandarias, Nilda Venialgo, a presidente da Associação  de Empreendedores do Alto Paraná, Graciela Gómez, a gestora de desenvolvimento Luisa Dávalos e Felipe Gonzalez vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem - Paraná e atual presidente do Visit Iguassu de Foz do Iguaçu. 

Deputado (Concejal) Departamental Carlos Avalos:
 "o turismo pode impulsionar o desenvolvimento"

O deputado departamental Carlos Avalos, destacou a potencialidade de Presidente Franco, especialmente após a inauguração da Ponte da Integração. Felipe González quis saber sobre o Museu Bertoni que estaria fechado. O deputado por Franco confirmou que o Monumento Científico (Categoria oficial) está fechado por ter sido repassado para o Ministério de Agricultura e Desenvolvimento Sustentável (MADES) e que a discussão está na pauta. O deputado (Concejal) disse que se estuda a concessão da administração turística à iniciativa privada com a participação de outros ministérios como o de Cultura, o de Turismo e o Instituto Paraguayo de Artesanías. Felipe González lembrou que o Museu Bertoni já é um atrativo consolidado na visão do turismo de Foz do Iguaçu. 

O deputado que é trineto de Moisés Bertoni, pela linhagem de  uma das filhas do mestre, afirmou que tem todo o interesse de ver o Museu Bertoni reaberto e outras atrações de Presidente Franco fazerem parte do roteiro do turismo regional. Ainda é cedo para falar, afirmaram os organizadores, mas o governador do departamento César Orlando (Landy) Torres tem interesse nas articulações que prometem colocar em evidência os diversos distritos (municípios) com potencial de desenvolvimento e as novas ideias e iniciativas para o turismo. 

O também deputado departamental Nori Sato por Colônia Yguazú também estava na lista dos participantes do primeiro diálogo promovido pela CETAPAR. Mas não pode vir. Ele teve motivo para não comparecer. Além de presidente da Associação de Turismo Sustentável de Yguazú (ASYSTUR) ele é presidente da organização  da Expo Yguazú. A Feira funcionou até as 5h da manhã. O executivo estava pessoalmente à frente da equipe de limpeza e preparação do imenso galpão, que recebeu milhares de pessoas para vários shows,  para receber o público convidado para almoço do dia seguinte com o Festival do Assado. Tudo saiu de maneira impecável. Yguazú está em boas mãos.       

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Sítio Histórico Isla Pakova em Yhu, Paraguai. Acampamento das Destinadas e Residentas

Ex-Acampamento (Campamento Kue) das "Destinadas"
(Destinadas ao desterro)

O nome oficial é Sítio Histórico Ilha Pakova (Paková). Fica a menos de 10 km do centro da histórica cidade de Yhu, no Departamento de Caaguazu, no Paraguai. Oficialmente Yhu foi fundada em 1904. Mas ela já era fundada na época das "destinadas de Yhu", porém ninguém sabe quando e por quem foi fundada pela primeira vez. 

Detalhe do Monumento

Detalhe do Monumento das Destinadas e Residentas

O fato lembrado pelo monumento é que o local serviu de "acampamento" (campamento) para mais de 2021 pessoas, a maioria mulheres acompanhadas de crianças e idosos. Estudiosos afirmam que "campamento" é um nome muito bonito. Na realidade, afirma-se, era um campo de concentração para mulheres cujos maridos e outros parentes tinham sido presos ou fuzilados durante um episódio da Guerra da Tríplice Aliança logo após Assunção ser ocupada pelas forças invasoras. Essas mulheres eram chamadas de "destinadas". Em outras palavras "destinadas" à deportação dentro de seu próprio país.

"A procissão de espectros esfarrapados apareceu com a primeira luz da manhã ingressando a passo cambaleante pela única rua poeirenta de Yhu" 



O município de Yhu fez um Parque histórico protegido por lei nacional nas margens do rio Yhu para lembrar o evento. Havia outra categoria de mulher que também estava aí. Eram as "residentas" a quem o parque homanageia. As "destinadas" tinham sido mulheres da sociedade paraguaia entre elas a francesa Dorotea Duprat de Laserre, dona de colégio na capital. A população de Yhu era muitas vezes menor que o número de "peregrinos". E eles receberam ordem de não chegarem perto do contingente humano e não ajudarem em nada. Muita gente morreu. A madame Dorotea sobreviveu e escreveu suas memórias. Um destaque importante para os Yhuenses que desobedeceram as ordens e vinham ajudar aquele rio de necessitados. A madame Duprat lembra pessoalmente o nome de uma pessoa que ela classificou de anjo da guarda: Maria Ana Paredes, que arriscou a vida para ajudá-la. Parabéns Dona Maria Ana (já que em algumas conexões do universo o tempo não tem passado ou futuro)! 

Um dos painéis lembra o cacique histórico Mbya Guarani Karaí Miri, que escutava de seus antepassados que os indígenas chegavam ao acampamento à noite levando frutas, carne de caça e plantas medicinais.     

No Parque há um bom exemplo que pode inspirar a quem deseje fazer um bom trabalho de "Interpretação de sítio histórico". O jornalista e escritor Andrés Colmán Gutiérrez que nasceu em Yhu, escreveu um roteiro (guión) que conta a história das "destinadas" e das "residentas"; O desenhista e ilustrador Enzo Pertile enriqueceu a história no estilo "quadrinho". São 12 painéis. Aqui coloco uns três para que você possa ir lá ver. Além dos painéis, há um monumento. O Arroyo Yhu corre uns sete metros abaixo dele. 

É um local lindo. É um daqueles locais que se você traz um grupo brasileiro, todo mundo vai querer entrar na água. A água é escura na parte mais profunda logo abaixo de uma cachoeirinha charmosa ladeada por árvores que já viveram muitas cheias e enchentes ao longo dos anos. Em seguida a água assume uma cor de cobre misturada  com transparente. O lugar tem algo de Bonito (MS).  

As "destinadas" marcharam a pé desde a região do Lago de Ypacaraí até a região do Arroio Espadín - hoje, dizem, está no Mato Grosso do Sul no entroncamento das Serras do Amambay e Mbaracaju (Amamabai e Maracaju). O roteiro delas foi, lembro, a pé, sem comida, sem água: Ypacaray via Caacupé, San José, Ajos (hoje Coronel Oviedo) Carayaó, Santa Rosa, San Joaquin, YHÚ, Curuguaty e Ygatimi de onde a tragédia humana da guerra caminhava para o fim do vergonhoso conflito no Cerro Corá, hoje a 50 quilômtros de Ponta Porã / Pedro Juan Caballero.

Este é um episódio ligado à Guerra da Tríplice Aliança que não goza de popularidade no país. Porém o monumento de YHU quebra as regras e além de retratar o "inferno" vivido pelas destinadas, residentas, supostas traidoras, idosos e crianças destaca o heroísmo e coragem da população de Yhu, que se uniu para ajudar as mulheres levando comida na calada da noite protegidos pelo mato denso das margens do Arroyo Yhu, arriscando a vida sob ameaças de  castigo para quem desobedecesse as ordens de não chegar perto das degradadas. É esta história que o trabalho de interpretação de Andrés Colmán Gutiérrez e Enzo Pertile conta com pinceladas de mestres. 


Relato do Karaí Miri e nomes de algumas das mulheres que viveram no acampamento: Dolores Urdapilleta Carísimo mãe do historiador Juan E. O'Leary, Concepción Domecq de Decoud, Dorotea Duprat, Encarnación Bedoya, Sílvia Cordal e o pai do bispo Manuel Antonio Palacios, Francisco Palacios que morreu em Yhu


Transcrevo em parte o painel acima:

"A História também se escreve com gestos de valentia e solidariedade que enfrentam o medo e os preconceitos. No lugar conhecido como Kampamento Kue em Yhu, se contará por muitos anos a história do anjo protetor das destinadas que soube construir uma ponte de solidariedade e ajuda humanitária por cima de todo o horror da guerra. No dia 18 de outubro de 1869 chegou a ordem para que as Destinadas fossem evacuadas para Espadin. A legião de espectros farrapentos se pôs em marcha rumo à última estação do calvário. Daquela estação ficou o relato da madame Dorotea. Nunca me esquecerei daquela campesina de gestos nobres e bondosos. Reunindo em si, todas as qualidades de uma grande senhora ... 


São 12 painéis no total. Aqui foram publicados quatro.
Luisa Davalos, gestora de empreendimentos sociais e empreendedorismo voltados para o empoderamento da mulher: "Muito importante ver este lugar"

O arroio Yhu


Tem escadaria para chegar até o rio

A foto não faz justiça

A outra categoria de mulher que viveu no acampamento e que fez todo percurso da viagem se chamava "residentas". As residentas tinham status melhor já que elas serviam ao Estado, ficavam a residir onde o governo indicava e tomavam conta da produção de alimento para as tropas. Elas estão na base das "reconstrutoras" do País que ajudaram a reconstruir o Paraguai no pós-guerra.  

Para entender
Mini cronologia

* Fevereiro de 1868 - O Marechal López ordena a evacuação de Assunção 

* 6 de julho de 1868 - começa o calvário. Soldados vêm buscar em casa os maridos, depois outros familiares. Nunca voltam. 

*Agosto 1868 - São fuzilados os maridos das futuras destinadas 

* Janeiro de 1869 - Assunção é ocupada  

* 21 de março de 1869 - Mulheres em farrapos entram em Yhu

* 18 de setembro 1869 - Ordem para evacuação de Yhu para Espadin**

* 1º de março de 1870 - fim da Guerra com a vitória do Império do Brasil

* 1889 - Fim do Império, 19 anos depois. Imperador é levado para fora do Brasil na calada da noite.



* Nota 
O Espadín (Espadim), região de cabeceiras do arroio do mesmo nome,  fica hoje no lado brasileiro na região de fronteira seca Paranhos (MS) / Ypehu (Paraguai) onde atende pelo nome de Arroio ou Córrego Destino Cue, segundo a Enciclopédia das Águas do Mato Grosso do Sul de Hildebrando Campestrini e outros do Instituto Histórico e Geográfico de MS. O nome é guarani onde Kue (cue) é o passado de substantivos. Então, diz a enciclopédia, "O nome Destino-Cuê remete às destinadas, mulheres abandonadas, nas cabeceiras do Espadim, à própria sorte ... no final de 1869". 

 Este parece ter sido o último lugar em que "destinadas" e residentes chegaram juntas. As residentas acompanharam o exército para a Batalha final no Cerro Corá. O local da última batalha está incluído na área do Parque Nacional Cerro Corá, a cerca de 50 km de Pedro Juan Caballero. 

Viagem das Destinadas  
De Ypacaray a Yhu 192 km
De Yhu ao Cerro Corá 366 km (Em linha reta)
Total 558 (a pé)

A cidade de Yhu fica a 188 quilômetros de Ciudad del Este via Caaguazu




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segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Restaurante, Lounge Bar Hoplon Club é o mais novo atrativo das noite de CDE



Uma pose para uma foto onde se pode ver a escultura de Leônidas, Rei de Esparta  com o seu Hoplon ao lado de convidados


O povo de Ciudad del Este já conhece o Hoplon Club espaço gastronômico, artístico e cultural que já vem funcionando e ganhando experiência há alguns meses. Mas neste sábado, dia 20, aconteceu o grande lançamento do estabelecimento para a população das Três Fronteiras e para o turismo que a ela se dirige. 

O local visa tornar-se um produto à disposição do turismo receptivo de Foz Iguaçu. Por isso neste evento de abertura foram convidados jornalistas, apresentadores de TV, blogueiros, "influencers" e contou com a presença de alguns agentes de viagens que possuem laços com os profissionais de imprensa. 

"É um espaço inspirado na história", contou uma das diretoras do show apresentado. Logo na entrada, uma parede é coberta com um texto que começa falando do Rapto de Europa, uma linda mulher, por um toro que na verdade era Zeus disfarçado. "Não estou entendendo pensei que era a história do Paraguai", pensou alto uma colega. "Eu disse calma, vai chegar lá". E dito e feito o autor do texto e parte do projeto é um espanhol que ama a história. A mesma colega continuou: que nome difícil, Hoplon! A explicação veio da Maria Iriarte, agente de marketing sobre o show e o enredo da casa. "Hoplon é o escudo de Leônidas", explica. "E quem é Leônidas?  

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

A história do "turismo histórico" ou a história dos "History Buffs"

A maneira que os búfalos (e bisões) se juntam no frio inspirou os bombeiros a apelidar os curiosos de "fire buffs" (Smithsonian Channel)

Se você é agente de turismo você pode querer saber o que é um "history buff". Por quê? Porque você deve estar querendo vender destinos de turismo histórico. Ou destino que tem história. Mais de onde vem o termo "history buff"? O "buff" é um adepto, entusiasta, amante ao extremo de alguma coisa que segue como hobby. Pode ser em todas as áreas mas ninguem sabe por que, só os amantes de história ganharam o apelido. 

Vejamos: Buff vem de "buffalo". Pode referir-se a uma certa cor mas é ligada a estes amantes exagerados de alguma coisa. Mas neste caso, quem criou o apelido foram os bombeiros que tem uniformes nessa cor. Havia gente apaixonada pelo trabalho dos bombeiros e o trabalho de resgate, salvamento e semelhantes. Os fanáticos tinham rádios sintonizados na faixa de emergência e captavam mensagens dos bombeiros. Sabiam quando e onde havia um incêndio. Quando os bombeiros chegavam ao local do incendio os buffs já estavam lá. Eles queriam ser bombeiros mas não atrapalhavam. Quando esses "buffs" estavam observando bombeiros e incêndios em cidades como Chicago, Nova York ou qualquer lugar muito frio, eles chegavam com ses casacos pesados e ficavam por horas observando o trabalho. Para não morrerem de frio se juntavam. Os bombeiros lá do alto de suas escadas viam com curiosidade aqueles grupos de homens amontoados juntos para se esquentar, daí na gíria, alguém disse parece búfalos. E logo perguntou, cadê os Buffs? O próximo passo foi chamá-los de "fire buffs". Assim pegou o apelido. 

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Roteiro Histórico-Turístico-Educativo e Cultural de Piribebuy relembra a pior batalha da Tríplice Aliança

Vídeo que recria a batalha nas trincheiras - um monumento nacional oficial       

Por Jackson Lima*

A Prefeitura (Intendencia) de Piribebuy, departamento de Cordillera no  Paraguai realizou no sábado, dia 5, mais uma versão do Circuito Histórico da cidade que foi palco de uma das batalhas mais traumáticas da America Latina durante a Guerra da Tríplice Aliança. O Circuito Histórico, uma representação artística  tem o apoio do Ministério de Educação e Ciências (MEC), da Associação de Turismo de Piribebuy (ATUPIRI), da Secretaria Nacional de Turismo e do Governo do Departamento de Cordillera. Abaixo, algumas fotografias e uma breve contextualização  

O circuito é realizado a pé com oito paradas onde acontecem encenação de eventos ocorridos no dia 12 de agosto de 1869, há 154 anos. As oito paradas são: 1) Tape Tuja  Guardia Kue (Caminho Velho), 2) Morte do General Mena Barreto. 3) Quema ou incêndio do Hospital de Sangue. 4) Casa da Madame Lynch. 5) Trincheras / Trincheiras. 6) Reduto Escola. 7) Assassinato do Maestro Fermín López e 8) Morte do Comandante Pedro Pablo Caballero.

 

Prefeito Blas Gini Cristaldo, de camiseta azul, pousa com atores e autoridades para celebrar o sucesso da apresentação artística, cultura e interpretação da história de Piribebuy no capítulo da Guerra Grade. Um convite para a reflexão entre os povos para que a Guerra seja um dia abolida (Foto Fernando Ojeda)   



Cada parada acontece em um local histórico alguns com status de monumento oficial. A encenação dos fatos relembrados ficou a cargo de oito escolas de Piribebuy.

Meu acompanhamento do circuito começou da parada de número 3 onde foi reencenado o incêndio do Hospital de Sangue. Vale destacar que Hospital de Sangre não é um Banco de Sangue. É um hospital improvisado e ambulante que acompanha as batalhas para tratar os feridos ou os predecessores dos hospitais de campanha. No dia da batalha havia 600 feridos no hospital. Motivado pela morte do general Mena Barreto, o Conde D'Eu ordenou o ataque à cidade não poupando a ninguém (a nadie) culminando com o incêndio do Hospital de Sangue. Na representação artística o conde D'Eu foi representado pelo ator voluntário José Lesme Gonzalez pai de alunos da Escola Básica Limpia Concepción Perez. O ator é pai de dois alunos da escola. "Ninguém é profissional. Todos dão o melhor de si neste esforço para não esquecer a nossa história", disse o ator e pai de família que na representação vestia calça preta (pantalón negro), camisa branca, um chapéu verde e uma capa negra nas costas que lhe dava um aspecto de Conde Drácula, uma crítica ao conde francês genro do imperador brasileiro. 

A cena do incêndio do Hospital, no ato representado por uma pequena construção de madeira estilo barraco foi de um realismo extremo. Após o conde ordenar a degola de todos no local, as mulheres partem para cima dos invasores. O conde então ordena que todas sejam trancadas no Hospital de Sangue - que era um galpão de uma olaria abandonada. As atrizes estudantes da escola são empurradas para dentro do barraco sob os gritos que ordenam tocar fogo no prédio. Os gritos das atrizes, o fogo subindo e a fumaça se elevando deu um realismo que causava arrepios na pele. Foi um momento de grande emoção. Me senti ligeiramente tonto (mareado)  e passou pela minha cabeça um leve temor. Seria perigoso para um brasileiro estar nesta encenação? A resposta veio na forma de uma senhora de meia idade que se dirigiu a mim e me agradeceu por estar presente. "Muito obrigada por você estar aqui e ajudar a contar esta historia que tem dois lados", disse. 

A parada de número 4, foi na Casa da Madame Lynch. A representação estava a cargo do Colégio Nacional San Blas. A estudante Alexandra Peralta fazia o papel da Madame Lynch ao lado do marido, o general Marechal Solano López interpretado pelo ator Luis Herrera. A estudante Camila Ovelar representava uma dama de honra da primeira dama paraguaia nascida irlandesa. Uma pequena narração sobre a esposa do marechal Francisco Solano López lembra das dificuldades da cidade e como ela ajudou até a providenciar comida para a tropa e moradores. Em uma mesa, ao lado, estudantes enrolavam massa de chipa e ofereciam sopa paraguaia para lembrar a importância da preparação de alimentos com o que se tinha disponível sob a orientação da Madame Lynch. Nessa capítulo, o governo do Paraguai tinha feito de Piribebuy, a capital do País, a terceira capital, após a queda de Assunção e passagem por Luque a segunda capital. 

O vídeo acima mostra um pequeno trecho da representação da quinta parada no circuito histórico chamado de Trincheiras. Conversei rapidamente com uma das atrizes, a estudante Arami Eiroa Castillo Vasco logo após o encerramento. Ela contou que o grupo ensaiou três dias antes da apresentação. Junto com ela aestava a mãe D. Myriam de Castillo e a irmã dela Steffany Castillo Vasco. 

Percebi que uma das atrizes da Parada Trincheira comandava bem mais do que a representação exigia. Descobri por quê. Ela é a diretora Maria Cristina Panoso da Escola Nacional Piribebuy. "Participei para contribuir para a reprsentação e por motivo de segurança. No meio dessa armas tem muita coisa que pode ferir e não queremos que ninguém se machuque", disse a diretora e atriz. Enquanto conversava ela deu uma voz de comando: "vamos recolher esses cabos por que são bem caros", mostrando suas habiliadades de administradora do dia a dia como diretora da escola.  

A próxima parada que pude participar ocorreu na frente da Igreja Santuário Dulce Nombre de Jesús (Doce Nome de Jesus) ou Ñandejária Guazu onde foi dramatizada a morte do Comandante Pedro Pablo Caballero trazida ao palco pelos alunos do professor Eleno Ibarra do Colégio Santo Domingo de Piribebuy. O comandante foi morto pelos solddos imperiais. Segundo o diretor da apresentação há pelo menos duas versões. Uma afirma que ele foi esquartejado após ser amarrado a dois canhões e outra diz que ele foi a amarrado a quatro cavalos.

Ataque imperial às mulheres na redondeza do Hospital de Sangue

Incêndio do casinha cenográfica que representou o Hospital de Sangue
Bombeiros voluntários garantiram a segurança 

Luis Herrera e Alexandra Peralta interpretando o Marechal Solano López e a Madame Lynch  

Soldados paraguaios apontam armas para soldado imperial portador de ultimato
 exigindo rendição

As mulheres de Piribebuy tiveram um papel importante na defesa da cidade. Elas estão no escudo da cidade (abaixo)




Foto oficial para celebrar o sucesso

Arami Eiroa Castillo (à esquerda) da Escola Nacional Piribebuy ensaiou três dias antes da apresentação. Na foto com a irmã Steffany Castillo (centro) e a orgulhosa mãe, Dona Myriam de Castillo   

CONTEXTUALIZAÇÃO

Neste texto. não usei a expressão "Guerra do Paraguai". Por quê? Porque o paraguaio não gosta e a intenção desta postagem é construir pontes que leve à cura deste trauma e garantam que as guerras sejam raras e que no lugar delas prevaleçam a Paz. No texto uso os termos Guerra da Tríplice Aliança, termo aceito internacionalmente ou Guerra Guasu (Guerra Grande) como é usado no Paraguai. 
Informações:

Piribebuy é parte das rotas turísticas das Guerras e do Caminho Franciscano. Como parte do Caminho Franciscano um de seus destaques é a Igreja Doce Nome de Jesus. O Caminho Franciscano é composto por oito circuitos que envolve 38 cidades em vários departamentos tal como divulgado pela SENATUR - Secretaria Nacional de Turismo. A cidade também tem uma rota com aval da Senatur chamada Ruta de la Caña. Há esforços na comunidade para pouco a pouco receber pessoas interessadas na história do País. 
O dia 12 de agosto é feriado no município e conta com um desfile com a participação de municípios vizinhos inclusive da capital do Departamento Caacupe - conhecida como a Capital Espiritual do Paraguai. Piribebuy é saudada como a "Cidade Heróica, Histórica e Turística. 


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Jornalista de Turismo / Tourism Writer / Jehechauka Haihára
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