terça-feira, 31 de março de 2009
Morte da Onça no Parque Nacional do Iguaçu e a Caçada às Bruxas
Fila de ônibus para entrar no Parque Nacional na Semana Santa. Foto "Bairronauta"2008
Saiu na imprensa hoje que taxis e vans de turismo estão proibidos de entrar no Parque Nacional do Iguaçu. Segundo o material elaborado e assinado por minha colega Fabiula Wurmeister da Gazeta do Povo em Foz, "a restrição prevista no Plano de manejo da Unidade desde 1999 só passou a ser respeitada após a morte do animal".
Mais adiante, a matéria lembra que "além do Plano de Manejo, o contrato de Concessão para exploração do Hotel das Cataratas, dentro da reserva, também prevê, entre outros, que o transporte de funcionários e hóspedes seja feito com ônibus semelhantes aos que levam turistas às Cataratas".
Mais adiante ainda a matéria lembra que a data para a efetivação da medida seria 1° de abril de 2009. A partir daqui segue alguma coisas que questiono:
O Plano de Manejo previu sim um meio de transporte único para o interior do Parque Nacional do Iguaçu - quer dizer, não todo o PNI só o trecho da BR 469 entre o portão de entrada e o Porto Canoas.
1) Se o Plano de manejo é quem manda no Parque Nacional do Iguaçu, como foi possível conceder o Hotel das Cataratas, quando o Plano de Manejo é contrário a existência de um hotel no Parque Nacional do Iguaçu, não ofereceu ou oferece idéia nenhuma do que fazer com o hotel, limitando-se apenas a dizer que a cidade (Foz do Iguaçu) é bem servida de hotéis?
2) Simples: o transporte de hóspedes e funcionários do Hotel das Cataratas que deve ser feito pelo Hotel em ônibus similares aos que levam turistas, graças ao contrato de concessão, não é previsto no Plano de Manejo. A concessão em si não era prevista. Tal transporte do hotel seria "mais um" meio de transporte além do "transporte único". Como aconteceu isso?
3) A morte da onça acontece quatro dias antes da data de vigência da proibição de veículos ligadas à operação do transporte do contrato de concessão e acontece, para o azar ainda não sei de quem, quando o chefe da unidade, Jorge Pegoraro, está viajando.
4) Há muita coisa que o Plano de Manejo não prevê e que se está fazendo no interior da Unidade. Exemplos: o Plano de Manejo não prevê a existência de "Luaus nas Cataratas". Prevê sim passeios em noites de lua cheia limitados a cinco grupos de vinte pessoas por noite. Quem autorizou os luaus?
5) O Plano de Manejo não previu ou prevê a existência de rafting, rappel ou canyoning no cânion do rio Iguaçu. Escaladas eram previstas para a AD Macuco no Salto do Macuco próximo à Caverna ou Gruta ou algo mais do Morcego. Quem mudou? Como?
6) O Plano de Manejo pede sugere uma pesquisa entre os dois parques nacionais (Iguaçu/Iguazú) para saber se o passeio do Macuco deve ser proibido na piracema. A pesquisa nunca foi feita. Por que não se fala sobre isso? Será o Macuco uma boa concessão?
7) Houve uma licitação feita pelo Ibama para a construção de um heliporto próximo à Garganta do Diabo, ou mais extamente ao lado do Restaurante Porto Canoas. A licitação foi ganha. O heliporto foi construido. E isso violando uma Declaração Conjunta presidencial (Brasil/Argentina)e o posicionamento contrário do Plano de Manejo. Como foi possível fazer tal licitação? Que milagre foi feito? O heliporto foi parado, mesmo com licitação, após denúncia (infelizmente minha).
8) Desde que entrou em vigor o Plano de Manejo deveria ter sido vedada a entrada de veículos e especialmente ônibus. Hoje, em feriados como o que vai vir agora no final de semana, Pascoa, chegam grandes quantidades de ônibus. E, infelizmente, todos entram, como mostra a foto acima que tirei na semana Santa de 2008 (leia texto que escrevi no dia) Isso acontece porque os ônibus da concessionária não têm capacidade de transportar todo mundo. O Parque Nacional do Iguaçu, o turismo, a comunidade, de Foz e do entorno, têm que achar o que Plano de Manejo sugere, ordena, instrui: alternativas para as atividades do entorno. É isso que peço há muitos anos.
9) Já chamei a atenção para esta questão antes. O Plano de Manejo que foi feito sob uma visão de ecoturismo definiu, até que houvesse novas pesquisas, o número de visitantes do Parque Nacional do Iguaçu (ou seja das Cataratas do Iguaçu) como sendo equivalente à capacidade de transportes dos ônibus da concessionária Cataratas do Iguaçu S.A. Interpretando posso dizer que a concessionária tem oito ônibus cada um transportando, digamos 60 passageiros (pode ser 70). Dez viagens leva 600 passageiros. Se não me falha a matemática, 100 viagens levaria 6.000. Essa seria a capacidade dos ônibus se pudessem fazer 100 viagens. No lado argentino onde o mesmo modelo foi adotado, o transporte é um trenzinho engonosamente chamado "Tren de la Selva". O comboio leva de uma vez 350 passeiros. Dez viagens transportaria 3.500 passageiros. Cem viagens significaria 35.000. Esses números não estão disponíveis.Por isso cogito. Uma vez, em uma reunião especializada chegou-se a um número de 600 e poucos mil turistas por ano como a capacidade de transportes da Cataratas S.A. Então se o Plano de Manejo aponta para uma redução do número de visitantes às Cataratas, por que todos os anos, a direção do Parque celebra o aumento de visitantes junto com o trade? Quem está se enganando?
10) Tem mais: há um empurra-empurra de um monte de coisas. O mais novo ator na novela das concessões do Parque Nacional do Iguaçu é o Hotel das Cataratas sob a bandeira da Orient Express. Muitas das "sugestões" do Plano de Manejo que deveriam ter acontecido desde 1999, pelo que se deu a entender, pela única Concessionária prevista, foi passada para a Orient express. Entre outras: a construção de uma a ciclovia e o "enterramento" da linha de alta tensão da Copel. Para as costas da Orient express foi empurrada a Pesquisa sobre as Onças ligadas ao Projeto Carnívoros ou seja lá qual for o nome adotado hoje (veja matéria / anúnico da Pesquisa pela Orient express).
Penúltima coisa: o Plano de Manejo pede? Ordena? Sugere? O que faz o Plano de Manejo. Pelo que vi, depende. Se o pessoal do PNI erra, dizem: o Plano de Manejo só sugere. Se quem erra é o cidadão, o discurso muda: O Plano de Manejo ordena!
Última coisa: estou dizendo tudo isso na esperança de que a morte da onça nos ajude a fazer um turismo de qualidade onde o trade possa oferecer seus serviços com regras claras e imparciais.
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Um comentário:
muito bom o post jackson, parabéns!
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