quinta-feira, 15 de março de 2018

Vamos vender o Brasil lá fora! Mas que Brasil vamos vender?

O Blog de Foz republica uma série de notas escritas em 2005 no blog Notas do Turismo e reproduzida em diversos sites e blogs na época entre eles o H2Foz de Foz Iguaçu.
Cartão postal de divulgação do Brasil- a coleção incluiu posters
   
Notas do Turismo # 29 Vender o Brasil
(by
notasdoturismo at 08:25PM (ART) on May 10, 2005)


Hoje vamos falar sobre a “venda” do “Brasil” “lá fora”. O que é que vendemos? O que é Brasil? Por muito tempo vendemos a imagem do corpo de nossas mulheres. Ou melhor vendíamos partes ou fragmentos do corpo delas. Hoje já estamos arrependidos disso. E agora? Que vendemos? O que é o Brasil? 


Vou dividir esta resposta em sete níveis: (1) Brasil Estado, (2) Brasil Nação, (3) Brasil Território, (4) Brasil Governo, (5) Brasil Povo, (6) Brasil Natureza e (7) Brasil Essência. Lembro que nada do que está escrito aqui é uma revelação divina. Parte das respostas vem de Weber. Outras de dicionários e outras fontes. Vejamos:


(1) Estado é uma estrutura política que pretende, com êxito, o monopólio de uso legítimo da força física em determinado território. O Estado é uma relação de homens dominando homens”.

(2) Nação é o agregado de indivíduos que se encontram unidos por uma história comum, costumes, idéias, valores, conservando-se esta unidade pela consciência do povo que a forma.

(3) Território é a dimensão geográfica que abriga a instituição Estado.

(4) Governo é um conjunto de indivíduos, órgãos ou uma cúpula administrativa que estabelece leis, sentenças e promovem a sua execução.
(5) O Povo nós sabemos o que é.O povo é a alma da Nação.
(6) A Natureza – nós temos idéia do que seja. Mas para este propósito, Natureza será aquilo que não foi feito pelo homem, o seu meio, a paisagem, a orografia, a geografia, a hidrologia, a topografia, a fauna e a flora neles.
(7) A Essência, segundo o dicionário é “o que constitui a natureza de um ser, de uma coisa. O que há de fundamental. É o extrato – como no caso de um ótimo perfume. Qual é a essência do Brasil?

Com a exceção do Estado e do Governo, nós podemos vender ou incluir em nossas vendas todos os outros aspectos. O que eu vendo em turismo, vendo mas não entrego. Abro as portas para que “os outros” (os que vem lá de fora) usufruam dos aspectos de minha nação em meu território. Para que desfrutem da música, arte artesanato, literatura, monumentos, cidade, prais, florestas, rios, patrimônios naturais, culturais, intangíveis, para que mergulhem em nosso “Volksgeist” – o espírito da nação (coisa de Weber).


Mas há confusão sobre o que é Brasil. O Estado brasileiro (Federação), sua forma de governo (República), seu regime de governo (Democracia Representativa) e o sistema de administração (Presidencialismo) são todos de origem européia. Como Estado, somos filhos de Portugal e da Europa. Como “Território”, como “Natureza” somos filhos da Terra. Somos o Planeta.


Sinto, às vezes que o Brasil de instituições européias, ainda não fez as pazes com o Brasil natural. Às vezes sinto que o Brasil da Essência foi despejado do território do Brasil República ou que o Brasil ainda não se fez carne e ainda não habita entre nós. É necessário diferenciar entre os diferentes brasis. Um Brasil onde tudo está conectado.


Muitos secretários de turismo e gente do “trade” ao retornarem de feiras internacionais, dizem: “os europeus pensam, que o Brasil só tem índio, mato e bicho”. Eles voltam nervosos. Ofendidos, com a auto-estima baixa. Por quê? Por que foram vender um Brasil europeu na Europa. Um Brasil que na Europa, não consegue competir com a Europa na sua “europaneidade”. Não deu tempo ainda para fazer do Brasil uma cópia exata da Europa (Graças a Deus). Por isso o desespero do Ministério do Turismo em querer que as Cataratas do Iguaçu sejam uma réplica de Niágara com traços da Disneyworld ou Disneylândia. Mas isso só acontece porque o brasileiro não descobriu o “Brasil”.

Uma palmeira pindó (Jerivá) nas Cataratas do Iguaçu
Antes da chegada dos europeus, o País era conhecido como Pindorama – a Terra das Palmeiras. Que palmeiras? O nome já dá uma dica. As palmeiras “pindó” ou “pindova” (pindovy, em guarani). Mas existiam muitas outras palmeiras: açaí, buriti, catulé, carandá Os europeus chegaram na nova terra e não enxergaram “pindovas”. Enxergaram o pau-brasil, que em 35 anos extinguiram. Creio que a diferença de visão começou aí. O Brasil milenar via o pindó. O Brasil europeu viu o pau-brasil. Daí até hoje não sabermos o que o Brasil tem!


Convido a todos ao “desvio” do território conhecido. A que saiamos da mesmice e que conspiremos (co-inspiremos) o Holo-Brasil - o Brasil por inteiro. Haverá mercado? Está na hora de tentarmos!

Nota de março de 2018
Sugiro aos leitores do Paraguai e Argentina que mudem o nome do país, em vez de Brasil, leiam Argentina e Paraguai, pois o problema é o mesmo quando se trata de essência de País.    

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