quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Carta a Foz do Iguaçu: convivência com o Parque Nacional do Iguaçu

Comunicado oficial do ICMBio 
Bom dia Foz do Iguaçu:

O dia está chuvoso. No portão do Parque Nacional do Iguaçu há um acontecimento sui generis. O Parque Nacional do Iguaçu – o parque não – o portão de acesso à área de visitação das Cataratas do Iguaçu está duplamente fechado.  Do lado de fora está fechado por profissionais de turismo que protestam, em primeiro grau,  contra a proibição de entrada de veículos no Parque. Do lado de dentro, o ICMBio fechou o parque como protesto ao protesto do turismo. Em nota oficial, o ICMBio afirma que o motivo é a preocupação pela segurança dos turistas e dos funcionários das concessionárias.  

Na verdade hoje é um grande dia e eu espero que o sacrifício dos dois lados sirva para lançar, a partir de amanhã, o alicerce para construção do diálogo e que o assunto seja abordado de maneira profunda.  A coisa toda se resume à economia e dinheiro como em toda parte. A proteção das espécies que é objetivo da Unidade de Conservação vem em segundo plano por isso as onças vem morrendo há tempo, os caitetus, por incrível que apreça foram extintos, ou pelo menos não existem mais em bandos, os veados, os guaribas e as antas são cada vez mais raros por muitos motivos. A caça é um deles; o aumento da população ao redor do Parque é outro e os animais se vêem encurralados. Tudo isso deve ser discutido para que os humanos encontrem uma maneira de ceder espaço para os irmãos animais que estão sendo expulsos do planeta.

Ao meu ver a luta é outra. O ICMBio está lutando com unhas e dentes para proteger, preservar  um documento espúrio e apressado chamado Plano ou Programa de Revitalização do Parque Nacional do Iguaçu elaborado, se é que se pode dizer assim, em 1996 ou 1997. Infelizmente este programa ou plano, ele não se definiu quanto ao que era, só decolou graças à intervenção calculada e fria da chefia do Ibama em Curitiba, na época, com a participação da direção do Parque Nacional do Iguaçu em Foz e a intervenção do Governo do Paraná. A idéia é paranaense.  O documento espúrio foi implantado, enxertado ou introduzido no Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu de maneira irregular o que já  falei nesta postagem anterior.

O Plano de Revitalização do Parque Nacional do Iguaçu nunca tratou da “revitalização” do Parque Nacional do Iguaçu que possui mais de 180 mil hectares de terra. Tratou especificamente da implementação de estruturas físicas para a melhora do atendimento turístico. Foi uma intervenção turístico-econômica protegida graças ao enxerto do Plano de Revitalização no Plano de Manejo.  O Plano de Revitalização do Parque Nacional do Iguaçu é a origem e a causa de todo o problema pois foi feito para criar estruturas a serem entregues à iniciativa privada por contrato. O setor do turismo de Foz do Iguaçu – visto que  Foz do Iguaçu é o único município do entorno que tem um turismo de porte internacional – nunca foi aberta e transparentemente consultado.  

É esta distorção que deve ser corrigida. De um lado o trade do turismo pressiona para que o assunto se torne público e o ICMBio, herdeiro desse problema criado pelo Ibama, assume o papel de defesa e proteção deste documento que não era parte original da “fauna” documental  manejada no processo de criação e implantação de um Parque Nacional brasileiro. Foz do Iguaçu tem a obrigação moral de gritar alto para evitar que o que aconteceu aqui seja levado como um modelo para parques nacionais como Fernando de Noronha, Brasília, Chapada dos Guimarães, Chapada dos Veadeiros, Jericoacara, Abrolhos e todos os outros. É uma oportunidade para que se corrija este “modelo” até para que ele sirva de orgulho a todos os paranaenses. Do jeito que está hoje, não dá.  Esta é a importância deste dia em Foz do Iguaçu.         

            

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