Mostrando postagens com marcador Moises. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Moises. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Uma casa histórica em Foz



Na minha lista que contém 120 sugestões de coisas que se pode fazer na Tríplice Fronteira, está uma visita ao Monumento Científico Moisés Bertoni, conhecido popularmente como Museu Bertoni localizado na área rural da cidade paraguaia de Presidente Franco. Monumento Científico é uma categoria dentro do Sistema Nacional de Parques Nacionais do Paraguai. Este bem paraguaio consiste em 200 hectares de terra que foi outrora parte da propriedade de Moisés Bertoni e que por sua vez foi chamada, de Colônia Guilherme Tell (Guillermo Tell, Wilhelm Tell, William Tell etc).

Bertoni veio para o Paraguai depois de passar pela Argentina para ser colono. Isso é o que esperavam os governos locais. Mas, Bertoni vinha em busca de outra coisa. Além de cientista e pesquisador ele também gostava de agricultura e filosofia. Ele procurava um lugar no mundo onde ainda se pudesse construir uma boa sociedade. Por isso, sua porecupação em formar uma colônia do bem. Daí seu interesse na estrutura social dos Guarani e em sua forma de governo.

No momento desejo destacar que Bertoni nasceu na Suíça, não só na Suíça mas no Cantão do Ticino, na Suíça de fala italiana. E além disso, não basta dizer que ele era ticinese (ticinês). Ele nasceu no Vale de Blenio. E morreu em Foz do Iguaçu. Onde em Foz do Iguaçu? Na casa que aparece na foto acima. Esta casa está em uma propriedade da família Schinke-Carinzio e a propriedade parece estar à venda. Que podemos fazer para que esta parte de nossa história não morra?

Há maneira de colocar uma placa lá dizendo: Aqui morreu Moisés Bertoni? Uma cidade não pode dispensar sua história. Especialmente se a cidade for turística. Peço as autoridades que façam uma visita à casa e façam alguma coisa por esta parte da História de Foz do Iguaçu.

Acrescento que quando Bertoni morreu, o corpo foi levado para sepultamento onde hoje está o Monumento Científico que leva seu nome. O velório contou com a presença de toda a sociedade de Foz do Iguaçu e a missa de despedida, digamos assim, foi celebrada pelo Monsenhor Guilherme Maria Thiletzek - que chegou à região nos 20. Coloco abaixo um texto, publicado no jornal El Liberal de Assunção, no dia 9 de outubro de 1929. Deixo-o em espanhol e ipsis literis para que sintamos o estilo da época e sintamos também como as relações paraguaias-brasileiras pareciam ser melhor que hoje. Se lê que os médicos o atenderam em seu domicílio - a importância da casinha acima. Se lê também que as autoridades mantiveram a eletricidade a noite toda. Confira:

Los últimos momentos del Dr. Moisés Bertoni

Cartas recebidas del Alto Paraná informan de la actitud simpática de las autoridades y pueblos brasileños de la vecina población de Foz do Iguazú que coinciden con la tradicional hidalguía y sentimientos fraternales del pueblo hermano.

"Al agravarse el estado de salud del doctor Bertoni fue solicitado el concurso de los dos profesionales médicos residentes en dicho pueblo, doctores Luis Gómez y Passo H. Shinke, quienes prodigaron al ilustre enfermo los más solícitos cuidados y tranladándolo luego a Foz do Iguazú. Fue atendido en domicílio de los mismos con el cariño de un padre y con todos los recursos de la ciencia; cuando estos fueron impotentes para detener el proceso fatal de la dolencia y se produjo el deceso, el cadáver del doctor Bertoni fue arrebatado de manos de suas atribulados deudos, puesto en regio féretro en improvisada capilla ardiente donde fue velado toda la noche, defilando ante él lo más selecto de la población. La luz eléctrica fue mantenida toda la noche y el pueblo amaneció vistiendo en media asta la bandera que simboliza aquel pueblo que es todo hidalguia y todo corazón.

Al día siguiente, el cadáver fue trasladado a Puerto Bertoni, extremándose la gentileza hasta querer hacerlo transportar por el vapor Salto, lo que no fue posible porque siendo este buque de pabellón extranjero no se atrevió a bajarlo en costa paraguaya.

El administrador apostólico de Foz do Iguazú, monseñor Guilherme María Thiletzek, administró los ofícios religiosos y tuvo la deferencia de trasladarse a Puerto Bertoni a hacer la última misa"


outra postagem sobre o Museu Bertoni

sexta-feira, 23 de março de 2007

Museu Bertoni. Mas quem foi mesmo Bertoni?



Fotos: 1) Moisés Bertoni com Dona Eugenia e parte da família. 2) Sala onde ele trabalhava hoje parte do Museu Bertoni

Se você der uma olhada na literatura turística de Foz do Iguaçu, primeiramente e no restante da Tríplice Fronteira, 'segundamente', é possível que veja mencionar um lugar chamado Museu Bertoni. Assim, citado rapidamente como se fosse uma jabá sem sal. Esta nota é uma recomendação para que você visite o tal de Museu Bertoni, mas antes se descontamine da megalomania brasileira para aceitar o que vai ver. É coisa simples. O tal de Museu Bertoni é a metade do nome da coisa. O nome completo é Monumento Científico y Natural Nacional Moisés Bertoni.

Agora sabendo o nome real, você pode se empolgar um pouco. Monumento Científico é uma categoria dentro da Administração de Parques Nacionais (APN) do Paraguai e a casinha é parte de uma reserva de alguns (100) hectares que protege o pouco que restou após a invasão gaúcho-brasileira da soja. Mas o importante é a casa. Uma casinha de madeira, onde morou um senhor com uma mulher e 13 filhos. A casa-museu é tudo que restou da antiga Colônia Guillerme Tell (12.500 hectares) encabeçada por Moisés Bertoni e de um sonho de justiça que se foi. Mas por que Bertoni é interessante?

Beertoni se chamava Mosè Giacomo Bertoni filho de Ambrogio Bertoni e Eugenia Rossetti. Nasceu em Lottigna, Vale de Blenio, no cantão suíço de fala italiana do Ticino. Muito inteligente. Estudou lei, mas se interessou por biologia, botânica, meteorologia, agricultura, zoologia, antropologia, mitologia, cultura nativa (na Suíça escreveu um livro sobre os povos pagãos do Vale do Blenio) e muito mais (E deixou obras sobre tudo isso). Em 1884,já adulto e casado, Bertoni embarca para a América. Segundo Peter Schrembs, um estudioso de Bertoni lá do Ticino, na despedida, Bertoni anunciou que se afastava para sempre do lixo que era a Europa. Bertoni não era um colono comum - como a grande maioria. Na bagagem mental, ele carregava um sonho de criar um colônia exemplo para o mundo: talvez anárquica, talvêz comunista, socialista. No fim ele trouxe uma utopia.

Uma coisa interessante: o Paraguai nos anos 1800, graças à fama do experimentos sociais dos jesuitas, atraiu muita gente assim. William Lane e seus seguidores chegaram ao Paraguai para fundar um colônia econômica-politica e socialmente exemplar. E fundou: se chamava Nueva Australia.

Bernhard Foster e sua mulher Elisabeth Foster-Nietzche (irmã do filósofo Friedrich Nietzche) vieram para fundar a colônia Nueva Germania. A colônia de Forster era utopicamente racista sonhava com um mundo sem miscigenação e eugênico (raça perfeita). Foster se suicidou e não viu o sonho racista dele se realizar - ainda bem para mim! Colônias com fins sociais utópicos pipocavam por toda a parte inclusive no Brasil Imperial onde, aqui no Paraná, se fundou a Colônia Cecília à convite de Dom Pedro II. Mas voltemos a Bertoni.


O que Bertoni era no sentido ideológico é complicado. Há quem diga que ele era anarquista. Mas o rótulo parece ser simples. Sabe-se que era amigo de Piotr Kropotkin (Já digo uma coisa sobre Koprotkin) e do geógrafo anarquista francês Eliseu Reclus. E no Paraguai, já naquela casinha, enquanto nasciam os filhos ele colocou nome de revolucionários em alguns deles. É o caso de Vera Zassoulich Bertoni e Sofia Perowskaja Bertoni.

As duas filhas ganharam nomes para homenagear a lembrança de Vera Ivanovna Zasulich e Sofia Lwowna Perowskaja, ambas revolucionárias marxistas russas. Um filho se chamou Linneo Bertoni - e lembra quem era Linneo? Foi Carlos Lineu (ou Carl von Linné ou ainda Carolus Linnaeus) cientista sueco que criou o sistema binominal de classificação científica. Quando Bertoni revelou para o mundo a existência da erva-açúcar ka'a he'e (em guarani - uma erva doce e que só não é produzida no Paraguai hoje, porque só Deus sabe por quê?)pelo método de Linneo a planta ficou batizada como Stevia rebaudiana. Rebaudi era tanto o nome de solteira da mulher dele como era o nome de um naturalista europeu.

Como prometi antes, falemos da cabeça social de Bertoni. Primeiro, quando o comunismo marxista chegou ao poder na Russia, ele, pelas noticias que ouvuiu, se decepcionou. Kropotkin era um prinicipe e geógrafo de convicções anarquistas. Ele escreveu um livro chamado "Ajuda Mútua: Um Fator de Evolução" (link é de versão internet, inglês) que era uma resposta ao evolucionismo social de Darwin. Darwin versus Kropotkin! Competição versus cooperação!

Família Bertoni
Mosé Giacomo Bertoni (*1857,Lottigna - +19/09/1929,Foz do Iguaçu)
Pai: Ambrosio Bertoni
Mãe: Gioseppina Torreani (Nonna [Vovó] Peppina)
Esposa: Eugenia Rebaudi Rossetti (Morreu em Encarnación, no dia 24/08/1929
Filhos que embarcaram com Bertoni no navio Nord America em 1884:
Reto Divicone
Arnaldo de Winkelried
Wera Zasulich
Sofia Lwowna Perowskaja
Inés (Morre em 1886 em Yabebiry, Misiones, Argentina)

Filhos nascidos na América do Sul
Moisés Santiago Bertoni (Yabebiry)
Aurora Margarita (Yaguarasapá, Paraguai)
Guillermo Tell (Yaguarasapá, Paraguai)
Walter Fürst (Colônia Guillermo Tell)
Werner Stauffacher (Colônia Guillermo Tell)
Aristóteles (Colônia Guillermo Tell)
Linneo Carlos

Obs.: esta faltando um nome, vou procurar...

Atenção! Atualizo hoje, 10 de fevereiro de 2009. Já descobri o o nome que faltava como mencionei acima. O nome é Inês. A caçula de Bertoni nascida já em Puerto Bertoni. Bertoni deu à caçula o nome de Inês a filha suiça que morreu antes da família deixar a Argentina - foi uma homenagem a Inés. Recentemente, façando uma reportagem para a Revista 100 Fronteiras, descobri uma bisneta de Bertoni e ela me deu os detalhes. Logo falo mais!