quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Agradecimentos a todos durante uma época difícil. Precisamos melhorar o sistema

Quando publiquei meu pedido de socorro aqui nesta rede social na segunda-feira, dia 16 de novembro, minha situação era de desespero total. O problema de meu filho era grave, estava com inflamação e dores. Fui orientado já pela corrente que se formou a levar o meu filho à UPA. Lá passamos pelos três processos normais: recepção, triagem e consultório. Na triagem eu disse que ele desmaiou e uma pessoa da equipe me disse: O senhor associou o ferimento ao desmaio? 

Aí já foi um sinal de que viria negação de meu problema e a tendência a me classificar não sei como o quê. Passamos para a consulta de onde saímos com uma receita e instrução para ir à minha UBS, a UBS do meu bairro no caso a Morumbi II. Na UBS, o médico generalista informa que o que ele tinha de fazer já estava feito porque o paciente já estava na esfera de especialidades.  Definitivamente, o caso não era urgência ou emergência. (Há diferença entre emergência e urgência. Na emergência há risco de morte nas próximas horas. Urgência há risco de morte em breve).

No dia seguinte a situação amanheceu pior pois agora havia ínguas com suas contribuições às dores. Fomos instruídos em voltar à UPA. Graças, desta vez, infelizmente, à pressão de muita gente e algumas com certa autoridade pudemos ser ouvidos decentemente e meu filho ficou internado na UPA onde permaneceu até sábado. Mesmo internado, ainda amanheceu com dores, ínguas e a inflamação. Logo começou a melhorar e a inflamação deu sinais de baixar para permitir uma cirurgia. No sábado foi transferido para o Hospital Municipal já em processo pré-operatório. Mas devido ao perigo da Covid-19 e a suspensão de eletivas no Paraná  e já por não estar mais em urgência ou emergência a equipe deu alta.  Para mim, isso significa que o "passeio do sistema" vai recomeçar. (Falta destacar ainda a complexidade do sistema de leitos de internamento que não é controlado pelo município).

Há tempo, desde 2015, quando quase morri por conta de uma crise de vesícula, comecei a detectar o que eu chamo de “passeio no sistema”. Idealmente, a entrada no atendimento à saúde começa na UBS (postinho) onde o médico clínico encaminha para o especialista. O especialista encaminha o paciente para as ações seguintes inclusive cirurgias. Dai ele pede exames e encaminha para cirurgia. os documentos vão para a Secretaria de Saúde e a secretaria autoriza a cirurgia. A secretaria passa todos os documentos para o Hospital Municipal. Mas daí vem a fila. Três meses depois, fila adentro, se o paciente tiver uma crise ele não tem como ter contato com o médico dele que sabe da situação.   

Pelo contrário, ele volta à UPA com dores e será mandado de volta para o Postinho. O Postinho devolve para a UPA, a UPA faz três coisas: acolhe, medica e corta a dor; encaminha para emergência ou dá alta. Nessa altura, o problema voltou para a estaca zero. Meses depois, o paciente pode cair na mão do especialista de novo e o especialista xinga (numa boa) o paciente. 

No meu caso, em 1915, ainda na gestão do prefeito Reni Pereira e antes da gestão da prefeita Inês Weizemann o especialista e cirurgião cujo nome é um patrimônio na cidade, me disse: "Você já foi operado? Por que você está aqui de novo?  Essa cirurgia era para ter acontecido há seis meses". É por causa disso que a administração municipal de Foz, de Corumbá, de Alegrete levam a culpa. Mas, enxergo, que o sistema está acima de todos. Na hora da verdade ninguém consegue mudá-lo. (Agradeço a manifestação de membros do Conselho Municipal da Saúde e sugiro, chequem sistema).

Na verdade eu tinha feito o “passeio do sistema” pelo menos três vezes. Quando o sistema finalmente se lembrou de mim e ligou para que eu comparecesse para a cirurgia, já fazia 15 dias que eu havia me operado. A pessoa que ligou com a voz animada ficou perdida. Como o Sr foi operado? Quem liberou? Eu informei que fui enviado como emergência com entrada pelo Pronto Socorro e a moça no Pronto Socorro ainda tentou me aconselhar a ir ao Postinho. Eu já não aguentava ouvir duas palavras: postinho e comida.  Neste então, eu já deveria estar a uns três dias da minha morte. Um médico, usou sua autoridade para quebrar a inércia do “passeio do sistema”. Ele ligou para o cirurgião e disse: “conhece o cliente tal? Eu dou três dias pra ele morrer se ele não for operado agora!(Agradeço a eles por estar vivo)

Claro que em todas estas situações eu estou segurando detalhes, identidades até porque eles não fazem questão de aparecer. A lista é grande. Para todos digo, e prestem atenção,  se não coloco os seus nomes nesta postagem, é porque já coloquei o nome de cada um na lista dos bem-aventurados, que nela entram pelo sentimento do agradecimento de outrem, para quem a recompensa está garantida no Reino dos Céus ou como disse Jesus: “...tudo que ligardes na terra será ligado no céu” (espero que você tenha entendido!). Assim, estou ligando, com minha gratidão, todos os que participaram neste momento da minha vida e família, tanto na Terra como nos Céus! (Mat 18:18)

Esperança

Minha esperança é que após a passagem do Covid a gente possa corrigir os problemas do sistema de acesso ao SUS e de outros vários sistemas brasileiros. Defendo com unhas e dentes o nosso SUS. É um sistema maior, um guarda chuva enorme de proteção. É uma questão de afinar a comunicação entre os diferentes atores da entrada ou de acesso à Saúde. Depois de ter passado pelo purgatório do sofrimento ao longo do "passeio do sistema" todo mundo que consegue chegar a um leito da UPA ou do Hospital Municipal se sente como se tivesse tido acesso ao paraíso. Só falta desentupir o canal de comunicação na base: UBS,UPA, CEM-Leito no Hospital. Espero que o Covid force mudanças na saúde assim como está fazendo  nos negócios, na educação, na política, na religião, no emprego como já está acontecendo em toda parte. Depois de passar a Covid, as outras doenças juntas serão fichinha!   

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