quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Iemanjá foi homenageada em Foz do Iguaçu: lembrando da Vó Bendita


Chegada do Cortejo ao Iate Clube Cataratas 
O Rio Paraná estava bonito, corria calmo e parecia um espelho hoje à tarde, dia de Iemanjá a Rainha do Mar, das Águas e dos Rios. A comunidade do candomblé e umbanda de Foz do Iguaçu não deixou passar o dia em branco. Não foi tanta gente como em Salvador na Bahia e nem tantas como em Macapá no Amapá onde segundo a Rede Amazônica a meta era reunir 300 terreiros nas homenagens à Iemanjá. Conversando com a Mãe Amanda de Oxum, ela destacou que várias casas participaram mas lembrou que a participação está aberta a todas as casas de Foz do Iguaçu que são muitas. Uma coisa interessante no candomblé e umbanda de Foz do Iguaçu é a presença de paraguaios e argentinos na fé e na maioria das casas. 


Texto foi aualizado a partir daqui

O fato já começa a interessar a antropólogos da UNILA. O motivo é que o candomblé acontece em iorubá - uma língua africana. O fiel paraguaio tem que aprender todo ritual, canções, saudações e terminologia em iorubá. Como o paraguaio também fala guarani, é normal escutar as conversas particulares e sociais em terreiro iguaçuense em português, espanhol e guarani.          
Em direção ao embarque para parte fluvial da procissão
Voltando à festa de Iemanjá do dia 2 de fevereiro em Foz é bom registrar que pela segunda vez consecutiva, o cortejo fluvial à Rainha das Águas, dos Rios e do Mar partiu do Iate Clube Cataratas, às margens do rio Paraná. E, pela primeira vez, desde que a Vó Benedita de Macedo idealizou, realizou e instituiu a Festa de Iemanjá em Foz do Iguaçu, o Cortejo, carreata ou procissão deixou de sair do Centro de Foz do Iguaçu. Este ano, os filhos (membros) da casa, saíram da sede do templo ILÉ ÀSÉ IGA ODÉ (nome em iroubá), na Rua das Dálias, no bairro do Porto Meira. Depois do cortejo no rio Paraná, os participantes ou seja os filhos e amigos da  Mãe Amanda (Vieira) de Oxum voltaram para a sede do ILÉ ÀSÉ IGA ODÉ onde foi "tocado candomblé" e realizado uma grande festa. Outra mudança que o Blog de Foz registra tem a ver com a Capelinha de Iemanjá construída pela comunidade em 1972 às margens da estrada que, até a construção da Ponte Tancredo Neves (da Fraternidade), dava acesso ao local onde se lançava os barcos no rio Iguaçu. Hoje, área de acesso restrito controlada pela empresa concessionária do Porto de Areia. Nas cerimônias tradicionais, a imagem de Iemanjá era deixada na capelinha sob o olhar de todos os participantes. É uma tradição que se vai em Foz do Iguaçu, terra onde toda lembrança é varrida para debaixo do tapete onde tipicamente se passa a borracha e as coisas são como se nunca tivessem acontecido. Resumo: um cemitério de memórias.          

Por limitação de espaço só 15 pessoas embarcaram para as oferendas
Isto é muito ruim porque a cidade, aparentemente traumatizada, por este costume, está sempre começando, reiniciando e idealizando a roda. Neste caso, o que foi jogado para debaixo do tapete e que oficialmente nunca existiu foi o Porto Meira - digo o porto, não bairro, não a região. O porto - um importante cordão umbilical do ser iguaçuense quando se trata da cultura do rio Iguaçu que é diferente da cultura do rio Paraná. Dá para entender isso? Logo continuaremos.

Com o calor, houve quem entrasse na água de Iemanjá
A mãe de Santo, a Iarolixá Amanda de Oxum, afirma sempre nas cerimônias e trabalhos do Dia de Iemanjá, que a carreta é parte do trabalho da líder espiritual, pioneira e ativista da religião, cultura e inclusão social do negro em Foz do Iguaçu. Em homenagem à Vó Benedita, publicamos aqui as imagens de uma reportagem publicada no Jornal Nosso tempo de 3 de novembro de 1987. O título: Movimento da Consciência Negra se Organiza em Foz. São duas imagens. A primeira mostra a página inteirado jornal inclusive com os anúncios de lojas e negócios de Foz da época para que o leitor possa contextualizar. A segunda é um recorte do texto que pode ser lido. Basta clicar em cima dele para ampliar um pouco.   

Local de embarque de empresa de navegação foi palco para os atabaques
Vale a pena lê-lo para entender o pioneirismo da Vovó Bendita não só na religião mas também na área da luta contra o racismo lembrando que racismo é ilusão pois "todos somos filhos de Deus".

As árvores, às margens do rio providenciou sombra para diferentes gerações 


Sobre a Vó Benedita e o ativismo pacífico contra o racismo



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