quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Linguisticamente falando as Três Fronteiras "não é" para amador. Normal para lugar com muitas etnias

Adnan El Sayed: escolas trilíngues 

O vereador Adnan El-Sayed de Foz do Iguaçu propôs incluir o espanhol e o inglês na educação básica municipal.  O vereador sonha com uma escola trilíngue, de repente integral, desde o ensino básico. Isso já acontece em escolas particulares da cidade. Duas delas já incluíram o árabe, na variedade libanesa e na variedade padrão internacional.
 

As escolas de Foz do Iguaçu, poderiam também em algum momento incluir o guarani, para todos. Assim evitaria que o iguaçuense tivesse que aprender da internet que “Iguaçu, é uma palavra tupi-guarani" (ou pior palavra indígena) onde “Ig” é água e “uaçu” é grande. Um fiasco. Deixe isso para os 99% dos brasileiros. 

Mas e se fosse possível legislar sobre o árabe? Proibindo? Claro que não embora já tenha ouvido gente dizer: se os árabes estão no Brasil, por que precisam de uma escola árabe? A ignorância ronda como sempre rondou! E se incluíssemos o árabe básico na educação infantil, com escrita e tudo, por que não? Criança não é burra! E se incentivássemos placas em árabe nas lojas? Informações para clientes? Em um e outro logradouro público? Na UPA? Os turistas iriam adorar! 

Já temos placas de ônibus, informações, sinalização turística em inglês. Os turistas comentam e fazem selfies na frente delas. 

As línguas oficiais são as línguas dos três países que se encontram aqui: guarani, castelhano e português. Ou castelhano, Português e guarani. Brasileiro falando vai dizer: português, castelhano e guarani. Por que guarani por último?

Lembrando

O Português é oficial no Brasil. O espanhol é oficial na Argentina e no Paraguai e guarani é oficial no Paraguai em total pé de igualdade com o espanhol. É o que manda a lei. O Paraguai tem muitas leis mas há uma lei que está acima de todas e se chama Lei Guasu. Lei Guasu, na realidade, é uma coleção de leis. Em português e espanhol, Lei Guasu se chama “constituição” e “constitución” respectivamente.  

Na Lei Guasu, Artigo 140,  diz: 

“El Paraguay es un país pluricultural y bilingue. Son idiomas oficiales el Castellano y el Guarani. La  Ley establecerá las modalidades de utilización de un y otro. Las lenguas indígenas así como de otras minorías étnicas, forman parte del patrimonio cultural de la nación”.

Para sua diversão, conhecimento e informação, respeitando a Lei Guasu segue o mesmo conteúdo da Constituição em guarani: 

“Paraguái ha’e tetã hembikuaa arandu hetava há iñe’ẽ mokõiva. Estado ñe’ẽ tee ha’e Castellano ha Guarani. Leipe he’ívae’rã mbaé’ichapa ojepurúta mokõivéva. Mayma ypykue ñemoñare ñe’ẽ há opaite imbovyvéva ñe’ẽ, há’e tetã rembikuaa arandu aveí”.

Muita informação, eu sei. Dos três países das Três Fronteiras, o Paraguai é o único que tem uma política linguística nacional com direito a uma Secretaria Nacional de Políticas Linguísticas. Note que a Constituição Paraguaia / Lei Guasu Paraguái diz traduzindo)  que “as línguas indígenas assim como  de outras minorias étnicas, formam parte do patrimônio cultural da nação”. O que significa isso? O Paraguai tem 29 línguas indígenas pertencentes a cinco famílias que são todas parte do patrimônio nacional e que merecem atenção da lei. 

Placa de boas vinda no Festival de Turismo das Cataratas em novembro 2021 em português, espanhol, inglês e guarani  

Além dos idiomas indígenas, a Constituição Paraguaia também considera patrimônio nacional os idiomas minoritários de diferentes etnias que imigraram para o país. Neste quesito destaque para o português. É essa afirmação da lei que permite que os brasileiros de Santa Rita tenham liberdade de falar português abertamente ao ponto de fazer os visitantes brasileiros se sentirem como se estivessem no Brasil. Já ouvi brasileiros perguntarem se os paraguaios não ficam bravos com isso? Santa Rita é só um exemplo! Isso não aconteceria no Brasil caso fosse encontrada uma cidade colonizada por paraguaios onde todos usassem o espanhol como língua oficial.

Além do português, o Paraguai tem, na mesma situação, comunidades que falam alemão, japonês, coreano, chinês e árabe. É a falta de conhecimento da Lei que faz com que alguns indivíduos de comunidades de vez em quando, decidam proibir, que paraguaios falem guarani em seus estabelecimentos. Isso sim dá a maior confusão com um menu variado que inclui a vinda do Ministério Público, acompanhado da Policia Nacional. Nada pode ser mais explosivo!


Quando se trata de política linguística, veja o ranking linguístico nas Três Fronteiras:


1º Lugar: Paraguai (Possui política nacional linguística)


2º Lugar: Argentina (as províncias podem ter políticas linguísticas. Misiones e Correintes são exemplo em  relação ao guarani)


3º Lugar: Brasil (Algumas ações isoladas, de educação indígena no nível estadual)  


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