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quinta-feira, 5 de junho de 2025

O simbolismo da VINDA* dos músicos "ignacianos" do Paraguai às Cataratas do Iguaçu

Cacique Arapysandu, imagem compartilhada comigo pelo artista plástico Ramón Aranda de S.I.Guazú, esta semana

A VINDA

Estou falando do Ensamble / Grupo Musical Orquestra e Coral da Capela de Música do Museu Jesuítico Guarani de San Ignacio Guazú, logo mais neste mês de junho de 2025. 

A VINDA acontece um ano antes do aniversário de 400 anos da fundação da "Primeira Querência** do Rio Grande do Sul", São Nicolau em 1626. 

Por coincidência, o mesmo ano da Fundação da Missão nas Cataratas do Iguaçu chamada Santa Maria do Iguaçu, ou Santa Maria La Mayor e ainda Santa Maria de las Nieves. 

Lembro que os argentinos já estão há anos cultivando a memória desta Missão, tendo inclusive um santuário e uma imagem oficial de Santa Maria del Iguazu, assim não é uma competição ou usurpação fronteiriça  

Orquestra barroca jesuítica-guarani de San Ignacio. Refazendo o caminho de Arapysandu e o padre*** Roque Gonzalez há 399 anos (Deu no H2Foz)


O cacique Arapysandu ou Arapyzandu foi um dos grandes caciques do rio Paraná e é considerado pela povo de San Ignacio Guazu, em Misiones no Paraguai, como o primeiro cidadão de San Ignacio Guazu. Por quê? 

Simples: foi ele quem procurou os jesuitas e pediu que fundassem uma missão nas terras sob sua supervisão. O pedido foi feito duas vezes. Na primeira os jesuitas negaram. Na segunda, não puderam negar, porque a doutrina jesuita não permitia negar duas vezes. A missão foi fundada e Arapysandu ficou super conhecido. 

Por volta de 1626, o Padre jesuíta nascido no Paraguai, Roque González, envolvido na afirmação da Missão das Cataratas, no Rio Iguaçu, não conseguia entrar na região, porque os outros caciques da área não queriam saber de padres, pois pensavam que tornarem-se cristãos dava azar e atraia bandeirantes. Foi então que o Cacique Arapysandu se ofereceu para vir com Roque González. Então temos aí uma ligação centenaria entre San Ignacio Guazu e as Cataratas do Iguaçu. Hora de costurar vículos.

Por isso, a *VINDA da Capela (Capilla) de Música de San Ignacio Iguazu às Cataratas refaz os passos do Cacique Arapysandu e do padre Roque González de Santa Cruz. 

Depois de fundada a Missão das Cataratas, o padre Roque González de Santa Cruz segiu seu caminho e em 1628 enquanto fundava missões no que hoje é Rio Grande do Sul, foi morto no local onde hoje existe o Santuário de Caaró no munciípio de Caibaté (Ka'a Yvate) no Rio Grande do Sul. Mais dois companheiros morreram nesse capítulo da história.   


 

Concepção da Missão de Santa Maria nas Cataratas do Iguaçu. Reprodução do filme The Mission

NOTAS 

* A VINDA - Cidadãos de San Ignacio em missão musical, cultural e histórica em Foz

** 1ª Querência Gaúcha título turístico e municipal dado a São Nicolau (RS)

Quem quiser descobrir mais sobre a Missão Santa Maria e outras na região devem pesquisar obras dos históriadores Pedro Louvain de Foz do Iguaçu, Nestor David Gamarra em Ciudad del Este e Ana Burró do Museu Itaipu, Hernandarias. Há outros pesquisadores na região e no núcleo Misiones, Argentina, falaremos deles em breve. Menciono os três inicialmente por seus laços com a academia e instituições:  



1) A Missão de Santa Maria do Iguaçu_ Trajetória e Relações de Contato, Pedro Louvain (UNILA) 

2) Los Primeros Peblos Jesuitas (Abordagem do Alto Paraná) https://www.facebook.com/nestordavid.gamarra

3) Nuestra Señora de la Natividad del Acaray : A Forgotten Mission, Ana Burró (ITAIPU Museum – Tierra Guarani, National University of Asuncion, Paraguay (Há versão em espanhol) 

*** O padre Roque González foi beatificado em 1934 pelo Papa Pio XI. Foi canonizado em 1988 pelo Papa João Paulo II: São Roque González / San Roque González 

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Uma Rosa por qualquer outro nome (os nomes das Cataratas)


Saltos do Rio Iguaçu

As fotos mostradas aqui foram retiradas de uma publicação do site Memória Rondonense. Elas mostram fotos antigas das Cataratas do Iguaçu tirada por visitantes e residentes dos tempos que nos precederam. Ou seja daqueles que vieram antes de nós. O que destaco com estas fotos é o fato de que as Cataratas do Iguaçu nem sempre foram o único nome delas.  

Nas fotos, as Cataratas aparecem com o nome "Salto do Rio Iguaçu" em português e Saltos del Iguazú, Saltos del Río Iguazu em espanhol. Salto ou Saltos paracem ter sido muito utilizado no passado. Quando o nome Cataratas do Iguaçu venceram e apagaram os "saltos"?

sábado, 2 de março de 2024

Parque Nacional do Iguaçu precisa proteger os Céus e os Saltos contra a poluição luminosa urbanizada

Nem tudo que reluz é ouro

Que fonte de luz está iluminando a grade?  

Segundo a cartilha do comportamento em atividades sob o céu escuro, aqui tem luz demais

Não sei quem são os fotógrafos das duas primeiras fotos que aparecem neste texto sobre o excesso de luz também visto como uma forma de Poluição. Em inglês é chamada siplesmente de Light Pollution em português "poluição de luz" não fica muito claro por isso se usa a expressão "poluição Luminosa". Há ainda quem a chame de "Poluição Lumínica". O texto não é uma crítica das fotos. As fotos são ótimas e os fotógrafos dominam a arte e as técnicas exigidas aí. Mas então qual é o problema? 
Recentemente em Foz do Iguaçu tem havido incursões na área de astrofotografia ou fotografia do céu escuro parte, talvez, do astroturismo.  Aí já é um questão de meu interesse. Quanto vale o céu escuro? A importância do céu escuro? As técnicas para fotografar o céu escuro: As primeiras fotos do céu escuro sobre as Cataratas do Iguaçu por brasileiros  ganhou espaço em todo o Brasil inclusive nas TVs nacionais com destaque para o Fantástico da Rede Globo. A técnica da fotografia do céu escuro é uma técnica estabelecida. A estrela da arte se chama "céu". Uma lente com abertura de longa exposição, consegue captar o que o olho humano duvida que existe. A estrela é o céu onde aparecerá a galáxia. Em segundo lugar vem uma grande paisagem terrestre como as Cataratas do Iguaçu e por último, se der,  uma ou mais pessoas que podem aparecer na foto preferentente "de silueta". 

Foz do Iguaçu está tendo um pequeno problema. Parte da estrutura de atendimento ao turista como o elevador, ou parte dele estão aparecendo iluminadas causando poluição não só no ambiente como na foto. Ultimamente, com a programação de visita às Cataratas à Noite, a necessidade de entender as regras dessa história de céu escuro se faz urgente. Tal problema vem desde a época do Luau das Cataratas quando a iluminação excessiva na área de influência da Garganta do Diabo poderia ter sido algo denunciado a Unesco como um dos atentados aos valores instrínsecos das Cataratas do Iguaçu como Parte de dois Parques Patrimônios Mundiais. 

Os hotéis concessionados tanto do lado brasileiro como do lado argentino estão apostando na iluminação artificial importando poluição luminosa para os Parques Nacionais Iguaçu / Iguazú. Fotos tiradas de diferentes ângulos já faz parecer que a região é urbana. O propósito deste texto é trazer ideias de iluminação que preservem a qualidade da visão dos céus. Espero que quem esteja lendo este texto, saiba da beleza dos céu noturno em cima de Foz do Iguaçu ou melhor sobre as cidades desta latiutude onde a Via Láctea é vista a olho nu. 

Quando no lado brasileiro das Cataratas foi criado o Passeio da Lua Cheia (não o Luau) previsto pelo antigo Plano de Manejo, cada participante levava uma laterna com instruções de só apontá-la para os pés. Não podia sair apontando a lanterna para cima ou para os lados, na direção de topo de árvores pois o próposito do tour não era acordar macacos ou alguns mosquitos noturnos. Tampouco podia apontar em direção ao vale do rio Iguaçu para perturbar a floresta inteira. Isso foi antes da aparição da LUZ de LED que merece atenção e estudo especiais. Quem participa de uma excursão especial para observar os céus no chamado astroturismo ou ver as Cataratas de noite deveria levar lanternas com filtros que possibilita mudar a cor do feixe de luz.

Veja a predominância controlada do vermelho em uma saída de observação astronômica nos EUA


O Chile ganha milhões de dólares por ser um lugar que possui ótimas condições de escuridão dos céus o que faz o pais ser a sede de grandes telescópios de instituições internacionais. As fotos abaixo mostram as praticas de iluminação nas área desses telescópios onde a iluminação é difusa. É mínima e evita a luz LED branca. Observe as fotos dos observatórios. Luz de poste mínima. Nada atrapalha o céu. As luzes internas estão apagadas. Mais sobre telescópios internacionais no Chile no site Carnegie Institute for Science.

Iluminação artificial mínima Observatório ESO Chile / The World at Night

"Não são as Cataratas um observatório Natural de grandeza muito maior que um observatório  dedicado unicamente à astronomia?"
 
Os céus são a estrela da foto. Só astros estoram luz 
 (Hanle, India, foto Dorje Angchuk, India Today)

O que fazer?   
Primeiro estudar. O link PDF que segue (em inglês) é Para a academia. É um trabalho do BLM - Escritório de Gerernciamento de Terras dos Estados Unidos. O órgão adminsitra terras públicas incluindo fazendo concessão de usos para pecuária, turismo e outras atividaddes. O manual dá uma ideia geral do que está envolvido. O nome do estudo é Night Sky and Dark Environments: Best Management Practices for Artificial Light at Night on BLM-Managed Lands (Céu Escuro e Ambientes Escuros: Melhores Práticas para Iluminação Artificial Noturnas em terra administradas pelo BLM).

O Brasil já tem grupos sérios que se dedicam a este assunto. Um deles se chama Céus Estrelados Brasil e já existe no Brasil o único Parque brasileiro reconhecido internacionalmente como um lugar ótimo de Céus Escuros. Se chama Parque Estadual do Desengano no estado do Rio de Janeiro. O apelido dele é Parque de Cèu Escuro. O Parque do Desengano é certificado como um Dark Sky Park pela ONG International Dark Sky Association (IDA). Para concluir este que-fazer nas Cataratas do Iguaçu, a lição de casa é procurar profissionais que entendam da luminosidade que nos ajude a conseguir uma certificação internacional para os os dois parques nacionais Iguaçu / Iguazu como "Dark Sky Parks" um lugar que não permite que a poluição de luzes da cidade chegue a eles. Deixemos a cidade na cidade. Se

A Escala de Bortle. Um na escala, primeiro à esquerda, é muito bom, Nove é horrível (Wikipedia)   

Existe uma escala para medir a qualidade do céu em relação à ecuridão e ainda em relação a poluição de luzes das cidades. Se chama "Escala de Bortle" que vai de 1 ( Céu escuro perfeito) até 9 na escala. O nove na escala é horrível.   
Exemplo de lanterna com filtros de cores
Antes da época LED tive uma excelente lanterna com filtros de várias cores. Muito boa para iluminar sem cegar os vizinhos. Usava no Pantanal. "Focar jacaré", por exemplo, com uma luz LED deveria ser considerado um crime.   

domingo, 9 de julho de 2023

"Cataratear" para não esquecer. A missão do Salto Fio Dental (Hilo Dental) nas Cataratas

Foto 1: A Ilha de San Martín e Salto Fio Dental

Foto 2: A desembocadura do Salto fio Dental no rio Iguaçu, no andar térreo dos três degraus 


Originalmente postado no Facebook*

Este não é o nome oficial. Nem existe, sequer, nome oficial. Na primeira foto vemos o arco principal das Cataratas (lado argentino) visto do segundo mirante em frente ao Hotel das Cataratas. Na segunda foto vemos o detalhe que mostra a Ilha San Martín e imediatamente na extremidade, à esquerda, da pequena floresta sobre a ilha, um pequeno salto que lembra um fio / hilo que parece estar, no seu ritmo, dividindo/criando a ilha. E está. A terceira e quarta fotos mostram o Salto Fio Dental durante uma enchente quando a vazão atinge 14, 25 ou até 46 milhões de litros de água por segundo.

Foto 3: Fio dental "engorda" em uma cheia significativa 

Foto 4: O Salto Fio Dental de fio dental não tem mais nada. Saltinho explode em volume d água com mais de 40 mil litros de água por segundo

Imagine você tentando serrar uma rocha com um fio dental. Com paciência, perseverança e tempo (muito tempo) você conseguirá. Do mesmo jeito, o pequeno salto que pouco aparece nas fotos e quando aparece não recebe a devida atenção, está trabalhando.

Daqui a 100 mil anos, já vai dar para ver. Guarde esta postagem para mostrar. Se você é ateu, a explicação basta por aqui. Se você é cristão e vê as Cataratas como uma maravilha de Deus, se ligue na ferramentas que Deus usa para construir maravilhas. Uma delas se chama erosão (que opera para cima, para baixo e para os lados). É por causa da observação dessa ferramente que o ditado português afirma que "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura".
Obrigado
saltinho fio dental, você está fazendo um bom trabalho


* NOTAS

"Cataratear" é um verbo de criação livre do autor (2020). Traz a ideia de visitar e ver as Cataratas prestando atenção em seus múltiplos e mínimos detalhes. É uma versão do "waterfalling" em inglês

"Cataratear" es un verbo de creación libre del autor que también propone el mismo verbo en Jopará / Guarani e castellano como "kataratea" que se conjuga asi: akatarateá, rekataratea, okataretea, jakataratea, rokataratea, pekataratea, okataratea (yo catarateo, tu catarateas, él cataratea, catarateamos etc)

Obs.: la idea de "cataratear" fue inspirada en el verbo "to waterfall" que nombra al hobby "waterfalling" de visitar cataratas del mundo practicado por fanaticos casi adoradores de cataratas, cachoeiras, saltos y similares en verdaderos "waterfalling tours".
Ejúmina, rekataratea haguã!

sábado, 15 de outubro de 2022

A Lenda de Naipi e Tarobá e a formação das Cataratas do Iguaçu (IV)

Tarobá (Itarová), Naipi e Mboi. Escultura  no Marco das Três Fronteiras  

Esta é uma outra versão da Lenda de Naipi e Tarobá encontrada no acervo da Biblioteca Púbica Elfrida Engel de Foz do Iguaçu, em material datilografado,sem data, que traz elementos novos como um lugar chamado Mba'everá Guasu 

Primeira página do relato

Isto foi há muito tempo...

Antes, muito antes mesmo, de quando os guaranis, lá pelos lados do atual Mato Grosso, também na fronteira do Paraguai, viviam na sua fabulosa cidade sagrada Mba'everá Guaçu".

Por aqui, pelas margens dos grandes rios, Paraná e Iguaçu, moravam os Caingangues, com seus toldos espalhados por léguas e léguas pelo sertão a dentro.

TUPÃ era o seu Deus Supremo, Criador de tudo que existia, e, Mboy

o deus serpente -, filho de Tupã, governava o mundo e era o protetor dos Caingangues.

Para obter as boas graças de Mboi, a enorme serpente que vivia no leito do rio Iguaçu, as diversas tribos Caingangues, uma em cada ano, ofereciam a mais bela de suas virgens que ficava entregue, exclusivamente, ao culto dessa divindade. Essas jovens índias eram as sacerdotizas de Mboi, e deviam conservar-se virgens, dedicando sua vida inteiramente ao poderoso deus-serpente.

O destemido Igobi era cacique de uma das tribos caingangues, que tinha suas tabas levantadas à beira do rio Iguaçu. Tinha ele uma filha, que era o orgulho não só de sua tribo, mas de toda a nação Caingangue. Naipi era o nome da filha de Igobi.

NAIPI, a jovem caingangue, era bela. Tão bela que as águas do Iguaçu -

paravam, quando nelas a jovem se mirava.

E um dia, quando Naipi se banhava nas límpidas águas do Iguaçu, Mboi - o todo poderoso viu-a do fundo do rio e desejou-a para o seu culto.

Por isso, naquele ano, coube a Igobi a honra de consagrar a sua própria filha Naipi ao Deus Mboi, filho de Tupã

Começaram então os preparativos para a grande festa. Os homens caçavam, pescavam e enfeitavam suas armas e apetrechos para os festejos. As mulheres preparavam as pinturas e os ingredientes para o "cauim" a ser distribuído fartamente no grande dia da consagração de Naipi.

Bem antes dêsse dia, começavam a chegar às tabas de Igobi os caingangues das outras tribos. E entre os primeiros, chegou Tarobá, jovem e forte, dos mais valentes entre os guerreiros de então.

Tarobá viu Naipi

Naipi viu Tarobá.

E, Tarobá e Naipi se amaram. foi maior que o seu amor. Nem a honra dos caingangues, nem o temor de Mboi, foi maior que o seu amor.

Enquanto os caingangues dormiam e antes que o luar clareasse as matas, Naipi e Tarobá se encontravam, longe do rio, para fugir aos olhos de Mboi. E falavam de seu grande amor e da sua grande mágoa, pela desdita de não se terem encontrado antes.

E não se conformando com a sua sorte, Eles resolveram mudá-la.

Segunda página do relato - CONTINUAÇÃO

Enfim chegou o dia da consagração-de-Naipi-ao-deus-serpente. Os caingangues deliraram no auge dos festejos, embriagados pelas danças  e pelo cauim. Tarobá e o pajé da tribo, também bebiam, dentro de suas  tabas. A serpente, cansada de olhar os folguedos dos índios recolhera-se no fundo do rio... 

Foi aí que Tarobá levou Naipi até a margem do Iguaçu. Embarcaram na piroga previamente preparada e fugiram pelo rio abaixo. 

Mas as fortes remadas de Tarobá acordaram Mboi, que levantou a cabeça enorme e os viu.

Viu-os e reconheceu Naipi, compreendendo logo o que acontecia. Estremeceu então de raiva, e saíram chamas de seus olhos. Rugiu por vingança,e lançou-se em perseguição aos fugitivos. Seu imenso corpo  movia-se velozmente porém Tarobá forte e ágil  levava a canoa em direção à correnteza que os lançaria em pouco tempo nas  águas do rio Paraná, onde o ódio de Mboi não poderia atingi-los.

O deus-serpente compreendeu a intenção de Tarobá, e compreendeu também que não poderia mais alcançar os fugitivos.

Tomado de intensa fúria por não poder castigar os que o haviam burlado Tarobá, por roubar-lhe a virgem, Naipi, por trair os votos feitos-, Mboi levantou seu corpo imenso e mergulhou-o violentamente nas águas do rio, afundando pela terra a dentro, e depois, retorceu os anéis de seu corpo de serpente, em tremendas "Convulsões". Deslocou-se a terra ante tão terrível movimento de Mboi e "abalou-se" o leito do rio numa enorme fenda por onde se lançaram as águas, formando assim as cataratas do Iguaçu.

Ao precipitarem-se os dois amantes nessas cataratas, Naipi foi transformada na insensível rocha, que o fogo subterrâneo caldea* sem cessar, como o amor caldeou seu coração enamorado, e desde então, as águas do grande rio banham-lhe o busto para apagar os ardores do seu amor sacrílego. Tarobá, o sedutor, foi convertido em árvore à beira do abismo, e condenado a contemplar a sua amada, sem poder beijá-la.

Aquela forma branca oculta pelo veú d'água aos olhos profanos, é Naipi, que vive, que ouve, que sente e estremece de desejos, mas que não pode falar.

E essa palmeira solitária, ali, no centro do rio, pertinho do abismo, é Tarobá, eternamente enamorado de Naipi, à qual envia o perfume de suas flores e os murmúrios de seu amor, quando a brisa agita a folhagem de sua fronde, mas que jamais poderá chegar ao regaço da jovem que o espera,

E Mboi, o deus-serpente?

Está lá embaixo, naquela gruta cuja entrada as águas e a espuma dos saltos escondem. Vingativo, Mboi espreita incessantemente as duas vítimas e vela para que nunca mais possam elas realizar o seu sonho de amor.

E era assim que os Caingangues diziam que surgiram as

"CATARATAS DO IGUAÇU


NOTAS:

Que cidade (mítica) é essa que se chamava Mba'everá Guasu no Mato Grosso?

Interessante o uso da palavra (verbo) caldear que significa: tornar incandescente ou maleável, fazer ficar em brasa.

M'Boy = Mboi (no guarani não se separa o M do B. A palavra termina em "i".

Cauim - uma bebida feita a partir da mandioca fermentada. Kaguy, em guarani.

Caingangues? Eis a questão! Toda a narração faz-nos sentir em um ambiente guarani. Naipi, Tarobá, Mboi, Tupã. É urgente esclarecer por que a inclusão dos caigangues nessa história. Convido caingangues e guaranis para a conversa.   

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

O Pai da Lenda das Cataratas no Brasil ou a lenda da Lenda das Cataratas (I)

 Introdução 

Discutindo a Lenda das Cataratas - Primeira Parte


Como o senhor descobriu a Lenda das Cataratas?

O empresário Laurindo Ortega, falecido aos 86 anos em 2021, tem uma cadeira cativa como imortal na história de Foz do Iguaçu por vários motivos. Ele teve o primeiro registro de Agente de Viagens emitido pela Embratur em Foz do Iguaçu; ele construiu um hotel que embora tenha mudado de nome continua servindo a cidade; atendeu a milhares de pessoas com sua estrutura que incluiu presidentes, atores, autoridades e celebridades. Com estes exemplos ele deixa um legado material importante.
Aqui a gente diz Tarobá

Mas hoje o Blog de Foz quer trazer à atenção um novo fato. Uma contribuição imaterial do empresário que é maior do que rudo que ele realizou. Estamos falando da Lenda das Cataratas. 
Ele mesmo diz, em uma entrevista para um documentário produzido para celebrar os 100 anos de Foz do Iguaçu: "Eu sou o pai da Lenda das Cataratas no Brasil".    
O que segue abaixo é uma degravação (ou transcrição) das palavras de Ortega no vídeo. Ortega começa falar após a pergunta de uma criança (na época). A pergunta foi: Como o senhor descobriu a Lenda das Cataratas?

Laurindo Ortega - A Lenda da Lenda
Ortega responde:

- Eu sempre fui um cabeça aberta. Tinha um "bugrão" lá, um índio que era um contador de madeira na serraria, e o índio escrevia. Aí eu olho leio assim tá-ta-tá: Lenda de Naipi e Tarobá. Eu sou o pai da lenda aqui no Brasil, a Lenda das Cataratas.

Que acontece? Eu peguei aquele caderno e guardei ... pedi pra minha irmã me dá (e ela disse) não, pode levar. Depois eu saí, fui para ... pela segunda vez...que terminou os negócios do meu pai lá. Eu trabalhava no mato.  ... aí conversando com uns 30 índios  que trabalhavam conosco cortando madeira, fazendo estradinhas. Daí o cacique contava umas histórias, contou da guerra do Paraguai. ... coisa mais antiga? Ah não a mais antiga é a lenda de Naipi e Tarobá - aqui nós falamos Tarobá, lá é Itarová, cara de pedra assim como nós falamos "esse cara é cara de pau", o índio, o paraguaio chama Itarová. O que acontece?

Ele começou a contar e não é possível! Aí eu fui ver quando vim aqui na Foz,ver aquele caderno e era exatamente a mesma história de Naipi e Tarobá. Digo que eu sou pai porque eu divulguei pra todo o lado. 

Notas

1) O Documentário Pioneiros foi realizado pela Vision Arts com orientação da Secretaria Municipal de Turismo e postado no Youtube pela Câmara Municipal de Foz do Iguaçu. O trecho da fala do empresário esta entre os minutos 19:19 e 20:49.

2) A questão do nome Tarobá ou Itarová é mencionada de passagem no meu livro Sete Arcos, Três Degraus,  página 39.  



quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Borboletas do Parque Nacional do Iguaçu e região internacional do entorno

 

Uma borboleta 88 da família Nymphalidae do gênero Diaethria no dedo de um visitante das Cataratas do Iguaçu, Parque nacional do Iguaçu deixando ver detalhes de cores e os padrões que formam o 88 no lado exterior da asa 

(Material publicado no site do Visit Iguassu  em 28 de janeiro de 2020, aqui republicado para adicionar fotos de exemplares de borboletas para republicação) 

Há pelo menos 18.682 espécies de borboletas no mundo. Dessas, 3.280 espécies estão no Brasil. O Parque Nacional do Iguaçu serve de abrigo para cerca de 800 espécies, das quais só 257 foram devidamente identificadas. O pesquisador argentino Ezequiel Núñez Bustos catalogou 653 espécies para o Parque Nacional Iguazú, Argentina.

Mas ainda há trabalho a fazer, pois algumas áreas do parque ficaram fora da pesquisa. Nesta altura, você pode estar perguntando: esses números, para os parques nacionais Iguaçu/Iguazú, são muito ou pouco? São significantes. Basta lembrar que a Europa inteira tem 244 espécies de borboletas.

É cada vez mais comum os viajantes mencionarem as borboletas das Cataratas do Iguaçu como uma das grandes atrações da região. Há comentários de visitantes em sites como o Trip Advisor, em que afirmam que as borboletas, em si, já seriam motivo para a criação dos Parques Nacionais que levam o nome do rio Iguaçu, um em cada lado da fronteira.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Uma lenda do arco-íris (do folclore argentino)


Sete borboletas viviam há muito tempo no coração da selva de Corrientes. Cada uma exibia uma cor diferente, toda sua.

Todos os seres da selva se encantavam com a beleza das cores que ao voarem refletiam na folhagem verde.
Um dia, uma das borboletas foi ferida fatalmente por um longo espinho. As outras seis dispostas a terem a colega de volta se ofereceram a fazer qualquer sacrifício. Então ouviram uma voz que lhes disse:
- Estão dispostas a morrer para continuarem juntas? Todas disseram que sim.
Do nada o céu escureceu, uma tempestade com vento forte e chuva se abateu sobre a floresta e um redemoinho envolveu as sete borboletas amigas levando-as ao mundo sem fim.
Quando a tempestade passou e a calma voltou, o sol voltou a brilhar como nunca antes ao mesmo tempo em que um estranho arco luminoso apareceu no céu, formado pelas sete cores de cada borboleta. Com o passar do tempo o arco ganhou o nome de arco-íris das sete cores em homenagem às sete borboletas.
Nota:
Lembre que até 1881, não existia Província de Misiones onde estão as Cataratas do Iguaçu. Tudo era Corrientes. A foto foi publicada na página do Macuco Safari. Até hoje ninguém conseguiu atravessar o arco-íris.

Guaranime

O texto en guarani é uma tradução Google e é um teste em publicado em homenagem ao encontro dos dois lados da Ponte da Integração entre Brasil e Paraguai ou seja Foz do Iguaçu e Ciudad Presidente Franco ou ainda entre os bairros do Porto Meira e Tres Fronteras. Pode avaliar ou ajustar a tradução?

Peteĩ leyenda del arco iris (folklore argentino-gui)

Siete mariposa oikove ymaite guive ka’aguy Corrientes korasõme. Káda uno oreko vaʼekue peteĩ kolór idiferénteva, haʼekuéra voi. 

Mayma tekove ka’aguýpegua oñembopy’arory umi sa’y porãite oveve jave ojehechaukáva umi hogue hovy’asývape. 

Peteĩ ára, peteĩva umi mariposa ojekutu vaieterei peteĩ ñuatĩ puku rupi. Umi ambue seis oĩva dispuesto oreko jey haĝua ikolega oñekuave’ẽ haĝua ojapo haĝua oimeraẽ sacrificio. Upéi ohendu hikuái peteĩ ñeʼẽ heʼíva chupekuéra: 

- Reimepa dispuesto remano hagua repyta hagua oñondive? Opavave he’i heẽ. 

Moõguivéntema yvága iñypytũ, peteĩ tormenta yvytu hatã ha ama reheve oity pe ka’aguy ha peteĩ remolino omboty umi siete mariposa angirũ ogueraháva chupekuéra pe mundo opa’ỹvape. 

Ohasávo pe tormenta ha ou jeývo py’aguapy, pe kuarahy omimbi araka’eve ndojehecháivaicha ha al mismo tiempo ojekuaa peteĩ arco luminoso extraño yvágape, oñeformava’ekue umi siete color káda mariposa-gui. Ohasávo pe tiémpo, pe arco oñembohéra pe arco iris de siete kolór oñemombaʼeguasu hag̃ua umi siete mariposa.

Nota
Ñanemandu’ava’erâ ary 1881 peve, ndaiporihague Provincia de Misiones oîhápe Cataratas del Iguazu. Opa mba’e ha’e va’ekue Corrientes. Ko ta'anga oñemoherakuã página Macuco Safari-pe. Ko'ágã peve avave ndohupytýi ohasa haguã arco iris. 

***
 


segunda-feira, 19 de julho de 2021

As Cataratas do Iguaçu: Uma escola a céu aberto sobre a Geologia do Planeta (Geossítio Brasileiro)

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Vista das Cataratas do Iguaçu, na aproximação ao primeiro mirante (na realidade segundo) em frente ao Hotel das Cataratas, Foz do Iguaçu
 
 

"A geologia está por toda a parte ao nosso redor e embora quase não notemos no dia a dia, ela afeta tudo o que fazemos como civilização, como sociedade e como indivíduos.  Preservando registros de criaturas e paisagens tão antigas como esquecidas, nossa história está escrita em pedra aguardando para ser lida" ─  Jack Share em seu Blog de divulgação de geologia e paleontologia

Vista do paredão da Ilha San Martín. Tenho prazer de apresentar o "basalto colunar"  A ilha estã no lado argentino das Cataratas e é vista do Primeiro Mirante (segundo) do lado brasileiro. Clique na foto para ampliar (JL)

Dizem, os entendidos, que não existe uma geologia das Cataratas. Que o que existe é a geologia da Terra e que como parte da terra, para entender as Cataratas, é necessário entender a Terra. 

Por isso para contar a história das Cataratas, geralmente o contador desta história tem que falar da Rodínia, da Pangea, da Gondwana, da abertura do Oceano Atlântico, da separação da América do Sul e da África e dos derrames de lava do período cretáceo. Isso dá mais de um bilhão de anos. Vamos fazer tudo isso aqui também. Mas vamos inventar tentando começar do fim. Começando de você  em sua visita às Cataratas. 

Um moderno barco subindo um rio ao lado de rochas que a natureza levou dezenas de milhões de anos para esculpir

Você está a bordo de um barco que faz o passeio chamado Macuco, pelo lado do Brasil das Cataratas e Gran Aventura pelo lado argentino do Parque Nacional Iguaçu / Iguazu. De dentro do barco, você vê águas caindo de ambos lados da embarcação. O barco navega sobre águas rápidas e violentas no meio de um corredor ladeado por paredões de pedra. 


Pedra não. Não existe pedra, o que existe é rocha   disse o geólogo brasileiro Fabio Machado.

Primeira lição, a ficha caiu.  Mas não é qualquer rocha. Se chama basalto. Basalto é lava de vulcão resfriada ao ar livre, em contato com o vento e água. Portanto o basalto é uma rocha vulcânica. Dizer que a rocha das Cataratas é vulcânica ajuda a contribuir para a confusão. Se a rocha é vulcânica, onde ficava o vulcão que explodiu? Resposta: em lugar nenhum. Não era um vulcão desses que tem forma de cone, explode e a lava desce pelas paredes levando tudo que encontra pela frente.