quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

De onde vieram as terras do Parque Nacional do Iguaçu? Terceira Parte


Traçado da linha férrea, região do Contestado e área do pega-pra-capá Paranaense-Catarinense Fonte

Constetado e luta por terras 

Com o fim da construção, os ex-oito mil empregados são abandonados no mato sem poder trabalhar a terra. Não foi cumprida a promessa de que no fim do contrato, eles teriam os custos de viagem financiados pela empresa contratante. Forçados a ficar na região, parte dos trabalhadores decidiu virar posseiro e trabalhar a terra em ambos lados dos trilhos da empresa EFSPRG.  Mas eles não eram a espécie de colono que Farquhar tinha em mente. 

Como ele tinha concessão para trabalhar a erva mate e explorar a madeira de todas essas terras, o grupo Farquhar era dono da empresa Southern Brazil Lumber & Colonization Company (Empresa Madeireira e Colonização Brasil Sul). Quer dizer depois de explorar a madeira e a erva mate, aí sim, o mega empresário pretendia colonizar as terras. Uma observação: a serraria da Southern Brazil ficava em Três Barras (SC) que se portava como um pedaço dos Estados Unidos com uma força de segurança de cerca de 800 “jagunços” americanos. 


Tudo isso não podia terminar de outra forma: com uma ajudinha de um monge com ideias messiânicas, em 1912 estourou a Guerra do Contestado que envolveu os estados do Paraná e Santa Catarina. Uma guerra fraticida que resultou na morte de 20 mil pessoas. Quando a Primeira Guerra Mundial começou na Europa, Santa Catarina e Paraná estavam em guerra há dois anos e só terminou dois anos mais tarde em 1916. Parte das terras do Contestado, haviam sido alvo de disputa entre Brasil e Argentina, resolvida graças à arbitragem do Presidente Hover Cleveland em 1895. Os Marcos das Três Fronteiras em Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú celebram essa solução diplomática. A primeira Guerra Mundial e por que não a Guerra do Contestado, afetaram a saúde financeira do Império Farquhar no Sul.

Apesar de toda essa terra doada a Farquhar no Sudoeste do Paraná e Santa Catarina, em 1920 o Brasil doou a Brazil Railway Company por meio de sua subsidiária a Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco) cerca de dois milhões de hectares de terra no Paraná como pagamento pela construção de um ramal da estrada de ferro que partindo de Guarapuava chegasse a Foz do Iguaçu. Nesta altura é bom lembrar que Foz do Iguaçu, na época, tinha  mais de 20 mil quilômetros quadrados e se estendia do Marco das Fronteiras a Guaíra que então era distrito de Foz do Iguaçu. Todos os municípios da região Oeste só apareceriam após 1951. Neste caso o ramal da linha férrea tanto podia ser de Guarapuava à atual Foz do Iguaçu como de Guarapuava a Guaíra. Seja lá como for, o ramal Guarapuava – Foz do Iguaçu nunca saiu do papel.  

Nos anos 30, o governo revogou a concessão que não havia sido honrada. Lembra que essa história começou falando de terras devolutas? Todas essas terras no Oeste do Paraná se encontravam na faixa de fronteira. Em 1931, já no governo do presidente Getulio Vargas, aparece pela primeira vez nesta discussão a menção de Parque Nacional anos antes da criação dos primeiros parques nacionais no Brasil. Com a revolução de 30, Getulio governou com mão pesada e prova disso foi a criação da figura do interventor federal no estados. No Paraná,um dos interventores federais foi o general Mario Tourinho. 
Decreto 2.153 do Ilm° Sr. General Interventor do Estado do Paraná Mário Tourinho
 
Assinatura e data


Foi ele que por meio do decreto 2.153 de 20 de outubro de 1931 deu o primeiro passo para a expansão das terras no Oeste do Paraná (leia-se Foz do Iguaçu) para a criação do Parque Nacional do Iguaçu. O Decreto dizia:

“Tendo em vista a imprescindível necessidade de reservar-se uma área de terras devolutas, junto aos saltos de Santa Maria do Iguaçu, para o estabelecimento de uma futura povoação e de um Parque Nacional do Iguaçu, e considerando que tal reserva favorecerá, além disso o futuro aproveitamento industrial dessas terras; considerando ainda que a área de 1.000* hectares reservada pelo decreto nº 635 de 28 de julho de 1916 que declarou de utilidade pública o lote de terras concedida a Jesus Val pelo Ministério da Guerra na ex-Colônia Militar de Foz do Iguaçu, é insuficiente para os fins em vista, e que se torna portanto, e conveniente completá-la: 

DECRETA
Art Único─ É reservada no município de Foz do Iguaçu, para o estabelecimento de uma futura povoação e um Parque Nacional, a área de 33.609.040 m² compreendido dentro dos seguintes limites: a começar da barra do rio São João no Iguaçu por aquele acima até a divisa das terras tituladas ao Dr. Alexandre Gutierrez Beltrão**, por esta divisa até encontrar linhas NS do terreno Santa Maria concedido à companhia EFS RG, por esta linha rumo ao sul até o rio Iguaçu e por este à foz do rio São João; revogadas as disposições em contrário.
Palácio do Governo do Estado do Paraná, 20 de outubro de 1931
Mário Tourinho
João David Perneta       

Para a Quarta Parte

Nenhum comentário: