quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Marcha pela Liberdade Religiosa em Foz: afro-brasileiros nas ruas

QUARTA-FEIRA DO DENDÊ
As quartas-feiras para as religiões de matriz africana ou afro-brasileiras são consagradas a Xangô — orixá da justiça, dos raios, do trovão e do fogo. E na quarta-feira do dia 08/08 em Foz do Iguaçu — assim como em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Londrina — aconteceu a “Marcha das Religiões Afro-brasileiras pela Liberdade Religiosa”. O cortejo partiu da Fundação Cultural, estendeu-se a Praça da Paz e terminou na Praça do Mitre.  A Marcha foi organizada pela internet, principalmente via Facebook e pelo WhatsApp — e usou as palavras-chaves ehashtag: “#abatealimentanãoviolenta #candomblé #umbanda #amorpelosnossosancestrais #fé #religião #juntossomosmaisfortes” “#nóspornós #ubuntu”. 


Neste dia, a partir dás 18 horas, a marcha reuniu religiosas e religiosos que estavam na reunião “Povos de Terreiro e Direitos Humanos” —organizada pela Secretaria Extraordinária de Direitos Humanos e Relações com a Comunidade— e seguiu sua rota entoada por cantigas cantadas pelos povos de terreiro.Participaram cerca de 60 adeptos — de Umbanda e de Candomblé — as mães e pais de santo acompanhados de suas filhas e filhos de santo foram vestidos com roupas de cor branca, caminharam levando faixas, cartazes e também seus tambores nas mãos, cantando e dançando para seus Orixás — Exu, Ogun, Oxóssi, Xangô, Ologunede.
O objetivo desse encontro fez parte de uma mobilização nacional, a manifestação em caráter de cortejo realizou-se em repudio ao Recurso Extraordinário 494601— instrumento queexprime a tentativa de impedir e condenar o abate de animais em ritos religiosos.
A Iyalasé Roberta Aureo de Ogun do Ile Asé Oju OgunFunmilaiyó — uma das organizadoras da Marcha das Religiões Afro-brasileiras pela Liberdade Religiosa — nos explicou: “O orô é a cerimônia em que os animais são sacralizados, é um dos ritos mais importantes, senão o mais importante das religiões de matriz africana. E é um rito reservado quase que exclusivamente as religiosas e aos religiosos. Porque o que as festas e cerimônias públicas apresentam, o que todos podem veré os Orixás e suas filhas e filhos, adornados, dançando e cantando. 

Apesar de muito bonito de se ver, o primordial para nós é o orô, que acontece juntamente com outras cerimônias e ritos. Resumidamente, impedir e ou condenar o orô é inviabilizar as práticas religiosas de matriz africana”. Com isso, impedir que o abate de animais em comunidades religiosas significa o mesmo que impedir a práticas culturais — alimentares e religiosas —dessas comunidades tradicionais. Pois o alimento além de ser oferendado às entidades, também é consumido pela comunidade parte de seus terreiros e axés.
Além do mais, interferir ou criminalizar práticas religiosas é inconstitucional, uma vez que, tal ato fere a laicidade instituída pela Constituição Nacional.Frente à polêmica gerada sobre o tema, no dia 09/08, o Supremo Tribunal Federal suspendeu a sessão que votaria o Recurso Extraordinário (RE) 494601— e continua sem data prévia para julgamento.
Contudo, os povos de terreiro seguem contestando convenções e resoluções sobre toda e qualquer intolerância religiosa e o racismo religioso que visam findar os preceitos de matriz africana e afro-brasileira. E a luta pela liberdade religiosa continua dês da fundação dessas tradições, afinal de contas — como nos ensinou um proverbio consagrado a Exu —“Matamos ontem o pássaro, com a pedra que arremessamos hoje”. 


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Texto de Mauricio Santos e Lays Cunha, antropólogos  e membros do Ilê Asé Oju OgunFunmilaiyó em Foz


do Iguaçu.
Fotos: Lays Cunha

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