Catedral Diocesana Nossa Senhora de Guadalupe em Foz: Quem idealizou? Quem projetou? Quem concretizou?

 

Em um lugar alto e arborizado está a Catedral que envia a palavra dos quatro evangelhos pregadas em seu interior para as quatro direções, aos quatro ventos e aos quatro elementos da Natureza

O bispo diocesano Dom Olívio Aurélio Fazza – o primeiro bispo diocesano de Foz do Iguaçu, deu o ponta pé inicial no sonho coletivo de construir a nova Catedral da Diocese de Foz do Iguaçu. Digo nova catedral porque até então a atual Matriz e sede da Paróquia São João Batista, na avenida Jorge Schimmelpfeng, era a Catedral. 

Quem pode esconder uma luz no topo da montanha?

O ponta pé inicial se deu em 1999 quando Dom Olívio fez uma convocação a arquitetos de Foz do Iguaçu atrás de projetos para a grande obra. A instrução era que os projetos encaminhados tivessem em seus traços “uma referência à Santíssima Trindade e às Cataratas do Iguaçu”. O projeto vencedor foi o do arquiteto iguaçuense brasileiro-sírio-libanês,  João Elias Saliba. Era um projeto arrojado e foi muito discutido em Foz do Iguaçu. Acompanhei todo o processo pela saudosa Gazeta do Iguaçu onde convivi com o entusiasmo do colunista Chico de Alencar (In memoriam) por este e outros grandes projetos da cidade. 

Dom Olívio Fazza (In memoriam) Foto Diocese

Em 2002 há mudança de bispo. O bispo Olívio Fazza passa a ser bispo emérito e Dom Laurindo Guizzardi, assume como o novo bispo. Dom Laurindo veio do Rio Grande do Sul e isso influenciou o destino do projeto. O projeto de Saliba foi considerado muito arrojado pela liderança da igreja. Dom Laurindo queria algo diferente. 

Emilio Benvenuto Zanon (arquivo pessoal de Edmar Migliavacca) via ClicRBS

Entra em cena o artista e arquiteto sacro Emilio Benvenuto Zanon, consagrado construtor de igrejas, pintura de interior e vitrais no Rio Grande do Sul e Brasil. É de Emílio Zanon, o projeto da atual Catedral executado à risca com a exceção de uma torre de 100 metros a ser construída ao lado da igreja que possibilitaria ver tudo que existe na face da terra entre a   Hidrelétrica de Itaipu e as Cataratas incluindo o Templo Budista, Ciudad del Este e Puerto Iguazu.

Algumas ideias do projeto de Saliba permaneceram só que em vez de linhas retas, o estilo de Zanon preferiu o neo-gótico curvo. O bispo Dom Olívio Fazza tinha uma saudável fixação pelo número três. A Santíssima Trindade (3) e Três Fronteiras, por exemplo. Zanon colocou no papel tudo isso e com a adoção de estilo de teto ondulado deu vida à representação das Cataratas do Iguaçu.

Cada nível do telhado parte de dentro para fora e para cima divulgando mensagens aos quatro cantos e ventos

Se a construção vem progredindo no mundo material, a construção dos simbolismos da catedral, já parece ser dez vezes maior no mundo da essência (Para lembrar Platão, de leve).Tudo representa algo: os três níveis do telhado,  as três portas laterais de cada lado (cada porta um país das Três Fronteiras) e as três padroeiras que ocuparão os vitrais de cada janela (padroeiras da Argentina, Brasil e Paraguai, em ordem alfabética)  A Catedral está na Vila A, lugar alto em Foz do Iguaçu que permite que a Catedral seja vista de longe inclusive do Templo Budista. Esta altura representa um monte. Moisés recebeu os 10 mandamentos no topo de um Monte; Jesus pregou o Sermão da Montanha no Monte das Oliveiras. 

E tem mais, cada um dos quatro lados do teto possui uma orientação para as quatro direções: Norte, Sul, Leste e Oeste que representam os quatro elementos da Natureza: Água, Fogo, Ar e Vento. A inclinação de cada nível do telhado é de dentro para fora, mais baixo na base e alto na extremidade que permite que a palavra pregada na Igreja seja catapultada para cima e nas quatro direções. E como se não fosse suficiente, as quatro direções também lembram os quatro evangelhos.       

Louvor ao gênio criativo de Emilio Benvenuto Zanon e sua catedral na revista Messaggero di Sant'Antonio, do jornalista Paolo Meneghini, março de 2003 (link abaixo) 

Informações Extras:

Sobre Zanon 

Nascimento: Valmareno, Treviso, Itália (1920). Obras em Igrejas na Serra Gaúcha: Guaporé, Dois Lajeados, São Valentim do Sul, Nova Bassano, Bento Gonçalves (Cidade Alta) e Serafina Corrêa. No Paraná: Catedral de Toledo e Foz do Iguaçu (em andamento). Falecimento 26 de novembro de 2008.

Marque na sua agenda:

Pedra fundamental da Catedral NS de Guadalupe lançada em 2003. Foi enterrada uma urna do tempo para ser aberta depois de 30 anos. Coloquemos na agenda: 2033.

As Três Padroeiras

Os vitrais da Catedral terão representadas as Três Padroeiras de cada país das Três Fronteiras:    

Nossa Senhora Aparecida (Brasil)

Nuestra Señora de Luján (Argentina)

Nuestra Señora de Caacupe (Paraguai)

Uma reportagem sobre Emilio Benvenuto Zanon em publicação italiana (em italiano)

 

Registros já históricos

 

A Catedral NS de Guadalupe segundo projeto de João Elias Saliba

Projeto da Catedral de Emilio Benvenuto Zanon com a torre que não foi executada 

Bispo Laurindo Guizzardi apresenta projeto da Catedral ao Papa João Paulo II que o abençoa

Uma das fontes para esta postagem foi o artigo acadêmico "O Catolicismo e sua publicidade: Reflexões a partir da construção da Catedral Nossa Senhora de Guadalupe", assinado por Carlos Eduardo Pinto Procópio  do Instituto Federal de São Paulo (SP). O pesquisador acompanhou a cobertura e divulgação da Gazeta do Iguaçu de Foz do Iguaçu  As fotos acima foram reproduzidas do artigo do pesquisador. Meus agradecimentos! (JL)

Segunda Parte