sábado, 14 de março de 2009
Ser Fronteiriço: Introdução a uma história não-oficial das Três Fronteiras
História das Três Fronteiras - Primeira Parte
Estas duas fotos de Nei de Souza mostram momentos da realidade da fronteira que estão pouco a pouco viajando para a história. (coloquei varias fotos e textos sobre o assunto em um blog meio abandonado que tenho. Clique aqui para vê-lo) Quer ver uma versão da Dança do Quadrado no Youtube?
Viver na fronteira é sentir-se participando da Dança do Quadrado (Ado-a-ado cada um no seu quadrado). Você tem que dançar e fazer um monte de coisas mas sem sair do seu quadrado. O pessoal de Foz tem o seu quadrado. Ciudad del Este tem o seu quadrado. Puerto Iguazú também tem. Fronteira é cerca, povo é gado e país é curral. Assim se divide a humanidade. O quadrado do outro é proibido. Exceção? O comércio! Fronteira é lugar de ganhar dinheiro. Analfabeto com quatro carros do ano na garagem. Daí o contrabando, o descaminho, as profissões malucas: laranja, mulas, formiga, passeiro, nadador recuperador de caixas, bicicleteiros, cigarreiro e outras. Um vereador do quadrado de Foz (Tadeu Madeira) até propôs o "seguro desemprego do laranja".
Fronteira vem da diferença. O Mercosul que tem como meta acabar com o charme do ilícito nas fronteiras supranacionais chama esta "diferença" de "assimetria" - e elas estão identificadas e mapeadas. Em blocos de nações integradas do estilo "União Européia" as fronteiras não têm mais serventia. Tudo está normatizado. Tudo igual. Futuro? O Brasil construiu uma Nova Aduana em Foz e o Paraguai está trabalhando na dele ( Os EUA financiaram a nossa, nós financiamos [em parte] a do Paraguai); As duas serão absoletas um dia quando tudo estiver harmonizado.
Morar na fronteira não significa mente aberta. A menina de Foz sabe tanto do Paraguai quanto sua colega de Vitória. O muro funciona. O pessoal de Foz não fala mais espanhol que a galera de Curitiba. O ensino de espanhol usa livros feitos em São Paulo. As escolas têm o mesmo convite lenga-lenga: Inglês e espanhol - matrículas abertas. Os professores de espanhol são brasileiros ou pelo menos devem possuir um diploma brasileiro. O diploma precisa ser reconhecido pelo MEC do Brasil. Ou ainda precisa ser revalidado. A cerca existe! O diploma de letras do Paraguai não serve.
No outro lado do rio onde argentinos e paraguaios dançam nos quadrados de Puerto Iguazu e Ciudad del Este, acontece a mesma coisa. Por que não há professor brasileiro ensinando português lá? Por causa da cerca! Os livros usados em espanhol que se vende em Foz vem de São Paulo e Curitiba e não da Calle Corrientes - a rua do livro em Buenos Aires, por exemplo. Não há contrabandista de livro.
Grande porcentagem dos bailarinos do quadrado de Foz não consegue traduzir a frase: "o professor é dono da garrafa de Coca-Cola". O povo de bem da fronteira não tem contato com seus equivalentes do outro lado da cerca que delimita o quadrado que separa os currais. O ladrão, o traficante, o traficante de mulheres, os matadores têm. São mais integrados que a população do bem. O professor de matemática de Foz, não conehece nenhum professor de matemática de Ciudad del Este - alguém a quem possa chamar - "amigo" e derramar lágrimas no seu ombro.
Um vereador de uruguaiana, defendendo a integração, lovou certas fronteiras do Rio Grande do Sul com o Uruguai onde há casas construidas na fronteira. A cozinha no Uruguai. A sala no Brasil. Uma vantagem e tanta aproveitada por quem? Pelos professores dos dois países? Pelos médicos, que aproveitam para fazer consultórios onde atendem pelo SUS e pelo ISS (Instituto de Previdencia Social)? Pelos músicos com suas bandas? Pelas bibliotecas binacionais?
Provavelmente, tal iniciativa seria monopólio do trambique binacional ou transfronteiriço. (A lei sabendo disso, proibiu construções a menos de 50 metros da linha de fronteira. É uma faixa que se não estou com amnésia soa como faixa "non-construendis"). E como as fronteiras atraem trambiqueiros de todo o país?!! Quando a pau quebra, a fronteira paga. Mas o contrabando é nacional. Os patrões dos diversos tipos de laranjas de Foz estão nos grandes centros brasileiros: São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia e muitas outras cidades.
A vergonha é que até hoje, os prefeitos que lideraram a Dança do Quadrado de Foz do Iguaçu, desde Jorge Schimmelpfeng até o atual prefeito Paulo MacDonald Ghisi, foram tão ruins na promoção de uma base econômica digna para o quadrado iguaçuense nesse pontinho do Oeste do Paraná. A vergonha é ser prefeito de uma cidade onde laranja é profissão.
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2 comentários:
Jackson, muy buen artículo, la verdad que tienes toda la razón, porque en los discursos oficiales internacionales se habla de integración e interacción, pero es como lo planteas tu. Eso queda únicamante en la teoria, en la práctica es cada uno fronteras adentro. Y la analogía con el cuadrado fantástica. Saludos!!! sigue así!!
Jackson. Y qué pasa cuando los jóvenes de Foz quieren "quebrar" su quadrado. Como estos valientes que vienen a estudiar Gastronomía a Puerto Iguazú, sacrficándose en horas avanzadas de la noche. No encuentran ómnibus para regresar y todos los días hay un inconveniente diferente en los controles fronterizos. Claro está que no vienen a estudiar para "laranjas". Vienen para ser más útiles al desarrollo turístico de nuestra región compartida.
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