quinta-feira, 22 de junho de 2023

O turismo precisa de rumo e os políticos de orientação (II) - O caso da Ilha Acaray



Ponta da Ilha Acaray entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este / Hernandarias - imagem do vídeo da TV Câmara CMFI. Link no texto


Foi publicada uma nota com o título: Foz do Iguaçu encaminha proposta para "utilização turística" da Ilha Acaray.

Não gostei! Deixem a Ilha em Paz. Foz do Iguaçu não pode continuar sofrendo de falta de concentração. Vamos terminar primeiro a Beira Rio. Digo Beira Rio, não beira-foz. Esta historia de beira-foz me lembra o poeta sul-matogrossense Manuel de Barros quando ele escreveu que teve uma namorada que via diferente. Em vez de ver uma garça na beira do rio, ela via o rio beirando uma garça. A mesma coisa com Foz do Iguaçu. Em uma época, em vez de Foz ver-se beirando o rio Paraná, ela viu o rio Paraná, 12º maior rio do mundo, beirando a si, Foz do Iguaçu. Isso é que é ego, mas não é o ego do povo! 

Precisamos resgatar a visão  e fazer as melhoras que a beira-rio merece para que os iguaçuenses possam desfrutar da vista do rio e não o contrário. Aí sim poderíamos falar de utilização e não só turística. Utilização do povo, os namorados poderiam fazer juras de amor tendo a Ponte da Amizade como testemunha, esta ponte mais idosa que após a construção da nova ficou mais bonita com sua arquitetura romântica. Às linhas da nova ponte faltam as curvas poéticas do arquiteto-artista autor da primeira.  

Sobre a proposta de "utilização turística" da Ilha para a construção de um complexo turístico assim como há na China, em Passárgada, no Marco, em Macau ou Dubai lembro a nota anterior "O Turismo precisa de rumo e o político precisa de orientação". Neste caso o nosso secretário de turismo, o empreendedor criativo André Alliana. "A ideia tomou impulso durante um sobrevoo da ministra sobre a Ilha", diz a nota em parte. Minha orientação ao meu colega secretário e ao povo é que os papéis foram invertidos. Se a ideia tomou impulso durante o fatídico voo (para a ilha), isso significa que até aí tal ideia capengava.  Ao trazê-la à ministra alguém orientou a ministra no sentido errado. E inverteu a lógica. Não é a ministra que em um sobrevoo deve reforçar ideias sobre o que fazer para destruir a ilha fluvial mais famosa, mais vista do Sul do Brasil. 

Vereador Cabo Cassol fala sobre projeto in situ 

É a primeira visão de quem  chega ao Brasil pelo Paraguai. Na prática a Ilha Acaray que é propriedade da União sob a guarda da Marinha precisa da defesa que partirá dos iguaçuenses que contra esta ideia se levantará lembrando, que ela, a ideia, não é nova. É preciso lembrar. sem julgamentos de minha parte, que outras propostas foram feitas. O ex-vereador Mohamed Barakat ainda nos anos 90, sugeriu a interligação da Ilha via pontes ao comércio de Foz do Iguaçu-Ciudad del Este com a construção de algo que lembraria o reino de Mônaco, um mini Dubai  ou outro enclave semelhante. Isso mesmo, a Ilha Acaray como um enclave. Na mesma década, antes do início da construção da Catedral Nossa Senhora de Guadalupe, uma liderança do bairro Morumbi, sugeriu a construção de uma estátua gigante de Nossa Senhora de Guadalupe na Ilha. Mais recentemente o vereador Cabo Cassol trouxe à tona a ideia de civilizar a Ilha transformando-a em um "ponto turístico" ligado ao continente (Foz do Iguaçu - Jardim Jupira) por um bondinho. Para o vereador a ilha hoje é um "espaço ocioso" que poderia ser explorada pelo "turismo religioso". 

Na "matéria" que anuncia a mais nova rematerialização da ideia de atacar a ilha que antes de ser parte do Brasil e parte de Foz é parte do bairro Jardim Jupira, afirma-se várias outras coisas. Primeiro o anúncio de que técnicos da Prefeitura foram convocados a elaborar projetos e regras para dizer o que pode ser feito na Ilha. Rebelem-se técnicos da Prefeitura!  

Bolha na informação

A nota repete que a Ilha é uma bolha de vulcão que não explodiu e que já foi local onde habitou a tribo Acarayense. Não há nada errado em dizer que quem nasce na Ilha Acaray seja acarayense mas daí dizer que é uma tribo é outro problema. Foz do Iguaçu é um Destino Sério. Na produção de material para ajudar na interpretação ambiental é necessário basear-se em fatos. Com bolha de vulcão estaríamos dizendo que a Ilha é a maior Geode do Mundo e que seria talvez a maior ametista do mundo? E que língua falavam os acarayenses? 

A Ilha Acaray já é um atrativo turístico de Foz do Iguaçu e da Região Tri-Nacional na categoria que acabo de criar chamada  "atrativo de olhares".  Milhões de pessoas atravessam a Ponte da Amizade em direção ao Paraguai todos os anos. Muitos para comprar em Ciudad del Este. Muitos só para ter a experiência de atravessar uma ponte internacional e desses outros milhares levam fotos de nossa ilha que parece bonita e imponente. Vista bonita da ilha terá quem vai morar no novo condomínio fechado no lado de lá do rio Jupira assim como tem quem mora na Vila B de Itaipu.  Outra visão imponente da ilha tem quem está do lado Paraguaio dirigindo-se  a Hernandarias (PY). É uma vista maravilhosa e a ilha se vê quase pegada ao território do país vizinho. Como será a visão depois que sair o projeto de utilização turística proposto hoje?

Um desvio de rota, perda de foco. Foz do Iguaçu não pode mais continuar neste estilo. Que a ilha permaneça em paz e vejamos como realmente melhorar o que se necessite na cidade sem ter que deportar a Natureza em cada ideia de projeto. Uma olhada em um mapa mostrará que a situação da ilha hoje já é bem claustrofóbica.    


terça-feira, 20 de junho de 2023

O turismo precisa de rumo e os políticos de orientação (I)

Esta nota não pertence à categoria dos coices e porradas. Ela pretende contribuir. Então comecemos. Primeiro destacamos uma frase: 

"Se continuarmos fazendo o que sempre fizemos vamos chegar onde já estamos" 

O pronunciador desta frase se chama Álvaro Theisen, engenheiro de Porto Alegre em palestra sobre o turismo em relação à atividade nos 30 Povos das Missões. 

Por Jackson Lima 

Associado à Abrajet PR

Um dos erros do Brasil, responsável por parte da falta de rumo, é a indicação de irmãos brasileiros políticos partidários para certos ministérios ou secretarias. No nosso caso o turismo.  Não que os políticos sejam ruins. O problema é que eles  precisam de orientação. A maioria chega nos cargos e se empolga. Descobrem que o Brasil tem potencial turístico. Que o Brasil é rico. Aí lembram da gastronomia, da cultura, da natureza e das "belezas" e "maravilhas". Há uma série de mantras que incluem palavras como: divulgação, parcerias intra governos, parcerias público-privadas e outras. 

A maioria desconhece o que já foi feito em governos "anteriores". Este é um mantra negativo. Quando se fala em governos anteriores é porque alguém vai inventar a roda.  Esquecem por exemplo de programas de governos anteriores como o da Regionalização do Turismo que entre outras coisas definiu 65 "destinos indutores" em todo o Brasil. O Programa foi criado no primeiro governo do presidente Lula. Foz era um desses destinos indutores. Era para ser uma locomotiva da região da Instância de Governança chamada Cataratas e Caminhos ao Lago de Itaipu. O município em si parece não ter entendido o que significava isso e não se interessou. A ADETUR, nome oficial da Instância,  continua nos trilhos sem a locomotiva querer puxar. 

Nessa confusão, as regiões turísticas estaduais sabiamente criadas no governo anterior (do presidente Lula) não são conhecidas ou explicadas ao público que deveria ser o consumidor dos produtos dessas regiões. O Paraná, por exemplo, tem 19 regiões. Quantas sabemos citar de cabeça?   Destaco alguns nomes de regiões que você provavelmente não sabe onde fica:  Corredores das Águas, Ecoaventuras Histórias e Sabores, Entre Matas, Morros e Rios, Lagos e Colinas,  Vales do Iguaçu.   

Outra iniciativa de governos anteriores, falo do primeiro governo do presidente Lula, foi o programa chamado Turismo Rural na Agricultura Familiar (TRAF). Completinho com propostas, roteiros técnicos a seguir e incluía a produção agrícola familiar, junto com a produção de artesanatos, produtos coloniais tudo ligado ao turismo. Esta união era tão bonita que a EMATER se tornou uma especie de atriz importante no turismo. 

Minha intenção não é alfinetar políticos. Isso já é feito. A mensagem é dizer que o político precisa de orientação. As iniciativas criadas pelo primeiro governo do presidente Lula não foram detonadas pelo Presidente Temer ou pelo presidente Bolsonaro. Foram descontinuadas pela presidente Dilma do mesmo partido. O que faltou? No mínimo orientação. A presidente Dilma saiu da área de Minas e Energias. Como entender o turismo sem orientação? Agorinha o presidente Lula precisa de orientação para continuar o trabalho da regionalização inteligível do turismo nos estados que ele começou. 

Tenho a ousadia de dizer que o discurso de trazer investimentos para Foz não é prioridade para o povo de Foz. Pelo menos não do povo que pega os ônibus das linhas Morumbi e Primeiro de Maio.  Em 2013 ou 2014 chegou a ser anunciado que um grupo iria investir em um hotel com  1.300 apartamentos em Foz? É prioridade para o turismo de Foz um hotel de 1.400 apartamentos? Para mim e meus colegas da linha Morumbi-Primeiro de Maio, Foz precisa manter ocupado o ano todo os hotéis que já tem, que estão aptos ou em construção. E não ter um turismo dependente de feriadão.

Precisamos orientar os políticos a pensar na humanização de Foz do Iguaçu. Já estamos recebendo investimentos em abundância e estamos sob a ameaça de sermos transformados em uma cidade claustrofóbica nos próximos anos.  

Às vezes um investimento federal passa por cima de tudo e não é  somente no sentido figurado. Um exemplo disso é a nova ponte sobre o rio Paraná que entra no Brasil pelo Porto Meira. Ela, a ponte, literalmente passou por cima do complexo de  Recepção do Marco das Três Fronteiras que inclui bilheteria, lojas e o espaço Cabeza de Vaca. 

Ninguém fala mas essa intervenção cirúrgica plástica federal reduziu o valor do investimento. Isso só acontecia antes em relação a viadutos quando elas passam por ocupações irregulares quando estão no caminho de obras. Aqui, um investimento federal atropelou um investimento  na modalidade PPP fruto de uma concessão com base na lei. O nome do princípio é isonomia federal. Não existe cota de compras para Foz, ou projeto especial de ponte para Foz do Iguaçu. Até ponto de ônibus em BRs federais segue a cartilha do "igual para todos". Na redondeza do Centro de Convenções com as obras da duplicação de tudo estão sendo instalados pontos de ônibus estilo federal que não são aqueles pontos verdinhos com fundo de vidro, com bancos vermelhos cuja primeira leva foi financiada pelo Ministério do Turismo para o município na época das "obras para a copa". 

Para não deixar o assunto da claustrofobia morrer lembremos da questão do novo Porto Seco e onde ele será finalmente estabelecido. Espere atropelo. 

Alguém de Foz do Iguaçu está de olho na estrutura abandonada lá na BR 277 construída em 1997 para a ser um Portal de Foz do Iguaçu e sede de uma série de serviços de liberação aduaneira e migratória segundo a "doutrina" de afastamento das Fronteiras.  

Assim como há patrimônio material e patrimônio intangível, Foz do Iguaçu e a Fronteira também têm "pepino material" (que você conserta e estraga com obras)  e "pepinos de ordem intangíveis".

O governo do presidente Lula, com certeza, não está sabendo que as filas quilométricas aqui nas Três Fronteiras para entrar na Argentina e as filas para acessar a Ponte da Amizade em direção ao Paraguai já poderiam ter sido resolvidas desde 1997 quando ainda na época da FOZTUR, foi a aprovada no nível do Mercosul o afastamento de parte da estrutura de fiscalização aduaneira (para pessoas e suas bagagens acompanhadas) e migratórias  para longe das cabeceiras das pontes da Amizade e Fraternidade. Para isso foi criado o Polo Internacional Turístico do Iguaçu englobando Foz do Iguaçu, Puerto Iguazu, Ciudad del Este, Franco, Minga Guazu e Hernandarias. Os limites territoriais destas cidades seriam o limite do Polo Internacional. O turista internacional que estivesse legalmente admitido em um dos três países estaria automaticamente legal dentro dos municípios do Polo. 

O Polo foi aprovado pelo Grupo Mercado Comum (GMC), órgão executivo do Mercosul composto pelos ministros de Relações Exteriores Economia e Bancos Centrais de todos os países do Mercosul por meio da Resolução 38/95 e pela Reunião Especializada de Turismo (RET) via Recomendação 4/97. 

Com  a extinção da FOZTUR morreu um dos grandes interessados e baluarte da luta. Ninguém sabe por que e por ordem de quem o Polo Turístico Internacional do Iguaçu foi tirado da agenda da RET  em abril de 2000 durante a RET Número XXXI (31). A situação causou tanta estranheza que a antiga Comissão Parlamentar Conjunta hoje substituída pelo Parlamento do Mercosul recomendou "a imediata retomada das discussões sobre o 'Iguassu Polo Turístico Internacional' com total prioridade para a sua consolidação". A data desta cobrança foi 5 de dezembro de 2002 e o local da emissão do pedido foi Brasília DF. 

Minha obrigação é pedir licença para orientar o Ministério do Turismo que averigue o que acontece e se informe sobre o que aconteceu com este Polo Internacional, por que e por quem foi tirado da pauta ainda no governo Fernando Henrique e também por que as RETs, o Mercosul Turístico perderam tanto espaço. 

Tarde demais?

No começo de julho de 2023 Puerto Iguazu vai sediar a reunião do Grupo Mercado Comum que vão discutir tecnicamente acordos para serem assinados pelos presidente do Mercosul na Cúpula do Mercosul que acontece em seguida. O assunto do Polo Internacional do Iguaçu (Iguazu, Iguassu) poderia estar na agenda se tivesse sido levado à atenção do GMC. Para esta reunião, ficou tarde demais. Mas o presidente Lula ou seja o Brasil assume a presidência do Mercosul agora em julho. O Polo Internacional do Iguaçu poderia ser adotado na agenda e ser entregue daqui a um ano. Quem vai orientar o Governo? 

Na minha cabeça o primeiro nome que vem é o da acessível, simpática e inteligente política e mãe de família Gleisi Hoffmann e o do diretor-geral brasileiro da Itaipu, Enio Verri. Eu oriento você a que oriente os dois nomes citados, como exemplo, a que orientem o presidente a encomendar dos membros do GMC um levantamento do assunto via RET. A novidade nas Três Fronteiras se chama Polo Turístico Internacional do Iguaçu.    

Para saber mais     

Vamos resgatar o polo Turistico do Iguaçu

Produtos Turísticos do Mercosul 


segunda-feira, 19 de junho de 2023

Sangue novo no Festival de Turismo: Secret Falls e as cachoeiras de Foz

Luana Alliana

É do conhecimento popular que empresários de sucesso que passam a ocupar cargos públicos correm o risco de deixar de lado seus negócios com resultados perigosos. No festival de turismo, estava conversando com o secretário de turismo de Foz do Iguaçu, André Alliana sobre assuntos do turismo com destaque para a possível reativação do Espaço das Américas quando ele teve que sair. 

Na mesa, comigo, ficou a pessoa da foto que estava identificada como parte da Iguassu Secret Falls - empresa que promove a visitação alternativa de um grande número de cachoeiras em Foz do Iguaçu, afinal Foz do Iguaçu é a "Terra das Muitas Águas"*. Como ela me deu respostas satisfatórias perguntei o nome dela. Como o nome incluía Alliana, perguntei se ela  era parente do secretário como nora, por exemplo. Ela respondeu: sou filha. 

Daí passei para a parte dois do parágrafo "lead" (lide) do texto jornalístico que faz as perguntas: que, como, onde, por quê e derivados como de quem, de quê etc: Mas quem é sua mãe? A Mirtha!- respondeu.  Gente você parece com ela mesmo. E como está a Mirtha? Então você é assistente de seu pai? "Não sou gerente. Eu assumi o passeio e toda a estrutura que inclui o camping. Daí ela partiu para a venda do produto. 

"São 10 cachoeiras no total", explicou. "É possível visitar as 10, ou pode visitar cinco depende de cada um", disse acrescentando que há diferentes níveis de dificuldade para quem quer conhecer todas em um espaço curto de tempo. "As duas mais fáceis são a do Tamanduá e a Trilha da onça", esclareceu. A gerente da nova geração disse ainda que há um passaporte. "Passaporte mesmo, tipo caderneta e há até carimbo para ir carimbando as cachoeiras visitadas". Segundo ela quem adquire o passaporte  para a tarifa integral no primeiro passeio. "Se repetir pagará somente R$ 20.00". É ou não é uma ótima vendedora de seu produto. Afinal ela é neta do Seu Oscar Alliana a quem o Blog envia saudações. 

* Na Terra das Muitas Águas, livro (1997) do autor

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Uma cantiga só sua para assoviar: o compositor de cestos da Guatemala

Artesanato de comunidade guarani de Ciudad del Este exposto no Festival das Cataratas 2023 (Ilustração) 

Conheci um sueco, já idoso, que morava em Letícia, capital da então Comisaría del Amazonas na Colômbia. Ele saíra da Suécia logo após a universidade. Toda a vida morou na América Latina porque gostava e viveu a vidinha latino-americana até a velhice. Ele me contou a história de um escritor sueco que vivia na Guatemala e escrevia em inglês, não se sabe por que carga d'água. Mas outros escritores de outros países escreveram em inglês em vez de fazê-lo em sua língua nativa. Um exemplo é Joseph Konrad, polonês de nascimento que tornou-se um ícone da literatura em inglês e mundial.  

Falo isso para lembrar a história de um dos livros do escritor sueco da Guatemala. A história fala de um empresário americano que em uma viagem de turismo visitou uma aldeia. Lá ele viu uns cestinhos para venda. O guia falou sobre a importância do artesanato indígena para a sobrevivência da comunidade. O viajante comprou todos os cestinhos que havia à mostra. O guia fez aparecer o artesão responsável. Ele contou ao viajante que cada cesto era confeccionado com dedicação e para cada cestinho era criada uma musica assoviada para ele.  

Impressionado o turista nova-iorquino encomendou 100 cestos. E acertou o preço. Como ele tinha pago, digamos 1 dólar por cesto ele perguntou ao índio se ele faria um desconto na compra de 100. Por exemplo, 80 centavos. O indígena calculou, calculou, às vezes fazendo cálculos no ar e disse que sim. Três meses depois, a encomenda foi entregue, já que o empresário em viagem para um convenção pegou os cestos pessoalmente.

Em Nova York quem começou a fazer cálculos foi o empresário. Deu todos cestos como brinde a seus clientes. Um dos clientes tinha uma fábrica de chocolates. Ele teve a ideia, um chocolates especial, vendido para clientes seletos para presente embalado em um cestinho direto das terras maias. Fechou um pré e voou para a Guatemala, calculando. Um milhão de cestos a 30 centavos de dólares. 

Uma vez na aldeia, perguntou. Um milhão de cestos a 30 centavos de dólares. O indígena disse que não sabia enxergar na cabeça o que significaria um milhão de cestos. O americano insistiu. O índio calculou e disse 10 dólares cada cesto. O empresário nervoso, irritado e surpreso calculava desta vez o prejuízo. O índio justificou: nós não temos um milhão de cantigas para assoviar para tecer tantos cestos.   


quarta-feira, 14 de junho de 2023

A importância da Sociedade do Verbo Divino (SDV) na construção da região das Três Fronteiras

 Comemorando os 100 anos da Paróquia São João Batista, Foz do Iguaçu, com uma viagem panorâmica sobre a história da Congregação do Verbo Divino nas fronteiras do Brasil, Argentina e Paraguai 

 


Quando escutamos ou lemos narrativas sobre a história de Foz do Iguaçu é normal encontrar afirmações sobre o abandono da região pelo governo, o que é certo, e da invasão de exploradores estrangeiros com suas línguas (castelhano ou guarani) e suas moedas, no caso do guarani e do peso argentino. No caso dos exploradores, uma peneirada geral e regional por uma ótica de "região onde três países se encontram" no mesmo grau de abandono, passamos por alto, as inúmeras, práticas de integração. 

Ou seja todos estavam juntos. Essa tendência de "amargurar" a imagem do outro lado nos leva a cometer grandes injustiças. Neste artigo,  o propósito é destacar uma injustiça nessa categoria no âmbito religioso. Tenho em mente aqui o caso e a história dos missionários da Congregação do Verbo Divino. Quem procura a história da Igreja Católica em Foz em nossos arquivos vai encontrar afirmações como a que segue abaixo, em destaque:           

        "No início quem dava atendimento religioso era um padre de Posadas, Argentina, que vinha muito esporadicamente a Foz do  Iguaçu, motivo  que fez com que os moradores reclamassem a presença de padres brasileiros que dessem assistência permanente às almas"

"Um padre de Posadas, Argentina, vinha esporadicamente a Foz" não parece ser uma maneira  justa de lembrar alguém que incluía Foz do Iguaçu no penoso itinerário de suas visitas. Os moradores queriam a presença de alguém que desse assistência permanente. Mas, me incomoda a frase "padres brasileiros" até porque padres brasileiros disponíveis para trabalhar em regiões tão distantes naquela época era difícil de encontrar. Mesmo quando o atendimento começou a ser feito por padres brasileiros ou, quero crer, padres ligados à Igreja no Brasil a maioria era de língua alemã. 

Mas antes de entrar no assunto, vamos lembrar uma outra época e outro fato. Vamos começar do dia em que os padres da Congregação Jesuíta foram expulsos do Brasil, na época, Portugal. Lembremos também do dia em que os Jesuítas foram expulsos das terras da Espanha

A Companhia de Jesus foi expulsa da Espanha no começo de abril de 1767, entre a noite de 31 de março e a manhã de 2 de abril. Foi uma operação tão secreta, rápida e eficaz como a do "extrañamiento" ou a expulsão dos moros da Espanha em 1609, ou até mais".     

Quem visita as ruínas das missões jesuíticas de San Ignacio Mini, San Ignacio Guasu, Jesus de Tavarangue, ou São Miguel da Missões pode aceitar o meu convite de voltar no tempo e imaginar como o mundo amanheceu no dia 3 de abril de 1767. 

Todos os padres tinham sido presos, sequestrados, sumidos e levados para portos de embarque para uma deportação à Espanha. Muitos nunca chegaram ao destino. Os "índios" cristianizados, aldeados, se encontraram sós, abandonados em um ambiente hostil. Buscaram abrigos no mato de onde nunca deviam ter saído. As missões, com suas construções imponentes, obras de arte, ateliês, cemitérios, escolas foram abandonadas. A floresta voltou com tudo e cobriu as imponentes construções. As construções que hoje visitamos e que hoje são Patrimônios Cultural Mundial segundo categoria da Unesco, sumiram no esquecimento. A "barbárie" voltou a dominar a região após 1881 com a decolagem da economia da erva-mate. A escravidão imperou em terras de ervateiros (obrageiros) e peões. 

Só 131 anos após a saída do ultimo jesuíta, chegou o primeiro padre católico na região para re-evangelizar a região que os jesuítas haviam evangelizado mais de um século atrás. O nome desse primeiro padre  era Frederico Vogt. Ele colocou os pés na terra de Posadas no dia 5 de dezembro  de 1898. Só para fazer uma conexão histórica basta lembrar que a movimentação para a criação da Colônia Militar da foz do Iguassu começou em 1888 com a formação da Comissão Estratégica, dez anos antes. 

Padre Frederico Vogt, foto da capa do livro "Trás las Huellas de un Sabio" de Estela Alicia  Gentiluomo de Laguier


Para um lugar que ficou adormecido por tanto tempo tudo parecia estar acontecendo muito rápido. Um ano antes da chegada do padre Frederico Vogt a Posadas, atual capital da Província de Misiones, em  1897, foram redescobertas as  ruínas da antiga e  florescente Redução ou Missão de San Ignacio Mini a cerca de 243 km de Foz do Iguaçu / Puerto Iguazu. 

A chegada do alemão, Frederico Vogt da Sociedade do Verbo Divino, uma congregação relativamente nova, representava o desafio de dar continuidade à obra dos jesuítas e isso literalmente.  

Um ano antes da chegada do Padre Vogt, o fundador da Sociedade do Verbo Divino, o padre alemão Arnaldo Janssen, hoje parte da lista de santos da Igreja,  antes de aceitar o convite para que os verbitas assumissem a "segunda evangelização de Misiones", escreveu em carta com data de 17 de agosto de 1898:

"... He oído que en ese lugar la población es muy escasa; por eso siento poco entusiasmo para empezar allí. Yo creo que deberían hacerlo los padres Jesuitas. Si lo hacemos nosotros y obtenemos resultados, es fácil que parezcamos unos intrusos que quieren cosechar donde otros han sembrado. Opino que debemos dejarle a la Compañía de Jesús el honor, no sólo de haber fundado esas Misiones, sino también de haberlas restaurado. Seguramente deben estar allí vivas aún las antiguas tradiciones de los Jesuitas, de modo que a ellos se les haría todo más fácil que a nosotros.

(Tradução): 

"...ouvi dizer que a população desse lugar é muito escassa; por isso tenho pouco entusiasmo para começar por aí. Acho que os padres jesuítas deveriam fazê-lo. Se fizermos nós mesmos e obtivermos resultados, é fácil que pareçamos intrusos que querem colher onde outros semearam. Creio que devemos deixar à Companhia de Jesus a honra, não só de ter fundado aquelas Missões, mas também de as ter restaurado. Certamente as antigas tradições dos jesuítas ainda devem estar vivas lá, de modo que tudo seja mais fácil para eles do que para nós”).

A pesar da hesitação do fundador da Sociedade dos Verbitas, hoje São Arnaldo Janssen, não houve como não receber a missão de levar em frente a "segunda evangelização das terras das Missões". Foi assim que no dia 6 de dezembro de 1898 o padre Federico recebeu os livros oficiais e a responsabilidade de dirigir uma paróquia de 30 mil quilômetros quadrados com uma população calculada em 30 mil habitantes. A característica principal da nova paróquia era a pobreza onde tudo estava por fazer. A Colônia Militar do Iguassu, como uma presença soberana brasileira não era parte da Paróquia de Posadas mas estando separada por um rio dos limites da Paróquia de Posadas, que servo de Deus negaria atendimento espiritual a ela? Parece que a soberania das organizações humanas ficam em segundo lugar para a soberania do evangelho. 

É por causa disso que me arrepia a afirmação acima ao enxergar nela uma pitada de ingratidão, sem dúvida, baseada na falta de entendimento da situação e de como a Igreja por meio de uma congregação firmava seu governo em uma região trinacional.         

Santo Inacio Mini em sua redescoberta em 1897 

Já que chegamos até aqui, quem seria o padre que esporadicamente vinha de Posadas para rezar uma missa em Foz do Iguaçu? Há grande possibilidade de que este sacerdote possa ter sido, nos primeiros anos, o padre Frederico Vogt e algum outro padre associado a ele até 1907. E por que 1907?  

Porque neste ano, o bispo de Curitiba, Dom José de Camargo Barros incluiu nas atribuições da Paróquia de Guarapuava a missão de cuidar de Foz do Iguaçu e isso quando ainda faltavam cinco anos para a passagem da administração da Colônia Militar para o Município de Guarapuava. E assim como acontecia na Argentina, quem foram os padres escolhidos para a tarefa também no Paraná? Os mesmos padres verbitas. 

Os "verbitas" tinham entrado no Brasil via Espírito Santo no dia 19 de março de 1895 quando os padres missionários Franscisco Dold e Francisco Tollinger que viajavam em um barco chegaram ao Espírito Santo e encontraram uma colônia alemã sem pastor. A pedido da comunidade os padres aceitaram ficar e dar atendimento às colônias tirolesas de fala alemã da região serrana daquele estado. Os verbitas, no começo, se concentravam no atendimento às colônias de fala alemã. O sucesso dos verbitas no Espírito Santo fez com que o bispo de  Curitiba, Dom José de Camargo Barros solicitasse ajuda deles para atender diferentes comunidades de fala alemã também no Paraná. 

O trabalho dos verbitas no Paraná começou em 1899 em São José dos Pinhais. Como já mencionado, em 1907 com a Igreja avançando na direção do Oeste a partir de Guarapuava, uma lista de padres verbitas começaram a atender a Colônia Militar e em seguida ao novo município de Vila Iguaçu. Sem querer atropelar o enredo dessa história, lembramos que essa expansão culminou com a chegada do padre Guilherme Maria Thieletzek a Foz do Iguaçu em outubro de 1923 - fato que neste ano de 2023 completa 100 anos. Com a chegada de Thiletzek começa a história atual da Igreja em Foz por meio da fundação da Paróquia São João Batista em 1924 o que levou à criação da Prelazia em 1926.  

Porém a região trinacional ou das Três Fronteiras é feita pelo encontro de três países e até aqui falamos da chegada da Igreja na Argentina e no Brasil. E no Paraguai? A história é parecida. 


A fundação da Missão do Monday em 1910 marca início da contagem dos 100 anos da SVD no Paraguai. Placa na Paróquia São Lucas

No mesmo período em que se negociava a vinda de padres verbitas para a Argentina e Brasil, o mesmo acontecia no Paraguai. As negociações duraram entre 1895 e 1900. Não é o propósito deste texto contar a história da Congregação do verbo Divino no Paraguai. O nosso foco é na presença dos verbitas nas terras de difíceis acesso no Alto Paraná fronteira com o Brasil. 

A próxima data neste sentido é 1908 quando o padre verbita Franz Müller é nomeado fundador e superior da Missão do Rio Monday. Em 1910 a Missão do Monday foi oficialmente fundada

O rio Monday é este onde se encontra o Salto Monday, visto como um atrativo turístico,  em terras do município de Presidente Franco. Este rio teve um valor histórico de comunicação entre o rio Paraná e o interior do Paraguai durante muito tempo. Note que o padre Franz Müller recebeu a missão de ser o superior da Missão do Monday mas antes de ser o superior da missão ele teria que fundá-la. O local escolhido foi a desembocadura do Arroio Suindá no Rio Monday nos atuais limites entre o Departamento de Caaguazu e Alto Paraná no atual município de Doctor Juan Eulogio Estigarribia, mais conhecido como Campo 9.

É necessário uma pesquisa extensa para refazer os passos dos padres neste território e seu caminhar em terras sob o domínio das empresas ervateiras. As terras da Missão do Monday que apontavam para o rio Paraná, para Itakyry e Takuru Pucu só começaram a entrar no mapa das ligações modernas com a construção da rodovia Assunção-Rio Paraná. Seguindo esse rumo, em 1958 a missão do Monday mudou de foco, seguiu os ventos que sopravam com as estradas com  o estabelecimento de uma residência permanente de padres verbitas em Takuru Puku agora já com o novo nome de Hernandarias. 

Depois de finalizadas a estrada e a Ponte Internacional, com o nascimento de cidades como Ciudad del Este  e sua afirmação como capital do Alto Paraná o governo da Igreja tomou um novo rumo em direção à criação de uma diocese. O mesmo que aconteceu com Foz do Iguaçu. Na cidade brasileira os verbitas seguem presentes na Paróquia São João Batista. No lado paraguaio, a Paróquia San Lucas, no bairro San Lucas. 

  

Igreja San Lucas, Ciudad del Este

SVD em MIsiones

A imagem mostra a irradiação da missão SVD em Misiones ao longo do rio Paraná entre Posadas e o rio Iguazu / Iguaçu em 1936 seguindo a rota rio acima San Ignacio, Puerto Rico, El Dorado, Puerto Bemberg antes de chegar a Iguazu onde rareiam as opulações já na fronteira com Foz do Iguaçu;
  
Observação:

Do site da Diocese de Toledo. Não esquecer que tudo começou após a chegada do Pe. Guilherme (1923),  a criação da Paróquia São João Batista (1924) e da Prelazia de Foz do Iguaçu (1926)  


A SVD teve um papel muito importante na fundação dos futuros municípios de  Toledo e Cascavel e a partir daí de todo o Oeste do Paraná oara ver este fato basta ver a "genealogia das cidades.  O que destaca o caráter de unicidade e irmandade de todos os  municípios do Oeste do Paraná a partir da chegada do Padre Guilherme Maria Thiletzek ou na versão alemã Wilhelm Maria Thiletzek ou ainda na versão polonesa Wilhelm Maria Tieleczek. Confira texto da Diocese de Foz

   

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Uma homenagem às vítimas, amigos e familiares do acidente da antiga TABA em Tabatinga, Amazonas


Francy Xavier
Filha de Francisco Xavier Pereira
In Memoriam 

 

"Na época que aconteceu o acidente a minha mãe ficou grávida de mim ... essa  companhia aérea tirou todos nossos sonhos de ter pai presente nas nossas vidas, nem sequer tive a oportunidade de conhecer meu pai" - Francy Xavier



Recorte amarelado de jornal enviado pela filha de Francisco Xavier Pereira, o sétimo nome na lista de 22 passageiros de Eirunepé

Por Jackson Lima*

Este texto é uma homenagem às vítimas e familiares do acidente do avião da TABA (Transportes Aéreos da Bacia Amazônica), Modelo Hirondelle prefixo PT-LBV na manhã de sábado, dia 12 de junho de 1982.  

O voo tinha partido de Eirunepé, uma pequena cidade do interior do Amazonas com destino a Manaus via Tabatinga e Tefé. Havia 44 pessoas abordo. Todos faleceram. Eu poderia ter sido a vítima número 45 caso tivesse chegado dentro do meu horário para abrir a banca (box) de um amigo que vendia produtos amazônicos entre eles pó e bastão de guaraná. Eu aproveitava e vendia também excursões para algum turista estrangeiro. Neste dia cheguei muito atrasado. Embora o voo de Eirunepé não trouxesse turistas estrangeiros eu mantinha o ritual.   

O dia estava claro mas o céu estava coberto com nuvens baixas como se fosse cerração. Sem dúvida quem estivesse abordo do avião não veria o chão. Eu morava na casa do amigo Saburo Ueda, dono do box,  na área do INCRA próximo ao Igarapé Urumutum. Eu ia a pé de casa até o aeroporto. Uma boa distância. Tenho vaga lembrança que ouvi o ronco do avião voando "dentro das nuvens" e dando voltas a partir do momento que entrei na Avenida da Amizade que ligava na época o Aeroporto de Tabatinga com o Aeroporto de Letícia, Colômbia. 

Fiquei agitado e apressei os passos para não chegar muito tarde no aeroporto. Continuei escutando o avião fazer longas voltas e me parecia que cada vez mais baixo. Antes de chegar à área militar, sede do 8º BIS (Batalhão de Infantaria de Selva) já passado o Hospital de Guarnição na altura do rio Brilhante, alguma coisa me fez ter um pressentimento ruim. Foi quando passou um caminhão do Bombeiros Voluntários de Letícia, Colômbia. Não me chamou a atenção porque era um caminhão pipa.    

Minutos depois já no trecho final da caminhada passa um segundo caminhão do Corpo de Bombeiros de Letícia. Vi que em pé, uniformizados e  agarrados naquele suporte para carregar os profissionais estavam o amigo Alberto Rojas Lesmes, o KAPAX e a Diva Smith que mais tarde chegou a ser minha chefe em uma empresa de turismo de Letícia. O Kapax gritou e me mandou correr. Comecei a correr. Quando cheguei na última curva já para virar em direção ao estacionamento do Aeroporto avistei a pior visão que tinha visto ate então em minha curta vida. Eu ainda não tinha 30 anos. O Kapax me recrutou na hora para ajudar no resgate. 

O fogo já tinha sido apagado pelo primeiro caminhão e a equipe do Aeroporto que também tinha um caminhão.  Só saia uma fumaça de várias partes da fuselagem. Sofro uma espécie de amnésia sobre o que vi, quanto vi e que senti no processo de salvar. Só não esqueci uma criança que achei e fiz esforço de tirá-lo dos escombros. Ele não parecia ter se machucado e eu senti muita alegria quando gritei pedindo ajuda dizendo que havia um sobrevivente. O corpo estava inteiro menos a parte de trás da cabeça. Só notei isso quando passei o menino para um bombeiro que não sei se era brasileiro ou colombiano, do Exército Brasileiro, da defesa Civil Colombiana ou da Infraero. A essa hora estava aumentando o número de ajudantes. Passei mal e fui retirado do ambiente para recuperar dentro do aeroporto. 

Foi nesse momento que percebi que o meu box (o balcão),  aqueles oficialmente concessionado pela Infraero, havia sido destruído. Um pneu do avião se soltou, atravessou a parede do edifício do aeroporto, destruiu a minha banca, atravessou o estreito saguão, destruiu o balcão do Correio Aéreo Nacional (CAN), atravessou mais uma parede, atravessou a pista e foi parar no gramado no lado exterior da pista. Só aí entendi que meu atraso me salvou. 

Depois de recuperar a equipe me deu tarefas mais leves como fotografar e documentar a atividade. Um filme foi entregue às autoridades brasileiras e outro foi entregue a um piloto da Cruzeiro do Sul que fazia a rota Iquitos - Manuas via Tabatinga e Tefé. A partir daí o sol brilhou mas como se estivesse sob a influência de um eclipse. Um dia triste. Quando um golpe é muito duro, as pessoas parecem que não digerem, não falam, os tabatinguenses não falavam sobre o assunto. Não acompanhei o trabalho oficial mais tarde e o resgate já a cargo da Força Aérea. E não sei como voltei para casa.    

Algumas Fotos e contexto               



Este caminhão tanque chegou primeiro. Pode-se ler nele BOMBEROS em espanhol. Avião caiu na área de estacionamento  

Notícia no Estado de São Paulo do dia 13 de junho de 1982. Um dia depois do acidente


Matéria no Jornal do Brasil do dia 14 de junho já traz a manchete: Comandante do Hirondelle é acusado de causar o acidente 



Eirunepé 
Umas palavras para o grande público do Sul do Brasil sobre a cidade amazonense que tem o belo nome de Eirunepé. A cidade fica às margens do rio Juruá a mais de 1.000 km de Manaus. Não há estradas. O transporte de cargas e passageiros até aí só por rio ou aéreo. Hoje há dois voos semanais operados pela AZUL. Para os leitores da fronteira Brasil-Paraguai acrescento que a palavra Eirunepé é tupi e significa "Caminho do Mel Escuro". Em guarani seria "Eirahũrape"  (Eira+ mel, hũ=escuro e tape (rape) caminho. A viagem de Manaus a Eirunepé de barco leva 21 dias, subindo o rio. O rio Juruá tem muitas comunidades. A origem do povoamento tem a ver com a ciclo da borracha.   

Tabatinga
Em 1982, Tabatinga era uma Colônia Militar chamada Marco-Tabatinga. Marco era o bairro civil a partir dos marcos fronteiriços até a área do 8º BIS. O município só foi criado em 1983 quando toda a área assumiu o nome de Tabatinga. Embora o município seja recente, o Posto Militar que deu origem à atual Tabatinga foi fundado em 1776. Até 1759 quando os jesuítas foram expulsos das terras de Portugal no local havia uma aldeia fundada pelos jesuítas.     

O amigo KAPAX

Estátua de Bronze / Monumento ao KAPAX em Letícia


O nome real do KAPAX é Alberto Rojas Lesmes. Ele nasceu às marges do rio Putumayo, na amazônia colombiana. O rio Putumayo é conhecido no Brasil como rio Içá. Ela ganhou o título de KAPAX em 1976 quando se jogou na água no Rio Madalena na cidade de Neiva, Colômbia para nadar sem proteção nenhuma até o caribe, onde o rio desemboca. Foram mais de um mês de natação com a imprensa seguindo. Virou o Tarzan da Amazônia, o herói colombiano. Foi ele que como representante oficial da Defesa Civil colombiana participou do esforço de resgate do avião da TABA em Tabatinga. Foi ele quem gritou me chamando para participar. Eu era fã incondicional dele e me considerava discípulo. Éramos também parceiros, porque eu traduzia para ele quando necessário para audiências em inglês, português, italiano o que aparecesse na frente.Queria ser como ele. Menos nessa área de nadar. Mas queria saber lidar com sucuriju ou sucuri. KAPAX não precisou morrer para ganhar uma estátua de bronze próximo ao aeroporto de Letícia. 
Não me dei bem nessa área de mexer com sucuri. Duas vezes ele me repreendeu seriamente. Na primeira quando uma anaconda quase me matou e a outra quando um turista foi mordido. Mesmo sendo herói do país que sofria com tantas atrocidades, KAPAX era humilde e voluntário. Foi nesta condição que ele liderou o trabalho das equipes colombianas da Cruz Roja, Bomberos e Defesa Civil. Hoje já com a idade avançada escutou dizer que ele anda triste. Mas nesta homenagem às vítimas, resgate, profissionais e voluntários que ajudaram na tentativa frustrada de resgatar pessoas com vida, faço questão de lembrar o KAPAX. Estivemos juntos em outras situações e em outro desastre aéreo, desta vez no lado colombiano, mas sobre isso falarei em agosto em outra homenagem. 

Finalizando
O desastre de Tabatinga só não foi considerado o pior desastre aéreo do Brasil, porque uma semana antes houve a queda de um avião que fazia o voo 168 da Vasp com destino a Fortaleza matando os 137 passageiros abordo. O acidente marcou a alma cearense assim como o voo da TABA deixou feridas abertas no coração e na memória dos que viveram a tragédia. No Ceará o jornal O Povo produziu um longa metragem sobre o acidente: "Voo 168: A tragédia da Aratanha". Ficamos devendo uma homenagem oficial maior no Amazonas. Agradeço a Francy Xavier pelas informações e saúdo a ela e a família com esta homenagem.

* Jackson Lima, sou jornalista, resido em Foz do Iguaçu, Paraná, fronteira Brasil,Argentina e Paraguai. Em Tabatinga, publiquei o primeiro jornal da cidade, após a emancipação de Benjamin Constant. Foi de curta duração o jornal e se chamou Gazeta de Tabatinga
  

sexta-feira, 9 de junho de 2023

A Hemilly representou bem o Grande Estado do Amazonas

A Hemilly Júlia representou o Estado do Amazonas no stand da Amazonastur - Empresa Estadual de Turismo do Amazonas. Como a maioria das pessoas que visitam o stand tendiam a pensar que Amazonas se limita a Manaus, a Hemilly explicava que a Amazonastur divulga, promove e trabalha pelo turismo dos 69 municípios do estado. É uma missão grande porque o o Amazonas é o maior estado do Brasil e equivale ao tamanho da Colômbia. 
Há muito sendo desenvolvido  em várias regiões do estado como a área do alto Rio Negro com São Gabriel da Cachoeira, a região do Alto Solimões que o brasileiro precisa conhecer, a região de Presidente Figueiredo sem falr de Parintins por causa do festival. Desejo muita sorte e sucesso ao trabalho. Peço desculpa porque as fotos saíram um pouco fora de foco. Mas está registrado o momento    

Hemilly Júlia 

 

Maceió e Alagoas presente no Festival do Turismo

Tatá Costa, Mayra Santos e Denise Borges 

Não pude não deixar de parar no stand de Alagoas no Festival das Cataratas e saudar os participantes que divulgavam maravilhas de Maceió e do estado. Afinal é o stand da minha terra natal e os participantes são meus conterrâneos. Assim na foto acima estão Tatá Costa do Porto Kaeté Hotel, Mayra Santos do Hotel Pajuçara e Denise Borges dos Hotéis Ponta Verde que possui um hotel em Maceió e outro na Praia do Francês seguindo o litoral na direção norte. 
Na site do Hotel Kaete há uma informação sobre o nome do hotel inspirado nos índios Caeté que povoaram o litoral alagoano. Sempre digo aos amigos paraguaios que eu nasci em uma região de língua tupi-guarani e que no guarani, língua de influência aqui nas Três Fronteiras, Caete é escrito assim: Ka'aete que significa "Mata de Verdade" para diferenciar-se do povos do agreste e da Caatinga (em tupi Ka'atinga e em guarani Ka'atĩ) que é uma mata mais rala e não por isso mais fácil de andar nela. Foi um prazer encontrar esse pessoal de Alagoas.  
     
A equipe de Alagoas quase completa ainda está faltando gente

 

Participante com "rabo preso" se expôs no stand de Foz

Neumari e Caíque

O Caíque é esse quatizinho bem vestido criado pela servidora pública e profissional de marketing  Neumari Chritine da Secretaria de Turismo. Essa história de rabo preso não tem nada ver com atitudes não republicanas que necessitam ser guardadas à sete chaves para não serem usadas como chantagem. Não! O problema é que o quati bem vestido com seu charme encanta os vistantes do stand e muitos sentem um desejo incrontrolável de levar o pequeno ser como lembrança confundindo-o com um brinde. Por isso, como o quati Caíque tem um rabo longo e forte, igual aos seus irmãos no Parque Nacional ou no Bosque do 34º Batalhão, a Neumari prende a cauda dele na gaveta do mesa de exposição.    


 

quarta-feira, 7 de junho de 2023

O desafio de Foz do Iguaçu é não perder a alma: dedicado ao Rio Tamanduá e amigos

Parabéns Foz pelos seus 109 anos
Mas qual é o seu desafio?
(Quem assina esta arte?)

Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? - Marcos 6:36


O desafio de Foz do Iguaçu, em sua caminhada já em seu segundo século de vida é não perder seu jeito de ser, sua identidade, sua alma e seu norte. 

Foz vive mais um período de canteiro de obras. Não é o primeiro. A Ponte da Amizade foi fruto de uma de suas épocas de canteiro que trouxe mudanças impensáveis até então para o modo da pacata cidade. 

O canteiro dos canteiros veio com a construção da maior usina hidrelétrica do mundo que produz energia e é responsável por algo até agora impensável para uma hidrelétrica: ser uma atração turística, ter um complexo turístico definido, rentável gerador de empregos que se acoplou às estruturas do turismo da cidade. 

Hoje com a construção de uma segunda ponte com o Paraguai e a extensa lista de obras, o desafio da cidade continua o mesmo: crescer sem perder a alma. A duplicação da Rodovia das Cataratas (BR-469) já cobrou um preço alto. Quem pagou com a pele foi o Rio Tamanduá, aquele na baixada do antigo Hotel Panorama frente à estrutura  de captação e distribuição de água da Sanepar. Agora espremido por duas paredes de pedra o rio perdeu sua pequena "várzea" e não terá mais espaço para se espalhar. Em caso de dilúvio seguirá a sina do Tietê um dos rios da bacia do Paraná, a mesma que compartilha. 

Com o sumiço da várzea do Tamanduá, evaporou também a prainha dos iguaçuense que já teve até bancos e mesas para pique-niques e churrascos de fim de semana. Você já se banhou na prainha do Tamanduá às margens da BR-469? O rio Carimã também anda definhando sem protestar a camisa de força que vão colocar nele.       

E como é sabido pelos profissionais e desconfiado pelos não profissionais, a alma da cidade é o verde e não poderia ser de outra forma. A razão de ser da cidade, o que Hollywood chama de "claim to fame" é o verde representado pelas Cataratas do Iguaçu, protegida por um Parque Nacional que a transformou em um destino turístico de fama internacional dentro do qual tudo mais se encaixa. É sustentável esta imagem de destino verde? 

O desafio de todos que administram este novo canteiro de obras é garantir que a cidade não venha a perder sua característica, aquela coisa que todos os que vem para cá dizem que sente no ar  e passe a agredir os visitantes e moradores com as mesmas vistas das cidades do mundo. Como evitar que a BR-469 seja alvo de uma urbanização desenfreada, que a área rural não tenha hora do rush, que os bairros não ganhem cara de comunidades dormitórios, ao ponto de levar a crer a quem veio a Foz que aterrissou em Foz do Iguaçu mas até chegar ao hotel, parece que não saiu de Guarulhos, só para dar um exemplo.     

É um desafio para Foz do Iguaçu  evitar a mentalidade de que mais é melhor. Evitar o caminho sem fim, já que as necessidades não possuem limites. O desafio é pensar o futuro para deixar longe a necessidade eterna de sempre duplicar, triplicar multiplicar. O desafio é poder visualizar hoje, quão verde a cidade será para garantir seu lugar na lista de cidades agradáveis, decentes para moradores, para turistas, para trabalhadores, empregados, estudantes, crianças, adultos, idosos. Para todos. 

Finalmente, é o desfio de não copiar o mundo especialmente naquilo que deu ou esta dando errado. As Cataratas do Iguaçu, poderiam ser o modelo para Foz do Iguaçu e assim Foz poderia ver-se como um modelo de integração étnica, natureza e gente, nações, línguas, povos e tudo mais. 

Mas sinais de que a situação das Cataratas do Iguaçu e do Parque Nacional andam ameaçados já aparecem. É necessário que as concessionárias quer seja dos hotéis, estou falando dos dois lados da fronteira, ou de direção de atrativos como administradoras de visitação não se encantem com o canto das sereias do turismo da espetacularização. Foz do Iguaçu não é Niágara. Não é Las Vegas. Não é Disney World. Não é Dubai. Foz dever ser Foz

Uma preocupação imediata é o caminho que Foz do Iguaçu enveredou no quesito da poluição lumínica. Você já deve ter desconfiado que lumínica tem a ver com luz daí poluição luminosa. Uma iluminação agressiva e que já chega às Cataratas. 

Uma foto tirada nas Cataratas para registrar o arco-iris branco noturno que gira o mundo da internet  mostra algo como uma cidade no plano de fundo. Até quem aqui nasceu, ao ver a foto,  fica em dúvida. Cataratas com pano de fundo urbano tem que ser Niágara. É Niágara? Erraram! É a vista "luminicamente poluída" do que chamamos de Hotel Argentino mas que hoje tem um nome de bandeira internacional. 

No lado brasileiro a iluminação na área das Cataratas  tempo de das Cataratas já está com excesso de luz. Poderia haver uma iluminação branda suave assinada por um profissional que soubesse misturar iluminação para atender as necessidades humanas deixando a natureza dar seu show na escuridão de modo que sempre seja possível enxergar os vaga-lumes, o céu estrelado e a via láctea acima de nossas cabeças. 

Do jeito que vão as coisas, esqueça passeio da lua cheia, esqueça astroturismo com observação noturna e astrofotografia. E para piorar já há um ponto de luz LED em um cantinho do segundo mirante, que é o principal da passarela (trilha) das Cataratas. Definitivamente não é uma boa ideia. Vamos definir, nós cidadãos da Foz do Iguaçu 109 anos, como queremos a Foz 120, ou a Foz 130. Que não seja uma cidade claustrofóbica.   

 

             

terça-feira, 6 de junho de 2023

Região dos Campos de Cima da Serra representada pelo Condesus no Festival das Cataratas

Carine Álvares 
Esta é Carine Álvares que estava no stand do Rio Grande do Sul representando o Condesus ou Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Região dos Campos de Cima da Serra, que reúne 13 municípios da região dos Campos de Cima da Serra. O Consórcio une os 13 municípios em duas áreas diferentes: turismo e licitações compartilhadas. Na área de turismo a região oferece ecoturismo, aventura e turismo rural. 

Na área de licitação o consórcio entre os 13 municípios atua em compras e aquisição de produtos e serviços na área da educação,. saúde, infraestrutura e turismo. Conheça os 13 municípios:

Bom Jesus
Cambará do Sul
Campestre da Serra
Esmeralda
Ipê
Jaquirana
Lagoa vermelha
Monte Alegre dos Campos
Muitos Capões
Pinhal da Serra
São Francisco de Paula
São José dos Ausentes
Vacaria 

Ver Site oficial  do turismo

Complexo Dreams Park no Festival das Cataratas: uma foto postagem

Eu adoro as fadinhas do Complexo Dreams e por isso não resisti a oportunidade de tirar uma foto com uma delas. Comuniquei a um dos executivos que gostaria de pensar alguma coisa no sentido de destacar o fato ecoespiritual de que as Cataratas do Iguaçu é também terra de fadas e encantadas do ar e também da água, das rochas, do verde. Eu posso dizer isso porque nesta altura do campeonato não há mais como ser boicotado. Por isso escancaro: tem fadas sim e eu as vejo, as sinto e nelas me inspiro    
Na foto abaixo consegui uma proeza tirei uma selfie. Mas claro que consegui deixar de fora as asas da fadinha. Agradeço a profissional iguaçuense que faz este papel e agradeceria saber mais sobre o trabalho, quem faz, quem organiza, como funciona.  
 
O complexo Dreams - inclui as seguintes atrações: 

Museu de Cera
Dreams Ice Bar
Vale dos Dinossauros
Dreams Motor Show
Maravilhas do Mundo
Dreams Eco Park

(As atrações ou atrativos em negrito são as que já visitei)


Do Dreams Eco Park posso dizer que estou me "encarinhando" com o trabalho do espaço. Um dos motivos é a seriedade na área de recepção e recuperação de animais apreendidos o que vem a aliviar o trabalho do Refugio Biológico Bela Vista e do Parque das Aves. O Eco Park incorporou o empreendimento dedicado à Falcoaria. Comecei a conhecer alguns membros da equipe "biológica". Duas pessoas que compareceram à missa organizada, em abril, para honrar a memória do Patrono da Ornitologia Paranaense, o polonês Tadeusz Chrostowski e a bióloga Larissa Vasconcelos que estava no stand do Eco Park. 
Além do conhecimento sobre a biologia dos animais com quem trabalha ela trouxe para o stand a história da falcoaria começando com o Imperador do Sacro Império Romano, Frederico II (1194 - 1250) que além monarca, rei, imperador e poeta foi autor de um dos primeiros livros sobre a falcoaria. O livro se chama De arte venandi cum avibus  ou da Arte de caçar com aves.