terça-feira, 26 de agosto de 2025

Pílulas de história: quando Foz teve um Porto Francês no Rio Iguaçu


O nome da foto acima é Plano Gráfico del Gran Salto del Iguazú. Ela foi trazida à minha atenção pelo colega fã de história e cultura, Paulo Rigotti. O  plano gráfico é rico em informações. O ano é 1899. Misiones ainda era Território Federal. Além de mostrar o Gran Salto del Iguazu, o desenho mostra a desembocadura do Rio Iguaçu no Paraná que no mapa é  chamado de Alto Rio Paraná e mostra a Colônia Militar do Iguaçu. Agradeço ao Rigotti por ter trazido a foto à atenção da comunidade. Porém o motivo desta publicação é destacar a "obraje" que aparece no mapa entre a desembocadura (foz) do rio Iguaçu e o rio São João. Note que a distância está fora de proporção. Confira a próxima imagem-detalhe, logo abaixo.


No dia em que comentei sobre a postagem do Rigotti, o amigo Andrés Candia, perguntou se essa obraje teria sido a do temido Julio Allica. Eu não sei. Mas me inclino a pensar que não já que o Allica era o dono do Porto Artaza e região, rio Paraná acima, na região de Porto Mendes. A maioria dos textos sobre Allica diz que ele era hispano-argentino. Eu digo, basco-argentino como muita gente era  naquela época com muita presença em Misiones. 
A família de  Allica pode ter vindo de um de três povoados chamados Artaza em espanhol e Artatza na língua basca (euskera).  Um na província de Álava, outro em Navarra e o terceiro  não lembro onde ouvi falar dele. O maior desses povos não tem 200 habitantes hoje. Merece estudo o Senhor Júlio Tomás Allica e identificação da Artatza que o inspirou a dar nome a sua fazenda à beira do rio Paraná. 
Porto Francês (Histarmar)

De volta à obraje 
Prefiro acreditar que a obraje do mapa pertencia aos irmãos franceses Jules-Joseph e Raymond Robert de Blosset (José y Ramón Robert de Blosset). O nome de família era Robert de Blosset!  O local dos irmãos Blosset era conhecido como Porto Francês no Porto Meira ou talvez mais para cima no rio Iguaçu entre o Remanso Grande e o rio São João. Os Blosset tinham status de comerciantes residentes e estabelecidos na Colônia Militar já que possuíam negócios físicos como uma Casa de farinha e um alambique, plantavam cana e madioca. 

O chefe da Mesa de Renda (receita estadual) na Colônia Militar elogiou os empreendimentos Blosset quando comparados com outros "colonos" mais especulativos. Os irmãos Blosset, fato não muito conhecido, também tinham um comércio na sua obraje e entre os clientes estava a Colônia Militar. Digo isso porque há um decreto de 1905 pelo qual o Governo autoriza um crédito especial para que a Colônia Militar pague aos irmãos Blosset por produtos fornecidos. 

O decreto que autoriza pagamento aos irmãos Blosset

Mas tem ainda três tópicos nesta pequena nota sobre os irmãos Blosset que ainda quero trazer à tona.  Primeiro, na mesma área ou próximo à ela, onde estavam os negócios Blosset aparece um outro nome ligado à obraje.  É alguém chamado Ivan Poujade. Poujade trabalharia com os Blosset ou os Blosset trabalhariam com Poujade em alguma parceria? Poujade é um sobrenome francês o que parece assentar bem com o nome do Porto Francês que começa a parecer com uma  uma mini colônia francesa na região do Porto Meira.  

O autor do Plano Gráfico dos Grandes Saltos do Iguaçu, um suíço, diz que foi ajudado por Poujade para encontrar a picada que levaria às Cataratas. Uma picada para peões da erva mate e da madeira. Isso é interessante. Será esta a mesma picada ervaterira que Edmundo de Barros franqueou aos componentes da expedição que trouxe entre outros a Senhora Victória Aguirre Anchorena?

O segundo tópico é Joseph Blosset como cônsul da França em Posadas  além disso foi prefeito comissionado da minúscula Posadas entre entre 1900 e 1904. Foi responsável por trazer eletricidade para a cidade. Quando Joseph Blosset era prefeito em Posadas ele já tinha negócios no Porto Francês, Foz Colônia Militar. A dica para a afirmação é aquele Decreto 1.359 do presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves foi assinado em julho de 1905.  

Na história de Posadas o nome de Joseph Blosset foi eternizado em um bairro  chamado Villa Blosset cujo aniversário de 120 anos foi celebrado com o laçamento de um livro. . Cheguei a perambular nele quando ninguém sonhava que um dia haveria Yacyretá, a hidrelétrica.  No princípio um bairro de baixa renda que sobreviveu até ser transferido para áreas mais altas da cidade antes da inundação da parte baixa pelas águas da Usina. Hoje, Villa Blosset continua lá só que já não tão baixa renda. 

O terceiro tópico é quem desenhou o mapa / Plano dos Grandes Saltos do Iguaçu? Resposta: Louis de Broccard, um suíço de fala francesa nascido em 8 de maio de 1866 em Friburg (Fribourg), Suíça. Chegou em Buenos Aires em 1889 trabalhou em uma fábrica e foi taxidermista para o Museu Nacional, já que eleera bom nisso.  Mais tarde realizou várias viagens e expedições já deciado à fotografia. Em uma dessas expedições ele passou pelas Três Fronteiras histórica. Graças a esta expedição temos hoje um grande legado fotográfico. 

O material se encontra no livro "Louis de Boccard: Um fotógrafo suíço na Tríplice Fronteira 1889-1956” de autoria de André Heráclio do Rêgo e Rubén Capdevila com o apoio da Embaixada Brasileira em Assunção, Itaipu Binacional, Museo del Barro, Museo Hrisuk e Biblioteca Nacional Paraguai. Louis de Broccard morreu ma cidade de Areguá, Departamento Central Paraguai, em 30 de abril de 1956.

Consulte seu livreiro ou seja a Livraria Kunda em para quem é de Foz. Uma versão bilingue em pdf está AQUI 

 
     


Jules-Joseph (José) Robert de Blosset

José y Ramón Robert de Blosset

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