terça-feira, 24 de maio de 2016

Algumas palavras sobre o caso de Gheto Mondésir, os idiomas e a impunidade


Diversas cenas do vídeo
Há 10 dias, o haitiano Gheto Mondésir era agredido na madrugada de Foz do Iguaçu - cidade onde um de seus valores é a convivência pacífica entre mais de 70 nacionalidades ou etnias. Algumas têm milhares de pessoas como a árabe libanesa, outras tem só um morador como é o caso de um albanês aqui, um butanês lá, um singalês, um indiano tâmil que é o caso de nosso pároco da Igreja Matriz. Todos gostamos disso. Viver em paz. 

Isso até sábado, dia 14, quando o grupo acima que aparece nas imagens divulgadas  pela Polícia Civil  à imprensa e, no caso destas imagens, mostradas pela RPC no Paraná.



Até  a divulgação das imagens havia boatos na cidade de que o culpado era a vítima. Outro ponto complicado mesmo depois que as imagens foram ao ar é o fato do estudante ter informado que havia sido assaltado. E nas imagens não vemos nada que mostre que houve um "assalto" pelo menos na maneira que nós brasileiros entendemos. 

Os haitianos falam francês e em francês e inglês e até mesmo em "português militar" a palavra assalto significa ataque, agressão. Por isso as infantarias e até as forças policiais em missões mais complexas usam armamentos classificados como "de assalto". Quando ele disse "fui assaltado" ele não quis dizer "fui vítima de roubo a mão armada". Ele quis dizer fui "agredido". 

Nós, na fronteira, temos que ter muito cuidado com as palavras conhecidas como "falsos cognatos". São palavras que têm o mesmo som, mas significam coisas diferentes. Exemplos entre o espanhol e o português não faltam. 

Veja alguns: "policia secuestra vehículo de presunto asesino y demora peatones". Está criado o problema. Estamos fritos com uma polícia sequestradora  que não respeita nem o presunto - mesmo que ele fosse assassino. Na realidade a manchete fictícia quer dizer: polícia apreende veículo de suposto assassino revista pedestres. 

Outra situação seria uma manchete que dissesse: "sin verguenza canoso embaraza mujer de tío político." Bem neste caso quem fez o que mesmo? 

É simples: o "sem vergonha" canoso é uma pessoa "grisalha" que engravidou a mulher de seu "tio político". E o que é tio político? É simples você será um "tío político" para o sobrinho de sangue de sua mulher. É uma espécie de tio honorário ou por adoção mas não é de sangue. É para evitar coisas desse tipo que no Processo Civil, o juiz nomeia um intérprete em caso do envolvimento de estrangeiros que não conheçam a língua nacional. O réu pode se condenar sozinho.

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