segunda-feira, 19 de julho de 2021

As Cataratas do Iguaçu: Uma escola a céu aberto sobre a Geologia do Planeta (Geossítio Brasileiro)

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Vista das Cataratas do Iguaçu, na aproximação ao primeiro mirante (na realidade segundo) em frente ao Hotel das Cataratas, Foz do Iguaçu
 
 

"A geologia está por toda a parte ao nosso redor e embora quase não notemos no dia a dia, ela afeta tudo o que fazemos como civilização, como sociedade e como indivíduos.  Preservando registros de criaturas e paisagens tão antigas como esquecidas, nossa história está escrita em pedra aguardando para ser lida" ─  Jack Share em seu Blog de divulgação de geologia e paleontologia

Vista do paredão da Ilha San Martín. Tenho prazer de apresentar o "basalto colunar"  A ilha estã no lado argentino das Cataratas e é vista do Primeiro Mirante (segundo) do lado brasileiro. Clique na foto para ampliar (JL)

Dizem, os entendidos, que não existe uma geologia das Cataratas. Que o que existe é a geologia da Terra e que como parte da terra, para entender as Cataratas, é necessário entender a Terra. 

Por isso para contar a história das Cataratas, geralmente o contador desta história tem que falar da Rodínia, da Pangea, da Gondwana, da abertura do Oceano Atlântico, da separação da América do Sul e da África e dos derrames de lava do período cretáceo. Isso dá mais de um bilhão de anos. Vamos fazer tudo isso aqui também. Mas vamos inventar tentando começar do fim. Começando de você  em sua visita às Cataratas. 

Um moderno barco subindo um rio ao lado de rochas que a natureza levou dezenas de milhões de anos para esculpir

Você está a bordo de um barco que faz o passeio chamado Macuco, pelo lado do Brasil das Cataratas e Gran Aventura pelo lado argentino do Parque Nacional Iguaçu / Iguazu. De dentro do barco, você vê águas caindo de ambos lados da embarcação. O barco navega sobre águas rápidas e violentas no meio de um corredor ladeado por paredões de pedra. 


Pedra não. Não existe pedra, o que existe é rocha, diria qualquer geólogo.

Primeira lição, a ficha caiu.  Mas não é qualquer rocha. Se chama basalto. Basalto é lava de vulcão resfriada ao ar livre, em contato com o vento e água. Portanto o basalto é uma rocha vulcânica. Dizer que a rocha das Cataratas é vulcânica ajuda a contribuir para a confusão. Se a rocha é vulcânica, onde ficava o vulcão que explodiu? Resposta: em lugar nenhum. Não era um vulcão desses que tem forma de cone, explode e a lava desce pelas paredes levando tudo que encontra pela frente.


O vulcanismo que gerou as rochas das Cataratas e de mais da metade do Paraná se chamava "vulcanismo de fissura". Fissura quer dizer fenda, rachadura. A terra rachava e a lava jorrava para a superfície. Cada jorrada de lava era chamada de derrame e os derrames aconteciam em diferentes camadas. Os geólogos sabem extamente quantos derrames foram e cada derrame tem uma idade e um nome.


 
Rafting - descida a vários remos, em botes flexíveis, para aproveitar a visão de perto das rochas erodidas e trabalhadas por forças "nativas" como a água, o vento, a areia. Tudo provoca um efeito rico em adrenalina para aqueles que se encontram na situação acima: não tenha pena deles! Amplie a foto e observe o formato hexagonal da rocha "formato coluna", indicado pela flecha amarela. Em alguns lugares como neste Patrimônio Mundial este formato predomina (Marcos Labanca/Macuco) 


Do barco olhando para as rochas, o navegador de hoje verá que o paredão parece muito  acidentado. Em alguns lugares é possível ver blocos enormes de pedras que se juntam, deixando ver, entre eles, espaços vazios ou rachaduras e parecem não ter uma direção. A esses encontros de rochas, os geólogos chamam de "disjunção" em português e não sabemos porque carga d'água, os geologos de fala inglesa chamam de "junção". Essas junções podem ser horizontais ou verticais. Em lugares se pode ver claramente que essas junções se formam em espécies de colunas. Para dar mais gosto e sabor à discrição das Cataratas, vamos usar o termo "disjunção colunar" ou ainda Basalto Colunar da Formação Serra Geral (Columnar Flood Basalts of the Serra Geral Formation) no caso do imenso campo de lava na América do Sul.  

Antes de entrar nessa história de basalto colunar, vamos destacar que Serra Geral não é o nome de uma Serra e nem de um lugar. É o nome de um daqueles derrames, uma formação geológica que cobre mais de 1 milhão de quilômetros quadrados no Centro Sul do Brasil e adentrando o Paraguai, a Argentina e o Uruguai.Outros exemplos de lugares na formação Serra Geral com beleza de cair o queixo incluem a Serra do Rio do Rastro (SC) que tem, no topo, as mesmas rochas das Cataratas "montadas" sobre outras 16 formações diferentes visíveis e identificadas por marcos para quem se dispuser a ver. Há 17 marcos mostrando as diferentes formações ou camadas geológicas diferentes.   

Vamos jogar lenha nessa fogueira e dizer o seguinte: olhem bem para as rochas para ver que os padrões da geomorfologia das Cataratas são de construção simples. Simples? Como dissemos que geologia é coisa do planeta inteiro, não é a complexidade da colunas de basaltos (ou basalto colunar) que dá notoriedade (fama) à formação rochosa das Cataratas.

Monumento Nacional Devils Postpile (Califórnia, EUA). É ou não é um "pavão" do mundo rochoso?

Há diversos lugares no mundo com rochas basálticas colunares e que se exibem muito mais do que as rochas das Cataratas. São uma espécie de "pavões" do mundo rochoso. Tomemos como exemplo a formação rochosa conhecida como Devils Postpile na Califórnia (acima), um cenário de disjunção basáltica protegida pelo Serviço de Parqes Nacionais (SPN) dos EUA sob a categoria de Monumento Nacional. Ou, ainda nos Estados Unidos e também protegido,  a Torre do Diabo onde ocorreu, pelo menos para o cimena, o primeiro Contato Imediato de Terceiro Grau entre humanos e extraterrestres. 

 

Detalhes do basalto colunar na Cachoeira Negra (Svartfoss) na Islândia. Foto de Regína Hrönn Ragnarsdóttir (Este link abre portas para o mundo basáltico da Islândia registrado pela travel blogger e contato local Regína Ragnarsdóttir. Em inglês)

A Europa possui ainda vários exemplos na Irlanda, Sicília e Portugal. No Paraguai existe um bom exemplo de disjunção colunar só que formado em região de arenito. É conhecida como Cerro Kõi próximo a Assunção. Cada um exibindo formas de diferentes modelos que faz a festa dos olhos de profissionais e turistas de todo o mundo. 

Um bom exemplo de disjunção colunar na família das cachoeiras é a Cachoeira Svartfoss  no Parque Nacional Vatnajökul na Islândia. Igual a "Iguaçufoss", a Svartfoss (já manjou? "foss" em islandês significa "falls" ou cachoeira) está situada em terras negras basálticas vulcânicas daí vem o nome da cachoeira: Svart (Negra) foss (Cachoeira). Preste atenção no formato das colunas que lembram esculturas humanas aprimoradas como os tubos de órgãos clássicos presentes em grandes igrejas ou catedrais.

A essa altura você já entende por que dissemos que o formato das colunas basálticas das Cataratas do Iguaçu não parece tão complexo como as de outros exemplos no mundo. Dito isto, vamos agora nos concentrar nos paredões das Cataratas do Iguaçu. 

Basalto Colunar nas Cataratas do Iguaçu 
 

Trecho do paredão entre a extremidade da Ilha San Martín e os Saltos Mosqueteiros. Ótima exposição de basaltos colunares. As rochas estão sendo observadas a partir do lado brasileiro 
 
Colaboração internacional

No final de 2020, publiquei uma série de postagens (uma é esta)  pedindo socorro aos geólogos do mundo para ajudar a entender o formato das rochas dos paredões das Cataratas do Iguaçu. Não obtendo resposta via blog, passei a contatar geólogos que estiveram nas Cataratas do Iguaçu e que escreveram alguma coisa sobre suas viagens. Na pesquisa se destacaram os geólogos Jack Share e Wayne Ranney, ambos dos Estados Unidos da América. Comecei acompanhando Ranney e seu blog sobre suas viagens e observações geológicas.  Ambos mantêm blogs, fazem palestras e trabalham com a divulgação da geologia planetária. Jack Share me respondeu. 

Lendo o material de Jack Share sobre a viagem às grandes manifestações geológicas no Cone Sul tendo com um pré-tour às Cataratas, descobri, com alegria, que Wayne e Jack vieram juntos. Na expedição organizada por uma agência de turismo ligada à sociedade e revista Smithsonian, havia ainda outros geólogos conhecidos. A viagem ocorreu em 2017. A postagem super completa sobre a geologia do planeta onde estão as Cataratas, é dedicada por Jack Share a Wayne Ranney, "quem me ensinou a apreciar o que eu posso ver e o que não posso", afirmava. A viagem contou com a presença de um guia de turismo local de Puerto Iguazú, chamado Eduardo. Enviei o link das minhas fotos a Jack Share. Ele respondeu (ao pé da letra): 

"O que estou vendo em suas fotos, as várias imagens, etc., da fachada vulcânica exposta das cataratas é o resultado da erosão diferencial e perda (wasting) de massa na escarpa da província ígnea.

Como você sabe, existem muitas camadas de derrames de lava separados por vários hiatos em posicionamentos  tipificados por paleossolos, solos sedimentares  e contatos intermediários (inconformidades) entre os derrames. Esses horizontes intermediários são mais suscetíveis à erosão do que os derrames  de lava que os sobrepõem. Além disso, as juntas e falhas na massa de lava encorajam a erosão e o colapso da sobrecarga sobre elas (ver overhangs). 

As imagens que você retrata são criadas por um somatório de todas essas forças que trabalham em conjunto além da erosão superficial induzida pela vazão (fluxo) de água e a carga arrastada por ela e o enfraquecimento (solapamento) nas piscinas (poções) nos pés das quedas (onde mergulham)". Em seguida vejamos alguns dos termos que o professor Share usou:

 Linhas e falhas

Veja as marcas no paredão: " ... camadas de derrames de lava separados por vários hiatos em posicionamentos  tipificados por paleossolos e contatos intermediários (inconformidades) entre os derrames" (Edilma Duarte/Macuco)

 

"... as juntas e falhas na massa de lava encorajam a erosão e o colapso da sobrecarga (sobre elas)". Paredão no lado argentino, visto do mirante dos Saltos Floriano e Deodoro, mostra juntas, falhas,junções horizontais, verticais e, ampliando a foto, pode-se ver diferentes áreas de contato entre diferentes camadas. Período de seca 2020

 Overhangs, que são?

Parecem com cavernas e podem até ser. Ao discutir cachoeiras e Cataratas os geólogos de fala inglesa chamam essa estrutura de "overhang", ou seja que "Pende sobre", sobre o quê? A cabeça. Seria uma espécie de beiral, aba, alpendre ou teto. Os dois beirais que aperecem aqui nas fotos logo abaixo, não são similares a um puxado como aqueles que fazemos em casas e construções. Eles são obras da água. A água cai do topo do leito superior da cascata e se concentra na excavação de poços enormes que por sua vêz mandam esta água de volta para cima e contra a parede. A água caí em verdadeiros piscinões que provocam um vórtex poderoso que começa a comer a rocha por baixo e escavar o que parece com uma caverna. 

Todo este movimento diário e milenar causa o solepamento da estrutura e pode causar o desmoranamento dos "overhangs" (beirais) localizados em áreas de rochas mais frágeis. Esse processo acontece em todos os saltos que  ao lançarem-se para o rio caem antes em diversos poços de mergulho.  O desenho a baixo, feito de meu próprio punho (pode rir), mostra parte da mecânica dos saltos. Primeiro vemos uma estrtura como um teto formado por rochas  duras como o basalto ou o geranito (nos caso das Cataratas do Iguaçu, o basalto) que se sustentam em cima de uma estrurua de rochas mais brandas. A água ao cair, do topo em direção à base do salto, cava uma piscina onde a água mergulha. A água nessa "piscina", tem energia suficiente para corroer a parede de fundo criando uma espécie de "abrigo". Vários abrigos desses podem ser vistos nas Cataratas do Iguaçu e nas fotos abaixo. Os abrigos e a piscina suportam um peso impressionante que varia segundo a vazão de acordo com a estação quer sejam seca ou de chuva quando acontecem as grandes cheias alguma com vazões superiores a 35 mil ou 40 mil metros cúbicos por segundo. Com o passar do tempo, essas cavernas podem desabar pelo processo de solapamento criando uma nova paisagem.     

 

Fiz este desenho para ilustrar e ajudar a enteder as duas fotos seguintes que mostram duas entre várias  "cavernas" ou "abrigos rochosos" nas Cataratas do Iguaçu . Fiz questão de plantar um jerivázinho solitário!
 

No centro uma caverna (beiral, overhang) no lado argentino das Cataratas vista do Primeiro Mirante (antes do mirante em frente ao Hotel das Cataratas). A estrutura à direita e ao fundo foi utilizada por muito tempo como um mirante no Parque Nacional Iguazu. Está desativado (Não é caixa d'água)

 

"Overhang" é parte da estrutura das cachoeiras. Seria como um beiral, uma cobertura sobre as cabeças e lembram cavernas. Destaque para a lage que serve de teto (overhang) formada por rocha dura.  Foto tirada em período de seca. Com a vazão normal (1.500 metros cúbicos por segundo) esta estrutura não é visível. 
 
Deste mirante no lado brasileiro pode-se ver um salto que cai do primeiro nível, nível superior ou primeiro degrau, para o segundo degrau ou nível das escadinha. A partir daí, a água se joga ou mergulha em um poço /piscina (plunge pool, em inglês) em um degrauzinho em formação e dai para outro poço (menor) de onde mergulha para o terceiro nível, desta vez no rio Iguaçu, onde de novo, forma um terceiro poço ou "plunge pool", já no nível do rio. Tudo a partir deste mirantezinho que este autor chama de "curralzinho". A força em operação aí se chama erosão regressiva, e também erosão diferencial. Pode-se dizer ainda que se chama natureza trabalhando usando a erosão como ferramenta    
 
Detalhe da piscina (plunge pool) no nível intermediário do salto mostrado acima


As rochas das cataratas ajudam a emoldurar fotos de visitantes, mesmo que a maioria nem note a existência delas



Visitante das Cataratas em foto que mostra parte do paredão e o "amontoamento" de rochas na base dos saltos, no cânion e  já às margens do rio Iguaçu;

Um Parêntese:
(Geralmente quando faço fotos de pessoas nas Cataratas, eu as abordo, explico o que faço e me prontifico a enviar as fotos para os seus e-mails. Já mandei fotos para muita gente em diferentes países. No caso da foto acima, não me lembro o motivo, não fiz isso. Desta forma, se a pessoa fotografada não gostar, pode reclamar e eu retiro a foto do ar. Mas também pode, se preferir, entrar em contato, passar o nome e até contar a sua história, o que achou das Cataratas, o que sentiu e compartilhar suas experiências em relação às Cararatas. O e-mail: limajac@gmail.com)  


"Amontoamento" de rochas e formatos como a "pirâmide" (centro) e o "lagarto" (esquerda)


Para comparar: disjunção colunar em área de arenito no Paraguai: Cerro Kõi (wikipedia)
 
Agora indo para o começo 
 
O Planeta Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos. Há cerca de um bilhão de anos começou o processo de formação da crosta terrestre que é onde nós vivemos. Começou o jogo de gigante montar os continentes. A cada 300 ou 500 milhões de anos ( o número não é exato), acontece um remanejamento da crosta terrestre. É o que se chama de ciclos supercontinentais. Em cada ciclo os continentes foram "quebrados" e divididos em diferentes pedaços. Depois esses pedaços eram juntados em novas configurações. Pouco se sabe da primeira configuração da crosta em continentes. Os centistas da geologia começam a trabalhar a partir de uma configuração chamada Rodínia há um bilhão de anos que levou à montagem de outro supercontinente chamado Panótia, há 550 milhões de anos. A gente (os humanos) começa a querer entrar na jogada, há cerca de 300 milhões de anos com a configuração que criou a Pangea. Estamos quase lá! A Pangea durou menos que outras configurações, por volta de 100 milhões de anos, quando apareceu o ciclo do supercontinente chamado Laurásia e Gondwana. Laurásia ficava no Norte e Gondwana no Sul. Com Gondwana nós estamos praticamete em casa.  
 
A dança, a deriva dos continentes com suas separações e colisões (infoescola)

O supercontinente de Gondwana, 200 milhões de anos, tinha rochas de 3,6 bilhões anos. Indícios e pistas da Gondwana foram encontradas no Oceano índico nas Ilhas (República) de Maurício.  Gondwana incluia os subcontinentes da África, da América do Sul, da Antártida, da Índia e da Austrália juntos. Gondwana  foi alvo da próxima remontagem da cara do globo que nos trouxe a configuração atual. Personificada por processo geológico da movimentação das placas tectônicas. 
 
Há dois movimerntos principais à disposição da mecânica da terra. Um faz os continentes colidirem. O outro causa a separação dos continentes por meio de um processo chamada "rifting" em inglês (rachamento?) que não é nada mais do que o rompimento pela formação de fendas. Entre 145 milhões e 100 milhões de anos coincidiram os derrames de basaltos que vemos hoje nas Cataratas além rompimento de Gondwana ao meio dividindo-a em duas partes: Gondwana do Oeste (América do Sul) e Gondwana do Leste (África). No novo espaço criado entre as duas  partes do antigo supercontinente apareceu o Oceano Atlântico. Na prática isso se chama separação da América do Sul e da África. Rochas vulcânicas dos dois lados nascidas no período dos derrames de lava chamadas Serra Geral, foram separadas  de modo que rochas iguais as das Cataratas estão hoje na Namíbia e em Angola.    
 
O Oceano Atlântico ocupou o que era o centro de Gondwana e uma grande atividade tectônica continuou construindo um novo mundo, novas paisagens e acidentes. Toda esta "revolução"  causou o soerguimento ou fez que surgisse do mar a Serra do Mar. No lado do Oceano Pacífico, as dores de parto tectônicas fizeram soerguer os  Andes. 
 
No que hoje é Paraná, foram criados três planaltos. O primeiro é o "planalto de Curitiba", o segundo é o de Ponta Grossa e o Terceiro é o de Guarapuava que vai   da subida da serra de Guarapuava até a beira do Paranazão tudo é terceiro planalto e tudo é território feito pela lava. Foz do Iguaçu e as Cataratas ficam no extremo ocidental (extermo oeste) da borda do Terceiro Planalto. 
 
Do barco, olhando lá para o fundo do canyon onde não dá para ver rocha nehuma, você estará olhando para o local onde provalmente ose deu  o afundamento do terreno que fez o rio Iguaçu  desviar de seu curso leste-oeste fazendo uma curva brusca tomando rumo norte em direção ao Marco das Três Fronteiras e o rio Paraná (Marcos Labanca/Macuco Safari.
 
O um rio heróico: Iguaçu
A tendência ou a vocação dos rios do Planalto de Curitiba era nascer no planalto e se "picar" o mais rápido possivel para o mar no litoral paranaense. Isso daria no máximo 100 quilômetros. É isso o que fizeram o rio Nhundiaquara e o rio Ipiranga entre outras dezenas de córregos na Serra do Mar (estamos falando só do Paraná).  Mas aqui entra o heroi paranaense, pacato e sem pretensões que se recusando em ser mais um riozinho descendo a serra, decidiu pegar o caminho mais difícil. É como se o rio Iguaçu tivesse lido o futuro poema do futuro poeta Robert Lee Frost (1874-1963, no calendário humano) que quando traduzido, diz, em parte: 
 
"Direi isto suspirando
Em algum lugar, daqui a muito e muito tempo:
Duas estradas bifurcavam numa árvore,
Eu trilhei a menos percorrida,
E isto fez toda a diferença".   
    
O rio Iguaçu escolheu trilhar o caminho que até então nenhum rio trilhara. escolheu rumar para o Oeste e desembocar no rio Paraná e daí continuar seu caminho para o mar. Caminho difícil. Se todo rio desce o terreno, aproveitando a inclinação do caminho por que o Iguaçu escolheu seguir o caminho ao longo de três planaltos? O rio Iguaçu teve que esculpir seu caminho erodindo as rochas sedimentares diversas da Serra do Purunã, na Escarpa Devoniana, para logo em seguida abrir caminho, serpenteando os baxios, forçando a passagem pelo Planalto de Guarapuava até chegar à sua desembocadura no lugar onde os homens, ah os homens! eregiram, há 118 anos, dois marcos de fronteira: Brasil e Argentina com o Paraguai em frente. Esse esforço extra do rio, fez toda a diferença. O mundo agradece! 
 
Os cientistas ainda não entendem por que, o rio Iguaçu, esse que não gosta de coisa fácil, ainda inventou mais um desvio antes de chegar ao rio Paraná. Pela rota traçada por ele mesmo, seu rumo era Oeste e daria diretamente a algum lugar no Rio Paraná cerca de 25 ou 30 quilêmetros abaixo dos Marcos de Fronteira na atual Três Fronteiras dos Homens. 
 
Alguma coisa o fez mudar de ideia e de curso. Do Primeiro Planalto até as atuais Cataratas do Iguaçu, o rio desce largo, raso, pedregoso e cheio de voltas. Hoje, vemos que nesse ponto, ele decidiu fazer uma curva longa e aberta para se jogar na fenda das novas cataratas. E ao fazê-lo, o rio Iguaçu mudou. O rio Iguaçu embora seja o mesmo antes das Cataratas e depois das Cataratas, de alguma maneira ele deixa de ser o mesmo. Depois das Cataratas ele segue reto, estreito e fundo, muito fundo.        
Foto do Cosmonauta (astronauta) russo, Sergey Ryazanskiy, clicada da Estação Espacial Internacional (1017) mostra o rio Iguaçu, largo e raso antes da curva para cair na fenda das Cataratas e depois dessa "queda", ele prossegue reto e profundo. À esquerda, abaixo, vê-se a pista do Aeroporto Internacional Cataratas del Iguazu,  Argentina)     


Sobre esta mudança de curso no final da viagem de cerca de 1.100 quilômetros, o geólogo, consultor e divulgador das paisagens da terra e a geologia, Bruno Riffel afirma: "O rio Iguaçu caia numa certa localidade do rio Paraná mais a Sudoeste e depois de uma falha que desviou para Noroeste o rio Iguaçu, ... passa a cair no rio Paraná, uns 20 ou 30 quilômetros à montante. Isso significa que este ângulo que faz do rio com a falha é mais ou menos a região onde ocorre a Garganta do Diabo hoje".  
 
As Cataratas do Iguaçu é feita de rio, rochas, sedimentos e vegetação na forma de floresta ao longo de seu percurso na forma de matas, ilhas cobertas de vegetação. Tudo isso junto guarda o segredo da preservação das Cataratas. O geólogo e professor João Batista Sena Costa, destacou durante lançamento do livro "A Origem das Cataratas" em Foz do Iguaçu, que sem a cobertura vegetal as Cataratas se iriam muito rapidamente (É o que você naquela foto onde aparecem os três poços/plunge pools). Assim quem vê as Cataratas do Iguaçu deve ter olhos para todos esses elementos inclusive a micro floresta de gramíneas e árvores sobre ilhas, rochas e pedras na paisagem imediata às Cataratas que têm papel importante em segurar a erosão.      

Para encerrar: título esquecido

Todo mundo sabe que as Cataratas tem o título de Patrimônio Mundial como parte integrante do Parque Nacional do Iguaçu e uma das Novas Sete Maravilhas do mundo natural. Mas, ainda falta uma categoria. Qual é? Vejamos as categorias:

Categoria 1 ─ O Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná (Brasil) e o Parque Nacional Iguazú em Misiones (Argentina) estão na lista do Patromônio Mundial na categoria Natural, mantida pela UNESCO como parte da Convenção Mundial para a preservação do Patrimônio da Humanidade. É coisa de governos, mais de 170 assinaram. Patrimônio da Humanidade é um dos títulos que envolvem as Cataratas e os Parque Nacionais que as protegem.        

Categoria 2 ─ Desde 2011 as Cataratas do Iguaçu estão na lista das Novas Sete Maravilhas (N7M) do Mundo (Categoria Naturais). O título é fruto de uma votação global que envolveu milhões de pessoas em todo o mundo. Esta campanha pertence ao mundo do marketing. As Cataratas e mais sete grandes atrações globais fazem parte de uma família. A ideia é que um dia os turistas comecem a organizar viagens que permitam conhecer todas as sete maravilhas localizadas em diferentes continentes. Lembremos que antes do concurso das N7M naturais ocorreu o concurso das N7M culturais. O Cristo Redentor no Rio de Janeiro é um dos vencedores na categoria "cultural".   

Categoria 3 ─ Cataratas do Iguaçu como um Geossítio Brasileiro. Com esta postagem quero chamar a atenção para esta categoria "ignorada" pelo brasileiro. 

A categoria pertence ao cadastro da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleogeológicos (SIGEP).  Segundo a Comissão, as Cataratas do Iguaçu é um Geossítio Brasileiro e faz parte do sistema brasileiro de geoparques. Como o leitor sabe, as Cataratas do Iguaçu e Parque Nacionais andam juntas. Assim, para a SIGEP o geossítio Cataratas do Iguaçu é um lugar de grande "geodiversidade" (anote esta palavra/conceito) e é um local chave para o entendimento da história e da dinâmica da vida na terra desde sua formação até hoje. Hoje já sabemos que há necessidade de preservação da fauna, da flora, da água e como geossítio da necessidade da "geopreservação" (outra palavra/conceito). 

Este material é parte da minha colaboração no sentido de ajudar o destino turístico anotar a necessidade de se preparar para atender ao turiststa com interesses mais geológicos já que o geoturismo está pedindo licença para entrar em nossos destinos e o Paraná é um dos estados que já tem planos e estrutura para trazer o Patrimônio Geológico do Paraná e seus três planaltos ao alcance daqueles que viajam para conhecer o estado. Tudo isso será necessário para a geoconservação do Paraná e evitar que aconteçam coisas como a proposta de diminuição da área de proteção de nossa Escarpa Devoniana, diminuição de Parques estaduais ou nacioais entre outras ideias não mui sábias.   

Este sou eu, "catarateando" nas Cataratas do Iguaçu, observando as rochas à procura de coisas escondidas. Sempre aparecem! 

 
Notas

1) Agradecimentos ao Dr. Jack Share que arranjou um tempo para responder as minhas perguntas. Para um geólogo, não há misterio nenhum nos paredões das Cataratas o que valoriza o fato dele se dispor a responder perguntas de um jornalista generalista curioso. Agradecimento pela existência da internet e com elas todos os geoblogueiros que estou conhecendo, muitos envolvidos com o turismo ou geoturismo. 

2) As fotos das Cataratas aqui são de Marcos Labanca para o Macuco Safarí. Se não houver indicação são minhas especialmente as dos paredões, grutas e amontoamentos de rochas. 




   
 

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