quinta-feira, 18 de julho de 2024

Moisés Bertoni teve um genro alemão que também era cientista: Kurt Schrottky


Retrato de Kurt Schrottky (1912) cedido por Inés Bertoni Schrottky ao padre jesuita e pesquisador brasileiro Jesus S. Moure. Foto do trabalho acadêmico cedida por Gabriel A.R. Melo, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

No cemitério de Montecarlo, Misiones, Argentina, a 120 km de Puerto Iguazu, está sepultado um dos maiores entomologistas do mundo. Ele foi um dos primeiros entomologistas europeus a residirem no novo mundo: Brasil, Argentina ou Paraguai. Kurt Schrottky, não teve uma vida fácil; Sua trajetória de vida pessoasl, profissional e científica foi cheia de dificuldades. Mesmo assim, ele descreveu e propôs 593 novos nomes para insetos himenópteros (vespas, abelhas), dípteros (moscas. mosquitos, pernilongos etc) e lepdópteros (borboletas e mariposas).  Kurt Schrottky fez parte do grupo dos grandes no Brasil e na comunidade cientifica de São Paulo. Mas devido a uma desventura amorosa ele voltou a Alemenha e quando mais tarde  retornou à América do Sul decidiu vir para Buenos Aires.  

Buenos Aires não oferecia o contato com a diversidade oferecida mais ao Norte do país, no até então misterioso Alto Paraná. Não demorou e ele se viu aportando em Posadas e trabalhando em Encarnación, Paraguai. Para sobreviver e assegurar o pão, Schrottky utilizava sua profissão como contador. Assim, Schrottky se viu trabalhando para a Casa Comercial Domingos Barthe que desde Posadas mandava em cada centímetro de erval e obrajes nos dois lado do rio entre Posadas e Porto Mendes (hoje parte de Marechal Cândido Rondon). 

Segundo Burton Holmes que visitou a região em 1919, a fortuna de Domingos Barthe era de US$ 15 milhões, na época em que um dólar de então valia US$ 17.00 dos dólares de hoje. Presume-se que isso tenha garantido um bom emprego para Schrottky que pôde sustentar seus estudos. 

Schrottky conheceu Moisés Bertoni no começo dos anos 1900. Há uma carta dele para Bertoni de 1905. Bertoni publicou material sobre insetos pesquisados e por Schrottky e forneceu informações sobre botânica para o jovem cientista. Terminou trabalhando com Bertoni como secretário por um tempo vivendo, enquanto isso, com a família. Essa convivência terminou levando Schrottky a pedir a mão de Inés Contancia  Bertoni em casamento. Se casaram. O sábio Bertoni tinha agora um genro cientista. 

Casa Comercial Domingos Barthe, Holmes 1919 (Dominique Barthé)

A nova família Schrottky Bertoni cresceu. Depois de sair da casa do sogro, o entomologistas contador trabalhou em uma propriedade no local conhecido como Puerto Cantera na região de influência de Trinidad del Paraná sede da missão jesuítica Santísima Trinidad del Paraná. A propriedade de Puerto Cantera ficou conhecida por ter cunhado sua própria moeda de vários valores em bronze. Há registros da passagem dele também na localidade de Puerto Paranambu como funcionário da empresa local.

Falta averiguar quando e porque Schrottky e Inès passaram para o lado argentino onde morreu. Logo vemos os Schrottky no Paraguai onde aparecem também "Schrottkies" com nomes castellanos como Schrottky Martínez ou similar.  Um dos Schrottky conhecido no Paraguai por seu espírito inquieto foi Sigisfredo Schrottky Bertoni apelidado de "Fifi". Ele herdou do avô Moisés Bertoni, um certo poliglotismo, um gosto pelos estudos e algo da utopia social de Bertoni. Um de seus livros “Verdades que pican” (espanhol) ele desmente e ataca algumas idéias que servem de muleta para sociedades que não pensam. Entre elas, superioridade do homem sobre a mulher, a velhice, a juventude, os estudos e outros tópicos contundentes. Interessante é que alguém me presenteou esse livro e outro alguém, o fez desaparecer. E eu não lembro a nenhum dos dois.  

Esta nota é só para não deixar a memória do grande entomologista desaparecer. Tenho planejado uma visitas a lugares em que Schrottky viveu e trabalhou em comunidade à beira do rio Paraná. Logo sairá. Mas lembro que Schrottky, etnicamente alemão, nasceu em Petrokov que na época estava na Rússia e hoje está na Polônia com o nome de Piotrków Trybunalski

No Alto Paraná, Paraguai ele publicou um jornal em alemão chamado Wochenblatt für den Alto Parana, algo como "Folha Semanal do Alto Paraná" e tinha ainda a descrição de "Organ aller Deutschsprechenden am Alto Parana” ou Órgão de todos os falantes de alemão no Alto Paraná. 


Na frente do Centro Histórico Cultural Edwin Krug de Hohenau, Itapúa, Paraguai

O motivo do jornal de Schrottky ser em alemão tem a ver com a nascente colônia iniciada em 1900 com famílias vindo da Alemanha via Brasil e que resultou nas cidades atuais de Hohenau, Obligado e Bella Vista Sur conhecidas como Colônias Unidas em Itapúa, Paraguai. Tenho muito interese em ver o jornal Wochenblatt. Ideia a ser pesquisada.  Na região, Schrottky trabalhou ainda em uma empresa ervateira em Puerto Cantera (Itapúa) e Paranambu, Alto Paraná, Paraguai. 

Nesta postagem agradeço a colaboração da amiga polonesa Dominika Mierzwa - Szymkowiak que chamou minha atenção para o extenso trabalho acadêmico de Claus Rasmusseni, Bolivar Rafael Garcete-Barret e Rodrigo Gonçalves intitulado Curt Schrottky (1874–1937): South American entomology at the beginning of the 20th century (Hymenoptera, Lepidoptera, Diptera) (Kurt Schrottky (1874 - 1937): Entomologia Sul-Americana no começo do século 20. Obrigado Dominika!


     




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