Seja escalando montanhas ou simplesmente sentando à sombra de uma árvore e sentindo o toque da terra na pele, é um consenso entre especialistas dos inúmeros benefícios que o contato com a natureza nos dá em termos de bem-estar e qualidade de vida. Seja por questões de saúde física e psicológica, de lazer ou espirituais, a natureza é importante para o ser humano por diversas razões.
E para debater este assunto, o ICMBio, através da Coordenação Geral de Gestão Socioambiental, promoveu o I Seminário de Valores Culturais da Natureza: novos desafios para as políticas públicas de conservação. O encontro começou na terça-feira (2) e terminou na quarta-feira (3) e ocorreu na sede do ICMBio, em Brasília.
O evento buscou abarcar diversas perspectivas sobre o tema, de diferentes coordenações do ICMBio, outros órgãos do poder público, pesquisadores e sociedade. As palestras foram intercaladas com momentos musicais de artistas locais que trouxeram com seus cantos inspirações e os encantos da natureza para o evento.
Uma mesa redonda reuniu servidores do ICMBio para falar sobre os serviços ecossistêmicos culturais prestados pelas nossas UCs: valores recreacionais, turísticos e educacionais; as cadeias de produtos da sociobiodiversidade e os sítios sagrados naturais.
Os servidores destacaram que compreender a dinâmica dos valores culturais é um processo muito importante para a gestão das unidades de conservação, que recebem visitantes com os mais diversos perfis. Há os aficionados por esportes de natureza, famílias que procuram as UCs como opção de lazer, observadores de fauna e flora, pessoas que buscam a natureza como espaços de inspiração e comunhão e aqueles que tem com espaços conexões históricas e identitárias. Conforme ressaltou o analista Fábio de Jesus, da Coordenação Geral de Uso Público (CGEUP), com os diferentes perfis de usuários chegam também diversos desafios para a gestão.
Outro aspecto destacado foi a ocorrência dos sítios naturais sagrados. Segundo uma pesquisa da analista ambiental da Coordenação Geral de Gestão Socioambiental (CGSAM), Erika Fernandes Pinto, são mais de 800 pontos em todo o país, e grande parte deles está em Unidades de Conservação. Sítios naturais sagrados são locais, visitados ou não, que possuem alguma importância simbólica especial para algum grupo social. No Brasil, conforme a pesquisa de Erika, é possível encontrar sítios relacionados com diversas religiões – desde as cristãs (catolicismo, protestantismo), as de matrizes afro-brasileiras e indígenas e até aquelas não convencionais e movimentos nova era.
A cultura dos povos
Reconhecer e compreender as razões pelas quais as pessoas se conectam e se relacionam com a natureza foi uma das principais questões levantadas no seminário, pois a partir dessas respostas, é possível minimizar conflitos, otimizar o manejo dos ambientes ou traçar novas formas de uso da UC, seja trazendo visitantes, seja na formulação de acordos com as comunidades locais.
Diante desta perspectiva, foram convidados outros órgãos que tratam de assuntos transversais à interface entre cultura e natureza, como a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Fundação Cultural Palmares (FCP). Participaram também representantes da sociedade, da Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos Extrativistas Costeiro Marinhos (CONFREM), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Rede Cerrado e movimento indígena.
O ICMBio já trabalha com algumas inserções dos valores culturais na gestão das unidades de conservação. Um exemplo é o Manejo Integrado do Fogo, iniciativa que congrega conhecimentos técnicos e tradicionais prevenindo a ocorrência de grandes incêndios, estratégia que tem tido sucesso no ICMBio, reduzindo o total da área queimada em unidades de conservação sensivelmente.
Outra iniciativa é a implementação da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas (PNGATI) nas áreas de sobreposição com unidades de conservação, que estimulou a celebração de acordos com povos indígenas de forma a compatibilizar suas demandas e interesses com os objetivos de conservação da natureza.O reconhecimento dos valores culturais da natureza, além de agregar riqueza adicional ao patrimônio natural, pode contribuir para aumentar a efetividade de estratégias de conservação, minimizar conflitos socioambientais e fomentar uma agenda positiva que ajude a demonstrar para a sociedade os benefícios dessas áreas, respeitando a diversidade de olhares e formas de interação com a natureza. O seminário representa um primeiro esforço para promover esse debate, que se aprofundará com outras iniciativas promovidas pelo ICMBio voltadas para a gestão das UC.
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