segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Descendo a Serra de Trem - (Curitiba - Morretes) no vagão Barão do Cerro Azul



O vagão: foto oficial de divulgação
Fui a Curitiba esses dias para participar da Assembleia Geral da Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo (ABRAJET). Aproveitando a ocasião levei minha filha de 11 anos, Amanda Rosalea para que a viagem fosse como um rito de passagem para ela. No dia da Assembleia, terminei sendo eleito  presidente da seccional Paraná da Abrajet. Foi surpresa, nunca tinha pensado nisso antes. Ganhei uma identificação: o primeiro presidente da entidade no interior do estado. Até aqui, só isso.
O Barão do Cerro Azul
A varanda de 6 metros quadrados
Meses antes ao confirmar que iria a Curitiba, pedi ao então presidente e amigo Jean Féder orientação sobre o passeio de trem Curitiba a Morretes.  Como há vários vagões e categorias eu queria a mais econômica possível. Eu ficaria contente só de confirmar a existência do vagão para viajantes frequentes, leia-se montanhistas, excursionistas e galeras amantes de caminhadas e escaladas no Parque Estadual do Marumbi, e que custaria a partir de R$ 23.00. 

Qual não foi minha surpresa em, dias antes da viagem, não só receber informações mas dois vouchers  para um Pacote  Curitiba Morretes de Trem no vagão  Barão do Cerro Azul recém inaugurado e totalmente customizado.  Mesmo com o voucher na mão eu não sabia exatamente o que "pacote" queria dizer. Eu esperava descer de trem, chegar em Morretes, almoçar e procurar um jeito de voltar para Curitiba, chegando a tempo de pegar o avião para Foz do Iguaçu. 

Só na Estação Rodoferroviária, quando mostrei o voucher foi que descobri que o negócio era mais sério e mais organizado. Recebemos adesivos onde se lia: Sílvia e Ulisses. E só no final da viagem soubemos quem era Sílvia (guia) e Ulisses (o moto-guia e dono da van John Galt), que iríamos almoçar, que iríamos a Antonina, voltaríamos a Morretes e que a volta à Curitiba de van era parte do pacote.  

Antes de contar a história do passeio falemos primeiro do vagão e do trem. E dos trilhos também e da galera que vive neles.  O vagão Barão do Cerro Azul é um vagão cênico equipado com mesas e cadeiras que permite que sejam servidas comida e bebidas, tem varanda panorâmica, janelas espaçosas e além de ser um vagão que homenageia a história do Paraná e do Brasil é uma maneira fantástica de fazer esse passeio embora o trem tenha vagões até mais luxuosos.  

Barão do Cerro Azul é o título de um homem que foi registrado, ao nascer, com o nome de Idelfonso Pereira Correia. Um dos magnatas da erva mate, ele foi o fundador da Associação Comercial do Paraná. Teve papel importante em evitar que Curitiba fosse destruída na guerra fratricida chamada de Revolução Federalista que pipocou logo após a Proclamação da República em que gaúchos pró-Gaspar da Silveira Martins (os maragatos) lutaram contra os seguidores de Júlio de Castilhos (os pica-paus), governador eleito do RS e apoiado pelo Governo federal. A guerra se alastrou e chegou ao Paraná que, por azar, fica no caminho para o rio de Janeiro. Os federalistas "maragatistas" foram barrados em Lapa (uma cidade que deve ser incluída no seu roteiro do Paraná). Aqui, parece que, dentro da grande história nacional entra uma história menor, ua micro-história regional. Vendo os maragatos, vestidos de bombachas ameaçando chegar a Curitiba, conta o guia Patrick da Serra Verde, o barão do Cerro Azul, que era liderança empresarial e não bélica, apelou para uma solução menos guerreira. Levantou dinheiro entre os empresários e comerciantes da cidade (não esqueça havia muito barão da erva mate) para dar aos maragatos em troca de C curitibanos Crime: O Barão coletou dinheiro com os comerciantes da cidade para dar aos rebeldes em troca de paz. Hoje, com cabeça fria, a gente pode entender a lógica do barão. Uma justificativa poderia ser que  os maragatos iriam atacar e pilhar a cidade de qualquer maneira. Mas para o Governo Federal a ação foi vista como  traição. E o Barão teria que ser levado ao Rio de Janeiro para julgamento.  
  
Considerado traidor, o Barão do Cerro Azul terminou morto em uma cilada oficiosa e suja armada no km 64 da ferrovia que graças à Serra Verde Express já transportou mais de 3 milhões de turistas desde que começou a operar.
Os guias chamam a atenção para a cruz que marca o local, à esquerda de quem desce a Serra, onde o Barão foi morto. Na época era presidente do Brasil, o meu conterrâneo marechal Floriano Peixoto que substituiu no poder o também meu conterrâneo Marechal Deodoro da Fonseca.

Abordo deste vagão do trem viaja um sentimento de carinho pelo homem cuja história começa a ser contada. No vagão há uma imagem do Barão o que permite aos passageiros terem uma ideia desse detalhe histórico. "Ao longo de nosso roteiro, nós vamos conhecer quem foi esse senhor da foto", avisam os guias do vagão.  
Há também, no vagão a assinatura de Lucille Amaral. Lucille Amaral é a arquiteta da Serra Verde Express, a empresa que tem a concessão do transporte turístico do trem. Uma passageira, ao ler o nome de Lucille, disse: "Então ela é a culpada disso tudo". Descobri que Lucille, arquiteta da empresa assina obras de outros cinco vagões de luxo da frota. O vagão do Barão do Cerro Azul é o último da composição que nesse dia tinha pelo menos 26 vagões. Descobri também que esse vagão foi fabricado em 1954, estava no Espírito Santo e foi comprado em leilão pela paranaense Serra Verde Express e trazido até o centro de Curitiba onde está o ateliê ferroviário da Lucille Amaral e equipe. A magia do trem. Agora sim divido as postagens e irei ativando os links ao passo que forem ficando prontos. 
 

Curitiba da Janela do Trem 
Depois da Roça Nova  
Os irmãos Rebouças, os túneis e pontes
Morretes

Antonina 
John Galt, a Van
Eu e esses trilhos
A Serra Verde Express
Os projetos da Lucille
Recomendações


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