domingo, 29 de junho de 2025

Parece que foi ontem. E agora?

Agorinha, ainda (aún) é hoje, 29 de junho. Faz exatamenete uma semana em que os fiéis que frequentam a Catedral Diocesana Nossa Senhora de Guadalpupe em Foz do Iguaçu foram surpreendidos com a presença do coral e orquestra da Capela de Música de San Ignacio Guazu, Misiones, Paraguai. 
O vídeo abaixo mostra momentos da missa já histórica na Catedral Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira da América Latina. A música tocada é a Ára Valeháva  seguida pelo canto "Gloria, Gloria a Dios en el Cielo" com a maestra de Capela, Aracelli Vallejos no piano.



O padre Gabriel Goulart deu as boa vindas aos visitantes do Paraguai e apresentou o grupo musical aos fiéis da paróquia localizada na Vila A lendo uma nota passada a ele com dados. Incluia o nome do Grupo e data da fundação: 1622. 
É isso mesmo? - perguntou o padre. 

A resposta veio dos músicos que confimaram a data. Esse foi o ano em que o padre jesuíta francês Luis Berger criou a primeira Capela de Música ou Capela Musical em San Ignacio Guazu. 
Os jesuítas foram expulsos em 1767, toda a região das antigas missões ficaram sem padre, sem igreja até próximo do início dos anos 1900. Os jesuitas voltaram ao Paraguai em 1927. O País vizinho devolveu as propriedades e deu liberdade ao crescimento e trabalho da ordem. 

Na extensa cronologia após a volta dos jesuítas, são importantes os  anos 1970 com a descoberta de milhares de partituras de músicas barrocas muitas delas escritas por compositores anônimos e indígenas, na região de Chiquitos, região também colonizada por jesuítas na Bolívia. 

Musicólogos de todo o mundo correram para estudarem as partituras. Causou alvoroço partituras escritas em guarani - uma delas cantadas na Igreja Nossa Senhora de Guadalupe e nas Cataratas, a já mencionada, a Ára Valeháva. 
Entre os pesquisadores, o destaque no Paraguai vai para o maestro Luis Szarán que em 2022, em consonância com a estrutura jesuíta do país decidiram recriar a Capela Musical de San Ignacio Guazu. 

É a Capela Musical que veio a Foz do Iguaçu e que brilhou como uma das  principais atrações do Make Music Brasil 2025, se apresentando nas Cataratas do Iguaçu, na Igreja Nossa Senhora de Guadalupe e no auditório da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro na Vila Yolanda onde aconteceu um Workshop ou Oficina (Taller) dirigido a músicos e amantes da música. 

Foi quando houve um encontro com o coral Avá Guarani da Aldeia Arapy de Foz do Iguaçu - um dos momentos mágicos. Lembrando o padre David Hernández, SJ, curador do Museu de Arte Jesuítico-Guarani de San Ignacio Guazu, essas atividades de intercâmbio de experiências recebe o nome de "Taller Vivo" ou "Oficina Viva" do Museu. 

O grupo também se apresentou para os hóspedes do Hotel DoubleTree by Hilton a convite da gerência e igualmente a convite da gerência da churrascaria Galpão Gaúcho. Uma publicação com agradecimento a todos os colaboradores virá em breve.         

Lembrança pessoal

Quando assisti, pela primeira vez a apresentação do coral da recém formada Capela Musical em San Ignacio Iguazú em 2023, na Igreja local, passou voando e aterrissou na minha cabeça a ideia: Foz do Iguaçu tem o "direito" de escutar essas músicas. 

Eu me encontrava na minha mais perfeita ignorância. Publico aqui o vídeo que fiz do ensaio em uma época muito difícil. Eu estava enxergando pouco e o meu celular enxergava menos ainda. Além disso há aquela estranha sensação comum a quem não sabe quem é quem em um novo lugar. 

A música se chama "Ára Valeháva" é uma daquelas músicas dos anos 1700 de compositor anônimo encontrada na Bolívia e que hoje formam parte dos Arquivos de Chiquitos, nas "ruínas" jesuítas da Bolívia, várias delas Patrimônio Cultural Mundial. Eu pensava que a cantora principal Gabriela Árias, da música anterior (* ver abaixo), era uma aluna adiantada. Mas na hora de tocar o pequeno trecho que consegui gravar ela era a condutora. 

Na hora, como todo jornalista deve fazer, me aproximei do lugar por onde ela tinha que passar, me identifiquei como jornalista da grande Foz do Iguaçu, e solicitei uma entrevista. Conversamos rapidamente mas como ela é uma pessoa humilde e de bem com a vida ela falou sobre a música, disse que era professora e só. O que descobri depois e há poucos dias é que Gabriela Árias não era só professora. Ela é a pessoa designada pelo maestro Luis Szarán  para formar, treinar e profissionalizar  a Capella Musical de San Ignacio Guazu nos seus inícios.    

                Acima, um pequeno trecho da música Ára Valeháva com Gabriela Árias na regência.


O trecho da música anterior na qual Gabriela Árias é a voz principal regida pelo maestro Ian Szarán

Um pouco de história

Antes do padre Luis Berger fundar a Capela Musical de San Ignacio em 1622, há registros segundo a arqueóloga e professora Claudia Inês Parellada, da fundação de uma escola de música na Missão de Nossa Senhora de Loreto em 1619. Cito um trecho com citações dela:
"Em Loreto foi criada em 1619 uma escola de canto coral, música e dança com a chegada do padre belga Jean Vaisseau, que era músico e formou um coro com cantores índios que alcançou reconhecimento na Bacia do Prata, ensinando-os a tocar vários instrumentos. Os padres Claudio Ruyer, um dos fundadores da missão de Santa Maria La Mayor, e Louis Berger também ensinavam a música, e havia aulas de escultura, pintura e arquitetura" (Techo, 2005/1673; Furlong, 1962)

A Nossa Senhora de Loreto a que a citação se refere não é a que se encontra hoje em Misiones, Argentina. Trata-se, pelo visto da Missão de Loreto no rio Pirapó em Guayrá no atual estado do Paraná atualmente dentro dos limites  do município de Itaguajé, a 120 km +- de Londrina.   

E agora?

A ideia agora é resgatar a história do Paraná já que as antigas reduções de Loreto e San Ignacio Mini do Guairá (Paraná) foram transferidas para a atual Argentina. Além de resgatar a história o importante é resgatar o orgulho de pertencermos a essa história e que Foz do Iguaçu assuma seu lugar com parte dos Povos das Missões. Atualmente considera-se 30 Povos das Missões. Sugiro que pensemos em 30 povos + 4: Puerto Iguazu-Foz do Iguaçu, Hernandarias e Presidente Franco, já que aqui exisitu três missões. Mas isso conversamos depois.  Em 2026 ano em que as Reduções das Cataratas completam 400 anos, tem mais!           


Nenhum comentário: