quarta-feira, 13 de maio de 2015

Preços dos serviços da Natureza: preço, valor ou ilusão?

Richard Buckminster Fuller (12.07.1895 - 01.07.1983) Foto: Dan Lindsey


Jackson Lima

Foi notícia esta semana a queda do preço da extração do petróleo do Pré-sal: US$ 9.00, o barril. Política e economia à parte, fiquei chateado. O preço de extração do petróleo é diferente do preço real do petróleo para o Planeta. Várias notícias em jornais chegam até a dar um valor para o pré-sal: US$ 20 trilhões. O que Não levamos em consideração é o preço real do petróleo segundo a natureza, isto é, o preço baseado na quantidade de energia que o planeta gastou para chegar ao pré-sal, aos campos de petróleo em terra e aos campos explorados hoje pelo método fracking. 

Richard Buckminster Fuller, visionário, designer e escritor americano contou, em 1974 em uma mesa redonda organizada pela National Geographic Society para discutir o Bicentenário dos Estados Unidos: 

"Eu pedi a um geólogo notável que me fizesse um estudo sobre quanta energia o Planeta gastou para fazer o petróleo. Descobrimos que, ao longo de éons ,a natureza gastou um milhão de dólares para produzir um galão de petróleo". 

Ele acrescentou: "Toda essa gente indo para o trabalho de carro está gastando dois a três milhões de dólares por dia, segundo essa contabilidade da natureza". Buckminster Fuller chamou isso de "Contabilidade Cósmica." 

Está havendo uma verdadeira guerra no mundo do petróleo. Em questão está o preço da extração do barril. Os Estados Unidos conseguiu extrair petróleo pela metade do preço mundial que andava na casa dos US$ 80 por barril graças ao fracking - uma técnica que equivale a um estupro violento do Planeta. Graças ao fracking, os EUA fez na área do petróleo o que não se conseguia fazer em 50 anos e de quebra conseguiu não só satisfazer a demanda interna como até exportar. Daí veio toda a confusão. 

Vendo os preços americanos caírem, a Arábia Saudita deveria ter baixado a produção para equilibrar a oferta e a demanda. Era isso o que o mundo esperava para manter o sistema funcionando. A Arábia Saudita não fez isso, manteve a produção e ameaçou aumentá-la. Agora, o anúncio do Brasil de um petróleo com custo de extração de US$ 9.00 por barril, promete esculhambar mais ainda a volatilidade desse mercado mundial muito perigoso. Note não é o peço do barril à venda, é o custo para extrair.

É briga de gente grande por isso o brasileiro necessita ter muito cuidado quando o assunto é petrobrás porque nesta guerra só está em pé quem aspira a ser potência: Arábia Saudita, Brasil, China, Estados Unidos e Rússia. A situação é complicada, os predadores de todos os lados foram desentocados.  Mas todos esses números são da exploração para a extração do petróleo. Há quem diga que isso é um roubo, uma pilhagem do planeta. A abordagem deste texto é ambientalista (ecoespiritual, ecofilosófica) não é oposição política à presidenta do Brasil Dilma Rousseff, ao Presidente Barack Obama, ao presidente russo, Vladimir Putin ou à Casa Real da Arábia Saudita. 


US$ 5.4 trilhões em subsídios até o final de 2015


Este relatório do Fundo Monetário Internacional destacado pelo The Guardian  revela que os governos do mundo vão gastar 14.5 bilhões de dólares por dia em 2015 em subsídios aos combustíveis fósseis. Segundo o gráfico do The Guardian (acima) isso corresponde a US$ 600 milhões por hora; US$ 10 milhões por minuto ou US$ 168 mil por segundo. No total, em 2015, os governos gastarão US$ 5.3 trilhões em subsídios à indústria dos combustíves fósseis.  "E muito mais do que os governos do mundo gastam em saúde", diz o jornal britânico.Os subsidies, segundo o FMI são tanto "explícitos" como "externos" ou seja aqueles na forma de danos e prejuízos  à saúde e ao meio ambiente originados da queima e exploração de petróleo, gás e carvão (combustíveis fósseis). Só o carvão reponde por um milhão de mortes prematuras por ano. Esses custos entram na conta das “externalidades”. O FMI diz que se forem retirados todos os subsídios diretos e explícitos o preço a ser pago pelos consumidores seriam enormes – e isso sem pensar em taxar a indústria  por conta dessas "externalidades". (Assinantes do Wall Street Journal podem conferir este assunto aqui.    



RSBS

Outros serviços - Se todos os "serviços prestados" pela natureza fossem contabilizados monetariamente, o valor da fatura seria em torno de US$ 60 trilhões por ano segundo um estudo publicado na revista Nature em 1997 liderado por Robert Constanza com a participação de um grupo de cientistas de vários países.  O título oficial do trabalho é “ O valor dos serviços do ecossistema mundial e o capital natural” (The value of the world's ecosystem services and natural capital). 

O estudo calcula o valor de 17 serviços ambientais para 16 biomas. Não é o levantamento da biosfera completa que segundo os pesquisadores  a maior parte dela ainda está fora do mercado. Os 17 serviços custaria entre US$ 16 e 54 trilhões por ano com uma média de US$ 33 trilhões. Os autores lembram que o Produto Bruto Nacional (PBN) global seja de US$ 18 trilhões por ano. O PIB atual do Brasil está na casa dos US$ 3 trilhões (Há diferença entre PIB e  PBN). 
 

O conceito de “serviços da natureza” refere-se aos benefícios para a humanidade gerados pelo ecossistema. Eles se dividem em quatro categorias: Produção, Regulação. Cultural e de Suporte. Os Alimentos, água doce, fibras, produtos químicos, madeira estariam na categoria serviços de produção.  O Controle do clima, polinização, controle de doenças e pragas estariam dentro dos serviços de regulação (ver gráficos acima).

A categoria de serviços culturais incluem aqueles benefícios  intangíveis obtidos dos ecossistemas como os benefícios religiosos, culturais, sociais, patrimoniais e paisagístico. O gráfico da UNEP, acima, inclui a recreação e o ecoturismo na lista dos serviços culturais: caso das Cataratas / Parque Nacional, Pantanal, Amazonas, praias e parques.

Por último e de muita importância vêm os Serviços necessários para a produção de todos os outros serviços ecossistêmicos como a ciclagem de nutrientes, formação do solo, a produção primária. Note que o gráfico da RSBS (em ingLês, acima) aborda a ideia de valor dos serviços dos ecossistemas e, indo além, o gráfico aponta o valor de uso e o valor de não-uso desses serviços.  Note que há três valores de uso e dois valores de não-uso. Abordaremos este tema na parte dois desta postagem.

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